UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO






Resenha crítica do texto Fotos, memória, identidade: Revisitando a infância, Zeila de Brito Fabri Demartini in Escolas em imagens, Aldenira Mota e Dirceu Pacheco (orgs.)





Nome: Dayse Cruz





São Paulo
2009



Introdução
A presente resenha tem por objetivo selecionar e apresentar as idéias principais do texto referido e analisar, conversar, questionar algumas de suas proposições. Ação possível dadas também as minhas próprias memórias de infância, registradas tanto pela mente quanto por fotografias que realmente possibilitam a compreensão da própria realidade e identidade.




























Segundo a citação que a autora faz de Brandão, logo no inicio do texto, o oficio da memória nãos seria lembrar, no sentido de repassar os fatos ocorridos, mas sim recriar situações, pois o que houve não pode tornar a acontecer. Isso significa que o nosso passado não é rememorado exatamente como aconteceu, mas é reconstituído a partir do presente, com visões que adquirimos com o próprio tempo.
Essas afirmações vão nortear o escrito da autora, que começa explicitando seu trabalho como coleta e análise de memórias, no qual um elemento fundamental é a fotografia e, também, que seu texto será escrito a partir da reflexão e reconstrução de suas próprias memórias, desde a infância.
Monta um histórico de sua família e designa como hábito antigo de seu pai registrar acontecimentos. Como não poderia deixar de ser, diz que suas memórias mais remotas estão associadas a fotos, o que, quando do seu acesso, é fator constitutivo tanto da memória quanto da identidade das pessoas.
Como mencionado por Olga Von Simson (1988), as fotos funcionam como "muletas da memória".
Outra questão levantada pela autora é a de que são "poucas" as situações que são registradas por câmera, algumas na maioria das vezes muito ricas, ficam armazenadas apenas na lembrança.
Diz que, do seu cotidiano escolar, os registros são poucos, e, na sua maioria, foram feitos por fotógrafos "profissionais", o que atribui à falta de acesso da família à escola.
Diz sobre o conflito gerado pela própria família acerca de sua origem, quando esta dizia que a havia encontrado em um cafezal abandonada. Conflito que muitos pais, inconscientemente, causam em seus filhos com "brincadeiras" do tipo. Posso afirmar que o incomodo gerado é tamanho, pois passara por situações do tipo na infância, o que me levava crer que era diferente, como a autora dizia sentir-se com relação aos outros familiares, mas, ao contrário desta, não me considerada amada.
Explicando uma foto do jardim da infância, a qual fora tirada em ocasião de um baile, mostra indícios das concepções de criança dos adultos na época. As crianças deveriam, segundo a autora e a própria fotografia, parecer "adultos mirins", com roupas decotadas, mini vestidos de mulher e traje formal, terno para os meninos.
Zeila deduz, dada a pouca quantidade de fotos tiradas no Jardim da Infância, que is pais não eram tão próximos à escola e seu cotidiano não era "devidamente" acompanhado.
Conta sobre os dramas vividos na escola, o tipo de conduta da escola tradicional, os conflitos percebidos entre leitura/escrita (o nome do Grupo Escolar que freqüentava- Ganot Chateubriand lhe causara estranhamento, pois percebia que o som da leitura era diferente da forma de escrita), as violências que chama de simbólicas a que fora submetida em sala de aula, etc.
Uma brincadeira que menciona sobre sua infância me remeteu aos relatos de minha avó que também fingia que espiguinhas de milho eram bonecas, tinham cabelo... Talvez por não ter tanto acesso a brinquedos industrializados, a imaginação, a criatividade tinham mais liberdade naquela época.
Evidencia o paradoxo da educação escolar e informal visto que, diz não haver ressonância dos valores aprendidos em casa na escola. Em casa era possibilitada sua participação em discussões políticas, fator essencial para a formação de cidadãos, enquanto que, na escola, presenciava o autoritarismo e discriminação por parte das professoras... Será que de lá para cá muita coisa mudou? Duas fotos integrantes do texto ilustram bem essa contradição no tipo de educação: Em uma, na escola, as crianças estão dispostas em fileiras, parece tudo muito rígido e "ordenado"; Na outra, com a legenda: "fora da escola também se aprende", há crianças sentadas, aparenta também certa "ordem", porém algo mais natural, espontâneo, inserido em seu cotidiano.
Apresenta também uma foto em participação da vida religiosa, demonstrando o fio que ligava sua infância por estes três âmbitos institucionais: família, escola e igreja.
Afirma a brincadeira como aprendizado, que ensina e prepara para a vida, mas, diferente dos brinquedos ditos educativos, aprendia-se com espontaneidade e prazer, fato esse que cada um que foi criança, já sabe!
Fala também sobre uma "convenção" e nos faz pensar no porque não registramos situações tristes mas que mesmo assim, marcam tanto nossas vidas, ficando guardadas apenas na lembrança.
Ao final do texto, justifica toda sua narrativa pelo motivo de ter mencionado aspectos da infância que a "auxiliaram a enfrentar os desafios da vida" (pág. 29), exemplificando o paralelo que fez entre os conhecimentos adquiridos nas brincadeiras de criança e seu uso na vida adulta.
Por fim, as fotos, nesse processo, permeiam a constituição e revisitação da identidade, coletiva ou individual, para a formação da qual contribuíram diferentes dimensões de sua educação, o que, claramente, não é visto no texto como algo "ruim" por terem sido contraditórias, mas algo bom que a ajudou na sua formação integral.