AUTARQUIA DE ENSINO SUPERIOR DE ARCOVERDE-AESA

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE ARCOVERDE-CESA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM LETRAS

PERÍODO:  IV

   

       Resenha Sobre Obras Comparadas

                                   

Maria da Conceição Ferreira de Andrade

[email protected]

                                      

                                                     

ARCOVERDE – PE

2013.2

 

 

MEDEIA, DE EURÍPEDES, E

IRACEMA, DE JOSÉ DE ALENCAR

 

 

RESUMO:  Aprendemos na literatura que, o romantismo está centrado no meu eu romântico e em seus conflitos e anseios libertários, rompendo assim com os códigos clássicos da poética do arcadismo. Neste artigo, pretendemos mostrar que ALENCAR em “Iracema” inspirou-se em heroínas da mitologia grega. Isto porque Iracema assim como Medeia são heroínas que lutaram e sacrificaram tudo em suas vidas por um amor.

 

PALAVRAS CHAVES: Eurípedes. Medeia. José de Alencar. Iracema. Literatura comparada.

   Medeia, filha de Eetes, rei de Cólquita, feiticeira e sacertodiza da deusa Hécate, fascinada por Jasão, a mesma ajuda á Jasão a vencer a prova que o levaria ao “velo de ouro”, mas o pai de Medeia não honra com o pacto. Ciente que precisaria de Medeia novamente, Jasão á procura e lhes propôs casar-se com ela se ela o ajudasse com seus poderes ter a todo custo o velo de ouro, Medeia apaixonada faz tudo que pode para seu amor realizar-se.

   O velo de ouro está no bosque vigiado por uma serpente, Medeia em companhia de Jasão e dos argonautas, vão até o bosque onde Medeia enfeitiça a serpente e Jasão toma posse do velo de ouro, ambos fogem com a ajuda dos argonautas, mas são alcançados por guerreiros comandados pelo príncipe Apsirto, irmão de Medeia.      Ao ver que corre perigo, Medeia cobra de Jasão o que lhes prometera, tomar ela como esposa, assim Jasão a fez e imediatamente Medeia planeja uma cilada contra o irmão atraindo-o para perto dela onde Jasão o mata  e os argonautas mata todos os guerreiros.

   Em seguida, os argonautas voltaram, Medeia e Jasão seguem viagem para a Grécia, onde viveram por muitos anos e tiveram dois filhos.

   Com o passar do tempo, Jasão foi se interessando pela filha do rei de Corinto e foi correspondido, chegaram a ficar noivos. Medeia já não tinha mais seu amor em seus braços, furiosa planejou matar a noiva de Jasão, comprou uma veste feminina elegante e a deu de presente, a veste estava enfeitiçada e quando a noiva a vestiu, a veste começou a pegar fogo, ouvindo os gritos da filha, o rei corre para salvar sua filha e acaba  sendo preso no feitiço também e ambos morrem queimados.

   Mas a vingança de Medeia estava apenas começando, ela comente muitos crimes, entre eles o dos próprios filhos, aniquilando assim todo e qualquer vínculo com Jasão.

   A estória de Medeia nos lembra o percurso narrativo de “Iracema”, uma nativa das terras brasileiras que encontra “ um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano” (Alencar,1978,p.11), por quem ela se apaixona e está disposta á enfrentar todas as normas de sua tribo para viver este amor.

   Martim é seu nome que significa “filho guerreiro”, ele é civilizado e vem de uma cultura superior, como Jasão.  Assim como Medeia, Iracema é bárbara, este é o conceito que Alencar usa quando ele fala “língua civilizada e língua bárbara”.

   Comparamos aqui Iracema á Medeia, pois, Iracema por sua vez também era um tipo de sacerdotisa que guardava consigo o segredo de jurema e o mistério do sonho. Sua mão fabrica para o pajé a bebida de Tupã ( Alencar,1978,p.19) . A Jurema era uma bebida alucinógica preparada com cascas e raízes do mesmo nome.

   Iracema foi escolhida para guardar o segredo de jurema, por ela ser a filha do pajé Araquém, e para isto, ela tinha que conservar sua virgindade.

   “O guerreiro que possuísse a virgem de Tupã morreria” (Alencar, 1978, p.28).

   “ Martim, um soldado lusitano, desgarra-se do grupo de companheiros Pitiguaras com quem caçava, acaba chegando aos campos Tabajaras, nação inimiga.   Encontra-se casualmente com Iracema, espécie sui generis de pitonisa dessa nação, a índia fere o estranho guerreiro, mas logo depois se tornam amigos, Martim se hospeda na oca de Araquém, pajé dos Tabajaras, prometendo partir o mais breve possível”(Alencar,1974,introdução IX).

