RELATÓRIO DE ESTÁGIO CLÍNICO SUPERVISIONADO EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA

INTRODUÇÃO

O presente estudo tende a compreender a práxis da Psicopedagogia Clínica que considera as dificuldades apresentadas de um aluno, mediante a uma problemática no decorrer do processo do desenvolvimento escolar apontado pelos pais e/ou profissionais da escola. O diagnóstico psicopedagógico é trabalhado através das relações estabelecidas entre os sujeitos envolvidos no processo de investigação no desenvolvimento pedagógico.

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Propõe ainda, relatar uma experiência psicopedagógica clínica que tem seu início através de uma queixa levantada inicialmente pela escola, de uma criança com 10 anos que apresenta dificuldades na leitura e na escrita. Deste primeiro contato, surgiu à necessidade de diagnóstico com a criança e posteriormente, um atendimento psicopedagógico.

O estudo de caso apresentado é resultado de um trabalho de quatro meses realizado por nós, como pós-graduandos em Psicopedagogia Institucional e Clínica em nível Lato-Sensu na Instituição de Ensino e Cultura Faculdade Pio Décimo, na condição de estagiárias e observadoras para conclusão da disciplina “Estágio Clínico Supervisionado”.

Nossa atuação, na qualidade de estagiárias em Psicopedagogia Institucional e Clínica, teve como desígnio proporcionar condições aderentes ao desenvolvimento de relações interpessoais e o estabelecimento de vínculos, procurando inserir os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, bem como contar com a colaboração da equipe escolar (professora, coordenadora, diretora), auxiliando-nos a ampliar o olhar em torno dos aspectos abordados e trabalhados durante o processo de investigação psicopedagógica. Para o embasamento teórico, tivemos um referencial bibliográfico baseado nas experiências e estudos propostos pelos seguintes autores: Simaia Sampaio, Vitor da Fonseca, Maria Lúcia Weiss, Jorge Visca, Alicia Fernández, dentre outros.

  1. 1.    REFERENCIAL TEÓRICO 

1.2.        O Diagnóstico Psicopedagógico

          O diagnóstico psicopedagógico é uma observação que se descreve minuciosamente um problema o qual, relaciona-se diretamente com dificuldades de aprendizagem. Ao iniciar, devem-se realizar pesquisas com a finalidade de levantar dados sobre o sujeito atendido. Dados esses relacionados ao seu contexto individual, familiar e escolar.         

          O ponto crucial do diagnóstico é o obstáculo no processo de aprendizagem que tem como desígnio obter uma compreensão global da sua forma de aprender e dos desvios que estão ocorrendo neste processo que leve a um prognóstico e encaminhamento para o problema de aprendizagem. Procura-se organizar os dados obtidos em relação aos diferentes aspectos envolvidos no processo de aprendizagem de forma peculiar, pertencentes somente àquele sujeito investigado. Nessa perspectiva, estamos submetendo o diagnóstico psicopedagógico ao método clínico.

          É sabido por nós que no método clínico investigativo existe uma maneira de trabalhar a conversação livre com a criança sobre um tema dirigido pelo interrogador, proposto por perguntas, questionamentos, desenhos livres e que nos informe o porquê, supondo-lhe que façam contra-sugestões dentre outros métodos investigativos. Observa-se a criança em cada uma de suas respostas e atividades propostas. Sempre guiado por ela, faz-se com que ela fale, projete suas emoções em desenhos e atividades lúdicas cada vez mais livremente. Assim, acaba-se por obter, em cada um dos domínios da inteligência um procedimento clínico de exame análogo semelhante ao que os psiquiatras adotaram como meio de diagnóstico.

       Podemos também realizar diagnóstico psicopedagógico, não necessariamente para pessoas que tem dificuldade de aprendizagem, mas também para pessoas que querem saber como utilizar melhor seus recursos cognitivos. Então, o diagnóstico psicopedagógico clínico possui uma estruturação própria de acordo com sua finalidade. Durante esse processo investigativo, quantidade de sessões para realizar um diagnóstico psicopedagógico clínico, não pressupõe um número fixo, mas tem-se como uma padronização tácita de acordo com a necessidade do indivíduo.          

       Ao analisar os aspectos a serem investigados no processo de avaliação psicopedagógica, é necessário que o foco não esteja somente no sujeito, mas também nas suas relações com o seu grupo social, instituição e objeto de aprendizagem.      

      A finalidade principal do diagnóstico psicopedagógico é identificar os problemas apresentados no processo de aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer e desenvolver dentro do esperado pelo meio social. A partir da análise psicopedagógica surge o prognóstico e o conteúdo para a formulação da hipótese final realizando posteriormente a entrevista de devolução diagnóstica.

Nesse sentido, Scoz (1994, p. 22) diz que:

“(...) os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque multidimensal, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais. Tanto quanto a análise, as ações sobre os problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo de luta pela transformação da sociedade”.

          A relação sujeito-terapeuta é também de fundamental importância para o processo diagnóstico. A qualidade e a validade do diagnóstico dependerão dessa relação. Tudo na comunicação entre estes dois sujeitos deverá ser analisada durante o diagnóstico: a fala, os gestos, os silêncios e a linguagem corporal. 

