Iniciamos esta discussão indagando aos nossos leitores se em algum momento pararam para observar as inúmeras expressões faciais que docentes e educandos protagonizam em sala de aula?

Muitas dessas expressões emergem em situações conflituosas e paradoxais, nas quais a figura docente se desprende de sua essência e, consequentemente, o discente de sua real proposição de estar frequentando uma instituição escolar.

Nesta caótica inversão de valores e posturas, sobretudo, abortados de seus reais papéis sociais, alunos e professores se veem inseridos em um observatório de violência. Esta, por sua vez, pode aqui ser entendida a partir das vertentes tanto física quanto moral.

Frente a isto nos questionamos: o que aconteceu com nossos alunos? O que houve com a docilidade, amabilidade, respeito, e admiração com a figura docente? Por quais caminhos se dispersaram? E por que não dizer a humanização do ambiente escolar?

As relações travadas neste contexto muitas vezes de assemelham a turbulência de um kamikaze, havendo um anacronismo, ou seja, uma colisão de tempo.

A partir deste cenário peculiar a modernidade, em que os meios justificam os fins, o levar vantagem em tudo é propagado pela mídia alienadora, a Ética perde sua legitimidade pessoal, sobretudo, educacional.

O aluno já vem para a escola com marcas, cicatrizes arraigadas na alma, potenciais desperdiçados, espancados ou ignorados pelo seio familiar. Assim, a escola já não lhes é encantadora e o brilho no olhar ao adentrá-la, o visualizar a professor ... são coisas raríssimas, atitudes em extinção.

Os docentes cada vez mais desvalorizados política e socialmente, cidadãos, também, dotados por uma personalidade emocional com marcas profundas oriundas, tanto no que tange ao aspecto pessoal quanto profissional.

Frente a esta caótica realidade, a alegria do aprender e ensinar se perde perante as caras feias e brigas contínuas. A inocência do riso satisfeito, a qualidade dos relacionamentos interpessoais, a empatia entre aluno/professor se encontra em situação de vulnerabilidade, risco ... algo errado e preocupante.

Em sala de aula é comum nos defrontarmos com a atitude de aprendizes que se recusam, teimam em não aprender, carnavalizando a aula que outrora era vista como sagrada. O que se contempla é um cenário dominado pela despersonalização do aprender, onde professores se esforçam para não desviar o olhar do real propósito do processo ensino/aprendizagem, principalmente da humanização.

A dificuldade do aluno em aprender, de se relacionar nos conduz ao questionamento de nossa incompetência didática e metodológica. Somos rotulados, revestidos pela túnica do fracasso escolar sem que haja este olhar mais profundo e a reflexão acerca das relações interpessoais no ambiente social.

Muitos de nossos alunos, cotidianamente, incrementam no interior da escola brigas, incivilidades, hostilidades de toda espécie. Olham para a figura docente já protegido por uma grande barreira, não dando abertura a construção de relacionamentos saudáveis, imperando o mau humor, ruídos, sátira e ironia. Consequente, conduzindo, empurrando o docente a desmotivação e a descrença no sucesso educacional. Tornando-se inegável que muitas vezes impera a vontade de desistir de tudo, frente a esta esquizofrenia de relacionamentos e crenças.

Ao final da jornada de um dia de trabalho, muitos professores trazem no rosto expressões de cansaço, desestrutura e estresse. São atores principais que encenam e aplaudem “os palhaços pedagógicos”, ovacionados por aulas mau dadas e vulgarmente chamadas pelo adjetivo: “empurrar com a barriga.”

Como ressalta KODATO (2011): “O câncer é a metáfora de nossa depressão e ressentimento professoral prolongado...”.

Contudo, ainda encontramos esperanças, visualizamos luzes ao fim do túnel. Todos os dias tentamos enxergar além do óbvio... reinventar o árido cotidiano descobrindo algo novo e encantador em nossos relacionamentos com os alunos e com o mundo.

Nosso desafio é semear na sala de aula saberes que adquirimos através de estudos e experiências com os outros. Propor ações que resgatem ou despertem o encantamento do universo escolar.

  * Simone Andrade R. S. Rodrigues, é Docente da Rede Municipal de Ensino de Rondonópolis, e atua na Escola Municipal de Ensino Fundamental Bonifácio Sachetti.