   Iracema fica fascinada por Martim e logo cuida de oferecer-lhe hospitalidade, levando-o até seu pai. Martim se apresenta a Araquém, a quem o próprio estrangeiro se apresenta como inimigo da tribo que está o acolhendo:

   - Sou dos guerreiros brancos, que levantaram a taba nas margens do Jaguaribe, perto do mar, onde habitam os pitiguaras, inimigos de tua nação I...I. Estava entre os Pitiguaras, inimigos de Acaractu, na cabana do bravo Poti, irmão de Jacaúna, que plantou comigo a árvore da amizade.

   Há três sóis partimos para caçar e perdido dos meus, vim aos campos dos Tabajaras(Alencar,1978,p.18).

   Mesmo assim, Martim foi bem recebido por Araquém, que colocou seus guerreiros a sua disposição.

   Iracema sente uma forte atração pelo guerreiro branco e comente por duas , uma hybris: leva Martim até o bosque sagrado de jurema, onde nenhum guerreiro penetra contra a vontade de Araquém e oferece-lhes a bebida sagrada, que lhe permite reviver em sonhos as lembranças.

   “Tupã já não tinha sua virgem na terra dos Tabajaras”(Alencar,1978,p.47). Ela foge com Martim e se encontram com Poti, amigo do jovem guerreiro branco, que estava escondido numa gruta. Poti vai ao encontro dos dois e pede que Martim ordene que Iracema volte, pois, os guerreiros de sua tribo viriam atrás deles, Martim assim faz, mas Iracema não obedece.

   Ao amanhecer, eles já estão fora das terras Tabajaras.

   Teu hospede já não pisa nos campos Tabajaras, é o instante de separar-te dele.   Como resposta, Iracema conta que não pode mais separar-se do estrangeiro.

   O que veremos em seguida esclarece os fatos:

   - Iracema te acompanhará, guerreiro branco, porque ela já é tua esposa.

   Martim estremeceu.

   - Os maus espíritos da noite turbaram o espírito de Iracema.

   - O guerreiro branco sonhava, quando Tupã abandonou sua virgem. A filha do pajé traíu o segredo de Jurema ( Alencar,1978,p.50).

   A tribo de Iracema não se conformava com a traíção e por isso os Tabajaras resolveram ir á procura dos fugitivos, acontecendo assim uma batalha entre as duas tribos. No meio dessa batalha Martim fica de frente com o irmão de Iracema, sua espada bate no clave do selvagem e fez-se em pedaços, o chefe Tabajara avançou contra o peito do estrangeiro e é surpreendido por Iracema que desfere contra o mesmo sua arma rígida que tremeu na destra possante do chefe que caíra já desfalecido.

   Os Tabajaras batem em retirada, pois, perdera a batalha.

Quero frizar aqui , que Martim esteve pronto para enfrentar o irmão de Iracema, como Medeia que assume a morte do irmão, Iracema toma a frente de Martim para defender seu amado.

   Tudo esclarecido, os dois agora vivem em terras Pitiguaras, são bem recebidos pelo chefe Jacaúna e ficam por um tempo na aldeia com eles, mas Iracema não se sente a vontade na tribo inimiga, Martim percebendo isto, vai com sua esposa para a praia de Potengi e com a ajuda do amigo Poti, ele constrói uma cabana.

   Iracema comunica á Martim que está gravida e ele fica feliz, mas logo seu coração entristece, pois, o cristão tem os olhos voltados para sua Pátria sente saudades de tudo que deixou e já encontra-se enfastiado de sua esposa. Logo Martim partira para mais uma batalha, dessa vez duradoura no qual ele e os seus, são vencedores.   Iracema o espera por muito sóis e se sente desprezada, a angustia toma conta de sua vida e ela já não tem nem vontade de se alimenta.

   Ao passar do tempo, nasce seu filho, fruto do amor e do sofrimento, a mãe já não tem leite para amamente seu filho e quando ela menos espera ver de longe a sombra de Martim.

   - Iracema! ...

   A triste esposa e mãe soabriu os olhos, ouvindo a voz amada.  Com esforço grande, pode erguer o filho nos braços e apresenta-lo ao pai, que o olhava extático em seu amor (Alencar,1974,p.79).

   Em seguida Iracema desfaleceu.

   Constatamos neste percurso entre Iracema e Medeia, pontos comuns entre o mito de Eurípedes e a narrativa da personagem Iracema, onde ela se apaixona por um estrangeiro, sacrifica toda a sua vida e ultrapassa os limites da sua tribo para viver este amor e deprime-se ao ver que seu amor já não é mais correspondido.       Assim foi com Medeia que de tudo fez pelo seu amado que mais tarde a desprezaria e se envolveria com outra mulher.

   José de Alencar seguiu linhas clássicas para compor a lenda de Iracema, conforme ele mesmo falou.

   “ É como viu e como então lhe esbocei a largos traços, uma heroidida I...I” (José de Alencar,1978,p.79)

Referências

 

Alencar, J de. Iracema: lenda do Ceará.8.ed. São Paulo: Ática,1979. 1974, edit. McGraw-Hill.

Eurípedes: Medeia. Livro baixado no Google. tradução. Louis Méridier. Paris:Les Belles Lettres,1976.