  1. 2.            APRESENTAÇÃO DO CASO

O presente estudo de caso traz o relato de experiência de uma criança que veio ao contexto da Psicopedagogia Clínica, com indicação da escola em que o aprendente estuda. Por intermédio da coordenadora da Instituição em que está inserido, tivemos acesso ao caso. Logo após, a mesma entrou em contato com a mãe desse aluno por telefone, que aceitou comparecer à escola. Esta relatou já haver submetido o filho às consultas em Neurologista, Fonoaudiólogo e Psicólogo. Tivemos acesso ao laudo fonoaudiólogo que dizia: dificuldade no desenvolvimento da linguagem e da fala.

       L. P. (nome fictício), 10 anos, ao início do processo de diagnóstico psicopedagógico cursava o 2° ano do Ensino Fundamental em escola da rede pública estadual de SE.

 O primeiro contato foi impessoal feito pela escola que ligou para a mãe e assim obteve-se a aprovação em fazer acompanhamento psicopedagógico. Nesse instante, a mãe da criança trocou informações com a secretária da escola e teve-se acesso ao problema enfrentado através da ficha do aluno. Neste momento, começaram-se os levantamentos técnicos. Tivemos acesso ao laudo fonoaudiólogo que dizia: dificuldade no desenvolvimento da linguagem e da fala e posteriormente a queixa da escola que diz: dificuldade em ler e escrever.

          Sua maior dificuldade apresentada pela escola é, mormente em português, por não conseguir acompanhar a turma no desenvolvimento das atividades que exigem leitura e escrita. O mesmo realiza as tarefas, copia as atividades que a professora escreve no quadro, mas não sabe ler e escrever e conhece pouquíssimas letras.

          Durante a avaliação psicopedagógica, primeiramente foi feito o motivo da consulta com a mãe, enquanto que, com L.P., foram feitas as sessões da hora de jogo, avaliações relacionadas a desenhos e anamnese do paciente (com a mãe), quando foi possível conhecer um pouco sobre sua história de vida e atividades ligadas à leitura e escrita, bem como às questões de raciocínio lógico-matemático, desenhos e expressões plásticas. Tudo, visando diagnosticar os aspectos sócio-afetivos associados à aprendizagem (interesses, auto-estima, desejos, desenvolvimento social).

  1. 3.    O PRIMEIRO CONTATO

   O primeiro encontro presencial é sempre cheio de questionamentos e ansiedade por parte tanto do paciente quanto do terapeuta. Há muito de desconhecido para aprender e a sensação de que: será que sou/somos capaz (es) de diagnosticar esse problema?

      Seguimos a sequência estabelecida por Maria Lucia L. Weiss e fizemos a E.F.E.S. Entrevista Familiar Exploratória Situacional que tem como objetivo compreender a queixa nas dimensões familiar e escolar, a captação das relações e expectativas familiares centradas na aprendizagem escolar, a expectativa em relação à atuação do terapeuta, a aceitação e o engajamento do paciente e seus pais no processo diagnóstico, a realização do enquadramento e o esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico. A E.F.E.S, como primeira entrevista, visa a compreensão da queixa nas dimensões da escola e da família, a captação das relações e expectativas familiares centradas na aprendizagem escolar, a expectativa em relação à atuação do terapeuta, a aceitação e o engajamento do paciente e de seus pais no processo diagnóstico, a realização do contrato e do enquadramento e o esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico (Weiss, p.50) Nesta entrevista pode-se reunir os pais e a criança ou até a família, dependendo da disponibilidade.

        Segundo Weiss, (p.41) durante este tipo de sessão, é importante observar a relação entre a temática abordada, a dinâmica imposta ao encontro e o produto de uma atividade que venha a ser realizada por qual membro do grupo. Fernandéz (p. 131) também desenvolveu um guia de atitudes a serem observadas pelo psicopedagogo neste tipo de sessão: escutar e olhar; deter-se nas fraturas do discurso; observar e relacionar com que aconteceu previamente à fratura; descobrir o esquema de ação subjacente; buscar a repetição dos esquemas de ação; e interpretar a operação, mais do que os conteúdos. Neste tipo de entrevista, é importante que sejam colhidos dados relevantes para a organização de um sistema consistente de hipóteses que servirá de guia para a investigação na próxima sessão.

  Nesse contato: terapeuta – pai/ mãe – paciente a criança mostra-se mais confiante e podemos perceber como é o tipo de relacionamento que há no ambiente familiar.  No caso em análise, constataram-se sinais de agressão à mãe por parte do filho.

   A mãe, durante o encontro, apresentou-se sempre submissa, e o filho constantemente interrompia suas falas com palavras autoritárias. Aparentava medo de contrariá-lo, pois o considera muito frágil, fator que não delimita limites sociais gerais. Seguimos a sessão sem mais problemas, apenas observando e fazendo as anotações. Marcamos sequencialmente nosso próximo encontro.

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