A observação da relação professor-aluno veio bastante à tona, em uma dia de aula, no qual os professores não tiveram controle sob a turma, tamanha a agitação dos alunos. Por mais que fizessem uso de seu poder na sala de aula, utilizando artifícios, como ameaças e/ou punições, a turma por um período manteve-se incontrolável.

Torna-se evidente que precisamos refletir sobre dois eixos: como se constitui a formação docente para articular com esse tipo de relação? E a disciplina, seria o limite certo para agir com essa turma?

Na perspectiva da formação docente, como os saberes docentes são afetados por circunstâncias como essa? Tendo em vista que toda ação gera uma reação, isso leva-nos a crer que, os saberes docentes passam a ser reelaborados frente a cada circunstância que o professor depara-se em sala. Ao pensarmos a formação docente, é necessário considerarmos que a sociedade atual exige necessariamente uma educação comprometida com mudanças e transformação. No bojo dessa sociedade encontra-se uma educação que por ser social e historicamente construída pelo homem, requer como essência no seu desenvolvimento a uma linguagem múltipla capaz de abarcar toda uma diversidade e compreendendo dessa forma, os desafios que fazem parte do tecido de formação profissional do professor.

Esta formação constitui um processo que implica em uma reflexão permanente sobre a natureza, os objetivos e as lógicas que presidem a concepção de educar, ensinar e aprender de cada professor, não somente enquanto profissional, mas também enquanto sujeito que transforma e que ao mesmo tempo é transformado.

Na sala da 5ª série, objeto de investigação, percebemos que o vínculo que professores e alunos criam entre si é tão grande que, de ambos os lados ocorrem transformações, provenientes daquele espaço único que é a sala de aula. Um aluno que muda completamente o seu comportamento, porque a professora pediu, demonstra o quanto à relação é delimitada ou ampliada pelas atitudes que cada sujeito, tomará frente as diferentes situações, manipulando ou assumindo-as na sua totalidade real.

Portanto, a formação docente é construída historicamente antes e durante o percurso profissional do professor, e que, como preconiza a abordagem sócio histórica, é também construída no social, dimensão essa que sofre influências constantes e diretas dos alunos.

O professor precisa assimilar os conceitos que orientam a atividade docente em direção a uma autonomia. Tendo em vista que poderá atuar de maneira mais efetiva sobre a diversidade cultural que emerge da sala de aula, de acordo com Giroux (1986) e Freire (1996).

Como em qualquer relacionamento humano, na disciplina é preciso levar em conta a característica de cada um dos envolvidos: professor, aluno e ambiente.Taille (1998) apresenta algumas orientações relativas à relação entre limites e disciplina na escola:

Quando no contexto educacional seja na escola, seja na família, fala se em limites , sempre se pensa no sentido restritivo da palavra: o limite como fronteira a não ser ultrapassada (...) Mesmo na educação, ao lado do sentido restritivo da metáfora limites , se deve também trabalhar o sentido de superação atribuível a ela.

Em um determinado momento da aula, a relação entre a classe e à professora, chegou tão ao auge que a professora disse aos alunos: vocês não tem limites, assim não tem quem agüente . Portanto há interferência da disciplina em sala de aula, como mediadora na relação professor-aluno.

No grupo observado percebemos que o estado psicológico é fator condicionante e de interferência absoluta na relação professor-aluno, retomando aqui as características a que o corpus de estudo está submetido: puberdade, distribuição dos horários das aulas, etc.

Na disciplina a autoridade é algo natural que deve se fazer presente, no entanto, sem descargas de adrenalina, seja para impor ou se submeter, pois é reconhecida  spontaneamente por ambas às partes, professor e aluno. Assim, o relacionamento consegue se desenvolver sem atropelos. De acordo com Tiba (1996), o autoritarismo, ao contrário, é uma imposição que não respeita as características alheias, provocando submissão e mal estar, tanto na adrenalina do que impõe, quanto na depressão do que se submete.

A disciplina é essencial à educação. E para haver a disciplina, é necessária a presença de uma autoridade saudável. O segredo que difere o autoritarismo do comportamento autoritário adotado para que a outra pessoa (no caso, alunos) torne-se mais educada ou disciplinada é o respeito à auto estima.

Como educadores não podemos nos esquivar da tarefa de apontar os limites necessários para que nossos alunos se desenvolvam bem e consigam se situar no mundo. E esse nosso desafio é permeado por diversas realidades, mas é através de uma relação professor-aluno saudável podemos contribuir significativamente para o sucesso de nossos alunos.