1. Síntese Crítica do texto: “Brasil, junho de 2013: classes e ideologias cruzadas”

      De forma sucinta o texto destaca as manifestações sociais provenientes do que o autor chamou de “Acontecimentos de Junho” de 2013, fazendo uma alusão as “Jornadas de Junho” na França do século XIX, especificamente do episódio histórico de “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”. O autor, Professor Dr. André Vitor Singer, cientista político, livre docente do departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e atuante jornalista brasileiro, promove uma leitura sintética, mas profunda daqueles episódios brasileiros e destaca, desde o primeiro momento, que diferente do fenômeno francês, aqui não houve, de fato, um desenho verdadeiramente insurrecional.

      Nesse sentido, sistematiza sua análise dividindo historicamente o fenômeno social em três fases distintas, mas complementares que, à medida que foi tomando corpo nacional, foi diferenciando em objetividade e encabeçando novas dimensões e influências políticas. A primeira fase, ainda segundo o autor, foi condicionada pelo Movimento Passe Livre (MPL) e objetivava especificamente a redução das passagens de ônibus na capital paulista. Nesse primeiro momento, as manifestações ficaram circunscritas a cidade de São Paulo. A segunda fase, auge do movimento como um todo, caracterizou-se pelas manifestações que se reproduziram simultaneamente nas outras capitais do país e pelas várias demandas que surgiam ao longo das reivindicações estabelecidas pelas massas nas ruas que já eram, naquele momento, centenas de milhares; o que produziu um ambiente de cruzamento de classes e intercambio de visões políticas. Na terceira e última etapa, ocorre uma fragmentação do movimento em mobilizações parciais e distintas, com objetivos locais e outros de caráter geral mais específico.

      Singer (2013), destaca em seu artigo que a essência do movimento teve aspectos distintos que foram influenciados pela composição social dos manifestantes e pelas ideologias, as vezes contrárias, que se cruzaram nas ruas. O autor evidencia a participação efetiva da classe média tradicional e do que ele chama de “Novo Proletariado” (“Precariado”). Ressalto, desde já, que não vou me ater a descrição dos conceitos encontrados na obra, pois trata-se este trabalho de uma breve síntese resenha, ainda que tenha uma dimensão crítica final.

      Retomando, o autor se debruça sobre uma diversidade de dados estatísticos para realizar uma análise que, em um primeiro momento, a meu ver, é revestida de superficialidade, mas que revela ao longo de suas pontuações uma novíssima dimensão daquele fenômeno social. Singer (2013), nos revela, por exemplo, que o movimento teve uma expressão predominantemente jovem, uma vez que, destacou-se, entre os manifestantes, participantes com idade entre 25 e 39 anos. Revela ainda que, analisado sob o ponto de vista do nível educacional dos participantes, o movimento teve uma ascensão marcante das camadas mais escolarizadas da sociedade e, por consequência, tidas como superiores e mobilizadoras das massas. Contudo, quando analisa os dados de Renda da mesma amostragem, ele percebe a incidência expressiva da metade inferior da pirâmide social brasileira. Nesse sentido, recorre ao sociólogo Gustavo Venturi para conceber um prognóstico analítico de que é possível pensar num novo proletariado com nível escolar elevado, com consciência política aflorada. Singer ainda coloca nesse momento do texto que é facilmente perceptível para qualquer um que acompanhou os acontecimentos de junho o cunho social heterogêneo do movimento (movimento trabalhista, críticas ao lulismo, anti-capitalismo, anticorrupção, etc.).

      Nesse momento, acho importante destacar que o Prof. Dr. Singer percebe em sua análise um novíssimo momento dos movimentos sociais brasileiros, embora não avance nessa discussão, posto que, não é esse o objetivo fulcral deste artigo. Ele revela um “afastamento dos modelos hierarquizados” através de um “[...] respeito absoluto ao coletivo e a recusa da oportunidade de ascensão individual (idoneidade absoluta) [...]” dos representantes do movimento e da nova esquerda que se apresentara ali (Singer, 2013 p. 33). Contudo, evidencia também que, neste momento, a direção do evento maior vai ser condiciona, em grande escala, pelas contradições de setores políticos da direita e do centro, em maior destaque, como mobilizador de interesses difusos dos dois outros anteriores (esquerda e direita). Portando, ainda na leitura do autor, o Centro Ampliado, como coloca, funcionou como um mediador do conflito entre a sociedade moderna pós-materialista e o modelo de Estado envelhecido. Em suma, Singer (2013) promove a perspectiva de que houve um cruzamento ideológico e político no cenário urbano das manifestações, produzido, em parte, pela mistura de classes provenientes dos diferentes participantes que foram as ruas naquele mês de 2013. Todavia, finaliza evidenciando a tendência social marcante em nosso país de que os jovens de classe baixa objetivam o estilo de vida pós-materialista da classe imediatamente posterior.

