UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA A DISTÂNCIA – EAD

POLO ARROIO DOS RATOS

 

 

 

 

 

CHIRLEI BORBA MACHADO

 

 

 

 

 

Relatório de prática Docente II apresentado ao curso de Licenciatura em Pedagogia-UFPEL/UAB, como requisito à conclusão do estágio supervisionado de 2015

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Charqueadas, 2015.

RELATÓRIO DE PRÁTICA DOCENTE ANOS INICIAIS

 

1-            CONTEXTUALIZAÇÃO

 

            A escola Artur Dornelles fica localizada no bairro Santo Antônio, na cidade de Charqueadas, às margens do rio Jacuí. A escola atende em média 192 alunos distribuídos em níveis que adequados na modalidade de anos vão do 1° ao 9° ano do nível de Ensino Fundamental, as crianças estudam nos turnos da manhã e tarde agrupadas em um espaço físico composto de 10 salas de aula, pátio, biblioteca, refeitório, sala de recursos, quadra de esportes e banheiros.

            O bairro Santo Antônio possui uma boa infraestrutura, com ruas asfaltadas, linha de ônibus circular, posto de saúde, mercados, igreja católica, templo evangélico, centro espírita, centros de umbanda, uma empresa de médio porte e uma escola municipal de educação infantil. A maioria das famílias dos alunos da escola possui casa própria, trabalham nas empresas da cidade, na prefeitura e também há muitos pais profissionais autônomos. A energia elétrica, o serviço de internet, telefonia fixa e correios são oferecidos de forma básica, onde a grande maioria possui luz elétrica, água encanada e o esgoto que deságua no rio Jacuí. No entanto nem todos possuem computador e internet. A maioria dos alunos da escola são de classe média baixa e moram no bairro, mas a escola também atende alunos do bairro Colônia que fica bem próximo da escola.

            O bairro Colônia Penal fica ao lado do bairro Santo Antônio. O bairro Colônia Penal é o bairro mais antigo da cidade de Charqueadas, pois existe a 70 anos e a cidade só foi emancipada do município de São Jerônimo a 33 anos. O bairro começou inicialmente para abrigar os funcionários da Penitenciária Estadual Do Jacuí (PEJ) e suas famílias que vinham de diversas localidades do estado para trabalhar no presídio. O bairro legalmente não pertence ao município de Charqueadas em razão de ter sido construído em uma área que pertence ao estado, no entanto em razão da proximidade os moradores do bairro realizam suas atividades na cidade de Charqueadas, como qualquer morador da cidade, essa questão meramente burocrática vem sendo tratada pelos poderes do município que tentam sem sucesso incorporar o bairro oficialmente ao município através de várias audiências realizadas com representantes do estado, mas o processo acaba sempre engavetado em razão de trocas de governo e a falta de vontade política de resolver essa situação do bairro. Ainda hoje o bairro abriga muitos agentes penitenciários e policiais militares que trabalham na PEJ e nos presídios que cercam o bairro as margens da RS 401, inclusive na Penitenciária de alta segurança de Charqueadas, recentemente rebaixada pelo governo a penitenciária de média segurança. O bairro recentemente teve as ruas asfaltadas que antes eram de chão batido, possui uma boa infraestrutura com calçamento e asfalto, mas ainda possui ruas de chão batido. O comércio do bairro gira em torno da grande movimentação populacional que ocorrem dos familiares dos presos que semanalmente realizam a visita aos seus parentes apenados. Possui mercado, templo evangélico, casa de umbanda, canil, bares, restaurante, escritório de advogados, lan house, ferragem, hospedaria, transporte circular de ônibus e transporte em charrete desses familiares até os presídios. O bairro também possui uma escola estadual de ensino fundamental, mas o que motiva alguns pais a matricular seus filhos na escola Artur é a maior facilidade de acesso aos profissionais especializados como psicólogo, em razão desse serviço ser mais acessível no município do que no estado, inclusive com orientação da diretora da escola.

            A escola trabalha com a escolha de temas mensais que são especificados em reunião pedagógica pelos professores, supervisão e direção, onde esse grupo busca contemplar os objetivos da escola com as determinações da mantenedora.  Esses temas serão trabalhados com as crianças de forma geral, onde cada professor deve contemplar os temas pré determinados no início do ano escolar, um em cada mês específico. No mês de outubro conforme indicação da supervisão escolar o tema a ser comtemplado será “A criança”, onde deverá ser trabalhado assuntos relativos as crianças como direitos e deveres.

