RELAÇÃO ENTREEDUCAÇÃO E PSICANÁLISE

Maria de Fátima Valeiro

Vanda Vieira da Silva

 

 

RESUMO:

O artigo que se segue apontará a relação entre a Educação e a Psicanálise. Será pontuada a questão da Psicologia da educação; a formação de professores e A Teoria do Desenvolvimento Psicossocial, de Erikson, baseada na teoria freudiana.

 

Palavras-chave: Psicologia da educação. Ensino. Alunos.

 

 

  1. FORMAÇÃO DE PROFESSORES

                Segundo Duarte (1986, p.65-66), a necessidade de se formar educadores, foi recomendada por Comenius, no século XVII e a primeira instituição destinada a formar professores, teria sido iniciada por São João Batista de La Salle no ano de 1684, em Remis.

O nome da referida instituição era Seminário dos Mestres. Entretanto, após a Revolução Francesa, no século XIX, o problema da instrução popular foi exigido, originando por esse motivo, a criação de Escolas Normais, encarregadas de formar professores.

Assim, a primeira instituição com o nome de Escola Normal foi instalada em Paris no ano de 1795 e, a partir daí, houve a distinção entre Escola Normal Superior, para a formação de professores de nível secundário, e, Escola Normal simplesmente, também chamada Escola Normal Primária, para preparar os professores do ensino primário.

                Ao conquistar o norte da Itália, Napoleão criou no ano de 1802, a Escola Normal de Pisa, tendo como modelo a Escola Normal Superior de Paris. Entretanto, na prática, tal instituição transformou-se em uma instituição de altos estudos sem a preocupar-se com a preparação didático-pedagógica. Posteriormente, ao longo do século XIX, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos começaram a instalar suas Escolas Normais também.

                No Brasil, o preparo de professores manifestou-se explicitamente após sua independência e a partir de então, com as transformações sofridas pela sociedade brasileira ao longo dos últimos dois séculos.

Quanto aos aspectos teóricos, embora o problema da formação de professores tenha surgido a partir do século XIX, não significa que tenha surgido professores apenas a partir desse momento. Antes de tal época, havia professores e certamente estes recebiam algum tipo de formação. Entretanto, após o século XIX, houve a necessidade de universalizar a instrução e consequentemente, iniciou-se a organização dos sistemas nacionais de ensino.

                Diante do exposto, originaram-se dois modelos de formação de professores, sendo que o primeiro foi o modelo dos conteúdos culturais cognitivos: o qual a formação de professores pautou-se na cultura geral e no domínio específico dos conteúdos da área de conhecimento correspondente à disciplina que irá lecionar. O segundo modelo, intitulado modelo pedagógico-didático que se contrapunha ao modelo anterior. Esse modelo considera que a formação do professor propriamente dita só se completa com o efetivo preparo pedagógico-didático.

 

 

  1. TEORIA FREUDIANA

 

Os pontos essenciais da Teoria Psicanalítica de Sigmund Freud pauta-se em sua investigação sobre o funcionamento das neuroses. O psicanalista descobriu em seus estudos que os pensamentos e desejos reprimidos referem-se aos conflitos de ordem sexual predominam nos primeiros anos de vida dos indivíduos e estão ligados à sobrevivência. Além disso, Freud constatou que o prazer do sujeito é encontrado no próprio corpo.

Outro conceito de Freud é acerca dos instintos básicos. Para o estudioso, os seres humanos são formados por quatro instintos:

O primeiro é chamado de Eros e representa o impulso para a vida; o segundo é o impulso para a morte; e o terceiro são os fatores inconscientes do comportamento humano, o quarto é a constituição da personalidade.

Em 1900 Freud apresentou essa concepção sobre a estrutura e o funcionamento da personalidade humana, entretanto, de 1920 e 1923 remodelou a teoria do aparelho psíquico e introduziu novos conceitos, designando assim três elementos de formação humana:

ID: busca a expressão irrestrita dos impulsos.

EGO: encontra solução entre as energias primitivas do ID, as restrições do superego e as limitações do mundo exterior.

SUPEREGO: coloca barreira à manifestação do ID ou mesmo do EGO, repressão total da descarga de energia.

Assim, podemos enfatizar que as teorias de Freud para a formação dos professores tiveram grande êxito, tanto no aprendizado quanto na capacitação dos professores.

