RESENHA 

VAUCHEZ, A. Gênese da espiritualidade medieval (séc. VIII início do séc. X). Rio de Janeiro: Zahar, 1995, p. 11-30.¹                

                  O texto Gênese da espiritualidade medieval (séc. VIII início do séc. X.) é parte do livro A espiritualidade na Idade Média Ocidental: séculos VIII a XIII de autoria de VAUCHEZ, A., tem por assunto o cristianismo assumido pelos bárbaros como herança cultural da Espanha visigótica “ruínas do Império Romano”. Segundo o próprio autor VAUCHEZ, A.: Ora, na maior parte das áreas rurais do Ocidente, exceto na região mediterrânea, a conversão das populações à fé cristã só foi concluída por volta dos anos 700. Partindo desse pressuposto, isso não quer dizer que não houvesse uma vida espiritual, pelo contrário, haviam indivíduos e sociedades impregnados pelas crenças religiosas cristãs em grande número romanos. E, diz que somente no século VIII o cristianismo tornou-se religião do Ocidente, porém, antes do século VIII “já” havia uma organização doutrinária cristã. E, logo, fica de vez claro que sua intenção é contar uma história dos vencedores e não dos vencidos. Segundo o próprio autor VAUCHEZ, A.:

Investidos de um poder sobrenatural pela virtude da sagração, os soberanos                                 carolíngios se consideraram como responsáveis pela salvação de seu povo e                                pretenderam reger a Igreja assim como regiam a sociedade profana. Carlos                               Magno, que levou esses princípios até as últimas conseqüências, apareceu                               aos seus contemporâneos como um “novo Constantino”, restaurador do Império                                  cristão. (VAUCHEZ, A. A espiritualidade na Idade Média Ocidental: séculos VIII a XIII. Rio de Janeiro: Zahar, 1995, p.12.).

 

Como Carlos Magno pretendia consagrar-se o herói do Império Romano? Regendo a Igreja e convertendo um pequeno número de pagãos germânicos ao cristianismo. Ora, o cristianismo “já” estava consolidado bem antes dos soberanos carolíngios regerem a Igreja que sob ameaça se viu obrigada a acatar os desejos dos imperadores: Segundo VAUCHEZ, A.:

Assim também, a Igreja desse tempo parece preocupada, antes de tudo, com a encarnação e o estabelecimento, procurando realizar na terra a Cidade de Deus.  Na procura desse objetivo, ela teve o apoio do poder leigo: os soberanos deram força de lei aos decretos eclesiásticos que, na época precedente, eram letra morta por falta de um braço secular que obrigasse aplicá-los. (VAUCHEZ, A. A espiritualidade na Idade Média Ocidental: séculos VIII a XIII. Rio de Janeiro: Zahar, 1995, p.12-13.).

 

Partindo desse pressuposto, a estratégia dos imperadores carolíngios que aproveitando-se da fragilidade de liderança católica e sob ameaça fizeram acordos com a Igreja. Então, é legítimo afirmar que por trás de um império carolíngio com a benção da Igreja, esta que com certeza foi obrigada pela força a construir uma imagem de soberanos carolíngios divinos, a exemplo de Carlos Magno, faz com que caia por terra todo ideal de imperador salvador? E, quando em 755, Pepino reveu a obrigação dominical, abstenção do trabalho, pagamento de dízimo ao clero para que a Igreja em troca orasse pelo rei, cargos administrativos, em suma, era uma instituição política-religiosa de fato, mas não de direito. E, outra questão a ser abordada é que os soberanos carolíngios não podem ser considerados os salvadores nem antes e menos durante essa monarquia, pois, ao passar do culto do Novo Testamento para o Antigo Testamento associado com as reformas bíblicas como: adoção do canto gregoriano estranho à liturgia local dificultando a participação dos fiéis e, depois com adoção da polifonia, espetáculo em latim os leigos se entediavam durante a missa, pois a quase totalidade da população só falava idiomas germânicos, mesmo traduzindo para a língua germânica era inútil, pois os leigos não sabiam ler, o culto era privilégio dos clérigos, não há mais fração do pão e as oferendas feitas pela assembléia se reduzem a algumas moedas, logo, o que o autor VAUCHEZ, A. deixa escapar quase despercebido que para os fiéis germânicos os soberanos carolíngios divinos não são os salvadores do povo, pois estes estavam insatisfeitos com os imperadores. Segundo o próprio autor VAUCHEZ, A.:

Para que se possa falar de vida espiritual, é preciso que haja previamente não apenas uma adesão formal a um corpo de doutrinas, mas também uma impregnação dos indivíduos e das sociedades pelas crenças religiosas que eles professam o que só pode se efetuar com o tempo. (VAUCHEZ, A. A espiritualidade na Idade Média Ocidental: séculos VIII a XIII, Rio de janeiro, Zahar, 1995, p.11.). 

Partindo desse pressuposto, não se pode falar de vida espiritual, pois o que houve foi uma adesão brutal a um corpo de doutrinas do poder leigo dos soberanos carolíngios com decretos-leis imposta a Igreja, e não houve impregnação dos indivíduos e das sociedades pelas crenças religiosas, uma vez que, os povos bárbaros germânicos fizeram adaptações nas crenças religiosas cristãs combinando com as crenças religiosas germânicas. Uma outra crítica é que quando se afirma que tais áreas sejam rurais, do mediterrâneo, da Germânia são menos e mais convertidas à fé cristã, o autor VAUCHEZ, A. poderia por gentileza mostrar os números populacionais dessas áreas, pois, dá margem de múltiplos entendimentos e, por isso, é legítimo escolher a melhor hipótese de quais áreas eram mais povoadas, veja bem, área convertida à fé cristã é uma coisa e área povoada é outra, pois nem todos converteram-se à fé cristã, fazendo-se imprescindível a utilização do mapa demográfico que apresenta a distribuição da população em determinada região. Portanto, as fontes históricas foram insuficientes para melhor compreensão. 

¹Resenha de: Bruno Antônio Morais de Almeida, graduando do 3° semestre do Curso de História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA - Barreiras

BIBLIOGRAFIA

VAUCHEZ, A. Gênese da espiritualidade medieval (séc. VIII início do séc. X). Rio de Janeiro: Zahar, 1995, p. 11-30.