Monteiro Lobato foi um conceituado editor e escritor brasileiro, nascido em 1882, na cidade de Taubaté, interior de São Paulo. É um dos grandes nomes da literatura brasileira. Editou livros inéditos e considerados importantes para a literatura na época. Formou-se em Direito e chegou a exercer a função de promotor público. Mas começou a escrever e publicar seus contos e suas estórias em jornais e revistas quando recebeu uma herança de sua avó onde se tornou fazendeiro. Sempre foi dedicado ao Brasil, seu patriotismo o levou a escrever o livro “O Escândalo do Petróleo”, publicado em 1936, que falava da falta de interesse que o Brasil tinha de explorar o petróleo que estava em subsolo nacional e a submissão dos nossos governantes em relação às grandes empresas estrangeiras interessadas no petróleo brasileiro. Esse livro foi censurado e o fez ficar preso durante poucos meses. Essa obra mostrou o quanto Lobato era versátil, não apenas dedicado a obras infantis, mas também escrevia obras dedicadas ao público adulto. Era um ativista empenhado a lutar pelo seu país em busca de melhorias tanto economicamente, politicamente, socialmente, quanto culturalmente. Um dos seus focos era a mudança da linguagem no Brasil, porque naquela época a literatura brasileira não tinha originalidade, os livros eram apenas reles adaptações ou simplesmente cópias de obras da literatura européia, que era a principal referência para o país. Com a introdução do modernismo, Monteiro Lobato traria a verdadeira autenticidade brasileira, mostraria para o povo que o brasileiro tem uma raiz cultural muito forte e rica. Mas para que isso pudesse acontecer, o escritor teria de usar dos artifícios da linguagem para retirar o que estava enraizado, a cultura européia. Como dito anteriormente, Lobato era um ativista dedicado ao país, denunciava contra irregulares e injustiças que eram determinadas para a população, lutava para melhoria na saúde, uma das suas grandes prioridades era para que houvesse distribuição de terra e reforma agrária, socialização cultural, ética na política, na justiça social e entre outras causas.
Voltando a falar de literatura, Lobato acreditava também que as crianças poderiam, sim, refletir e dar opiniões sobre determinados assuntos, mesmo que não fosse relacionado ao público infanto-juvenil. Segundo Cassiano Nunes (Artigo da Folha de São Paulo), Lobato foi "O primeiro autor brasileiro a tratar as crianças como seres pensantes, capazes de ponderar sobre assuntos 'sérios' e juízos contraditórios a fim de formar convicção própria...”. Monteiro Lobato usava da linguagem como uma arma para prender a criança em uma leitura de um texto que era fora do mundo em que ela estava inserida. A forma de abordagem e as brincadeiras com os vocabulários davam liberdade de comunicação para o leitor. Isso tudo estava sendo apresentada pela personagem Emília, do Sitio do Picapau Amarelo. Ela é uma grande representante da nova literatura que o Monteiro Lobato queria inserir. Usando a linguagem como forma de mostrar e ensinar as crianças. O fato de apenas idealizar, não era suficiente, era necessário saber e pôr em prática, e isso a Emília fazia de sobra. A "liberdade" gramatical que Lobato usa em Emília, faz com que surjam variadas formas de se comunicar, sair do tradicional, isso seria a libertação de linguagem. Lobato, em o livro “Emília no País da Gramática”, tentava "ensinar", de forma tranquila, o uso da gramática para as crianças, fazendo-os refletir sobre a gramática também em relação à vida.

Na abordagem apresentada pelas escritoras Turchi e‎ Silva no livro “Literatura infanto-juvenil: leituras críticas” mostram claramente as perspectivas de Monteiro Lobato sobre a nova linguagem que desejara inserir na cultura brasileira. Pois a mesma estava culturalmente enraizada pela literatura européia. As obras brasileiras não tinham características originais, não eram conhecidas por sua autenticidade. E as que eram conhecidas tinham personagens-modelo, infância conservadora e padrões rígidos de moral e de comportamento. As escritoras diziam que Lobato “era um homem à frente de seu tempo”, por querer modernizar a literatura do Brasil trazendo o modernismo em seus escritos. Em suas primeiras obras, o autor criticava o convencional com sua linguagem diversificada. E a maior demonstração desse diferencial, como já dito anteriormente, era a personagem Emília, onde Lobato depositava toda ironia, ousadia e determinação, com seus ditos e trocadilhos irreverentes e ao mesmo tempo engraçados. Nos livros “Reinações de Narizinho”, Emília mostra toda sua esperteza e perspicácia. Sua percepção e respostas ponta da língua chamam a atenção do leitor, pela mistura de imaginação e realidade que a boneca trazia ao descrever detalhes do seu cotidiano.

Ao explorar os textos que foram estudados para elaboração dessa análise, podemos considerar a importância cultural e literária de Monteiro Lobato para o Brasil. Antes do modernismo no Brasil, a literatura sofria certa carência de livros infantis que falassem sobre a realidade, sendo apenas contos de fadas e mundo imaginário. A criança praticamente não tinha voz porque na verdade lhe faltava opinião, não refletia, não vivenciava outro mundo além do imaginário, do mágico. Elas estavam presas nos livros “O Patinho Feio”, “A Gata Borralheira”, “O Chapeuzinho Vermelho”, entre outros contos, não tirando a importância dessas obras, que também não eram de autores brasileiros. As obras lobatianas vieram para mostrar, não só para as crianças, mas também mostrar para os adultos que crianças também podem opinar e chegar a conclusões de ideias. Após Lobato, outros autores surgiram com obras de mesmo seguimento e muitos anos depois a literatura que ficou destinada ao público infanto-juvenil, ficou sendo chamada de “Literatura Realista para Crianças”, o nome já diz do que se trata, abordagem da realidade com as crianças, mas tudo isso sendo mostrada de uma forma mais moderada e leve. Tudo isso nos mostra quanto nossa literatura evoluiu e como o modernismo mostrou no que a nossa literatura poderia se tornar. Não foi a toa que “O Sítio do Picapau Amarelo” ficou conhecido mundialmente, não só essa obra, mas como outras de Monteiro Lobato e outros escritores brasileiros.

TURCHI, M. Z; SILVA, V. M. T. Literatura infanto-juvenil: leituras críticas. Goiânia: Editora UFG, 2002.

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho.  São Paulo: Editora Globo, 1920. p. 12. v.1.

LOBATO, Monteiro. Cara de coruja. In:__. Reinações de Narizinho.  São Paulo: Editora Globo, 2007. p. 12-19. v.2.