PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais
Curso de Ciências Econômicas
5º Período Noite
Formação Econômica do Brasil

 

André Luís dos Santos Soares
Camila dos Reis Oliveira
Guilherme Santana Costa
Marcelo Randolfo da Costa Januário

 

 

RESENHA CRÍTICA:
Café, imigrantes e empresas no nordeste de São Paulo

 

 

Belo Horizonte
01 novembro 2015

 


1. INTRODUÇÃO


Este trabalho é uma resenha do artigo “Café, imigrantes e empresas no nordeste de São Paulo (Ribeirão Preto, 1880-1930) ” de autoria de André Luiz Lanza e Maria Lúcia Lamounier, foi publicado na revista História Econômica & História de Empresas, volume 17 nº 2 (2014).
O texto relata a expansão cafeeira e o desenvolvimento das atividades industriais na região de Ribeirão Preto, São Paulo no período de 1890 a 1930. Dessa forma, o estudo está dividido em três partes, primeiramente discorre a expansão cafeeira, a rede ferroviária e a imigração em massa que colaboraram para o crescimento da população e das atividades urbanas de Ribeirão Preto. Em seguida avalia o progresso das atividades industriais do período e finaliza analisando os principais ramos industriais e o desempenho dos empresários do município.
Para tanto, a resenha foi fundamentada em diversos autores que tratam do tema, tais como Sérgio Silva, Amaury P. Gremaud e Flávio A. M. Saes e Warren Dean, podendo ser classificada como uma resenha crítica de caráter bibliográfico de obtenção de dados, utilizando-se além do artigo em questão diversas fontes de livros da historiografia do período.



2. DESENVOLVIMENTO


A primeira parte do artigo em questão é intitulada: “O café e os imigrantes em Ribeirão Preto”, retrata a evolução da produção cafeeira e suas consequências na região do alto Mogiana, que é composta pelos municípios de Ribeirão Preto, São Simão, Santa Rita do Passa Quatro, Franca, Ituverava, Jardinópolis, Batatais, Cravinhos, Nuporanga e Sertãozinho. O autor mantém o foco no município de Ribeirão Preto, que era conhecido como a capital do café. (LANZA; LAMOUNIER, 2014, p. 571).
A alta fertilidade do solo, amplamente divulgada pela imprensa, e a chegada das linhas férreas na região ajudam a justificar a relevância da região. É importante reforçar a importância do advento das linhas férreas na região, pois facilitavam o escoamento da produção para o porto de Santos cuja distância tornaria limitado o transporte por tropas de mulas além de baratear o frete. Segundo Silva (1981), “As antigas tropas de mulas não podiam escoar uma grande produção espalhadas por milhares de quilômetros. Com as estradas de ferro as distâncias deixaram de ser obstáculo importante”. Além de ser mais econômica “[...] o preço do transporte pelo trem era seis vezes inferior ao das tropas de mulas”.
A expansão da produção cafeeira coincide com um momento marcante na história do país: a extinção da escravidão. Tal evento desencadeia um problema de oferta de mão de obra, cuja solução será a procura por fontes alternativas de mão de obra, mais especificamente mão de obra estrangeira. Políticas de incentivo à imigração são criadas e colocadas em prática. Estas políticas foram subsidiadas pelo governo do império e da província e mostraram um dos subterfúgios bastante utilizados pela classe cafeeira que é a utilização do estado como provedor de políticas voltadas ao seu interesse. É conveniente lembrar que em contra partida, Gremaud, Saes e Toneto (1997) afirma que o impacto da abolição do escravismo teve pouca influência em São Paulo sendo que a imigração em massa já se fazia presente nos anos anteriores à Lei Áurea.
O desenvolvimento dessas políticas de incentivo a imigração pode ser percebido na Tabela 1, que mostra a proporção entre estrangeiros e não-estrangeiros no município de Ribeirão Preto nos anos 1886 e 1902. (Santos apud LANZA; LAMOUNIER, 2014, p. 575).

