UNIVERSIDADE TIRADENTES
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
BARBOSA, A. DOS. S; LIMA, L. B; CRUZ, B. S; QUEIROZ, A. F & BRITO, P. A.


O livro "Sete palmos de terra e um caixão" em seu primeiro capítulo (A Reinvidicação dos Mortos) relata como foi a vida de João Firmino, que era morador do Engenho Galiléia. Ele foi responsável pela fundação da primeira Liga dos Camponeses, que tinha como objetivo o respeito da integridade dos mortos, isso porque ele, junto a seus amigos, questionava sobre a vida sofrida que eles tinham no engenho e que ao menos na morte a pessoa tinha o direito de ter pelo menos sete palmos de terra e um caixão, pois era ali que iria passar sua eternidade e dali que iriam para o juízo final, já que naquela época as pessoas mortas eram colocadas em buracos e enterradas. Para liderar essa Liga eles chamaram os senhores de engenhos, o que não durou muito tempo, pois os senhores de engenho viram que não era conveniente ele lutarem pelos camponeses e ficarem contra os patrões, por isso começaram a ajudar seus empregadores a mandar embora todos aqueles que participavam dessas Ligas, deixando-os sem teto e sem comida.
Devido esse problema, os camponeses viram a necessidade de procurar um advogado, só que na época o trabalho de advocacia era muito caro, mas eles descobriram Francisco Julião, advogado modesto que passou a ajudá-los nessa missão. Com essa ajuda as informações das lutas camponesas começaram a se espalhar, e foram formando vários outros núcleos de Ligas dos Camponeses, dando cada vez mais força as idéias defendidas. Essa ideologia foi disseminada pelo país e foi nesse momento que os Estados Unidos redescobriram o Nordeste desde então já esquecido, só que desta vez foi visto como um país revolucionário, isso por causa de uma simples luta humanitária por um pedaço de terra e um caixão.
O segundo capítulo, cujo título é "Seiscentas mil milhas quadras de sofrimento" fala sobre o Nordeste, dividindo-o em duas partes: o Nordeste Oriental que é caracterizado pelo verde infinito dos canaviais, terra fértil, chuvas freqüentes e uma história econômico-social totalmente antagônica com o Nordeste Ocidental, onde se encontra terra seca, solo duro tipo arenoso, quase sem vegetação e pobre em elementos nutritivos. E os dois, marcados em todo o seu território pelo sofrimento, tanto da terra quanto de quem vive nela. De um lado um solo seco, morto, do outro a monocultura da cana-de-açúcar que irá sugar todas as forças desse solo e de quem trabalha nele, onde o enterro é o traço mais vivo visto nessa região. Explicita o capítulo também que as pessoas do Nordeste morrem de tudo, mas a principal fonte de mortalidade é a fome, onde a classifica de acordo com sua duas regiões, ocidental é a fome crônica dos canaviais e a oriental é a fome aguda das secas.
Na região ocidental isso aconteceu graças a monocultura que foi exposto pelos colonos, onde deixou de se plantar uma grande variedade de vegetais e passou a se cultivar somente a cana-de-açúcar para fins econômicos, esquecendo das necessidades alimentícias que a população que ali mora, como índios e os que eram trazidos da África como escravos, iria passar. Mas os escravos diferentemente dos índios que só tinham como forma de resistência os arcos e flechas tinham como desobedecer aos senhores de engenho, eles plantavam as escondidas no meio das plantações de cana o seu roçadinho. A falta e monotonia da alimentação acarretavam em uma saúde deficiente, qualidade de vida muito ruim, e isso claro afetava a produtividade, ocasionando um balanço negativo na economia canavieira. Essa situação levou a primeira tentativa de mudanças de alimentação, determinando o plantio obrigatório de mandioca em todos os engenhos de açúcar, mas essa tentativa não deu muito certo, por isso só acontecia no litoral, que era onde se encontravam os holandeses para observar, no centro a situação ainda era a mesma.
