“ Representação Social do mangue do rio Cocó, uma percepção sócio-cultural "

 RESUMO:

            Este artigo pretende fundamentar a utilização da análise em diversos textos ministrados no curso de Mestrado em Geografia na disciplina de Tópicos Especiais em Geografia Humana. O mesmo objetiva um despertar para a reflexão e conscientização à diversos grupos de leitores sobre a importância das representações sociais da natureza como instrumento para a educação em gestão ambiental dos ecossistemas de  manguezais em especial o caso do mangal do cocó.

           Mediante a temática central, faremos um passeio por este importante ambiente, destacando aspectos que vão desde a sua definição, origem, formação, localização, relações sócio-econômicas e culturais.          

          Ao nosso ver uma abordagem como esta pode levar o leitor a compreender os mais variados sistemas de significação socialmente construídos e partilhados entre os diferentes grupos com atuação direta acerca da natureza. A perspectiva é de que estas informações abram espaço para a compreensão das interações que estão se estabelecendo, entre os grupos envolvidos, para a criação e recriação do seu meio ambiente.       

           A área selecionada por nós, o mangue do cocó é muito representativa, para esse foco de estudo. Primeiro, pela diversidade de atores sociais que podem ser organizados em vários grupos (moradores, pescadores, tiradores de coco, pequenos comerciantes, barraqueiros, pequenos agricultores, turistas, empresários do turismo, especuladores imobiliários e técnicos de vários setores que atuam na área). Por outro, essa área propicia a formação de um centro turístico, comercial e de lazer foco da atual dinâmica de desenvolvimento econômico do litoral leste de Fortaleza. A mesma ainda compõem junto com todo o centro e outras áreas adjacentes uma importante Unidade de Conservação da Natureza.        

          Para nós estas vertentes, já são suficientes para fazer emergir uma riqueza de idéias, valores, interesses e conflitos que permeiam as representações sociais da natureza do manguezal, desses atores se constituem um espaço de estudo para a identificação dos referenciais históricos, culturais e das idéias e valores que estão nos alicerces dessas representações, que acabam por constituírem-se em elementos de dominação nas relações sociais, de força e poder que definem o porque, o como, para que e para quem a natureza deve ser utilizada.    

         Vale aqui ressaltar que esse trabalho ainda se propõe a ser um instrumento de significativa colaboração sobre a importância do estudo das representações sociais da natureza, assim como para aquisição de informações sobre o pensar e o agir de diferentes grupos sociais (setores, classes e grupos) no tocante os manguezais de Fortaleza em especial o mangue do Cocó.   

       Diante do que será abordando neste artigo, esperamos de uma forma ou de outra estar contribuindo para um despertar para o mangal, de modo que a sua importância estratégica, ecológica, econômica e cultural possam ser compreendidas, divulgadas, respeitadas e fundamentalmente protegidas da destruição.

 

 

Palavras-chaves:

 

Representação Social Econômica e Cultural, Natureza, Grupos Sociais, Educação Ambiental.

 

                   Estudo do mangue numa percepção Histórica - Conceitual.

 

            Dentro de uma perspectiva histórica geográfica, podemos afirma que as civilizações da  chamada Grécia Antiga e pré-colombianas já de relacionavam com as diversas atividades dos manguezais. Dados encontrados nos Relatórios do General Nearco, acompanhante de Alexandre, o Grande na conquista da Índia, revelaram a existência dos manguezais a cerca de aproximadamente 325 a.C. Tais relatos afirmam que diferentes grupos sociais, utilizavam os recursos dos ecossistemas de manguezal para a obtenção de alimentos, remédios, construção de moradias, utensílios caseiros, artefatos de pesca e da agricultura. Porém, as atividades culturais relacionadas a este ambiente não pararam nas antigas sociedades, alguns costumes atualmente ainda são mantidos a moda antiga pelas comunidades litorâneas, aborígenes da Austrália e do Brasil..

                  

              Reforçado a idéia do uso dos recursos do mangues deste a antiguidade temos que:

           ”Além da pesca e da caça de espécies da variada fauna dos manguezais, são vários os registros da utilização de sua mata na forma de carvão e lenha, na construção civil (madeira, barro), nas indústrias: têxtil (fio de viscose e corante); farmacológica (drogas e cosméticos); de papel (cigarros e jornais) e de couro (tanino para curtume) (Corrêa, 1984; Maciel, 1987; Mastaller, 1987 e Vanucci, 1999”).