      Prosseguindo com a finalização desta resenha crítica, como proposta final do trabalho da disciplina de Ciência Política I, ressalto algumas ponderações sucintas e incipientes ao artigo do Prof. Dr. André Singer. Assim, concordo, em parte, que a ordem social hegemônica no Brasil não foi, de fato, questionada com os acontecimentos de junho de 2013. Todavia, é legítima a afirmativa de que o evento promoveu o despertar de uma nossa forma de pensar a expressão constitucional: “todo o poder emana do povo”. As manifestações, independente das tendências políticas a que foram submetidas, questionaram a atual condição das estruturas sociais e o caráter cultural das circunstancias político-partidárias dos gestores do Estado, de situação ou não.

      Tal reflexão pessoal perpassa pela leitura de que todas as reivindicações postas naquele momento, na verdade, escondiam uma de ordem mais geral; a saber, a justa distribuição de uma vida melhor e mais igual para todos, independentemente de classe. Se por um lado o movimento não teve um caráter insurrecional, por outro, contribuiu, sobremaneira, para a gênese de uma energia popular que pretende propor reformulações imediatas. A singularidade que se estabeleceu como manifestação espontânea do povo, pelo menos na essência, fez desabrochar um sentimento que, até então, estava limitado à externalizações informais e desabafos irrelevantes. Em suma, aquele fenômeno popular de caráter social saiu da dimensão teórica e ganhou o campo da ação através da materialização desse descontentamento coletivo.

      Recordo que, ainda no mesmo mês, ou seja, imediatamente àqueles acontecimentos, as instituições políticas, encabeças pelo executivo federal, mobilizaram as organizações midiáticas a fim de desletimizar as ações dos grupos nas ruas o que, a meu ver, foi produzindo uma ruptura do que seria uma consciência coletiva em estado de efervescência e, ao longo daquele mês, foi “esfriando” o ímpeto dos protestos sob o falso discurso da “baderna” coletiva e da necessidade de “ordem aparente” diante dos eventos oficiais que seguiriam.

      Segundo o autor e, em parte, concordo com ele, a partir daquilo que ele chamou de segunda fase do movimento, onde ocorria mais adesão, as demandas ficaram vagas e disformes. Em suma, os objetivos essências dos protestos foram progressivamente modificando o que fragilizou sua base. Contudo, não acho que ficaram deliberadamente vazias de sentido, pois sempre existiu uma matriz reivindicatória, tal qual: a má gestão do erário público no que diz respeito a prioridade de agenda pública em detrimento as políticas públicas mais populares.

      Por fim e, a meu ver, o surgimento desse novíssimo Centro político e ampliado (perspectiva política da recente democracia brasileira), revelou um caráter de governança verdadeiramente participativa com o advento das redes sociais. Acredito que o movimento de junho de 2013 foi uma legítima expressão da vontade popular ou da reconstrução de uma verdadeira identidade nacional. O novo avança para se tornar maioria na sociedade brasileira e essa tendência exige que a transformação pós-materialista, cada vez mais evidente, seja igualmente distribuída para todos. Vejo com bons olhos o que o futuro nos reserva.

  1.  Síntese Crítica do texto: “Revoluções de ponto de virada e Revoluções por colapso do Estado: por que as revoluções têm êxito ou fracassam? ”

      COLLINS, Randall é sociólogo, livre docente na Universidade da Pensilvania, teórico social contemporâneo, cujas áreas de especialização incluem a sociologia, história de mudanças políticas e econômicas, alem de micro sociologia. É, hoje, um dos principais teóricos de conflitos sociais, não marxista dos EUA.

      O texto de COLLINS (2013) é, sobretudo, didático e metodológico. Seu caráter de especialista lhe permite sistematizar em dois grandes tipos as revoluções contemporâneas. Nesse sentido, o objetivo central do autor é caracterizar as verdadeiras revoluções como basilar as mudanças estruturais de um respectivo Estado, ampliado ou não, mas em sua decorrência. Assim, ele conceitua como Revoluções de Ponto de Virada algumas de caráter mais geral, de efeito rápido, mas superficial e efêmera. Estas produzem pouco efeito numa perspectiva de longo prazo e de transformação verdadeiramente efetiva. Por outro lado, ele chama de Revoluções por Colapso de Estado as que provocam verdadeiras modificações nas estruturas estatais e promovem efeitos duradouros.

      O autor inicia sua análise a partir da Revolução de 1848, na França, onde a demanda social objetivava a conquista do sufrágio universal, mas o caráter superficial e emergencista da euforia popular provocou uma grande guerra civil, posto que, o emprego da política naquela ocasião, tinha falhado. Portanto, ele caracteriza esse evento histórico como uma revolução do tipo efêmera, ou de ponto de virada.

