1. Introdução

Quando tratamos de mercado religioso, temos em mente uma série de objetos e indumentárias que fazem parte do dia-a-dia da população moderna, sejam elas fiéis ou simpatizantes das instituições religiosas, sendo este um fato observável nas diferentes tradições e nos mais variados meios sociais e regiões dos países.
No mundo contemporâneo, nos deparamos com uma vasta oferta de bens de consumo religiosos que ficam a disposição de toda população, onde as mesmas podem adquirir de forma que a possam utilizar seja com o intuito religioso ou meramente modismo, todavia se nos remetermos a eras passadas os artigos religiosos tinham um cunho estritamente religioso, como definem Oro e Steil (2003, p. 309).

[..] No entanto, se historicamente a oferta desses objetos ocorria sobretudo nos espaços sagrados e sob a hegemonia das instituições religiosas, nos últimos anos constataram o aumento da presença de artigos e símbolos religiosos no espaço comercial secularizado, no qual eles aparecem como um item a mais a ser selecionado dentre uma variedade de bens e serviços triviais e prosaicos do consumo cotidiano.


Com o comércio dos bens religiosos, temos um deslocamento de ambiente de venda onde, no início de sua comercialização o sagrado era o principal alvo para suas vendas e com a sacralização destes bens nos deparamos com um ambiente em que o alvo é apenas o consumo para aqueles que se interessam e vêem nos artigos religiosos algo de características sacras ou não.
Assim Oro e Steil (2003, P.309), asseveram que:

[..] Observa-se, assim, um deslocamento do comércio de bens e artigos religiosos dos ambientes sacralizados, dos quais retiravam, em grande medida, a sua aura, para os ambientes comerciais, onde sua oferta em lojas situadas nos centros das grandes e médias cidades ou no shopping Centers se confunde com a oferta de outros bens de consumo diário. Isto significa, portanto, que os bens sagrados, que em outros momentos da história foram colocados no pólo oposto das coisas profanas ? associadas nas mais das vezes ao econômico e ao material ? neste momento se apresenta como mais um bem de consumo ao alcance de todos aqueles que podem arcar com os custos.

Em virtude dessa mudança de eixo das vendas de bens religiosos podemos observar a eminente queda dos espaços religiosos sacros na venda de objetos religiosos em detrimento ao também eminente aumento do poder de venda de lojas comerciais, que tem tomado para si a "responsabilidade" de oferecer a população os mais diversos e variados bens de consumo religioso, sem que a população precise ser praticante ou membro de uma determinada religião, bastando apenas ter um determinado interesse pelas coisas sagradas.
Oro e Steil definem (2003,p.310):

[..] Assim, ao mesmo tempo que assistimos a uma diminuição da hegemonia das religiões institucionais sobre o comércio religioso na sociedade de consumo moderna, também podemos observar a exacerbação da oferta de bens religiosos, o que estaria atestando um redobrado interesse pelas coisas "sagradas" fora dos limites estabelecidos pelas instituições religiosas na contemporaneidade .


Sendo assim baseado nas idéias iniciais abordadas por Oro e Steil, foi realizada uma pequena pesquisa sobre as lojas de artigos e bens religiosos situados nos espaços comercias da capital sergipana . Ao realizar a pesquisa buscou-se fazer uma analise da real situação em que se encontra o espaço comercial de Aracaju no que concerne a artigos religiosos, fazendo uma pequena analise entre as diferentes denominações religiosas que oferecem seus bens no espaço comercial aracajuano, procurando, assim entender perspectiva e os meios que conduzem essa prática e também as principais características principais de cada denominação religiosa.
Quando foi tomada a decisão da realização dessa pesquisa tomamos como eixo central de qual seria a proposta de inserção de artigos religiosos no meio comercial, afinal não podemos nos desvincular da principal característica desses objetos que é a sacralização, a proximidade com o divino, todavia tais objetos tem-se tornado também objetos de cunho de modismo e banal.
Assim, Oro e Steil (2003, p.310) afirmam que:

[..] a oferta crescente de objetos religiosos nos espaços comerciais cotidianos ao mesmo tempo em que colabora para inscrever a religião na lógica do mercado, também revela uma aproximação entre religião e consumo. Desse modo, pode-se falar tanto de uma expansão da religião para o domínio do consumo de massa- com a consequente redução das fronteiras entre ambas as esferas- quanto de uma perda do controle sobre o consumo de bens religiosos pelas religiões tradicionais institucionalizadas na modernidade .