                   

            A porta de entrada dos conquistadores nos continentes ainda não colonizados ocorreu pelo mar, e também foi pelo mar que as grandes rotas comerciais se estabeleceram, sendo a partir dos portos que se iniciaram as inter-relações entre povos dos diversos continentes.

            A “colonização” do nosso país, também tem inicio pela zona costeira seguindo assim a regra gera. Um fato importante na historia da ocupação das regiões costeiras do Brasil são provenientes de dados arqueológicos que registraram a presença de diversos sambaquis próximos ao norte da Ilha de Santa Catarina, o que prova que há cerca de 7.000 anos as áreas costeiras já eram utilizadas como garantia de sobrevivência fato esse que também serve de base para explicar a presença de grandes  centros urbanos nas áreas próximos a linhas de costa.

 

            Vale ainda salientar que as grandes ocupação humanas também ocorreram nas margens dos rios, visto que foi por eles que ocorreu a penetração para a  interior dos continentes.

              Ainda com relação a ocupação de zona litorânea reforça a idéia Lacerda (1999), quando afirma que:

       

           “As populações dos países tropicais tenderam a se concentrar, ao longo da história, ás margens de rios e ao longo do litoral, tanto para facilitar o acesso ao interior como para assegurar o escoamento e exportação de seus produtos. A localização dos manguezais em área protegidas dos litorais, como estuários, baías e lagoas, coincide com as áreas de maior interesse para as comunidades humanas, uma vez que são as mais proveitosas para a instalação de complexos industriais, portuários e para a expansão turístico-imobiliária. Infelizmente, isso tem levado ao longo do tempo, à erradicação dos manguezais em grande parte dos litorais de todo o mundo. (Lacerda (1999)

         

               Em tempos hodiernos a ocupação da zona litorânea em especial a do manguezal apresenta uma atividade especulativa ligada a grupos capitalistas, cujo o  objetivo maior é a busca do lucro, uma vez que em  suas  visões  simplistas  a natureza passar a ser vista como um mercadoria. Diante deste novo cenário de ocupação observamos uma relação descomprometida com a verdadeira função sócio -cultural e ecológica das áreas litorâneas impactando assim diversos setores da economia.

             Vasconcelos, em sua obra Gestão Integrada da Zona Costeira, chega estabelece uma série de praticas e atividade de ocupação das chamadas zonas costeiras voltadas para as praticas capitalistas exploratórias, quando afirma que:

 

                                   “A partir do século XX, a região costeira torna-se o lugar de preferência do homem como lugar de moradia. Hoje a maioria da população humana vive no litoral, sendo a Zona costeira um habitat de grande pressão demográfica e econômica, segundo Vasconcelos a População litorânea disputa um mesmo espaço geográfico para as mais diversas atividades e finalidades, entre elas, a habitação, o comercio, o transporte,a agricultura, a pesca,a aqüicultura a cultura do lazer e turismo”.

              

             Diante do exposto fica evidente que uma ocupação desordenada das áreas litorâneas, baseada nos moldes capitalista explorador, ocasiona um rompimento do equilíbrio reinante entre a complexidade da dinâmica ambiental, o que tem nos últimos anos despertado uma preocupação mundial por parte de boa parte da comunidade cientifica e estudiosos no assunto, governantes e até mesmo por moradores do litoral.

 

                           OS MANGUEZAIS UMA CONCEITUAÇÂO NECESSÁRIA

"De raízes fincadas no oceano, o mangue sustenta rica vida marinha e prospera onde outras árvores não podem sobrevive" (National Geographic – 01.02.07)

                  O termo “Mangue” origina-se do vocábulo, “Manggimanggi” e do inglês mangrove, servindo para descrever as espécies fitogeográficas que vivem no manguezal, ou seja, a árvore. O termo “Manguezal” é utilizado para descrever uma variedade de comunidades costeiras tropicais dominadas por espécies vegetais, arbóreas ou arbustivas que conseguem crescer em solos halófilos, ou seja, um com certo teor de sal e cheio de mangue (o ecossistema).