            A escola possui parceria em seus projetos com duas empresas de grande porte na cidade, a GKN e a GERDAU que desenvolvem projetos sociais que contemplam as necessidades dos alunos. No primeiro semestre deste ano foi realizada uma reunião de pais onde a escola expôs a ideia de trabalhar com os livros da autora Léia Cassol explicando para as famílias os benefícios de se trabalhar a literatura partindo do interesse dos alunos. Os pais concordaram em adquirir três livros ao custo de R$25,00 cada um em tempos diferentes conforme a orientação da professora. Foi esclarecido que a compra dos livros não era obrigatória e que a não aquisição dos mesmos não implicaria nenhum prejuízo aos alunos. A comunidade abraçou essa proposta e em sua maioria adquiriu os livros para os filhos. A escola compra uma remessa e os pais compram direto na escola, inclusive faltou livros para alguns alunos que então buscaram comprar direto no comércio literário.

            A escola desenvolve um projeto de leitura chamado “Minha escola lê”, onde são trabalhados os livros da autora Léia Cassol em todas as turmas e disciplinas. As crianças adquirem o livro e todos e os professores realizam diversas atividades nas diferentes disciplinas focando o desenvolvimento da leitura, interpretação, escrita e criatividade nas variadas áreas do conhecimento. O livro que será trabalhado no mês de outubro será “Um passarinho chamado Mario” das autoras Léia Cassol e Bia Brigidi, com ilustrações de Giana Lorenzini. A escolha de trabalhar principalmente com obras desta autora partiu dos próprios alunos durante uma visita a feira do livro em Porto Alegre, quando estes demonstraram grande interesse pela figura da autora que possui um cabelo pintado de roxo, causando assim uma identificação com os adolescentes e também pelas ilustrações e leitura dos livros na feira, sendo assim a escola priorizou a proposta de trabalhar com os livros da autora Léia Cassol que inclusive visitou a escola no dia 1° de setembro deste ano realizando uma integração com os alunos que apresentaram vários trabalhos para a autora.

            A escola Artur Dornelles assim como várias escolas do município de Charqueadas está engajada no projeto “Charqueadas pela cultura da paz”, que é um projeto criado por uma organização não governamental motivado a partir de um terrível episódio de violência envolvendo jovens da cidade que culminou com o assassinato de um jovem e a prisão de vários outros envolvidos no episódio. A comunidade ficou muito chocada com esse caso por ser uma cidade pequena e considerada uma cidade com baixos índices de violência urbana. Essa tragédia envolvendo jovens culminou em um sentimento de revolta e vontade de mudanças na sociedade. Em razão desse projeto a escola vem buscando estratégias que propiciem atitudes de paz entre os alunos da escola e desestimulem a violência entre todos.

            A turma de 4° ano na qual realizei o estágio no turno da tarde é de responsabilidade da professora titular Denilsa Maria Souza Severo, inicialmente composta por 13 alunos, mas durante o estágio ingressou mais uma aluna, passando a 14 alunos com idades entre 09 e 11 anos.

            A turma é composta por quatorze alunos, sendo 8 meninos e 6 meninas. Os meninos geralmente são um pouco mais expressivos do que as meninas, eles interagem e se expressam com muita facilidade, com exceção do aluno E. que se mostra tímido e introvertido dentro do grupo escolar. Após uma conversa informal ele me contou que o irmão mais velho é dependente de drogas. As meninas geralmente não interagem muito e não questionam, durante o recreio elas preferem permanecer na sala brincando de bonecas e casinha. Quando perguntei porque não participavam do recreio no pátio disseram com poucas palavras que não gostam pois tem muita correria.

            Durante o processo de estágio foi possível perceber com mais abrangência como se estabeleciam as relações dentro da turma, onde percebi que haviam alguns conflitos entre três meninos que sempre se contrariavam o tempo todo.

            A relação estabelecida com a família foi importante no sentido de potencializar o trabalho docente. Durante a festa de Halloween que aconteceu na escola busquei dialogar com alguns pais que demonstravam curiosidade sobre a minha presença na turma e questionavam qual o curso que eu estava fazendo e também relatavam sobre seus filhos e como era a postura deles em casa, foi um diálogo informal, mas muito importante no sentido de buscar subsídios para reconhecer as potencialidades e carências dos alunos dentro do ambiente familiar, já que eles refletem na escola muitas vezes a problemática enfrentada em casa no dia a dia.

            Durante o processo de estágio busquei contemplar todas as demandas que recebi, da professora titular, da escola, dos alunos, das tutoras à distância, de minhas convicções enquanto educadora e tudo sem perder o foco no tema transversal. Enfrentei grande dificuldade ao planejar as atividades, devido ao fato de não ter experiência na área, acredito que os feeds vieram no sentido de contemplar uma visão que me faltava, devido a minha falta de prática pedagógica nessa etapa do Ensino Fundamental.

