Reconhecer que o agronegócio está se recuperando é dizer, no mínimo, que estamos míopes para a realidade, ou que somente enxergamos o todo ao invés das partes que o compõe.

É interessante como boa parte da mídia tem dificuldade em reconhecer as diferenças dos agentes que compõem a rede de empresas formadoras do agronegócio. É notável que seja dada uma distinção para o desempenho da soma das partes em detrimento da discussão mais efetiva de quem realmente está obtendo resultados positivos em cada um dos segmentos.

Alarde-se aos quatro cantos de que a crise passou e o agronegócio bate recordes e dá um novo salto, como anunciam revistas e jornais de circulação nacional. A imagem que a mídia transfere para a opinião pública é bastante diferente da realidade que se encontra na maioria dos setores. Esta realidade destoante ocorre principalmente no setor produtivo (entenda-se produção agrícola) e na distribuição antes da porteira, com o intenso fechamento de revendas de defensivos e fertilizantes, dentre outros agentes.

Esse fato se evidencia à medida que em 2006 o agronegócio cresceu 0,45%, porém a agropecuária (produção primária) perdeu 2,12% e o setor de insumos antes da porteira amargou uma perda de renda da ordem de 1,25% (agricultura) e 4,84% (pecuária). Portanto, quem ganhou foram os setores da indústria pós-porteira e no setor da distribuição.

Pelos dados até agora disponíveis, parece que em 2007 a história vai se repetir, com uma melhora no setor de insumos antes da porteira que em alguns casos ampliaram os seus preços em até 40% o que deverá influenciar na sua participação no rateio do bolo do agronegócio. Por outro lado, a produção agropecuária vai continuar perdendo renda.

Desde que a crise se instalou, o grande debate que se tem visto no setor produtivo está em torno do endividamento e a busca de renegociação. É lógico que a necessidade declarada dessa empreitada é legítima, porém a sociedade tem observado que ano após ano, crise após crise, plano após plano a celeuma tem sido sempre a mesma.

Volto a afirmar que a discussão é autentica, mas o centro da contenda de cada crise está continuamente na necessidade de renegociação das dívidas contraídas em períodos de euforia e incapazes de serem pagas nos momentos de dificuldade. Pouco se tem feito em relação à melhoria da gestão dos empreendimentos. Ou, o que se tem feito é precário do muito que temos por fazer.

A gestão continua sendo relegada a um segundo plano. Não imagino uma frente parlamentar da agricultura para a melhora do nível de gestão dos empreendimentos rurais. Ou ainda um grupo integrado de instituições para melhorar a capacidade de administração das propriedades e fazer com que esse processo desencadeie uma melhora da competitividade da agricultura. Vários países adotaram esse modelo. A Nova Zelândia, como berço da Administração Rural, fez o dever de casa e há algum tempo colhe os frutos.

No nosso caso, vivemos aos solavancos desde que os produtores do País definitivamente resolveram inserir a sua agricultura no cenário empresarial mundial ainda no início da revolução verde. As nossas discussões normalmente passam ao largo das questões internas das nossas propriedades. Temos certo pudor em falar de orçamento, custos, fluxo de caixa, planejamento de comercialização e coisas do gênero. O privilégio de usar e discutir questões do gênero se restringe a pequenos grupos isolados. Está longe de ser uma questão de política (pública e privada) agrícola nacional.

Em termos de tecnologia e produtividade, na maioria das atividades, damos um banho nos demais países. Porém, no uso das ferramentas de gestão, parece que as inúmeras crises seqüenciais que enfrentamos desde a década de 70 ainda não foram capazes de dissuadir os produtores em decidir no feeling e passem a avançar velozmente na direção da eficácia do uso das ferramentas de gerenciamento.

Muitas empresas rurais fizeram escritório, compraram os seus computadores e contrataram profissionais, mas continuam gerenciando os empreendimentos como na época dos seus avós. Outros nem isso. Está na hora de se mexer. O capital está trocando de mão e a concentração de renda anda a passos largos.

Na nova semana, boas inspirações à todos.