               O manguezal é um ecossistema costeiro, que ocorre apenas em lugares com influência de marés e de água salobra, mistura de água doce e salgada. Por isso é comum encontrarmos este ecossistema em regiões estuarinas (local onde um rio deságua no mar), em lagoas e baías. Eles também só ocorrem em pontos da costa onde há depósito de sedimento fino, a argila, daí os manguezais estarem sempre associados a lama. É um ecossistema altamente produtivo, principalmente devido ao grande aporte de nutrientes vindos dos rios que se depositam em seu sedimento.

Aprofundando ainda mais o conceito de mangues temo que:

 

                               “Os manguezais são ecossistemas costeiros situados na interface entre os ecossistemas terrestres e marinhos. De maneira geral estão situados em áreas costeiras abrigadas (como estuários, baías e lagunas) de regiões tropicais e subtropicais (Alongi, 2002). Foram considerados, desde a década de 1970, como mecossistemas altamente produtivos, que contribuíam significativamente para fertilidade das águas costeiras devido à produção e exportação matéria orgânica para as áreas adjacentes (Odum & Heald, 1972; Day Jr. et al., 1987; Alongi, 2002).

 

             Os manguezais podem ser encontrados em diversas partes do planeta, estando restringidos por uma zona intertropical que está entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio (23º27’N e 23º27’S), sendo que seu desenvolvimento estrutural máximo, dá-se nas proximidades da linha do Equador. Colonizado as costas tropicais e subtropicais, estando presentes nas Américas, África, Ásia e Oceania.

(ver figura abaixo). 

 

 

 

                       

                            Figura 1. Distribuição dos manguezais pelo mundo. Fonte: Chapman, 1975 apud Yokoya, 1995.

 

            O Brasil possui a maior concentração de manguezais do mundo, sendo encontrados ao longo de quase toda a extensão da costa brasileira, que possui cerca de7.408 kmde extensão. Estima-se que a área ocupada por manguezais no país, seja em torno de 25.000 km², distribuído ao longo das costa que vai do Amapá até o município de Laguna em Santa Catarina.

 

            Os manguezais brasileiros foram mapeados pela primeira vez na década de 1970, pelo oceanógrafo Renato Herz do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), que publicou o primeiro atlas dos manguezais do País. Embora limitado à época pela disponibilidade de instrumentos de sensoriamento remoto, esse estudo é o mais detalhado que se tem para essas formações vegetais no Brasil, permitindo boa comparação com a cobertura de mangues atuais. Nas décadas de 1980 e 1990, foram feitos mapeamentos de vários estados do Nordeste, com diferentes graus de detalhe. Tais estudos foram compilados em 1993 pela Sociedade Internacional para Ecossistemas de Mangue (ISME, na sigla em inglês) em seu programa de conservação e uso sustentável de manguezais. No arco litorâneo representado na figura abaixo observamos que as áreas de mangues no nordeste se estende do Piauí até Pernambuco, tendo uma extensão estimada de aproximadamente 600 km2, sendo 174 no Ceará, 160 em Pernambuco, 130 no Rio Grande do Norte, 96 na Paraíba e 40 no Piauí.

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                                                               Fonte. agosto de 2006 • CIÊNCIA HOJE

 

             O estado do Ceará apresenta a maior área de manguezal do Nordeste,

por conta da extensão da sua linha de costa, com aproximadamente573 kmde

 comprimento. (Atlas dos Manguezais do Nordeste do Brasil, 2006).

              Na Região Metropolitana de Fortaleza, os manguezais formam as chamadas áreas úmidas sendo os mesmos considerados de grande significância, natural, sócio-econômica e cultural merecendo destaque aqueles associados aos rios Ceará, Pacoti, e em especial os manguezal do rio Cocó objeto central de nossa temática.

A bacia hidrográfica do rio Cocó drena em sua totalidade uma área de aproximadamente 517,2 km2, compreendendo parte dos municípios de Pacatuba (169,2 km2), Maracanaú (55,4 km2), Aquiraz (76,3 km2) e Fortaleza (216 km2) Fonte: (AUMEF, 1987).                                                                                                                                       O rio Cocó é o maior  rio de Fortaleza, com 45 km de extensão e uma área de 379 hectares. O mesmo tem sua Nascente na vertente oriental da Serra da Aratanha e nos seus50 km de percurso passa por três municípios, Pacatuba, Maracanaú e Fortaleza, para desaguar no Oceano Atlântico, nos limites das praias do Caça e Pesca e Sabiaguaba.