 

 

  1. TEORIA DE ERIK ERIKSON

 

A Teoria do Desenvolvimento Psicossocial foi desenvolvida por Erik Erikson. Um alemão nascido em 1902 e falecido em 1994 aos 92 anos de idade nos Estados Unidos. É considerado o primeiro psicanalista infantil.

Erikson tornou-se psicanalista após trabalhar com Anna Freud. No entanto, seus estudos não focalizaram no ID e nas motivações conscientes como os outros psicanalistas. Sua ênfase estava nas crises do EGO e no problema da identidade, ou seja, sua preocupação nos fatores sociais do desenvolvimento da personalidade.

O referido estudioso via o homem como um todo e estudava a espécie desde seu nascimento até sua morte, acreditando que a psicoterapia ajuda na recuperação de um ponto falho.

                Rabello (2001) mostra que a teoria de Erikson sobre o desenvolvimento humano é dividida em oito fases e que cada uma delas possui algumas características peculiares:

O EGO é o foco, ao contrário de Freud que tinha como foco o ID.

Outras etapas do ciclo vital são estudadas. Freud valorizou a infância enquanto Erikson reconheceu o grande valor dessa etapa, porém, sem desvalorizar as demais fases da vida.

                As fases as quais Erikson dividiu o desenvolvimento humano são:

  1. Infância (0-1)- Confiança X Desconfiança básica:

Fala sobre a relação da criança com a mãe ou o responsável direto, cujas necessidades básicas são atendidas. Nessa fase o indivíduo estabelece uma relação com o universo. Ao atender satisfatoriamente as necessidades básicas da criança, esta adquire uma atitude de confiança no mundo e em si mesma, ao contrário, sua atitude será de desconfiança e paranoia sobre si e sobre o mundo.

  1. Meninice (1-3)- Autonomia X vergonha e dúvida:

É o controle dos impulsos naturais e os valores morais. Essa fase tem como característica, a “guerra” entre os impulsos e as regras sociais as quais a criança deve fazer parte.

  1. Fase Lúdica (4-5)- Iniciativa X Culpa:

A criança passa a identificar e imitar o poder social dos pais. Nesse período a criança já está desenvolvida fisicamente, possui liberdade para movimentar e se expressar, o que lhe dá a sensação de ser independente. Além disso, ela ainda consegue identificar o que pode ou não fazer e toma atitudes sem adquirir o sentimento de culpa.

  1. Idade Escolar (6-12)- Indústria X Inferioridade:

Essa fase expõe as habilidades normais culturais, escolares e de uso de instrumentos. A criança sente-se uma pessoa capaz de produzir e consequentemente, sente-se capacitada e trabalhadora. Tendo passado pelas fases anteriores de maneira positiva, será uma criança confiante, que possui autonomia e iniciativa própria. Ela deve sentir-se parte integrante da escola para que não sofra bloqueios com o aprendizado e nem regrida.

  1. Adolescência (13-18)- Identidade X Difusão da identidade:

Inicia-se a adaptação do eu em relação às mudanças ocorridas na puberdade, à escolha de uma ocupação, à identidade sexual adulta e à novos valores, portanto, forma-se a identidade psicossocial. Faz-se necessário que se entenda seu papel no mundo, para que se forme uma consciência singular.

  1. Adulto Jovem (19-25)- Intimidade e Solidariedade X Isolamento:

Há uma procura pela relação íntima com o outro, estabelecendo compromissos, formando grupos familiares, ou ainda, pode ocorrer o isolamento, quando não consegue estabelecer alguma relação ou uma troca de afeto (sentimento).

  1. Adultícia (26-40)- Geratividade X Estagnação:

Adquire e cria filhos, tem como objetivo a conquista profissional e a criatividade, preparando a geração seguinte. Essa fase caracteriza-se pela necessidade em orientar e preparar os jovens cidadãos para o meio o qual será inserido. Um tratamento negativo poderá levar o indivíduo à “estacionar”(faltar) com seus compromissos sociais, à não relação exterior e à focalização apenas em si.

  1. Maturidade (acima dos 40 anos)- Integridade X Desespero:

Nessa fase o indivíduo aceita a própria vida e ao mesmo tempo permite a morte, ou seja, interpreta e compreende tudo que viveu e ao renegar a vida, tem uma sensação de fracasso, haja vista ter perdido suas forças físicas, sociais e cognitivas.