Na área do sertão a fome é completamente diferente da área até então falada, deixando se ser devido a hábitos cotidianos (monocultura) e passando a ser devido ao clima (Secas), que deixa de ter a cana e passa a ter o milho. Acarretado pelo clima semi-árido caracterizado pela seca, com chuvas irregulares e escassas. Nos solos do sertão foram caracterizadas três subáreas climato-botânicas: agreste (há presença de água), caatinga (maior aridez do Nordeste) e alto sertão (formas atenuadas da caatinga). Tantas diferenças biológicas, ecológicas, mas na alimentação vegetal podem-se englobar as três subáreas numa área do milho do sertão nordestino. Também a fauna do sertão fornece poucos recursos alimentares, pois de poucos animais como galinhas, cabra e ovelhas, ainda há a competição por alimento das pessoas com os animais de rapina. Então para sua alimentação os sertanejos utilizam do leite e do milho para se alimentar e com a vinda de bois para a região passou a ter também uma fonte liberal de proteínas da carne, mas claro sem exagero, como o consumo dos gaúchos. Além da batata-doce e manteiga, eles conseguiram alcançar uma alimentação embora um pouco abundante, com alto potencial energético. Concluindo dessa forma que o sertanejo tem um regime suficiente para suas necessidades básicas, sem sobras, sem margem para excessos. Assim, com chuvas regulares, os sertanejos vivem mesmo uma época de abundancia e fartura, mas quando a seca chega, desorganiza a economia e a fome se instala no sertão.
Nesses estranhos períodos do clima, toda a vida regional vai se exaurindo da superfície da terra, seja por emigração, até mesmo dos animais nativos, ou pela morte propriamente dita. As plantações desaparecem e o solo seco se espalha pelos ventos quentes. Sem água e sem alimento começa então o êxodo rural. Logo devido a fome começa-se a observar a magreza das pessoas, com olhos fundos, face chupada, chegando a perder até 50% do seu peso, além da parada do crescimento das crianças. Os retirantes como conseqüência de tudo isso perdem toda sua resistência e capacidade de defesa contra agentes mórbidos, todos em direção a Amazônia, alias o Acre, mas nem todos chegam ao destino, morrendo aos milhares, e aos que chegam doenças infecciosas graves. E vão ficando rarefeitas as populações de sertanejos e a cada seca que passa mais alguns casebres são construídos nas capitais do Nordeste, em busca de melhorias, ficando suas vidas representadas como o "ciclo do caranguejo", por não dividirem suas casas com os mesmos no mangues. E não é só sua parte física que fica alterada não, sua mente, seu espírito também é alterado, fazendo-o mudar de comportamento, não só visto em pessoas que são expostas aos rigores da fome, como também em animais domésticos e selvagens.
A fome de início causa uma excitação nervosa anormal e depois afeta os outros sentidos. Dessa forma vão sumindo todos os desejos e o que resta é descobrir de qualquer forma onde se tem alimento. Depois vem a depressão que leva até a dificuldade de se concentrar. E assim, das secas e das fomes periódicas, surgem o beato-cangaceiro e o cangaceiro, que é visto como uma cascavel doida que significa muitas vezes a vitória do instinto da fome sobre as barreiras morais e materiais, já o beato traduz a vitória da exaltação moral, mas os dois juntos lutando contra as calamidades e seus efeitos trágicos. Para os sertanejos o cangaceiro raramente é um criminoso, pois eles roubam dos ricos para distribuir para os pobres.
O drama das secas marca, desta forma, profundamente a mentalidade do povo sertanejo. E são esses sentimentos que influem decisivamente no comportamento do povo nordestino, e essa luta contra a fome deve ser encarada como uma luta contra o subdesenvolvimento, na expressão da monocultura e do latifundiário, no feudalismo operário e da subcapitalização dos recursos naturais da região.