          

              O rio Cocó recebe inicialmente a denominação de riacho Pacatuba e, após receber as águas de outros tributários passa a se chamar riacho Gavião até a confluência com o riacho Alegrete, próximo ao 4º Anel Rodoviário, onde recebe a denominação de rio Cocó. VASCONCELOS e FREIRE, (1987) consideram o rio Cocó como um curso d’água de pequeno porte, tipicamente metropolitano e que se acha poluído pelos esgotos domésticos e industriais situados ao longo de suas margens.

            

    NA BUSCA DE UMA IDENTIDADE CULTURAL:

  Um estudo de caso o mangue do Cocó.

 

             De um modo geral podemos afirmar que o conceito de cultura tem varias definições, e se procurássemos encontra uma definição para cultura, teríamos que buscar inicialmente a sua gênese. De acordo com o sociólogo Inglês Raymond Williams, a palavra cultura vem do latim “colere” e define inicialmente o cultivo das plantas, o cuidado com os animais e também com a terra, por isso significa agricultura. A mesma ainda tem por definição o cuidado com as crianças e sua educação, o cuidado com os deuses (seus cultos); o cuidado com os ancestrais e seus monumentos (sua memória), e finalmente no sentido mais popular do termo, cultura significa o homem que é “culto”,é aquele que “cultiva” no sentindo de desenvolver práticas da inteligências e a arte do conhecimento presentes nos livros. O que acabamos de definir como cultura é verdadeiro, porém cabe aqui salientar que o para muitos estudiosos o conceito de cultura apresenta um sentido mais amplo, uma vez que o pensar cultural requer um pensar de relações com outros conceitos fundamentais, tais como o de civilização o de história e da Natureza.                                                                                                                       Tradicionalmente a ciência geográfica sempre buscou um relacionamento de estreitamento entre espaço e a cultura, pois como sabemos o seu foco maior sempre esteve voltado para uma descrição da diversidade terrestre. Contudo foi somente no final do século XIX, que as relações entre a natureza a sociedade e a cultura despertaram uma maior atenção entre os geógrafos europeu tais como, Friedrich Ratzel (1844-1904), Paul Vidal de La Blache (1845-1918), Otto Schuter (1872-1952), entre outros.                                                                                                                                   Na Alemanha o termo cultura ganha espaço pela primeira vez na obra intitulada Antropogeografia de Friedrich Ratzel, publicado em 1882, tendo a mesma exercido uma relevante  contribuição para a geografia ligada da diversidade cultural dos homens e das civilizações, pois como esclarece Claval (1995, p. 13), nessa obra, Ratzel analisa a cultura:

[...] sob seus aspectos materiais, como conjunto de artefatos mobilizados pelo homem na sua relação com o espaço. As idéias que a sustentam e a linguagem que exprimem não são quase nada invocadas [...] A idéia de luta pela vida limita, portanto, o interesse que tem Ratzel pelos fatos da cultura e dá à sua obra uma posição essencialmente política.

              Dentro de uma analise mais critica ligada a obra Antropogeografia de Friedrich Ratzel, podemos afirmar que a mesma representou um papel fundamental no processo de sistematização da Geografia Moderna, uma vez que nela encontramos as primeiras propostas explícitas de estudo geográficas especificamente dedicadas à discussão e as problemáticas sociais.                                Dentro deste pressuposto acreditamos que o significado de sua produção ainda pode ser apontado no fato de ele ter aclarado aquela que seria a principal via de indagação dos geógrafos atuais que são as diferentes questões relacionadas entre o homem a cultura e o meio natural. 

            Pelo o que foi abordo por Ratzel em sua obra, fica clara que as suas preocupações não se limitava as simples relações de dependência entre o homem e o meio, no qual se originou o clássico slongan “o Homem é  um produto do meio”,  caracterizando  assim  uma geografia tradicional, fragmentaria  e descritiva, onde  a natureza passaria a assumir o papel do sujeito das ações e o homem o de  objeto.

