O texto "As transformações políticas e culturais do Próximo Oriente nos sécs. XII e XIII" é o capítulo 16 do livro "A Idade Média no Oriente" de autoria de Alain Ducellier, professor emérito de História Medieval na Universidade de Toulouse II, Le-Mirail, na França. O autor Ducellier diz que cristãos e
muçulmanos do oriente permitem a entrada da economia latina, com poder monopolizado, com firmeza crescente, com sistemas dinásticos. Após a morte de Teodora, os Bizantinos tinham a idéia de que Deus pode sempre escolher quem quer que seja para ocupar o poder supremo, mas antes disso, estavam cada vez mais persuadidos de que o poder supremo se deve transmitir no quadro familiar. Porém, o autor Ducellier faz a seguinte afirmação:

“graças a velhíssimas ligações com a linhagem macedónia
que acaba de se extinguir, é a família dos Dukas que lhe
sucede; por uniões matrimoniais com esta, usurpadores
como Nicéforo Botaneiates e Aleixo Comneno revestem-se
de uma aparência de legitimidade. Marido de Irene Dukas,
Aleixo apresenta-se como sucessor legítimo dos gloriosos
Macedônios”. (DUCELLIER, 1994, p. 278).

A indagação que se faz necessária é a seguinte: Como que Aleixo Comneno, marido de Irene Dukas, pode ser postulado de usurpador? Seria por se revestir de uma aparência de legitimidade? Ressaltando que Irene Dukas era parente de
Teodora Dukas e, que lhe sucedera após sua morte em 1056. Então não seria legítimo que Aleixo Comneno, marido de Irene Dukas, se apresentasse como sucessor legítimo dos gloriosos Macedônios? Para alimentar ainda mais indagações, vejamos o que se verifica durante o exercício do poder de Aleixo Comneno. Segundo o próprio autor Ducellier:

“O apelido Comneno passa a ser símbolo de toda a legitimidade: não só os Paleólogos o aditarão ao próprio
nome, mas também um grande número de pequenas e
obscuras dinastias balcânicas, por vezes nem sequer gregas, o usarão como se fosse a sombra do Direito. Após 1204, o prestígio do seu nome permite aos Comnenos instalarem-se em Trebizonda e aqui se manterem até ao século XV. (DUCELLIER, 1994, p.278-279).

Desenvolvendo mais indagações: Se poder centralizado é sinônimo de eficiência administrativa na dinastia bizantina, então, o que se pode concluir? Vejamos outros exemplos de centralização do poder dos Comnenos:

“no reinado de Aleixo I, a criação de novas dignidades
áulicas têm principalmente por objectivo instalar a família e
os seus aliados no topo da hierarquia. Quantos aos postos-chave, é também a família que, de preferência, os ocupa:
assim a guerra contra os Normandos, em 1081-1085, foi
sobretudo conduzida pelo próprio imperador e por vários
dos seus parentes.” (DUCELLIER, 1994, p.279).

Porém, o autor Ducellier contesta a legitimidade do poder dos Comnenos, onde se afirma que se por um lado era um “excelente meio de controlo”, por outro lado “este sistema patriarcal tornou-se no pior dos perigos”. A indagação que se faz presente é a seguinte: Como que é possível contestar a legitimidade do poder dos Comnenos, se a luta era travada entre os próprios Comnenos? Segundo o próprio autor Ducellier:

“Excelente meio de controlo enquanto a família era um pequeno clã ainda contestado e que tinha interesse em
manter-se coeso, este sistema patriarcal tornou-se no pior
dos perigos quando a linhagem se ramifica até ao infinito,
com tios, sobrinhos, primos e cunhados a receberem
liberalmente títulos e domínios. Ao contrário de João II,
que tentou aparentemente reagir, Manuel I deu mostras de
uma indesculpável indulgência com respeito à família”.
(DUCELLIER, 1994, p.279).

O que se pode concluir sobre a legitimidade do poder dos Comnenos é que na mentalidade de muitos bizantinos, gregos, balcânicos e, entre os próprios Comnenos, eram de fato e de direito os legítimos herdeiros da dinastia bizantina. Isso se comprova com a luta dos membros da própria família pelo poder, com o uso do termo Comneno como símbolo do direito por parte das dinastias gregas e
balcânicas e, pelos registros dos paleólogos.

Resenha de: Bruno Antônio Morais de Almeida, discente do 4º semestre do Curso de História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA - Barreiras.
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Referência
DUCELLIER, Alain; KAPLAN, Michel; MARTIN, Bernadette. A Idade Média no Oriente. “As transformações políticas e culturais do Próximo Oriente nos sécs. XII e XIII”. Lisboa: Don Quixote, 1994, p.278-294.