           

 

2- A PESQUISA E AS CATEGORIAS CENTRAIS

            O processo de pesquisa deve ser uma constante no trabalho docente, pois ao buscar conhecer a realidade dos alunos o professor adquire subsídios que embasam e potencializam o processo de ensino aprendizagem. Através da pesquisa da realidade o professor consegue refletir sobre a sua prática, revendo conceitos e fazendo os ajustes necessários ao melhor andamento do processo de aprendizagem de cada aluno.

            A escola é um espaço de desenvolvimento dos alunos e precisa propiciar estratégias que permitam aos alunos se apropriarem das diferentes áreas do conhecimento. Para tal a etapa de Ensino Fundamental é regulada pelas normas estabelecidas nas diretrizes curriculares nacionais sobre a educação básica.

            Conforme as Diretrizes Nacionais da Educação Básica:

Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de duração, a matrícula é obrigatória para as crianças a partir dos 6(seis) anos de idade, tem duas fases sequentes com características próprias, chamadas de anos iniciais, com 5 (cinco) anos de idade de duração, em regra para estudantes de 6 (seis) a10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4(quatro) anos de duração, para os 11(onze) a 14(quatorze) anos. [...] acolher significa também cuidar e educar, como forma de garantir a aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o estudante desenvolva interesses e sensibilidades que lhe permitam usufruir dos bens culturais disponíveis na comunidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que lhe possibilitem ainda sentir-se como produtor valorizado desses bens (2013, p. 70)     

           

            Sendo assim, nesta etapa dos anos iniciais muitos alunos chegam à escola pela primeira vez, quando não participaram da educação infantil, precisando de um acolhimento para que se sintam valorizados e seguros dentro do espaço escolar, favorecendo assim um melhor desenvolvimento da aprendizagem dos alunos nesta etapa da educação básica.

            Através da pesquisa o professor consegue desenvolver nos alunos uma nova maneira de aprender, através da ação, onde o aluno deixa de ser mero receptor de conhecimentos e passa a interagir e construir novos saberes de forma interdisciplinar e sem prejuízos aos conteúdos estabelecidos nas diretrizes curriculares.

A interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade. Mas integra as disciplinas a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a constituição de conhecimentos, comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos resultados. BRASIL (1999, p.89).

            Neste sentido o professor pesquisador é aquele que busca juntamente com a comunidade escolar uma profunda apropriação da realidade vivenciada pelos sujeitos do entorno da escola, tendo em vista que a escola é um reflexo da comunidade e vice-versa. A escola enquanto instituição social tem a capacidade de interação e consequente transformação da realidade encontrada, tendo em vista que a escola é formada por sujeitos em constante processo de evolução e adaptação. Como Paulo Freire descreve em seu livro Pedagogia da Autonomia (2002-25° edição- pág. 14); “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.” Sendo assim, o professor ao assumir uma postura de pesquisador da realidade concreta da comunidade escolar obterá muitos subsídios para um planejamento de ensino significativo para essa comunidade na qual ele também está inserido, refletindo de forma crítica sobre os programas, de modo que a escolarização não se desfoque do contexto atual. Diante disso durante o processo de estágio o planejamento foi organizado de forma efetiva após uma pesquisa sobre a realidade e especificidades da turma, com a orientação da professora titular que pediu para reforçar alguns conteúdos já ensinados anteriormente. As atividades propostas necessariamente precisaram contemplar o tema transversal de forma a interligar os conteúdos propostos, para isso foi preciso a realização de uma pesquisa de informações e atividades que contemplassem o tema e uma garimpada na escola de materiais concretos (livros, jogos, etc.) que propiciassem aos alunos um aprofundamento de estudos sobre o tema escolhido.

            O planejamento durante o estágio também precisou ser flexível, se adequando às condições climáticas que impediram que fossem realizadas em determinados dias atividades no pátio e uma expedição ao ar livre, possibilitando assim um maior desenvolvimento da capacidade de contornar situações imprevistas, dinamizando a rotina, porém sem perder o foco nos objetivos almejados.

            A avaliação é parte fundamental do processo de ensino, pois quando utilizada de forma correta serve como estratégia de potencialização do mesmo, no entanto quando utilizada de forma tradicional apenas se restringe ao caráter classificatório e discriminador.