            Na verdade Ratzel se preocupou com algo a mais do que a mera natureza uma vez que o mesma se volta para as diferentes  complexidade  sociais tais como,   “As raças humanas, um tratado antropológico/etnográfico”, o mesmo atuou nas áreas das  discussões das ciências políticas abordando tema como o Estado, das relações de fronteiras, ou de guerra, entre outros. Diante do exposto podemos concluir que apesar do Ratzel estar centrado no contexto geográfico, o seu projeto teórico é interdisciplinar, uma vez que a sua preocupação central era compreender  a difusão dos povos pela superfície terrestre, problemática que, segundo ele próprio, articularia a história, etnologia e geografia em uma mesma discussão;

             Para (SAUER, 2003, p.20) o trabalho, de Ratzel solidificou a base conceitual na qual se tem estruturado desde então a Geografia Humana o tornando o grande pai do ambientalismo, uma vez que  seus seguidores desconsideraram em muito os  seus estudos culturais posteriores, nos quais ele se referia à mobilidade populacional, às condições de assentamento humano e à difusão da cultura através das principais vias de comunicação.”

            Na França, no começo do século XX, os estudos em torno da cultura foi estabelecido por Paul Vidal de La Blache, tendo o mesmo elaborando o conceito de gênero de vida. Pois na ótica deste geógrafo a noção de gênero de vida tem uma dimensão ecológica, naturalista, ela serve em primeiro lugar para mostrar como os grupos se adaptam ao ambiente, portanto La Blache fez deste conceito um dos eixos da geografia humana, chegado ainda a sugerir que ele pode ter uma dimensão cultural.

A polemica em torno da dimensão cultural da paisagem chega ao Estados Unidos no início do século XX e adquiriu maior amplitude a partir de 1925, ano em que Carl Ortwin Sauer (1889-1975), definiu a paisagem geográfica como resultado da ação da cultura, ao longo do tempo o mesmo  fundou a escola norte-americana de Geografia cultural.                                                                                                                   Para Sauer (1998), o objetivo maior dos estudos geográficos era analisar as paisagens culturais de modo que a morfologia física deveria ser vista como um meio, transformado pelo agente que é a cultura. Conforme Ducan (2003, p.81), Sauer concebia a cultura.

[...] como uma entidade supra-orgânica, com suas próprias leis, pairando sobre os indivíduos, considerados como mensageiros da cultura, sem autonomia. A cultura era assim, concebida como algo exterior aos indivíduos de um grupo social sua internalização se faz por mecanismos de condicionamento, gerador de hábitos, entendidos como cultura.[...] nesta visão não havia conflitos, predominando o consenso e a homogeneidade cultural.

            Para Chaval (1995), o desenvolvimento de um estudo cultural dentro da perspectiva geográfica demorou muito para se consolidar, uma vez que a mesma necessitava de algo a mais do que o simples conhecimento natural da paisagem como era no começo do século. Era preciso uma reflexão mais ampla sobre a geograficidade, ou seja, sobre o papel que o espaço e o meio poderia exercer na vida de uma sociedade, sobre a função que lhes são impostos, sobre a sua utilização e principalmente o seu conhecer  socialmente racional.                                     Daí como afirmam os cientistas sociais, dizer que geografia cultural só pode se desenvolver recentemente não significa quer dizer que este domínio tenha permanecido ignorado pelos pesquisadores, na verdade essa temática era abordada dentro de uma contexto porém não se dispunham de meios necessários para analisá-lo em todas as suas amplitudes, sendo a mesmas feitas sempre de formas parciais.                                                                                                                                       Reforçado a nossa idéia, podemos nos apóia em chaval quanto exemplifica:     

                   “ Na França, no começo do século, a noção de gênero de vida tem uma dimensão ecológica, naturalista ela serve principalmente para mostrar como os grupos se adaptam ao meio ambiente. Ela tem também, entretanto, uma dimensão social e cultural: como nota Vidal de La Blache, a força do hábito torna-se tão forte que o grupo humano perde sua plasticidade. Ao invés de se adaptar ao meio, ele procura modificá-lo para permanecer com seus hábitos, observa-se por ocasião das migrações; os recém-chegados em um país fazem em geral tudo para continuar a viver como eles faziam e seus países de origem. Vidal de La Blache que fez do gênero de vida um dos eixos da geografia humana que ele elabora, é desta forma, o primeiro a sugerir que ela pode ter uma dimensão cultural. (chaval- 1995).

