Resenha de ''Gênese da espiritualidade medieval''
Publicado em 28 de outubro de 2012 por "Mestre.Bruce.Bruno.Morais"
RESENHA
VAUCHEZ, A. Gênese da espiritualidade medieval (séc. VIII início do séc. X). Rio de Janeiro: Zahar, 1995, p. 11-30.¹
O texto Gênese da espiritualidade medieval (séc. VIII início do séc. X.) é parte do livro A espiritualidade na Idade Média Ocidental: séculos VIII a XIII de autoria de VAUCHEZ, A., tem por assunto o cristianismo assumido pelos bárbaros como herança cultural da Espanha visigótica “ruínas do Império Romano”. Segundo o próprio autor VAUCHEZ, A.: Ora, na maior parte das áreas rurais do Ocidente, exceto na região mediterrânea, a conversão das populações à fé cristã só foi concluída por volta dos anos 700. Partindo desse pressuposto, isso não quer dizer que não houvesse uma vida espiritual, pelo contrário, haviam indivíduos e sociedades impregnados pelas crenças religiosas cristãs em grande número romanos. E, diz que somente no século VIII o cristianismo tornou-se religião do Ocidente, porém, antes do século VIII “já” havia uma organização doutrinária cristã. E, logo, fica de vez claro que sua intenção é contar uma história dos vencedores e não dos vencidos. Segundo o próprio autor VAUCHEZ, A.:
Investidos de um poder sobrenatural pela virtude da sagração, os soberanos carolíngios se consideraram como responsáveis pela salvação de seu povo e pretenderam reger a Igreja assim como regiam a sociedade profana. Carlos Magno, que levou esses princípios até as últimas conseqüências, apareceu aos seus contemporâneos como um “novo Constantino”, restaurador do Império cristão. (VAUCHEZ, A. A espiritualidade na Idade Média Ocidental: séculos VIII a XIII. Rio de Janeiro: Zahar, 1995, p.12.).
Como Carlos Magno pretendia consagrar-se o herói do Império Romano? Regendo a Igreja e convertendo um pequeno número de pagãos germânicos ao cristianismo. Ora, o cristianismo “já” estava consolidado bem antes dos soberanos carolíngios regerem a Igreja que sob ameaça se viu obrigada a acatar os desejos dos imperadores: Segundo VAUCHEZ, A.:
Assim também, a Igreja desse tempo parece preocupada, antes de tudo, com a encarnação e o estabelecimento, procurando realizar na terra a Cidade de Deus. Na procura desse objetivo, ela teve o apoio do poder leigo: os soberanos deram força de lei aos decretos eclesiásticos que, na época precedente, eram letra morta por falta de um braço secular que obrigasse aplicá-los. (VAUCHEZ, A. A espiritualidade na Idade Média Ocidental: séculos VIII a XIII. Rio de Janeiro: Zahar, 1995, p.12-13.).
Partindo desse pressuposto, a estratégia dos imperadores carolíngios que aproveitando-se da fragilidade de liderança católica e sob ameaça fizeram acordos com a Igreja. Então, é legítimo afirmar que por trás de um império carolíngio com a benção da Igreja, esta que com certeza foi obrigada pela força a construir uma imagem de soberanos carolíngios divinos, a exemplo de Carlos Magno, faz com que caia por terra todo ideal de imperador salvador? E, quando em 755, Pepino reveu a obrigação dominical, abstenção do trabalho, pagamento de dízimo ao clero para que a Igreja em troca orasse pelo rei, cargos administrativos, em suma, era uma instituição política-religiosa de fato, mas não de direito. E, outra questão a ser abordada é que os soberanos carolíngios não podem ser considerados os salvadores nem antes e menos durante essa monarquia, pois, ao passar do culto do Novo Testamento para o Antigo Testamento associado com as reformas bíblicas como: adoção do canto gregoriano estranho à liturgia local dificultando a participação dos fiéis e, depois com adoção da polifonia, espetáculo em latim os leigos se entediavam durante a missa, pois a quase totalidade da população só falava idiomas germânicos, mesmo traduzindo para a língua germânica era inútil, pois os leigos não sabiam ler, o culto era privilégio dos clérigos, não há mais fração do pão e as oferendas feitas pela assembléia se reduzem a algumas moedas, logo, o que o autor VAUCHEZ, A. deixa escapar quase despercebido que para os fiéis germânicos os soberanos carolíngios divinos não são os salvadores do povo, pois estes estavam insatisfeitos com os imperadores. Segundo o próprio autor VAUCHEZ, A.:
Para que se possa falar de vida espiritual, é preciso que haja previamente não apenas uma adesão formal a um corpo de doutrinas, mas também uma impregnação dos indivíduos e das sociedades pelas crenças religiosas que eles professam o que só pode se efetuar com o tempo. (VAUCHEZ, A. A espiritualidade na Idade Média Ocidental: séculos VIII a XIII, Rio de janeiro, Zahar, 1995, p.11.).
Partindo desse pressuposto, não se pode falar de vida espiritual, pois o que houve foi uma adesão brutal a um corpo de doutrinas do poder leigo dos soberanos carolíngios com decretos-leis imposta a Igreja, e não houve impregnação dos indivíduos e das sociedades pelas crenças religiosas, uma vez que, os povos bárbaros germânicos fizeram adaptações nas crenças religiosas cristãs combinando com as crenças religiosas germânicas. Uma outra crítica é que quando se afirma que tais áreas sejam rurais, do mediterrâneo, da Germânia são menos e mais convertidas à fé cristã, o autor VAUCHEZ, A. poderia por gentileza mostrar os números populacionais dessas áreas, pois, dá margem de múltiplos entendimentos e, por isso, é legítimo escolher a melhor hipótese de quais áreas eram mais povoadas, veja bem, área convertida à fé cristã é uma coisa e área povoada é outra, pois nem todos converteram-se à fé cristã, fazendo-se imprescindível a utilização do mapa demográfico que apresenta a distribuição da população em determinada região. Portanto, as fontes históricas foram insuficientes para melhor compreensão.
¹Resenha de: Bruno Antônio Morais de Almeida, graduando do 3° semestre do Curso de História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA - Barreiras
BIBLIOGRAFIA
VAUCHEZ, A. Gênese da espiritualidade medieval (séc. VIII início do séc. X). Rio de Janeiro: Zahar, 1995, p. 11-30.