Tabela 1 - Proporção de estrangeiros e não-estrangeiros no município de Ribeirão Preto


          ANO   Não-estrangeiros                    Estrangeiros
          1886   Em %  Em nº de habitantes   Em %   Em nº de habitantes
                     92,7      9664 pessoas            7,3        761 pessoas
          1902    38       20228 pessoas           62        33119 pessoas
Fonte: Santos apud LANZA; LAMOUNIER, 2014, p. 575


A partir desses dados, pode-se perceber que a vinda de estrangeiros para a região de Ribeirão Preto teve um aumento tão grande que ultrapassou o número de habitantes não-estrangeiros. Com o sucesso dos incentivos para a vinda dos estrangeiros a São Paulo, principalmente para Ribeirão Preto – cidade que mais atraia imigrantes - a população cresce em ritmo acelerado, pois segundo o Censo de 1920, cerca de um quinto a um terço da população das cidades paulistas era estrangeira. (LANZA; LAMOUNIER, 2014, p. 573)
Este surto populacional mostra a necessidade de expansão urbana para satisfazer as necessidades de consumo desta nova classe recém-chegada ao Brasil. Devido a isso, diversos autores argumentam que a urbanização do município de Ribeirão Preto ocorreu devido à chegada dos imigrantes. Os novos habitantes tinham necessidades de consumo, e com isso, transformaram a estrutura comercial existente, “surgindo novos estabelecimentos com a finalidade de abastecer [...] essa nova classe consumidora.” (MORAES apud LANZA; LAMOUNIER, 2014, p. 571).
A chegada dos imigrantes foi importante não apenas para a lavoura de café, mas também para o desenvolvimento dos primeiros estabelecimentos industriais de São Paulo. Para Dean (1971), a importância dos imigrantes para o desenvolvimento industrial se dá pela dedicação desses à importação de produtos manufaturados. Devido à importação, os imigrantes tinham conhecimento de mercado, fácil acesso ao crédito estrangeiro e controle sobre a distribuição de produtos importados, principalmente, maquinário.
Os imigrantes que se dedicavam ao empresariado industrial em São Paulo, eram naturais do meio urbano em sua terra natal e, dessa maneira, chegavam ao Brasil com conhecimento técnico e experiência no comércio e na manufatura. Além disso, Suzigan, autor citado por André Luiz Lanza e Maria Lúcia Lamounier (2014),
explica que os demais imigrantes, que não se encaixavam na parte empresarial da indústria, serviam como mão de obra no meio urbano, alguns diretamente, outros após um período de serviço em lavouras, compondo o quadro de industriais e operários qualificados do estado. Dessa forma, a chegada dos imigrantes e a consequente diversificação das necessidades de consumo, a economia urbana ganha força.
O artigo segue relatando sobre a evolução e o dinamismo urbano de Ribeirão Preto, representados em relação ao estado de São Paulo e ao resto do país no decorrer de suas duas partes seguintes intituladas: “O crescimento das atividades comerciais e industriais” e “Os principais ramos industriais”. (Santos apud LANZA; LAMOUNIER, 2014).
A crise do final da década de 1920 interrompe o acúmulo de capital do setor agroexportador que busca outras fontes de alocação. Somado a estes fatores, encontra-se uma rede de urbana já formada que em conjunto proporciona condições para que a economia entrasse em transição passando a atender às necessidades do mercado interno e industrial. Pode-se acrescentar duas perspectivas sobre o crescimento industrial no Brasil uma conhecida como Teoria dos choques adversos, que segundo Gremaud, Saes e Toneto Júnior (1997), se apoiava no fato de “a crise do setor externo beneficiava a indústria nacional porque bloqueava as importações que abasteciam o mercado interno”. Esta proteção se mostrava de duas maneiras, uma delas pelo lado da oferta já que em épocas de choques, períodos de guerra, podem ocorrer dificuldades no transporte e também pela concentração dos esforços produtivos em recursos bélicos; ou pelo câmbio já que uma redução das exportações levava ao desequilíbrio externo cujo reflexo era uma desvalorização cambial que encareceria os produtos estrangeiros frente ao nacional (GREMAUD, SAES E TONETO JÚNIOR (1997).
Por outro lado, temos a teria da ótica da industrialização liderada pelas exportações cujo crescimento da indústria só é relevante se há aumento da capacidade produtiva.
“Tanto o mercado para indústria nacional, quanto os capitais nela investidos provinham da economia exportadora; conseqüentemente, apenas nos momentos de expansão das exportações haveria condições para o crescimento da indústria. Em particular, contestavam o argumento da proteção cambial nos períodos de crise:
diziam que a desvalorização da moeda encarece as importações de bens de capital, bloqueando o investimento industrial, pois não havia produção interna desses bens”. (GREMAUD; SAES E TONETO JÚNIOR, 1997).
Até o último quartel do século XIX, os estabelecimentos indústrias existentes no Brasil são pouco numerosos e o seu conjunto inexpressivo. Entretanto estes ocorrem na década de 1880 a 1890. (SIMONSEN apud GREMAUD; SAES, 1997, p. 73).
A indústria têxtil se desenvolve ao longo da história sem concorrência com o mercado externo, pois existiam no período tarifas de importação e incentivos para a produção interna. A maioria das fábricas de tecidos de algodão foi instalada durante e imediatamente após o boom do algodão na província de São Paulo. A disponibilidade de matéria prima, acompanhada da existência de um mercado local protegido por elevados direitos aduaneiro, pode ter estimulado o desenvolvimento da indústria têxtil de algodão. A expansão do cultivo do café, a existência de mão de obra livre, assalariada, estimulou o crescimento econômico em geral e uma demanda crescente por tecidos grosseiros de algodão para ensacar o café, açúcar e cereais. (SUZIGAN apud LANZA; LAMOUNIER, 2014, p. 587).
A visão de Lanza e Lamounier converge com a visão de Gremaud, Saes e Toneto Júnior onde ambos os autores afirmam que o setor têxtil se destaca entre os demais e podendo ser considerado o principal setor industrial da época analisada. Os dados informados em Gremaud, Saes e Toneto Júnior confirmam que existe um predomínio dos produtores de bens de consumo como uma característica da industrialização brasileira, em destaque a indústria têxtil com 27% de participação, o total observado para bens de consumo é de 85,4%, uma representação expressiva e que confirma a ideia de uma economia fundada em bens de consumo. (GREMAUD, SAES E TONETO JÚNIOR, 1997, p. 69).