      Ainda sob essa análise, o autor ousadamente, a meu ver, oferece metodologicamente um “caminho” para alcançar o ponto de transformação caro as Revoluções por Colapso de Estado. Segundo ele, é possível alcançar modificações mais profundas e estruturais através de três etapas complementares, posto que essas têm uma sistemática não hierarquizada, ou seja, uma “quebra de comando” não idealista, na essência.

      A primeira diz respeito a Crise Fiscal, oriunda de uma paralisia da organização estatal. Ainda segundo o autor, o que mobiliza essas crises é o descontentamento das classes do governo, cuja função fim perpassa pela manutenção da ordem social. A segunda, coexistente com primeira, é o impasse entre as Elites expressada pala necessidade marcante de que uma divisão brutal dos privilégios se torne, nas palavras COLLINS (2013), um “dano (irreparável) para a manutenção das estruturas estatais. Por fim, ele aponta que toda crise dessa dimensão tem um caráter segregatório e que, portanto, é necessário mobilizar as massas dissidentes e chama-las a abraçar a causa comunal.

      O Prof. Dr. Collins nos oferece de forma sucinta, mas extremamente didática duas ponderações que nos permite, a partir daí, formular uma matriz comparativa sobre os acontecimentos de junho de 2013. Todavia, o que, a meu ver, não é possível fazer é classificar aquelas mobilizações brasileiras em uma ou em outra apresentada pelo autor, uma vez que, apresenta singularidades de ambas as reflexões tipológicas.

Questão Final de Reflexão

“O povo retornará as ruas para protestar?”

      Acredito, sem sombra de dúvidas, que o povo sairá novamente às ruas para protestar e reivindicar melhores condições de vida e direitos sociais abafados e esquecidos pelo Estado. Minha reflexão apaixonada é proveniente daquilo que chamo de novíssima retomada de consciência popular. Os pequenos e paulatinos avanços na educação na última década e a tendência cada mais acentuada de ascensão dos jovens as universidades públicas por meio dos vários programas inerentes a essa política, permitiu o surgimento de uma visão mais crítica, ainda que, carente de aprofundamento teórico e susceptível a ideologias partidárias no âmbito das organizações estudantis. Tal premissa é comprovada e reconhecida pelos organismos de controle estatal que, mais recentemente, tentam se adaptar a essa novíssima tendência e constroem outros mecanismos de opressão. É como se parte da sociedade mais consciente estivesse farta da estratégia do “pão e circo” utilizada à décadas pelos estratos mais elitizados do sistema social e conclamassem as massas a participar do processo de transformação tão aflorado na atualidade. Em suma e, a meu ver, mesmo as massas mais desprovidas dessa evolução crítica, política e social já está, por demais, marcada pelo sofrimento e não parece mais aceitar os desmandos e a situação de pobreza e miserabilidade da qual tinha como natural.

      Recentemente, ao conversar informalmente com um amigo artista plástico e pintor de murais, percebi que o “pseudosentimento” de “nacionalidade futebolística” que de quatro em quatro anos nos é empurrado garganta a baixo já não é tão forte assim esse ano. Tal reflexão é embasada no seu relato de que, em outrora, no ano de 1994, por exemplo, as vésperas da Copa do Mundo, ele já tinha dezenas de encomendas de murais temáticos e, esse ano, a situação mudou drasticamente, posto que, já não lhe resta tamanha quantidade de trabalho. Segundo ele, não pintou mais do que dois até o início deste mês.

      A verdade é que já não toleramos mais os “sofistas políticos” da contemporaneidade brasileira; nem os supostos Líderes populares com imagem proletarizada, nem os galeguinhos, cujos olhos azuis já despertaram paixões aos milhares. A massa, entendida como turba, em meio ao caos dos protestos, é povo e, este, tem o direito de liberdade. O povo é livre porque detêm o poder. Fazê-lo esquecer desta legitimidade é a forma de abafar a sua voz, porque tudo que é livre pode gritar. E quando o oprimido grita, o opressor percebe que é pequeno e que não tem tanto controle assim. Reconhece que grande mesmo é a força que emana daquele que se levanta.

 REFERÊNCIAS:

 COLLINS, Randall. Revoluções de ponto de virada e revoluções por colapso do Estado. Novos estudos. Dossiê: Mobilizações, Protestos e Revoluções. nº 97. São Paulo: CEBRAP, 2013.

SINGER, André V. Brasil, junho de 2013: classes e ideologias cruzadas. Novos estudos. Dossiê: Mobilizações, Protestos e Revoluções. nº 97. São Paulo: CEBRAP, 2013.