           Partido do pressuposto que a cultura não fala só do espaço, mais também de paisagens iremos agora retomar o nosso estudo de caso cuja a temática em foco é a diversificado de aspectos culturais dos manguezais em particular as do mangues do cocó.                                                                                                                                                                                                     A cultura artística em torno dos manguezais no Brasil, encontra-se localizada  principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Ao nosso ver, quando se fala em cultura em torno do mangal é indispensável referenciar a importância de uma movimento cultural denominado de "manguebeat, que tem na pessoa  de Chico Science, o seu maior idealizador. Como firma Paula Tesser :

             “Chico Science entendeu que para se ter força e produzir uma onda criadora que estava estagnada há alguns anos, era necessário voltar à lama.« A ‘planta humana’ só é compreensível em função do húmus em ela nasce ». Paula Tesser Mangue Beat: húmus cultural e social - 2007

 

           O “manguebeat” é um movimento criado anos 90 na cidade de Recife, o mesma faz surgi um novo momento musical, cujo o objetivo era a busca de uma maior diversidade cultural, uma maior agitação na música o que posteriormete culminou com outras formas de expressões culturais  tais como o cinema, a moda e as artes plásticas, etc. Cabe aqui resaltar que esse frenesi de atividades se espelhava na diversidade biologica do ecossistema do mangue sendo os  integrandes deste movimento  jovens que buscavam a sua identidade e a alto afirmação como cidadões que utilizaram para isso a cultura e atraves da mesma buscaram desenvolver um dispositivo alternativos que tornasse  possível sua inclusão social.  

                Dentro deste movimento o espaço em torno do folclore foi muito valorizado pois resgata lendas como: "Vovó do mangue "Pai do mangue,"Boitatá"(ou Biatatã ou Batatão ou João Galafoice ou João Calafoice ou Fogo Fátuo, dependendo da região), "Capelobo", "Capitão do mangue”, "As Encantadas", "As Sereias de Lagamar", "Compadre e Comadre", "Curacanga", "Touro Encantado", "Cobra Norato", "Matita Pareira" e "Alamoa".           

              Em se tratando  do mangue do cocó encontramos a presença de diversos atores que povoam a área, merendo destaque as comunidades ribeirinhos de origem mestiços decendentes de negros e indios, pescadores, tiradores de coco, pequenos comerciantes, barraqueiros, pequenos agricultores, turistas, empresários do turismo, especuladores imobiliários e técnicos de vários setores que atuam na área.               A cultura litorânia  nesta área apresenta-se sempre muito diversificada e mística, sendo a mesma passada de gerações para gerações, exercendo assim multiplas influências  no modo de vida da populção. No caso especifífco  do coco a cultura litorânea apresenta-se tão viva que da mesma surge a gênese de seu próprio nome, pois como afirma Hermam, na cultura litorânea a lenda do Cocó é assim contada...

     “Existia uma bela jovem que costumava se banhar diariamente numa lagoa entre as dunas. Certo dia, apareceu um jovem que era o protetor das águas doces. O casal enamorou-se. Um dia o jovem teve que partir. Chegando o momento, o jovem anunciou que como lembrança deixaria um presente: “haverá uma grande tempestade que inundará, o vale, porém não tenha medo. Isso permitirá que eu me aproxime de sua casa sob a forma de um enguia ou peixe em forma de cobra. Você pegará um machado, me decapitará e enterrará minha cabeça”. Da cabeça cortada nasceu um broto, do broto um coqueiro que conserva os olhos e as lagrimas doce, do jovem apaixonado. (Herman Lima, Apuol Ponte 1993.9.176-177).   

          De inicio o contado do homem com as áreas de manguezais  já  lhe garantia uma fonte de água e alimento, o ato de praticar uma grande variedade de outras atividades relacionadas as crenças, adorações e costumes, habitos alimentares, vestuario, fabriação de instrumentos e utensilos  e a busca da cura com medicamentos caseiros praticado atualmente pela as comunidades ribeirinhas do mangual,  nos da uma  lucidez de que os conhecimentos  prévio sobre o que poderia ser utilizar passava por um processo de transmissão de cultura  entre os  que habitavam e habitam essas áreas. Pois como afirma Chaval (1995);