3. CONCLUSÃO


Portanto, entende-se que a expansão cafeeira foi de uma importância imprescindível para o desenvolver da economia do país. Utilizando-se do município de Ribeirão Preto o artigo em estudo trouxe aspectos que podem ser análogos ao Brasil como um todo no século XIX e conclusões interessantes sobre o período.
O artigo ao situado na discussão das relações entre café e indústria mostrou de forma clara como a indústria surge com base nas condições instituídas pela expansão da economia cafeeira e nas entrelinhas as quais o crescimento da indústria está subordinado nesse período. Dessa forma, o estudo do artigo foi fundamental para a compreensão de que mesmo que a atividade agrícola era o cerne da economia cafeeira esta sociedade não foi precisamente rural. A economia cafeeira gerou larga diversificação da atividade econômica na ampliação da indústria de modo a estimular a expansão das cidades.
Sendo a cidade de São Paulo favorecida pelo surto ferroviário e o centro administrativo provincial da época, ao utilizar a região de Ribeirão Preto (foco do artigo), visto que este foi o segundo maior produtor do estado, o artigo trouxe consigo um exemplo vivo do desenvolver da economia brasileira na Primeira República, uma vez que analisa o município de Ribeirão Preto.
Através da análise dos principais ramos industriais com maior representatividade percebe-se que o processo de transformação das plantações de café foi também o processo de transformação da burguesia cafeeira, pois trouxe consigo o alargamento do consumo interno. No artigo de Lanza e Lamounier (pag. 589) Francisco Matarazzo aparece ao referenciar os principais industriais do município de Ribeirão Preto que é complementado por Gremaud, Saes e Toneto Júnior (1997, p. 71), confirmando assim, a participação de imigrantes e seus que já vieram com conhecimentos técnicos produzindo bens de seus locais de origem filhos na influência do desenvolver da indústria e negócios na época.

REFERÊNCIAS


DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo (1880-1945). São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1971.
GREMAUD, Amaury Patrick; SAES, Flavio A. M.de; TONETO JUNIOR, Rudinei. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Atlas, 1997.
LANZA, André Luiz; LAMOUNIER, Maria Lúcia. Café, imigrantes e empresas no nordeste de São Paulo (Ribeirão Preto, 1890-1930). História Econômica & História de Empresas, São Paulo, HUCITEC/ABPHE, v. XVII, 2 (2014), P. 567-604.
SILVA, Sérgio. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil. 5ªed. São Paulo: Alfa. Omega, 1981.