Ainda temos em Oro e Steil (2003, p.311) que:

[..] Em outras palavras, o comércio e consumo crescente de artigos e símbolos religiosos, mediante a constituição de casas de comércio religioso, seria um elemento de corroboração da destradicionalização religiosa, na medida em que a lógica do consumo, imposta pela demanda individualizada de bens e objetos sagrados, parece se impor sobre a lógica da produção de sentidos e valores que as tradições religiosas buscam associar a estes mesmos bens e objetos. Na medida em que esta lógica se impõe, instaura-se uma situação em que a produção do consumo religioso tende a se tornar mais importante do que o consumo da produção religiosa.



2. A variedade de bens de consumo religiosos

Na cidade de Aracaju, temos poucas variações de lojas comercias de bens religiosos,pois na grande maioria as lojas pertencem a um mesmo dono, onde se situam no centro comercial central , Rua de Bahia e por fim em um único shopping Center . É importante salientar que nesses locais podemos nos deparar com um grande pluralismo religioso local, visível em todo o território brasileiro, ou seja, mesmo sabendo da questão de consumo em que os bens religiosos se inseriram, ainda temos uma grande relação com suas origens.
A fim de evidenciar a pesquisa, visualizaremos os dados e à analise dos estabelecimentos de comercialização de bens de consumo religiosos da capital sergipana.

2.1. Católicos

Ao tratar da oferta de bens religiosos católicos no município de Aracaju, nos deparamos com pequenas participações que as igrejas ainda apresentam, só que nesse sentido temos ainda a sacralização, que segundo Oro e Steil (2003,0p.312) vincula-se à rede de paróquias e comunidades católicas que costumam disponibilizar um reduzido número de itens religiosos em suas dependências, junto às secretarias e sacristias, para atender a demanda dos seus fieis. São, sobretudo objetos de devoção, como terços, imagens, medalhas, bíblias, missais, hinários, etc.
Após tratarmos das igrejas, colocarei a frente às duas principais lojas confessionais que existem na capital: Paulos e Paulinas.
Os dois estabelecimentos comerciais então localizados no centro comercial central e são constituídos enquanto casas de comércio que seguem todas as exigências legais e fiscais de qualquer loja comercial, onde segundo o gerente existem uma mescla entre os interesses, ou seja, além do interesse comercial, há também o interesse simbólico, como por exemplo, difundir o evangelho.
Em suas estruturas físicas foi possível observar uma diversificada variedade de itens para serem oferecidos a quem se interessar, ao questionar sobre quem seria esse público de imediato, foi respondido que o foco principal eram os cristão católicos, mas também havia o foco em professores e estudantes, todavia os funcionários das lojas mensuraram que não era difícil aparecer pessoas de outras denominações religiosas em busca de algum livro, cd, etc.
Em termos materiais, foi possível ver em exposição nas lojas, vários itens religiosos como: Bíblias, terços, bottons, pulseiras, chaveiros, santinhos, imagens, crucifixos, medalhinhas, agendas litúrgicas, CDs, DVDs, etc.
Além dos materiais citados acima podemos também nos deparar com prateleiras de livros religiosos, livros didáticos e livros infantis, o setor de multimídia, das imagens, a área dos cartões, lembranças e presentes, o setor litúrgico, etc.
Vale destacar a forma como são expostos os materiais no interior da loja, onde vemos uma lógica que privilegia os livros e material impresso, vistos na frente da loja, enquanto os artigos religiosos propriamente ditos são encontrados nas laterais e no fundo das lojas.
Assim é fato que a oferta de produtos católicos na capital sergipana se apresenta de forma bem tímida, se restringindo as pequenas lojas que ainda resistem na igrejas, como também nas duas lojas citadas acima.