                                  “ Os Homens tiram de seu ambiente aquilo que ele tem necessidaade. Eles  procedem pela coleta ( o que supõem que eles reconheçam, entre desenas ou centenas de espécie, aquelas que são nutritivas, aquelas que são venenosas, aquelas que fornrcem fibras etc.) pela pesca ou pela caça ( o que implica um inventério detalhado  da fauna e flora terrestre e aquática, pelo pastoreiro ( que se baseia na domesticação de uma ou várias espécies animais, no conhecimento  de sua necessidade alimentar, seus deslocamentos necessários   para aproveitar as áreas de pastagens no momento mais favoraverl e o uso do fogo para aumentar  ou regenerar as zonas de percusso) e pela agricultura. Cada uma destas operações implia o uso de instrumentos varioáveis; (Chaval-1995).

                    

             Dentro dos dominios do rio cocó encontramos uma areas1.155,20 hectaresde manguezal que forma o chamado Parque do Cocó, considerado um dos maiores parques ecológicos urbano da América Latina, o mesmo foi criado em 1989 e expandido em 1993  sendo  transformado em uma Área de Preservação Permanente (APP) cuja a finalidade e proteger e conservar os recursos naturais existentes, de forma a recuperar e manter o equilíbrio necessário à preservação da biota terrestre e aquática.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

Contudo, como citado na musica comida do grupo titãs;

 

 

“A gente não quer só comida,
A gente quer comida,
Diversão e arte
A gente não quer só comida,
A gente quer saída
Para qualquer parte...”

(parte da letra da música

 do grupo musical dos titans)

 

            O parque do cocó propicia excelentes condições para diversas atividades culturais e educativas uma vez que o mesmo torna possível o contato direto da população com o ambiente natural, seja através de atividades ligadas a recreação, turismo ecológico e pesquisa científica o mesmo ainda é perfeito para quem é amante da vida natural e das longas caminhadas onde encontram os em seus trechos preservados uma mata de mangues de rara beleza, situado no coração de Fortaleza onde várias espécies de moluscos, crustáceos, peixes, répteis, aves e outros mamíferos que compõem cadeias alimentares do mangual podem ser vistos pelos os indivíduos que a visita.                                                                                           Dentre as diversidades culturais do parque do cocó ainda merece ser divulgadas outras atividades que consideramos bastante relevantes, trata-se doPrograma Parque Vivo e o Domingo no Parque.

           O parque vivo teve suas atividades culturais iniciadas em 1993 como conseqüências de um trabalho de educação ambiental marinha desenvolvido pela equipe da Universidade Federal do Ceará.                                                                                    Ao longo dos anos, essas atividades foram cada vez mais desenvolvidas e ampliadas tornando-se um programa viável para promover uma educação ambiental através de vários segmentos tais como: cursos de elaboração de materiais pedagógicos, promoção de oficinas em áreas de risco, organização de biblioteca,  museu do mangue, campanhas educativas além de pequenos teatros relacionados à comemoração de datas representativas.

          O Parque Vivo trabalha em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMAM), Secretaria Executiva Regional II, EMLURB e FUNDEMA. São articuladas com diversas entidades ambientalistas do Estado do Ceará, através da concepção e execução de projetos e diversas outras atividades de educação ambiental, principalmente em Fortaleza.

          Já o domingo no parque é um projeto cultural voltado para o lazer das pessoas de todas as idades, nele encontramos variadas atividades que vão desde o relaxamento corporal até as mais populares danças e brincadeiras de crianças, passando pela musica, teatro, atividades físicas, etc.                                           Fazendo uma conclusão parcial em torna da cultura em nossa pesquisa ainda inacabada deu para perceber que a geografia cultural é na atualidade uma das mais prazerosas áreas de trabalho do campo geográfico uma vez que a mesma envolve as análises de objetos do dia a dia, representa e enquadra nas artes e nos filmes até os estudos mais relevantes da paisagem e das construções sociais de identidades baseadas em lugares. Seu foco inclui a investigação da cultura material, costumes sociais e significados simbólicos, abordados a partir de uma série de perspectivas teóricas.

 

 

 

 

 

5. REFERÊNCIAS:

 

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BELTRÃO, A.L; MAIA, J.T.A.; OLIVEIRA, M.L.; FARIAS, V.P. Diagnóstico ambiental do

Município de Olinda. Recife: Companhia Pernambucana do Meio Ambiente - CPRH, 1995. 160 p.

 

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