Em "A Primeira Descoberta: O Feudalismo português do Século XVI" é discutido o feudalismo que se inicia com a primeira descoberta do Brasil, que aconteceu casualmente e estava fora dos planos de Portugal, e mesmo depois dessa descoberta, durante 30 anos, o território ainda continuava abandonado, salvo esporádicas vindas para a exploração do pau-brasil, até então a única riqueza encontrada. Mas isso não durou muito tempo, alguns anos depois, perceberam a completa eficácia da mão-de-obra nativa para a exploração das riquezas que ali se encontravam, e para "comprá-los" trocavam suas bugigangas pelas riquezas da terra.
A partir daí começaram até a comercialização dos índios pelos próprios índios em Portugal, e surge o trabalho escravo no Brasil, onde os colonizadores passam a ter plenos poderes perante os índios. Depois somente o extrativismo não foi suficiente e a colônia exigiu a construção de instituições na terra conquistada, mas era muito bem demonstrada a inexperiência mercantil da metrópole, e foi por perceber isso que D. João III resolveu transformar esses núcleos existentes em grandes capitanias feudais, mas esse regime feudal começa a declinar e a dar sinais de profunda desagregação social, onde a aristocracia rural trocava os poderes da nobreza pelo poder do dinheiro. Com a eliminação do sistema feudal, a vida econômica passou a ser capitalista. Essa negação do feudalismo retira da reforma agrária sua vinculação histórica. Mas sabe-se que o poder extra-econômico é uma característica da sobrevivência do sistema, e que exerce ainda nos nossos dias o grande poder do agricultor sobre seus escravos, e até mesmos em pessoas livres das classes menos favorecidas.
No quarto capitulo intitulado "O Brasil Colonial: a ausência do povo ou a luta contra o processo" explica que em meados do século XVI começara conflitos entre dois interesses distintos, os feudais, que se encontravam decadentes e os capitalistas, que queriam utilizar as colônias para fins exclusivamente de comércio. Alguns defendiam a agricultura decadente onde os solos ricos em massapés eram ótimos para plantação da cana, outros defendiam os interesses na construção de fábricas nos territórios coloniais, e ainda completaram que a matéria-prima deveria ser industrializada no próprio sítio onde se plantasse. Mas foi no modo de produção do açúcar que configurou o regime de terras nos primeiros anos de colonização. A produção organizada que até os dias atuais permanece nítida em nossa história, substituiu a riqueza extrativista desorganizada. Nesse mesmo tempo estruturavam-se os Estados, sob os mesmos moldes e princípios feudais, e outras atividades nasciam, onde o principal objetivo era obter o máximo de rendimento em riquezas e tributos.
O sistema mercantil, tentava suceder a economia natural, e para isso impulsionava a divisão social de trabalho, mas simultaneamente os senhores da terra subdividiam a exploração de seus domínios em parcelas. E assim, aumentava a concentração de bens de produção nas mãos de poucos privilegiados. A caça ao ouro foi a atividade dominante no terceiro século e produzira conseqüências desastrosas nas lavouras de açúcar, mas mesmo com o declínio das atividades agrícolas uma parte de poderosos resistiam às dificuldades e enriqueciam ainda mais. Mas essas situações consolidavam o tripé da economia nordestina: o latifúndio, a monocultura e o braço escravo.
No século XVII a pecuária toma o seu primeiro grande impulso junto com a cultura do fumo. Nesse período, a fazenda em relação ao engenho estava um passo a frente. A criação de gado possibilitou o acesso à terra de uma parte da população mais pobre, já que no trabalho dos currais o proprietário estava ausente e o serviço era assalariado. Na verdade o processo econômico se limitava à estabilização e ampliação dos senhores da terra, donos de quase toda a riqueza do Brasil. E é a impotência coletiva criada e alimentada pelo conformismo, a apatia e o topor social que faziam com que as populações nordestinas parecessem anestesiadas e alienadas da sua própria miséria.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

ASTRO, J. DE. SETE PALMAS DE TERRA E UM CAIXÃO: ENSAIO SOBRE O NORDESTE, ÀREA EXPLOSIVA. BRASILIENSE, 2ª ed; 1967, 223 p.