            A avaliação dialógica deve ser um tipo de avaliação que considera múltiplos aspectos, como participação, desenvolvimento, criatividade, diferentes formas de expressão do conhecimento adquirido, dentre outros aspectos. De forma que o professor consiga através de um constante processo avaliativo perceber o desenvolvimento dos alunos de acordo com suas especificidades através de diferentes intervenções avaliativas. Como quando um aluno é provocado a refletir sobre a leitura de uma imagem e como forma de reprodução dessa reflexão é proposto que elabore um texto e esse aluno não consegue transmitir suas ideias, não quer dizer que esse aluno não compreendeu a imagem visualizada, mas sim que possivelmente apresenta alguma dificuldade de expressão no uso da linguagem escrita. No entanto se o professor explorar as diferentes formas de expressão dos alunos na interpretação da imagem e propor uma livre demonstração do conhecimento adquirido utilizando as múltiplas linguagens poderá avaliar de forma mais justa e significativa a interpretação da imagem por seus alunos. Quando utilizada dessa forma a avaliação se torna um método de constante reflexão da prática pedagógica e não apenas um mecanismo reprodutivo de um sistema avaliativo que rotula e discrimina, desconsiderando a integralidade do educando. Assim como caracteriza Jussara Hoffmann (1991),

A perspectivada ação avaliativa como uma das mediações pela qual se encorajaria a reorganização do saber. Ação, movimento, provocação, na tentativa de reciprocidade intelectual entre os elementos da ação educativa. Professor e aluno buscando coordenar seus pontos de vista, trocando ideias, reorganizando-as (HOFFMANN, 1991, p. 67).

            A avaliação tradicional é totalmente ultrapassada, pois não considera as múltiplas capacidades dos alunos, muito menos suas especificidades e não oportuniza aos professores uma reflexão sobre o processo de ensino aprendizagem.

            Durante o estágio a avaliação desenvolvida com a turma foi centrada nos alunos de forma individual, observando as diferentes formas de produção que cada um desenvolveu, como textos, desenhos, caderno e explicitação da aprendizagem através do diálogo.

            O ciclo gnosiológico é um processo pelo qual o ser humano desenvolve novos conhecimentos, partindo dos conhecimentos prévios em confronto com novos conhecimentos através da curiosidade epistemológica.

            A curiosidade é a mola propulsora que permite ao sujeito descobrir novos saberes em confronto com saberes já adquiridos, permitindo assim atingir maior conhecimento sobre o objeto de curiosidade. Quando a curiosidade é estimulada nos alunos, estes podem se tornar autores de novas descobertas, contribuindo com o mundo que os cerca. Como diz Freire:

A curiosidade como inquietação, indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento como sinal de atenção que sugere alerta faz parte integrante do fenômeno vital. Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. (FREIRE, 1996, p.35). 

            O professor precisa motivar os alunos a exercerem sua curiosidade epistemológica através da interação e reconstrução de seu processo de ensino aprendizagem, permitindo que os alunos sejam juntos com o professor autores do seu próprio aprendizado, desconstruindo práticas ultrapassadas que torturam os jovens contemporâneos, refletindo junto com os alunos sobre suas demandas e construindo práticas inovadoras de ensino aprendizagem que permitam aos alunos se posicionarem criticamente, de forma que seus interesses sejam valorizados dentro do contexto da comunidade escolar e do mundo do qual fazem parte.

            Diante dessa concepção durante o período de estágio foi desenvolvida uma proposta da expedição pelo bairro, com o intuito de motivar os alunos a construírem uma ação que poderia ser realizada no bairro como forma de intervenção para melhorar as condições de vida na comunidade e a criação de normas elaboradas e escolhidas democraticamente pela turma como forma de melhorar a convivência no grupo.

 

    3- TEMA TRANSVERSAL E INTENCIONALIDADE PEDAGÓGICA DO PLANO DE TRABALHO E PLANEJAMENTO

            O processo de escolha do tema transversal se deu através das observações na escola e seu entorno, de forma que foi preciso um olhar atento ao que estava acontecendo na comunidade escolar e suas demandas para que fosse possível vislumbrar qual tema transversal seria o ideal de se focar o trabalho docente durante o estágio. O tema ética foi escolhido através de uma demanda urgente na comunidade sobre a falta de valores morais de conduta como forma de estabelecer critérios éticos nas relações sociais para uma convivência melhor entre todos dentro e fora do ambiente escolar. Como o tema sobre ética se apresentou de forma muito abrangente foi sugerido pelas tutoras um subtema que ficou estabelecido seria ética nas relações de amizade.

