Religando o homem à Deus



   Muitas pessoas acreditam que o medo do desconhecido e a necessidade de dar um sentido à vida e ao mundo ao seu redor são fatores que levaram o homem a criar diversas crenças, cultos e cerimônias. Daí surgiram tantos mitos, superstições e ritos para manter contato com o mundo sobrenatural. No entanto, ao ser criado à imagem de Deus (Gn.1.26,27), o ser humano trouxe consigo a inclinação, a propensão ou necessidade de cultuar o Criador. Necessidade porque é o próprio Deus quem pede que os homens o adorem. O Senhor Jesus Cristo confirmou esse fato ao declarar: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele darás culto” (Lc. 4.8).

 

   Afinal, o que significa ser religioso hoje? Se formos fazer uma reflexão iremos encontrar tantas respostas quantas religiões existem. Pode significar crer que Deus é a fonte e a finalidade da vida; ou crer que amar o próximo é tão importante quanto amar a Deus; enquanto outros acham que as duas coisas são completamente diferentes, tanto que se pode matar o próximo em nome de Deus, quando Deus nunca pediu tal coisa! Há pessoas que acreditam que obedecer aos mandamentos, fazer votos, cumprir promessas, recolher-se num mosteiro e no silêncio, fazer opção pelo celibato e pelos pobres, sacrificar-se até a morte, signifique ser religioso; assim como raspar o cabelo ou nunca cortar um fio de cabelo, ir à mesquita na sexta-feira, à sinagoga no sábado, ou ao templo no domingo. Alguns acham que ser religioso é consultar bruxas, enquanto outros preferem queimá-las vivas.  Ser religioso pode significar construir um luxuoso templo ou adorar numa simples igrejinha. Outros acreditam que precisam construir altares e oferecer sacrifícios e manjares é a solução.

 

   A história da humanidade e a história das religiões se confundem. Isso se deve ao fato de que não houve, no passado, comunidade ou cultura sem religião. A palavra religião, tem sua origem no verbo latino religare, que significa “religar”, “ligar de novo”. Deus pôs dentro de nós o conhecimento de que este mundo não é suficiente. Ao afirmar que Deus colocou a eternidade no coração do homem (Ec. 3.11), o autor bíblico está revelando a miséria do homem. O Salmista disse inspiradamente: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Sl 42.2).  A. W. Tozer, afirmou: “A eternidade de Deus e a mortalidade do homem se unem a fim de nos convencer que a fé em Cristo Jesus não é uma opção.”

 

    Atualmente, em meio aos desafios de muitas “verdades”, pregando-se que todos os caminhos levam a Deus, e o antropocentrismo em ascensão, colocando o homem e seus desejos no centro da sociedade e da religião, o Deus morto por Nietzsche foi agora ressuscitado, numa versão mais sofisticada ao gosto da terceira modernidade. Esta idéia é oriunda desde a primeira modernidade no Éden, após a queda do homem, quando ele quis ser como Deus declarando a sua independência em busca de sua autonomia. Uma nova tentativa surge na segunda modernidade iniciada por volta da época cartesiana, lançando-se o homem como fonte da verdade científica. O período ficou conhecido com o simples nome de Modernidade. Em todas as versões, há uma transposição em que o homem busca ser o seu próprio Deus. É preciso considerar que o homem não foi criado para ser Deus, mas para ser simplesmente homem. Para esse caso, lembramos da mensagem de João 14.6, em que Jesus proclama ser o caminho, a verdade e a vida, e ninguém vem ao pai a não ser por mim. Esses três termos se completam e se credenciam mutuamente, evidenciando Jesus com a única fonte da verdade. “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, (Jo 8.32). A diferença que Jesus faz em relação à verdade é que Ele não apenas ensina a verdade, mas também é a verdade.

 

   Está evidente que fomos criados não somente com corpo físico, mas Deus nos deu a alma, que nos possibilita ter relacionamento pessoal com Ele; que podemos orar, louvar e ouvir as palavras que Deus quer nos falar. “Clama a mim e responder-te-ei e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes”, (Jr 33.30). A imagem de Deus no homem é o principal sinal de que a religiosidade humana não é uma invenção, mas existe um Ser superior que precisa ser louvado e amado.