Resenha do livro República do Tacape, de Rogério Rezende

O livro República do Tacape, do escritor Rogério Rezende, lançado no mercado editorial pela editora United Press, em 2004, 414 páginas, constitui uma obra surpreendente e muito enriquecedora, pois se trata de uma ficção, baseada em fatos históricos, que consegue, de modo envolvente, abordar temas sérios, como a tortura do período militar, a alienação religiosa e social, os direitos humanos, a educação e a cidadania.
A história de Afroníger - brasileiro, negro e nordestino -, torturado e perseguido pelos militares só porque possuía conhecidos na guerrilha, narra-se com muita ação, de maneira cinematográfica, prendendo o leitor à leitura da vida de um homem que simboliza o Brasil, cheio de injustiças, porém com exemplos de pessoas que lutaram para que a liberdade de expressão pudesse se tornar realidade. Afroníger mostra a dor de um inocente que sente sua alma ressequida pela mágoa e pela perseguição espiritual da Besta de Cedro, um instrumento religioso de tortura, construído para castigar os hereges, mas usado para punir jovens politizados, rebeldes e corajosos que não aceitavam o cálice de sangue do militarismo e se mostravam dispostos a dar a vida pelo que acreditavam, bem diferentes da juventude atual. O cruel coronel Febrônio César Machado torna-se exemplo dessa mentalidade violenta.
O leitor encontra na obra um tom poético, religioso e intertextual, com imagens tipicamente brasileiras e ensinamentos sutis, demonstrados por algumas personagens, encorajando as pessoas a trabalhar pela transformação da sociedade, sem se deixar vencer pelas adversidades.
Karl, um missionário alemão, médico, que salva a vida de Afroníger e é perseguido por isso, exemplifica a disciplina e o racionalismo, trazidos da Alemanha e associados ao bom-humor e à criatividade dos brasileiros. O médico induz os leitores a valorizarem a pluralidade cultural dos povos. Heidi, esposa de Karl, dignifica-se como exemplar de mulher que não se entrega às dificuldades da vida, vai à luta e encara os fatos com muita coragem e bondade no coração. Olavo, que salvou Afroníger de afogamento no rio Madeira, levando-o em seguida ao Dr. Karl, mostra-se um homem simples do interior, sem muito estudo e acostumado à vida agrícola, mas que, de maneira emocionante, ensina que viver é acordar as esperanças todos os dias, alimentando os sonhos.
Por tudo isso, o livro merece destaque nas livrarias brasileiras, porque envolve, educa, emociona e traz informações sobre a mentalidade de uma época que precisa ser superada, mas não esquecida, haja vista que o sacrifício e a luta de muitos não podem ser considerados em vão.

Jean Carlos Neris de Paula