            O tema ética nas relações de amizade foi trabalhado em todas as aulas, buscando relacionar os conteúdos em cada atividade com a abordagem do tema de forma a propiciar a reflexão dos alunos. Não foi possível explorar o tema todos os dias em todas as áreas do conhecimento, mas procurei sempre destacar o tema de forma mais intensa na disciplina de português, que foi a disciplina com a qual consegui mais facilmente interligar com o tema.

4- DISCIPLINAS, CONTEÚDOS E HABILIDADES ABORDADAS

           

            Durante o estágio foram propiciadas aos alunos atividades que contemplassem o tema transversal aliado com as diferentes áreas do conhecimento e os conteúdos disciplinares exigidos no currículo escolar.

            Na primeira semana foi proposto como atividade para a turma a construção e escolha em forma de consenso entre todos da turma das regras de convivência no grupo da sala de aula.  Esta atividade foi surpreendente, pois a turma se envolveu ativamente no processo de discussão sobre quais os fundamentos para a existência de regras como forma de melhorar a convivência nos grupos sociais. O diálogo envolveu toda a turma e gerou debate sobre o porquê da existência das regras e normas de conduta nos diferentes grupos sociais e como se estabelece os critérios de escolha das regras. Quem constrói as regras e baseados em que constroem foram as questões que nortearam o diálogo na turma. O tempo previsto para essa tarefa foi insuficiente, devido ao envolvimento de todos que criavam, escolhiam e confeccionaram um pequeno cartaz com as regras da turma para o melhor convívio entre todos. Através dessa atividade busquei propiciar aos alunos uma reflexão crítica sobre como acontece o processo de criação de normas de conduta na sociedade e em que se baseiam para serem criadas.

            Na segunda semana realizamos uma expedição pelo bairro como forma de exercer na prática uma ação ética como forma de exercer a cidadania na comunidade escolar. Inicialmente trabalhamos o conceito de cidadania como forma de conviver melhor na comunidade escolar, onde os alunos teriam que escolher e aplicar no bairro uma ação escolhida por eles em uma expedição anterior. Foi uma prática educativa de grande significado para eles, pois puderam através da pesquisa e da ação-reflexão construir saberes significativos para eles no meio do qual fazem parte como pequenos cidadãos.

            Na terceira semana busquei através de atividades lúdicas contemplar o interesse dos alunos pelas aulas e pelo tema transversal. Realizamos uma atividade com um jogo eletrônico da tabuada, utilizando um notebook e um data show para que todos pudessem acompanhar o jogo. Onde foi propiciado aos alunos a construção dos cálculos da tabuada utilizando uma linguagem tecnológica que eles dominam. Foi uma atividade que eles realizaram em grupo e com isso também foi possível trabalhar as relações de competição no jogo e suas consequências para a manutenção da ética nas relações de amizade. Com essa atividade consegui motivar o aluno E. que geralmente não conseguia realizar com eficiência os cálculos de multiplicação e com essa nova proposta se mostrou participativo e logrando êxito na realização dos cálculos.

           5- AVALIAÇÕES, OUTRAS OBSERVAÇÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Durante o estágio foi preciso muita humildade para perceber e contemplar as necessidades dos alunos e demandas da escola. As atividades precisaram ser adequadas as demandas da escola e dos alunos que apresentaram diferentes níveis de desenvolvimento, onde alguns realizavam as atividades com facilidade e outros com dificuldade, mas todos precisaram de alguma orientação no desenvolvimento das atividades. Alguns alunos se destacavam quanto ao seu nível de desenvolvimento, uns muito adiantados no conteúdo precisando de novos desafios para se sentirem motivados e outros com uma grande necessidade de acompanhamento durante as atividades. Foi preciso certa flexibilidade no planejamento para adequar os imprevistos, como na semana que se fez necessário contemplar o tema de Halloween na escola, mas sem grandes prejuízos ao tema transversal.

            Uma grande dificuldade enfrentada no estágio com relação ao ensino dos conteúdos e que demandou um estudo maior foi no ensino da matemática, no qual precisei estudar diferentes estratégias de ensino da tabuada para fugir da tradicional forma de ensinar através de decorar os resultados sem entender como se dá o processo de multiplicação.

           

 REFLEXÃO CRÍTICA

 

            O processo de estágio nas Séries Iniciais foi uma etapa de grandes descobertas para mim sobre a complexidade envolvida na docência e as possibilidades que a mesma desperta para os educadores que se recusam a se render ao fracassado sistema educacional brasileiro, permitindo assim, através de novas concepções de aprendizagem e práticas inovadoras aproximar os alunos de uma aprendizagem significativa para eles e sua comunidade.