2.2. Evangélicos

As lojas evangélicas situadas na capital sergipana ficam localizadas principalmente no bairro comercial Siqueira Campos, pois é nesse bairro que se situam as centrais das principais igrejas evangélicas do Estado, todavia também encontramos lojas do segmento evangélico no centro comercial central.
O comércio de bens de consumo religiosos evangélicos além das lojas, podem ser vistas também dentro das igrejas, na maioria são bíblias, CDs, DVDs,etc.
Nas lojas propriamente ditas, os funcionários são em 100% evangélicos e pertencem a igrejas diferentes, embora exista uma união entre as igrejas evangélicas da cidade. Dentro destas lojas podemos encontrar uma grande variedade de CDs, DVDs, peças de porcelana, vaso de flores, copos, canecas, pratos, bandejas, sempre com mensagens do tipo: "Deus é fiel"; "O senhor é meu pastor e nada me faltará". É possível também encontrar algumas bijuterias que são confeccionados pelas irmãs da igreja, sendo assim esses utensílios possuem mais um caráter de ajuda social do que consumista. Existem prateleiras onde se encontram uma grande diversidade de bíblias, como por exemplo, bíblias de estudo, bíblias do homem, bíblias da mulher, bíblia para criança, etc.
Os frequentadores destes estabelecimentos são em sua grande maioria os evangélicos que estão sempre naquela região, todavia, como nas lojas católicas é possível identificar também pessoas de outras denominações, sempre em busca de algum material para à aquisição.
Vale destacar que nessas visitas, podemos identificar que o ofertório de bíblias e livros evangélicos é muito intenso, como foi mensurado acima, também vale destacar a grande "febre" que tem sido a música gospel, é visível uma grande variedade de CDs gospel que as prateleiras das lojas apresentam, os lançamentos estão sempre presentes e caso não possuam um exemplar no momento, prontificam-se de encomendar para que o cliente sinta-se satisfeito.
O atendimento das lojas, são sempre com jargões utilizados nas igrejas do tipo, "irmão"; "deus abençoe", etc. A faixa etária chama um pouco a atenção em virtude de haver uma mescla entre os fieis jovens e também os idosos.
Se fizermos uma pequena comparação entre as lojas evangélicas e as lojas católicas, poderemos perceber que as lojas evangélicas buscam diversificar dentro das lojas, pois não oferecem apenas os materiais da doutrina, também ofertam alguns utensílios que sempre são de alguma utilidade para os frequentadores da loja.

2.3. Espíritas

Os bens e artigos que os espíritas da região de Aracaju utilizam ficam mais centralizados dentro dos próprios centros.
Em Aracaju podemos destacar em torno de 5 (cinco) centros espíritas que se destacam em vendas e frequência de fieis, o qual podemos destacar nominalmente o Bezerra de Meneses .
Contudo, é bem fácil no centro comercial central de Aracaju encontrar uma série de mini-livrarias espíritas que vendem seu seus livros, mas também trabalham como uma espécie de farmácia espiritual, onde oferecem remédios fitoterápicos, todavia esses remédios não são encaminhados por um médico convencional, mas sim por médiuns que psicografam a sua receita.
Os livros da livraria giram em torno dos autores Chico Xavier e também do fundador do espiritismo Alan Kardec, todavia podemos ver outros escritores, como por exemplo, Zibia Gaspareto.

2.4. Outras Denominações Religiosas

Ao tratarmos das outras denominações religiosas encontradas na cidade de Aracaju, destacamos os Espiritas não Kardecistas, Ubandistas, Esotericos, etc. As evidências maiores dessas denominações são possíveis de se encontrar no Mercado Setorial de Aracaju , lá pessoas ligadas a essas denominações vendem, ervas curadoras, animais, objetos de barro, imagens, líquidos, etc.
Ao mesmo tempo em que esses materiais são vendidos, as maneiras como se devem utilizá-los são ditos e ensinados pelos vendedores, que nem sempre são adoradores da denominação, pois é comum encontrar pessoas que vendem esses materiais e não possuem nenhuma ligação com a religião.
Além do mercado Setorial de Aracaju, temos uma loja de produtos exotéricos no Shopping Riomar, onde essa loja persiste lá a mais de 15 (anos).
Vale ressaltar um fato interessante, com relação a essa loja de produtos exotéricos, pois várias lojas evangélicas e católicas tentaram se instalar no Shopping, mas não conseguiram vingar, ratificando a teoria de que os as pessoas mesmo sem serem adeptas da denominação utilizam seus utensílios apenas como modismos e vaidade.

3. Conclusão

Ao fazermos essa pesquisa de dados sobre as lojas comercias de bens religiosos de Aracaju, podemos chegar à conclusão da intensa busca de ampliar o rol de compradores nesses segmentos sejam eles da doutrina ou não, uma vez que, como foi dito durante o discorrer do artigo, não é difícil encontrar uma gama de materiais com intuito de atrair a atenção dessa clientela, onde com secularização, as características iniciais dos objetos e bens religiosos, tomam uma nova vertente, o que Patrícia Birman chama de bricolagem de materiais.











Referências Bibliográficas


? CAMPOS, Leonildo. Teatro, Templo e Mercado: organização e marketing de um empreendimento neopetencostal.

? STEIL,Carlos; ORO,Ari Pedro. O comércio e o consumo de artigos religiosos no espaço púlblico de Porto Alegre-RS. BIRMAN,Patricia (org). Religião e Espaço Púlblico.