Parte 2 – Sublimação do prazer através do consumo disfarçado de felicidade. 

 A partir do consumo de supérfluos percebemos certa aquisição de status quo que sublima em nós os elementos egoístas de satisfação primária, que são negados em virtude do convívio em uma sociedade que nos obriga a prezar pela subsistência do grupo através da preservação de certos tabus. Reprimir totalmente os impulsos pode originar vários distúrbios de ordem psíquica, portanto somos condicionados a dar vasão aos impulsos do prazer no consumo de alimentos ou de artigos de vestuário, que são em suma reflexos dos arquétipos de fetiche que presamos em nossas fantasias inconscientes.

 Desta forma garantindo em parte nossa satisfação pessoal, limitada é claro, pelo interesse de produção e de venda da indústria, somos induzidos ao consumo de certos produtos em determinados períodos do ano por meio das mídias.

 Desta forma é simbolicamente realizada no exterior a frustração interior tanto no prazer, sublimado no consumo, quanto à falsa sensação de felicidade coletiva, criada na identidade de uma classe social, que pode consumir e efetivamente consome produtos associados a uma ritualidade social: Natal, Páscoa, dia das Mães, dos Pais.

Perceba como a indústria faz uso dos impulsos sexuais para venda de produtos. A partir de forma cilíndrica, com contornos fálicos, para as mulheres e para os homens superfícies côncavos e contornos com silhuetas. As frustrações interiores superadas pela aquisição de uma bolsa (em mulheres que não tem filhos vemos frequentemente esta associação com maternidade), sapatos substituindo falos, compulsão por troca de enxovais, que correspondem a insatisfação sexual no casamento e, sobretudo uma necessidade de provar a si mesma e aos outros que ela é muito feliz e realizada sexualmente, profissionalmente e em paz com a balança apesar do óbvio. No homem os distúrbios de ordem sexual são observados na aquisição de carros grandes e na necessidade de expor ao grupo seu enorme e bem sucedido rendimento sexual.

  Construímos, assim, uma parede que blinda esta sociedade injusta, em nome da possibilidade egoísta da realização do prazer primitivo sublimado, e da ilusão de felicidade coletiva, evocando o que chamamos de preservação da ordem social meritocrática.  Quem é bem sucedido é por devido reconhecimento do seu esforço e dedicação e quem não é deve se esforçar mais, pois o bem sempre vence. De forma que qualquer tentativa de inversão destes valores preestabelecidos soa como desordem, anarquia, desrespeito e irreverencia.  

  Da mesma forma que não abrimos mão de atender aos impulsos de prazer primário (sublimando-os no consumo de supérfluos), também não abrimos mão da consciência do querer coletivo (felicidade), seguimos, por isso, criando as classes de consumo e nos associando a elas de forma que se nossa classe, grupo, agremiação ou família tem suas necessidades supridas, não importa o que ocorre com quem está fora deste mundinho. Se é que existem tais pessoas, não é um problema nosso, posso conviver muito bem com esta incoerência e ainda me considerar muito feliz. Tal distorção da realidade só é possível, pois atende a princípios instintivos e não racionais. Portanto deriva da satisfação dos desejos e não da aplicação racional do principio de justiça econômica que exige a felicidade.

 ECONOMIA: Eco = casa/ Nomos = lei. Aplicar como leis universais os princípios de responsabilidade que você aplicaria em sua casa.

Todas as crianças como se fossem nossos filhos, todos os filhos como se fossem únicos. Todos os jovens como se fossem nossos irmãos e irmãs, todos os velhos como se fossem nossos Pais e Mães. Esta é a única economia capaz de trazer consigo alguma raiz de felicidade.