            A prática do estágio docente me permitiu vivenciar momentos inesquecíveis com os alunos, experimentar as dificuldades enfrentadas pelo professor no anseio de contemplar as diferentes demandas exigidas por cada aluno e as possibilidades que se apresentam quando buscamos desenvolver o processo de ensino aprendizagem baseado na pesquisa como forma de motivar os alunos a construírem novos saberes e quando nos apropriamos do ciclo gnosiológico como estratégia de constante reflexão de nossa prática pedagógica.

            A pesquisa se apresenta como uma ferramenta essencial no trabalho docente, pois o professor precisa ser um pesquisador da realidade dos alunos, seus interesses e suas demandas. Através da pesquisa do entorno escolar o professor consegue aproximar a teoria da ação pedagógica, propiciando assim um aprendizado condizente com as especificidades da turma, de forma que os conteúdos conversem com as vivências dos alunos. Como diz Freire (2001, pág. 32): “não existe pesquisa sem ensino e nem ensino sem pesquisa”.

            A pesquisa durante essa etapa me permitiu obter subsídios para organizar o planejamento de acordo com a realidade da turma. Busquei através do diálogo na comunidade com pais, alunos, professores e funcionários conhecer melhor a escola  e a turma na qual realizaria o estágio e sendo assim, antes mesmo de começar a semana de observação me apresentei na escola e comecei a frequentar o ambiente escolar e me aproximar dos alunos, visitando a escola uma vez por semana. Durante esse período pude conhecer melhor os projetos desenvolvidos pela escola que focavam na importância da leitura como estratégia de desenvolvimento dos alunos nas mais diversas áreas do conhecimento. Também percebi que os pais em sua maioria se envolvem nas atividades escolares dos filhos, participando nas reuniões e se mostrando presentes na escola. Também percebi na prática o quanto através de um olhar sobre os interesses dos alunos podemos potencializar as aulas, ensinando um mesmo conteúdo de forma diferenciada. Busquei trabalhar a tabuada de forma mais dinâmica com a turma durante o estágio, fugindo da tradicional forma de decorar a mesma, utilizei um jogo eletrônico da tabuada, onde os alunos se dividiram em dois grupos e durante o jogo para avançar de nível tinham de realizar diversos cálculos da tabuada. Dessa forma percebi que o interesse dos alunos pelo estudo da tabuada aumentou significativamente, pois estava utilizando um recurso, ao meu ver, pedagógico de grande significado para eles, pois a maioria dos alunos jogam jogos eletrônicos em suas casas como forma de diversão, então acredito que dessa maneira eles aprenderam de forma lúdica e sem a pressão de simplesmente decorar a tabuada sem nenhum tipo de contextualização. As novas tecnologias estão disponíveis para grande parte dos alunos da escola, então acredito que devemos utilizá-las como aliadas no processo de ensino aprendizagem dos alunos, tornando o ensino mais significativo e prazeroso.

            O planejamento do professor deve se apresentar de forma flexível e propiciar uma constante reflexão sobre sua prática pedagógica. Como define Vasconcellos (2000, pag. 79):

O planejamento enquanto construção-transformação de representações é uma mediação teórica metodológica para ação, que em função de tal mediação passa a ser consciente e intencional. Tem por finalidade procurar fazer algo vir à tona, fazer acontecer, concretizar, e para isto é necessário estabelecer as condições objetivas e subjetivas prevendo o desenvolvimento da ação no tempo.

            O processo de planejamento das aula foi uma tarefa de enorme complexidade para mim, pois como não possuía nenhuma experiência docente nos anos iniciais enfrentei grande dificuldade de visualizar as atividades e o tempo necessário para sua realização. Busquei organizar as atividades seguindo as orientações das tutoras e contemplando a realidade da rotina que observei, pois não queria causar um contraste muito grande na turma, mas no entanto procurei propiciar aos alunos atividades que transcrevessem a minha identidade enquanto educadora que me faço hoje. Planejei atividades que permitissem o desenvolvimento dos alunos de forma integral, contemplando seu desenvolvimento em todos os aspectos, exercitando o processo de ensino aprendizagem através das múltiplas linguagens, como os jogos, corporeidade, letramento, oralidade, música, dança, artes visuais, atividades físicas e esportivas, pensamento lógico, relações interpessoais e sociais. Propiciando uma integração constante entre as atividades e o tema transversal.

