RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA: CONCEPÇÕES, VÍNCULOS, PROCEDIMENTOS, VISÕES E ABORDAGENS DISTINTAS.

Tamiris Cruz Parreira da Silva
Graduação em andamento pela Universidade Federal Fluminense - INFES

Neste artigo, no qual o tema abrange vários ramos importantes no cotidiano do ser humano, irei demonstrar alguns dos aspectos que me chamaram atenção através da minha experiência de vida. Os conteúdos pesquisados foram de vários artigos em que pude ter acesso. São eles: Escola como extensão da família ou família como extensão da escola? O dever de casa e as relações família-escola*, O sentido das expectativas das famílias em relação à escola para a formação de seus filhos**, Comunicação ? escola- Família: qual o papel da oralidade e da escrita?***, são textos que despertam interesse e fazem refletir. Neste texto, as questões abordadas serão consideradas especificamente de uma relação central de dois grupos extremamente importantes para a socialização dos indivíduos, a relação entre famílias usuárias e instituição escolar.
O envolvimento das famílias com a escola, além de contribuir com todo o processo escolar, também auxilia para uma melhoria dos ambientes familiares (Reali e Tancredi, 2002), provendo o reconhecimento da realidade dos alunos (Szymanski, 1994) e influenciando positivamente no desenvolvimento das crianças (Larire, 1997). Além disso, favorece, ainda, uma mudança positiva na atitude das crianças e de suas famílias para com a escola e na escola e estimula um relacionamento mais harmônico, parceiro e produtivo (Szymanski, 1994), fortalecendo assim um ambiente propício para, numa determinação conjunta ? famílias e escola -, oferecer uma experiência construtiva, que torne uma criança melhor, tanto em relação aos conhecimentos escolares, quanto aos valores e princípios que nortearão sua conduta.
Em relação ao vínculo entre a família-escola, essas duas grandes instituições, a autora se baseou nos sociólogos Berger e Luckmann (1978), quando apontam que o indivíduo "não nasce membro da sociedade. Nasce com a predisposição para a sociabilidade e torna-se membro da sociedade" (p. 173).

Concepção de Educação:

A autora na qual pesquisei, entende a educação, assim como Paulo Freire, sendo a educação uma prática dialógica libertadora.
Os artigos na qual a autora pesquisou cada um tinham um foco diferente, um focava na escola e outro na família.
Aqueles que destacavam a escola sugeriam novas práticas educativas, dinâmicas, também com o objetivo de envolvimento dos pais, estratégias para cultura de participação, para o sucesso do aluno. Mas a importância disto tudo é que a escola tenha consciência da presença dos pais, não apenas a presença física, e também os pais devem perceber a importância que isto tudo envolve para o desenvolvimento de seu filho.
A escola, no cumprimento de seus objetivos, dentro de sua dinâmica interna e função social, deve buscar reconhecer e favorecer as condições para que a relação com as famílias se dê de forma parceira e participativa. Bourdieu rotula a escola e o ensino da seguinte forma:

"(...) A escola (...) é concebida como uma instituição a serviço da reprodução e da legitimação da dominação exercida pelas classes dominantes." (NOGUEIRA, p. 83)
"(...) Bourdieu compreende a relação de comunicação pedagógica (o ensino) como uma relação formalmente igualitária, que reproduz e legitima, no entanto, desigualdades pré-existentes." (NOGUEIRA apud Bourdieu, p. 86)


Concepção de Família:

A conceituação de família tem importância política imediata no trato dos problemas do cotidiano da população ? seja seu diagnóstico, seja seu atendimento. A família como sendo "célula básica da sociedade" e cuidando de sua preservação como princípio fundamental à própria continuidade da espécie (Medina, 1969 e 1974; Prandi, 1981).
De acordo com o Art. 216, a família tem proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre homem e mulher, como entidade familiar, também é reconhecida como entidade familiar, a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. Na atual constituição, não é apenas o casamento que obteriam direitos e deveres, mas também se admite esses direitos aos casais que não são legalmente casados.
As famílias que vivem em periferia, de acordo com Gomes-Szymanski (1988) introduz os conceitos de "família pensada" e "família vivida", estas famílias se estruturam de formas diferentes. A "família pensada" seriam aquelas que se partem se uma união exclusiva entre um homem e uma mulher que se inicia por amor, com a intenção que seus destinos sejam definitivos. Um espaço onde sempre haja uma troca de afetos, não apenas entre o casal, mas principalmente em relação aos filhos.
Já a concepção de "família vivida" é apresentada como um grupo de pessoas vivendo numa estrutura hierarquizada que convive com a proposta de uma ligação afetiva duradoura, incluindo uma relação de cuidado entre os adultos e deles para com as crianças e idosos que aparecem nesse contexto. (Gomes-Szymanski, 1988)
Em outro autor, diz também que a família é tida como um campo de estudo que facilmente mobiliza conteúdos emocionais colocando a subjetividade do pesquisador em evidência. Nesse sentido, é comum a confusão entre o quadro conceitual utilizado pelo pesquisador e seu próprio modelo de família.
A família é a responsável legal e moral pela educação dos filhos e, além disso participa do processo educacional da criança, pois a educação escolar não a isenta desta competência.

Procedimento de vínculos:

A relação família-escola na participação dos pais nos deveres de casa. O grande objetivo do deve de casa é ampliar a aprendizagem em quantidade, para o espaço extra-escolar, sendo uma ocupação adequada para os estudantes em casa e também um importante processo ensino-aprendizagem.
Tradicionalmente o dever de casa era visto como uma estratégia de ensino, apenas para fixação, revisão, reforço e preparação para as aulas e provas, na forma de leituras e exercícios. Esta estratégia afeta a vida dos estudantes fora da escola e sua rotina familiar, pois supõe a conexão entre atividades de sala de aula e de casa, e uma estrutura doméstica adequada apoiando as atividades escolares. Nos aspectos psicológicos e moral tem sido justificado pela importância, autonomia e responsabilidade do estudante. Ele tem sido uma estratégia para melhorar o aproveitamento escolar. Alguns autores até dizem que o dever de casa é o principal meio de interação família-escola. As diretrizes oficiais passarem a ver o entrelaçamento entre família e escola como sendo importantíssimas, sendo a oitava meta da educação nacional, que preserve a participação dos pais no desenvolvimento social, emocional e acadêmico das crianças. Por outro lado, o dever de casa passa a ser visto como violência simbólica, porque existem dificuldades de aderir esse método em algumas famílias, são elas as relações de classe, raça-etnia, gênero e idade, tempo livre, sem dinheiro para pagar aulas de reforço e também porque os pais não possuem cultura acadêmica e conhecimento atualizado para assim transmitirem para seus filhos.
Os estudos comparativos internacionais reforçavam a percepção da importância do ambiente familiar e das práticas de dever de casa: os estudantes japoneses, chineses e taiwaneses tinham melhor desempenho em testes padronizados e faziam mais dever de casa do que os estudantes americanos. (Stevenson & Stigler, 1992). Mas esta ênfase que o Governo deu ao dever de casa, era apenas uma estratégia para aumentar a produtividade escolar, por causa da urgência de ultrapassar os concorrentes econômicos. Em 1976, o dever de casa reproduziria a desigualdade social e proposto que os professores assumissem sua supervisão no lugar dos pais (Rothstein, 2001)
Além disso, é importante ressaltar que a prática do dever de casa não repercute diferencialmente no rendimento escolar apenas indiretamente, ao ampliar o tempo de estudo: em muitas escolas e disciplinas (nos Estados Unidos e no Brasil) o dever de casa vale como nota ou conta para a nota final. (De Carvalho, 2000)
O dever de casa poderia ser visto como um incentivo à construção do habitus¹ requerido pelo sucesso escolar e pala empregabilidade, por outro lado, como afirmam Kralovec & Buell (2000), é uma maneira de remodelar vidas para se adequarem aos requisitos corporativistas. Também em relação ao habitus Bourdieu diz que:

"(...) a relação de intimidade com as coisas da cultura e com a linguagem só atinge o seu grau máximo quando produzida pela ação pedagógica familiar, permanecendo de modo duradouro porque encarnada no sujeito na forma do habitus." (NOGUEIRA apud Bourdieu, p. 90)



Visão das famílias a respeito da escola:

Algumas famílias vêem a escola não apenas como local onde transmitem conteúdos, mas também como uma instituição que é responsável pela formação de seus filhos, sendo no sentido pessoal e profissional, tendo como liberdade de interferir sobre as decisões familiares.
Em uma escola de zona urbana na fronteira de um bairro de lata e de um bairro residencial de classe média na linha de Estoril/Cascais, uma mãe dizia que ia à escola para entregar seu filho para assim ficar descansada, outra diz que vai à escola para saber o que a professora deseja saber ou comunicar-se. Na pesquisa, fizeram a seguinte pergunta: Como é que se poderia melhorar ou tornar mais fáceis as relações dos pais e encarregados de educação com a escola? Resp. É, os pais devem de vez em quando visitar os professores na escola e também os professores devem escrever aos pais para os informar da situação dos seus filhos. A respeito da mesma pergunta, outra mãe respondeu: Embora como já disse eu no meu caso não tenha reclamações a apresentar, creio ser efectivamente de todo o interesse para ambas as partes que haja grande intercâmbio de idéias entre pais e professores sendo que os pais colaborem sempre que
para tal são chamados. Talvez haver uma informação maus regular da situação do aluno na escola e não só no final de cada período.
Em outra escola localizada numa zona semi-rural no Norte do país onde predomina tradicionalmente a indústria têxtil, esta mesma pergunta foi respondida da seguinte forma: Com mais papéis de informação sobre todas as actividades além das reuniões de pais; e após as reuniões de pais ser passados papéis para todos os pais, pois ás vezes não é possível a sua ida; e assim seria todos mais informados. As Relações Pais Professores, para Serem Melhoradas, Só à Maneira Possível. Aver Mais Diálogo E Empenho No Ensino para Com as Crianças Mais Nessisitadas E Com Dificoldade.
Estes textos chegaram às mãos dos pesquisadores de forma escrita, então não sabem nem a idade, nem origem social, nem o grau de instrução. Apenas sabem o lugar e a linguagem. E também muitos desses pais apontam à dificuldade de que às vezes é difícil entender o que dizem os professores. O dever de casa já neste contexto não seria um bom método para que ocorra o vínculo entre escola-família. As famílias que não possuem o capital cultural, não passam muita coisa para seus filhos, causando assim uma diferença na aprendizagem das crianças na escola. Bourdieu a respeito dessa questão diz assim:

"(...) a comunicação pedagógica, tal como realizada tradicionalmente na escola, exige implicitamente para o seu pleno aproveitamento, o domínio prévio de um conjunto de habilidades e referências culturais e lingüísticas que apenas os membros das classes mais cultivadas possuiriam. Os professores transmitiriam sua mensagem igualmente a todos os alunos como se todos tivessem os mesmos instrumentos de decodificação. Esses instrumentos, no entanto, seriam possuídos apenas por aqueles que têm a cultura escolar como cultura familiar, e que já são, por isso mesmo, iniciados nos conteúdos e na linguagem utilizada no mundo escolar." (NOGUEIRA apud Boudieu, p. 87)


"(...) As diferenças nos resultados escolares dos alunos tenderiam a ser vistas como diferenças de capacidade (dons desiguais) enquanto que, na realidade, decorreriam da maior ou menor proximidade entre a cultura escolar e a cultura familiar do aluno." (NOGUEIRA apud Boudieu, p. 87)






CONCLUSÃO

Enfim, como vimos, há um poderoso fator explicativo das desigualdades de oportunidades escolares entre os educandos. Assim, certas famílias foram consideradas mais capazes do que outras de incitarem ao êxito escolar devido a suas atitudes de valorização e interesse pelos estudos dos filhos, a sua ação de encorajá-los, etc.
Considero então, que a relação entre família e escola é uma parceria que dá certo, porém precisa de reajustes. Este trabalho se propõe a dar a conhecer à escola, as expectativas que os pais têm em relação a esta para a formação de seus filhos.
Para que ocorram os reajustes e assim, a relação família-escola seja de total benefício para todos... Qual seria o melhor método de relação família-escola para que não haja nenhum tipo de problema entre as classes e suas culturas? Qual seria o tipo de professor adequado para que todos aprendam? Será que a culpa é só do professor, da escola, dos alunos, dos pais, ou de todo o conjunto da sociedade?
















REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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SZYMANSKI, H. "Significado de avaliação para mães de uma escola estadual da região central de São Paulo." In: Idéias, nº 22, 1994, pp. 69-74.