Outro dia questionei no Twitter a eficácia de clínicas de recuperação de dependentes químicos mantidas por igrejas evangélicas que usam a religião como forma de 'libertar' os viciados. Essas clínicas costumam impor aos internos rotinas de práticas religiosas que eles provavelmente não teriam se tivessem poder de escolha. Cultos, orações antes dos alimentos e leitura da Bíblia, além de outras práticas. O resultado é que a maioria dessas pessoas que saem dessas clínicas se tornam evangélicos fervorosos, que pregam, cantam e "testemunham" sobre sua vida passada de drogas e a nova vida religiosa.

Me lembro de ter lido uma vez algo sobre os "viciados em religião", pessoas que precisam da prática religiosa para sobreviver. Sim, assim como existem pessoas viciadas em álcool, chocolate e café, há os viciados em religião, e eu conheço gente assim. Um dia sem ir à igreja é um dia incompleto, vazio. Onde estão, estão falando na religião, seja em almoço de família ou no trabalho. Esse tipo de gente geralmente costuma ser inconveniente, pois acha que qualquer ambiente é local para a "pregação do evangelho".

Pois bem, considerando que é possível que uma pessoa se vicie em religião, eu perguntei no Twitter: será que essas clínicas que usam a religião como tratamento estão realmente libertando? Esses pacientes estão sendo tratados de um vício ou estão apenas trocando por um outro? Será que eles não estão deixando o vício nas drogas para mergulhar no vicio em religião? Não seria o caso de eles estarem usando um vício considerado "bom" para a sociedade para esconder outro, considerado "ruim"?

Penso que qualquer coisa que tira do indivíduo a capacidade de pensar sozinho é um vício a ser combatido, seja o crack, seja a religião manipuladora. Já não dizia Nietzsche que a religião é o "ópio do povo"?

Qualquer iniciativa que tenha como objetivo libertar das drogas é algo bom e que deve ser apoiado. Mas o que vai ser feito com essa pessoa depois do tratamento é um outro assunto. As vezes esse 'depois' pode ser mais complicado que o próprio tratamento em si. Tratar um dependente químico é algo complicado demais para simplificar tudo com a religião. Não basta somente crer que 'deus liberta'. Há todo um caminho a ser percorrido pela pessoa, e que apenas ela pode fazer. Mais ninguém. Nem Deus.