            Durante o estágio, já na primeira aula percebi que o tempo programado para cada atividade se apresentou equivocado e precisou de flexibilidade, por exemplo, a atividade de reflexão, construção e votação de regras de convivência para a turma demorou mais tempo do que o programado, pois todos os alunos se envolveram no debate sobre a criação das regras, gerando muitos questionamentos sobre o assunto. Foi um momento de grande aprendizagem para todos, pois foi possível vivenciar em sala de aula, de forma simples, como ocorre a construção da cidadania e das normas de convivência em sociedade. Os alunos foram muito conscientes ao escolherem e votarem nas regras de convivência, priorizando o bom convívio entre todos de forma responsável. Acredito que essa atividade foi muito significativa para eles, pois alguns que haviam dito não ter nenhuma regra em sua casa perceberam a importância de se estabelecer algumas regras para melhorar a convivência familiar, em sociedade, na escola e na turma. Dessa forma acredito que consegui fazer com que eles compreendessem a importância de sermos responsáveis em nossas relações sociais.

            O processo de ensino aprendizagem foi uma demanda complexa que tive de enfrentar durante o estágio, pois são muitos os fatores que influenciam na aprendizagem dos alunos e o professor precisa considerar todos ao desenvolver seu trabalho de mediador da aprendizagem dos alunos. Conforme aplicava as atividades com a turma pude perceber as diferenças entre o ritmo de aprendizagem entre eles, na prática precisei preparar atividades extras para o aluno Muriel que estava muito avançado em seu nível de aprendizagem, necessitando de novos desafios em seu desenvolvimento. Foi um desafio para mim despertar o interesse do aluno Endrigo pela matemática, pois ele dizia ser muito difícil e demonstrava desinteresse e frustração por não conseguir realizar os cálculos. Somente em uma atividade que realizei do jogo eletrônico da tabuada que percebi um interesse pelo estudo da matéria por parte dele, os olhos brilhavam, pois ele demonstrava grande interesse pelo uso de computadores. A escola possui notebooks, mas como alguns estão estragados e a prefeitura não realiza a manutenção, os professores não utilizam essa ferramenta nas aulas. Acredito que o uso das novas tecnologias é extremamente oportuno na atual realidade que vivenciamos na sociedade contemporânea, pois aproxima os alunos de uma ferramenta que essa atual geração domina. Privar os alunos do uso dessas novas tecnologia nas escolas públicas é retroceder no tempo. Além desses dois casos extremos que citei a turma em geral possui diferentes níveis de aprendizagem, por isso precisei ter um olhar diferenciado para cada aluno, observando suas potencialidades e necessidades como estratégia de aproximação entre o ensino dos conteúdos e o ritmo de aprendizagem de cada aluno.

            Durante o estágio procurei trabalhar de forma lúdica, utilizando jogos e dinâmicas de grupo como estratégia de aproximação entre o interesse dos alunos, a aprendizagem dos conteúdos e o desenvolvimento do tema ética nas relações de amizade trabalhado com a turma, pois acredito que o aluno aprende mais facilmente quando se interessa pelo objeto de estudo, ou pela forma de abordagem do conteúdo. Descobri ao longo das três semanas de estágio com o quarto ano que pode se ensinar de forma prazerosa para os alunos, basta o professor estar aberto e flexível para as mudanças que estão acontecendo no mundo, pois o aluno precisa ser ativo no seu processo de ensino aprendizagem. Ao utilizar atividades lúdicas nas aulas o processo de ensino aprendizagem se tornou mais dinâmico e os alunos se envolviam muito nos jogos e dinâmicas, de forma que percebi que eles conseguiram aprender brincando e interagindo uns com os outros, fugindo do tradicional agrupamento em fileiras durante quatro horas sentados copiando e fazendo exercícios.

            Procurei propiciar tarefas em grupo como forma de estimular as relações entre os alunos e também desenvolver a capacidade de dividir tarefas e construir novos conhecimentos com a interação entre todos do grupo. Sendo assim, uma das atividades que considero ter obtido êxito foi a expedição realizada pela turma, na qual eles deveriam escolher uma ação que poderia ser realizada no bairro por eles como forma de estimular o trabalho em grupo e a consciência ética cidadã nos alunos. Foi uma atividade que os alunos se envolveram ativamente, questionando sobre porque as pessoas não cuidavam do bairro. Também deveriam identificar as ações que deveriam ser realizadas pelo poder público e não estavam sendo feitas e como os pequenos cidadãos da turma poderiam fazer a diferença no bairro e no mundo através de pequenas ações. Foi uma atividade que gerou debate em aula, pois um dos alunos disse que não via sentido em recolher o lixo nas ruas já que logo estaria suja novamente, neste momento foi preciso um posicionamento neutro de minha parte, apenas mediando o debate entre todos da turma para propiciar uma reflexão crítica por parte de todos os alunos. Acredito que atividades ou projetos de estudos dos quais os alunos escolhem, constroem e aplicam a aprendizagem é mais significativa já que o interesse pelo objeto de estudos parte dos alunos e apenas contam com a mediação do professor que busca desenvolver os conteúdos curriculares de forma contextualizada com a realidade e o interesse da turma.

