RESENHA 

BASTOS, M. J. M. A religiosidade camponesa na alta idade média ocidental. Maringá: Eduem, 2008, v.1, p.121-149.[1] 

                  O texto A religiosidade camponesa na alta idade média ocidental é parte do livro Antigüidade e medievo: Olhares histórico-filosóficos da educação de autoria de Mário Bastos têm por objetivo criticar o “marxismo vulgar’’ com ênfase sobre a dominação aristocrática e a resistência exercida pelo campesinato. O autor Mário Bastos tenta reduzir o Marxismo[2] a um objeto negativo: 

Não há desserviço maior que possamos prestar à sua história, e à reflexão teórica, do que submetê-lo às regras muitos pobres de um método muito precário e mecânico que se convencionou designar por “marxismo vulgar’’: a imagem daqui decorrente seria mais ou menos aquela que apresentaria, no fundo da cena, os camponeses vergados, exauridos pelo peso extremo das exigências senhoriais, elas próprias materializadas em manifestações cotidianas de violência aberta e deflagrada. (BASTOS, M. J . M. A religiosidade camponesa na alta idade média ocidental. Maringá: Eduem, 2008, v.1, p.121). 

Ora, em qualquer tempo e lugar o uso da força faz-se necessária, ou o autor Mário Bastos esperava que a aristocracia nobre aceitasse pacificamente a participação do campesinato pobre de forma igualitária? Se é que foi assim violento? Pois, essa questão de dominação violenta tem que ser analisada com cuidado. Segundo Guy Bordé e Hervé Martin: 

Nas sociedades rurais do Ocidente medieval são relações de produção: o âmbito do domínio senhorial, com a repartição das terras entre a reserva e as dependências do feudo, o sistema do trabalho gratuito, o recebimento das taxas e das <<banalidades>>; mas também os diversos estatutos dos camponeses­­ – servos, forros, colonos, proprietários de alódios – e a organização da comunidade aldeã, com a rotação das culturas, os pastos incultos, as charnecas e os bosques comunais. (BORDÉ, Guy e MARTIN, Hervé. O marxismo e a história. In as escolas históricas. Portugal: Europa-América, 2003, p.154-155).

Só para efeito de comparação. Segundo Borges Hermida: “Sua situação, era, entretanto, melhor que a dos escravos: tinham direito a uma parte do que produziam; podiam constituir família; seu domicílio era respeitado como propriedade privada, que ninguém podia violar”.[3] Logo, os camponeses tinham direitos assegurados pelos estatutos como uma parte da produção, domicílio respeitado, ou seja, ser camponês é diferente de ser escravo. Então, penso que o autor Mário Bastos ao utilizar a generalização, deixou de fora a prudência, pois, ele não soube discernir o grau de violência branda ou rigorosa? Outra crítica: O autor Mário Bastos crê que a religião cristã foi a conexão entre aristocratas e camponeses, buscando enraizar-se em âmbitos diversos da vida cotidiana e de trabalho das comunidades. Segundo o próprio autor Mário Bastos: Como viabilizar e garantir a perenidade de um processo pelo qual as famílias, gozando de um grau considerável de autonomia na produção e reprodução de suas vidas, entregassem uma parcela de seus magros rendimentos aos senhores diretos? Então, partindo desse pressuposto fica entendido que existe um dogmatismo por parte do autor Mário Bastos, pois este expõe sua preocupação em “garantir” o processo de exploração por via da religião cristã. Mas, realmente essa religião pode ser considerada a conexão entre aristocratas e camponeses de forma total? Como seria possível afirmar sem dogmatismo que ela foi a salvadora do mundo aristocrático? Pois, existem relatos documentais visigóticos que os concílios mesmo proibindo as crenças de ídolos pelos pagãos, muitos “proprietários” camponeses poderiam revoltar-se contra a minoria aristocrática. Meu objetivo aqui é mostrar que dessa forma não poderia proceder, uma vez que os camponeses tinham estatutos que asseguravam seus direitos. Novamente, reitero as palavras de Borges Hermida: “Sua situação, era, entretanto, melhor que a dos escravos: tinham direito a uma parte do que produziam; podiam constituir família; seu domicílio era respeitado como propriedade privada, que ninguém podia violar”.³ Karl Marx é criticado por Mário Bastos que afirma que o Marxismo²  é acrítico e dogmático, porém, este último trata a religião cristã como a conexão entre aristocratas e camponeses de forma total. Convenhamos, na tentativa de expor um elemento novo no vigoroso e profícuo corpo teórico de Karl Marx, ele sim é acrítico e dogmático. O autor Mário Bastos critica o método de referência de Karl Marx: 

Devo dizer que as mais diretas referências de Marx à religião nos auxiliam pouco no desenvolvimento dessa análise, ainda que ela seja primordialmente favorecida por uma referência sua propícia a vários desdobramentos. No volume I de O Capital, de cerca de 1867, em uma das pouquíssimas considerações voltadas às formas pré-capitalistas de produção, Marx as agrupa a partir de algumas características gerais comuns, ainda que pudessem assumir formas específicas. (BASTOS, M. J. M. A religiosidade camponesa na alta idade média ocidental. In Oliveira, Terezinha. (Org.). Antigüidade e medievo: Olhares histórico-filosóficos da educação. Maringá: Eduem, 2008, v.1, p.121-122). 

Refletindo sobre tal afirmação do autor Mário Bastos, existe outra explicação mais plausível para o método de referência de Karl Marx. Segundo José Carlos Reis:

Seu objetivo, prossegue Vilar, seria a criação de uma ciência da história ao mesmo tempo coerente, graças a um esquema teórico sólido e comum, total, capaz de não deixar fora de sua jurisdição nenhum terreno de análise útil, e enfim dinâmica, pois, não existindo nenhuma realidade eterna, torna-se preciso descobrir o princípio das mudanças. (REIS, 2004, p.52 apud VILAR, 1982, p.383). 

Em suma, Karl Marx mostra os fatos tal como aconteceram no tempo e no lugar, portanto, são falácias os argumentos de Mário Bastos que define o Marxismo² como uma empresa que produz “violência aberta e deflagrada”. Mas afinal, quem é Karl Marx? Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 – Londres, 14 de março de 1883) foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, que atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista. O pensamento de Marx influencia várias áreas, tais como Filosofia, Geografia, História, Direito, Sociologia, Literatura, Pedagogia, Ciência Política, Antropologia, Biologia, Psicologia, Economia, Teologia, Comunicação, Administração, Design, Arquitetura, entre outras. Em uma pesquisa realizada pela Rádio 4, da BBC, em 2005, foi eleito o maior filósofo de todos os tempos. 

BIBLIOGRAFIA

REIS, JOSÉ CARLOS. O marxismo. In A História, entre a Filosofia e a Ciência. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, p.51-66.

BASTOS, M. J. M. A religiosidade camponesa na alta idade média ocidental. In Oliveira, Terezinha. (Org.). Antigüidade e medievo: Olhares histórico-filosóficos da educação. Maringá: Eduem, 2008, v.1, p.121-149.

BORDÉ, Guy e MARTIN, Hervé. O marxismo e a história. In as escolas históricas. Portugal: Europa-América, 2003, p.153-176.



[1]Resenha de: Bruno Antônio Morais de Almeida, graduando do 3º semestre do Curso de História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA - Barreiras.

²Doutrina filosófica, política, econômica e social do alemão Karl Marx (1818-1883), que analisa os processos históricos segundo métodos dialéticos e materialistas, à luz da luta de classes.

[3]HERMIDA, Borges. O feudalismo. In História antiga e medieval. São Paulo: Nacional, n/d, p.89.