INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA – IFBA

Engenharia Ambiental

Campus de Vitória da Conquista – Vitória da Conquista – Bahia

 

 

RESENHA CRÍTICA[1]

Eduardo Freitas Rêgo

João Pedro Marcelino Teixeira

Lorena Maciel de Albuquerque

 

I – OBRA     

 

OLIVEIRA, M. R. Preconceito lingüístico, variação e o papel da universidade. Caderno de Letras da UFF – Dossiê Preconceito Lingüístico e cânone literário, n. 36, p. 115-129, 1. sem. 2008.

 

 

II – CREDENCIAIS DA AUTORIA

 

Doutora em Letras (Letras Vernáculas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993), Mariangela Rios de Oliveira atualmente é professora associada III da Universidade Federal Fluminense, onde coordena o Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem e lidera o Grupo de Estudos Discurso & Gramática – Universidade Federal Fluminense. Atua também como editora da Revista Gragoatá, secretária executiva da ANPOLL (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística), conselheira da Assel-Rio (Associação de Estudos da Linguagem do Rio de Janeiro) e vice-coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) “Descrições do Português” da ANPOLL. 

III- DIGESTO 

Em seu artigo Preconceito lingüístico, variação e o papel da universidade, a professora Mariangela Rios de Oliveira tem como intuito analisar o preconceito lingüístico no contexto da língua portuguesa do Brasil, para tratar dessa questão a autora aborda o tema a partir de um rápido olhar sobre a história da implantação do português no Brasil. Após, destaca o surgimento da ciência Lingüística, mais especificamente da Sociolingüística Variacionista. A seguir, expõe e discute os mais tradicionais preconceitos em torno da língua portuguesa vigentes no Brasil, e, por fim apresenta o tratamento da diversidade lingüística nos documentos que orientam o ensino-aprendizagem do português em nossos dias, chegando à discussão do papel da universidade nesse âmbito.

 

Implantação e defesa do vernáculo: A história do preconceito lingüístico no Brasil remonta e coincide com a implantação da língua portuguesa em solo nacional. A partir de 1758, com a Lei do Diretório dos Índios, Portugal expulsa os jesuítas do país, silenciando a língua geral, ou tupi da Costa, impondo efetivamente o português. Essa trajetória de imposição se repetiu de maneira similar, durante o Estado Novo de Vargas, onde em nome do purismo e da homogeneização lingüística, proibiu-se, legalmente, em qualquer hipótese a expressão por outra língua que não fosse a portuguesa. Mais próximo aos nossos dias, uma projeto de lei do deputado Aldo Rebelo, que propunha um verdadeiro combate ao “estrangeirismo”.

 

Linguagem e sociedade – um novo olhar: Embora a relação entre linguagem e sociedade seja reconhecida com certa evidência em nossos dias, nem sempre o contexto social, os fatores externos envolvidos na produção lingüística, foram considerados ou eleitos como objeto de investigação. Somente com o advento da Sociolingüística Variacionista, nos Estados Unidos, nos anos 60 do século XX, é que os fatores sociais, sobre forma de variáveis intervenientes no uso lingüístico, passaram a ser considerados efetivamente na investigação desses usos. Nessa nova orientação, as tradicionais questões do “certo” ou “errado” passaram a ser vistas em termos de adequação à situação comunicativa, e os comportamentos lingüísticos foram assumidos como traços identitários, como marcas individuais e, principalmente, sociais de estar na comunidade lingüística.

 

Mistificação e desmistificação: Colocando-se absolutamente contra convenções e normas, Bagno lança em 1999 seu livro Preconceito Lingüístico – o que é, como se faz, em que defende a tese de que há um embate histórico entre a utilização efetiva do idioma e postura da tradição gramatical, com fortes e danosas repercussões para o ensino-aprendizagem da língua materna. O autor reuniu na referida obra, o que sintetizou como “os oito preconceitos da sociedade brasileira a respeito dos usos lingüísticos”, uma série de pressupostos reveladores dos conflitos travados, há algum tempo no Brasil, entre lingüistas e vernaculistas. Por outro lado, a professora Mariangela Rios de Oliveira propõe novas considerações acerca desses oitos mitos, no intuito de modalizar ou relativizar as declarações do autor.

 

Ensino e diversidade lingüística: Com vistas à normatização legal, surgem em 1998, as novas diretrizes Curriculares Nacionais, que vão derivar os chamados Parâmetros Curriculares Nacionais (ou apenas PCN) para o Ensino Fundamental e Médio. Em vários pontos do PCN encontram-se alusões acerca do respeito e da consideração da diversidade lingüística. Numa perspectiva assim assumida, não há lugar para atitudes preconceituosas e discriminatórias. A atual proposta pedagógica é, pois, clara em sua postura político-acadêmica das manifestações lingüísticas em uso no Brasil.

 

Diversidade e universidade: Todo esse quadro delineado acabou por repercutir, como seria esperado, na universidade brasileira. E a redação do exame vestibular, bem como seus critérios de correção, acabou por incorporar o debate em torno da questão dos usos lingüísticos, sua apropriação e legitimação. Ao propor explicitamente a consideração dos diversos usos da língua que circulam na comunidade nacional, o ensino universitário espera, por outro lado, concorrer para a formação plena da cidadania, que tem, na questão do preconceito lingüístico. 

IV – QUADRO DE REFERÊNCIA DA AUTORIA 

A autora durante o artigo reporta-se a obras e documentos oficiais que também tratam da lingüística no Brasil. 

V – CRÍTICA DO RESENHISTA 

Por meio de uma contextualização, muito bem executada pela autora, o artigo submete-se a uma análise de questões históricas e políticas, não somente, ligadas a origem e a difusão do preconceito lingüístico, mas também ao advento e formação de um movimento sociolingüístico que busca esclarecer equívocos construídos através da falta de conhecimento. Se somos seres culturais e a manifestação efetiva do idioma é uma das mais ricas formas de expressão, a variação lingüística é senão uma marca identitária e justamente nesse ponto que o texto busca despertar em nós, falantes da língua, a reflexão e julgamento sobre tais questões.  Por fim, e com grande êxito, o texto traz algumas medidas políticas adotadas para promoção da liberdade de expressão, formação de senso crítico, e combate à discriminação no que diz respeito ao uso da língua. 

VI – INDICAÇÕES DO RESENHISTA 

Este artigo é de grande importância acadêmica, principalmente, aos cursos de Letras Modernas e Letras Vernáculas, uma vez que trata de variação e preconceito lingüístico; também para professores e todos que possuem interesse em sociolingüística. Estende-se também a estudantes de níveis fundamentais, médio e superior como forma de conscientização e combate a toda e qualquer forma de preconceito lingüístico.


[1] Resenha Crítica apresentada à Disciplina Língua Portuguesa, sob a orientação do Professor Emerson Tadeu Cotrim Assunção, do Curso Engenharia Ambiental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Campus de Vitória da Conquista, Vitória da Conquista – Bahia.