            Apesar de todo o conhecimento adquirido pelos professores em cursos de formação permanente sobre uma proposta metodológica que rompe com o tradicionalismo educacional o que observo em minhas pesquisas durante o curso de Pedagogia é a grande dificuldade que muitos professores enfrentam na hora de fugir das concepções enraizadas na escola e no fazer docente.

            A rotina de educação tradicional deve ser quebrada, mas não no sentido de se perder o foco e o objetivo ao qual se pretende alcançar, mas no sentido de buscar alternativas nas diferentes concepções de metodologias pedagógicas que propiciem aos alunos um aprendizado significativo que “absolva” o aluno de ficar “preso” em  uma sala geralmente sentado e cultivando a cultura do silêncio “condenado” a memorizar conteúdos fragmentados para realizar avaliações totalmente questionáveis para conseguir avançar e se inserir no mercado de trabalho como uma espécie de máquina do sistema capitalista. Essa educação bancária impera na maioria das escolas, no entanto cabe ao professor tentar romper com esse ciclo. Nesse sentido busquei realizar aulas dinâmicas que propiciassem a reflexão crítica dos alunos com atividades nas quais os alunos fossem autores do próprio aprendizado. Notei que as aulas que geravam mais movimento, como as aulas com jogos, atividades de trabalho em grupo e de pesquisa no bairro foram as aulas que mais motivaram os alunos a participar e nas quais eu notava um aprendizado prazeroso. Os textos com temas pertinentes ao contexto da realidade dos alunos também foram atividades que os alunos se interessavam e conseguiam produzir através da reflexão e do diálogo novos conhecimentos sobre as questões que norteiam as vivências dos alunos no contexto escolar.

            O processo de avaliação foi uma aprendizagem muito significativa em meu processo de formação docente vivenciado de forma prática durante o estágio. Na teoria concebemos a avaliação mediadora como uma excelente estratégia de diagnóstico reflexivo sobre o fazer docente como forma de potencializar o processo de ensino aprendizagem dos alunos e qualificar a prática pedagógica do professor. Como afirma Hoffmann:

O que pretendo introduzir neste texto é a perspectiva da ação avaliativa como uma das mediações pela qual se encorajaria a reorganização do saber. Ação, movimento, provocação, na tentativa de reciprocidade intelectual entre os elementos da ação educativa. Professor e aluno buscando coordenar seus pontos de vista, trocando ideias, reorganizando-as. (HOFFMANN, 1991, p. 67)

           

            No entanto, na prática das escolas o que ocorre são avaliações elaboradas apenas de forma burocrática que classificam e discriminam os alunos. Em minha prática no estágio busquei avaliar o desenvolvimento dos alunos diariamente, a cada atividade proposta individual ou em grupo. Os alunos que se expressavam mais e perguntavam o tempo todo consegui visualizar mais facilmente as aprendizagens e dificuldades, mas aqueles mais introspectivos precisei analisar os trabalhos individualmente, corrigindo junto com eles as dificuldades. Também acompanhava as atividades realizadas indo de classe em classe orientando e percebendo as dificuldades da turma. Através desse processo consegui perceber a grande dificuldade que a maioria dos alunos enfrentava na escrita das palavras e nos cálculos de multiplicação e com isso busquei trabalhar mais com essas dificuldades nas aulas seguintes.

            O processo de estágio realizado nos anos iniciais me propiciou uma vivência muito significativa em minha formação, pois pude comprovar na prática que apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelo professor é possível realizar o trabalho docente de forma mais qualificada, propiciando aos alunos aulas contextualizadas com a realidade do cotidiano dos alunos e uma aprendizagem significativa e emancipatória.

           

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Educação Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica/Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral.

FREIRE, Paulo.  Pedagogia da Autonomia; 2002- 25° edição- pág. 14.

                                                                                                     

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. 

HOFFMANN, Jussara M.L. Avaliação: mito e desafio-uma perspectiva construtivista. Educação e Realidade, Porto Alegre, 1991.

Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Ministério da Educação/ Brasília, 1999.

VASCONCELLOS, Celso dos S: Planejamento Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico Ladermos Libertad-1. 7º Ed. São Paulo, 2000.