Jean Piaget (1896-1980) desenvolveu a teoria do conhecimento que explica como o indivíduo conhece o mundo e simultaneamente, como ocorre o processo evolutivo do pensamento, da cognição e do conhecimento.

A estrutura do desenvolvimento cognitivo é denominada esquema e este, são estruturas de cognição adaptativas as quais permitem que se coordenações para fim específico em diferentes formas e condições. Por exemplo, os bebês possuem esquemas inatos: olhar, agarrar, sugar, segurar... Sendo assim, temos os seguintes esquemas de adaptação:

  • Assimilação: novos conhecimentos e experiências são inseridos aos esquemas já existentes.
  • Acomodação: os esquemas são modificados, visto que as novas experiências trazem uma reorganização do pensamento, um aperfeiçoamento de habilidades e uma mudança de estratégias.
  • Equilibração: soluciona a tensão entre os dois esquemas acima citados.

                Segundo Piaget o desenvolvimento humano se dá por quatro etapas, sendo elas:

  • Sensório Motor que vai de 0 a 2 anos, nessa fase a criança tem a percepção de tudo o que lhe cerca. Quando bebê age pelos impulsos naturais hereditários, por exemplo, a sucção é um reflexo natural. Esse período é de um desenvolvimento rápido e contínuo, o qual permite que a criança desenvolva novas habilidades, tais como, sentar e andar, proporcionando-lhe o reconhecimento e o domínio do ambiente. Sua atitude muda de passiva para ativa e participativa.
  • Período Pré-Operatório que vai dos 2 aos 7 anos, esse período é também conhecido como Primeira Infância e é nele que aparece a linguagem que trará mudanças intelectuais, afetivas e sociais na vida da criança, visto que ela passa a interagir e comunicar se com outros indivíduos. Ao expressar-se verbalmente a criança exterioriza seus sentimentos e pensamentos, o que no futuro, irá ajudá-la a corrigir certas ações. Também nesse período, a criança tende a usar a subjetividade, transformando o real em função de suas vontades e fantasias.
  • Período das Operações Concretas que vai dos 7 aos 11/12 anos, essa etapa é a infância propriamente dita. O desenvolvimento da mente caracterizado pelo egocentrismo intelectual e social é dominado pela construção da lógica que nada mais é que a capacidade de estabelecer relações que permitem coordenar opiniões contrárias. O indivíduo passa a refletir a partir de situações concretas.
  • Período das Operações Formais que é a partir dos 11/12 anos em diante. Nessa fase acontece a transição do pensamento concreto para o pensamento formal. É com esse novo modo de pensar que o indivíduo faz planos de ideias. Esse é o período o qual o sujeito contesta muito e gradualmente vai dominando sua capacidade de abstrair e generalizar. No campo afetivo vive em conflitos, desavenças; cria teorias acerca do mundo, especialmente acerca do que gostaria de modificar e, apesar de ainda depender do adulto, sente vontade de liberta-se dele.

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Pudemos observar após nossos estudos que a Psicologia Evolutiva “é o uso sistemático do desenvolvimento da personalidade humana” desde a fecundação até à velhice, e, como ciência comportamental, preocupa-se com todo e qualquer aspecto do desenvolvimento e estuda o homem como um todo.

Tomando essa teoria por base, afirmamos que a relação entre a educação e a psicanálise é de suma importância para o processo pedagógico, tendo em vista que a compreensão psicanalítica do indivíduo nos permite trabalhar com mais afinco e nos ajuda a dar aos nossos alunos o respaldo necessário para seu crescimento como pessoa.

 

 

  1. REFERÊNCIAS

 

MITHEN, Stiven. A pré-história da mente.  São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 2002.

ROSA, Merval. Psicologia Evolutiva- problemática do desenvolvimento. 15 ed. Petrópolis: Vozes, 1991.

ROSE, Ricardo. Psicologia Evolutiva. Disponível em <http://ricardorose.blogspot.com/2010/07/psicologia-evolutiva.> no dia 21 de agosto de 2009

RABELLO, E.T. e PASSOS, J.S. Erikson e a teoria psicossocial do desenvolvimento. Disponível em <http://www.josesilveira.com> no dia 15 de outubro de 2007.
RABELLO, E. T. Personalidade: estrutura, dinâmica e formação – um recorte eriksoniano. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro 2001. (Monografia).

RIDLEY, Matt. O que nos faz humanos. São Paulo: Record, 2003.

SAVIANI, Dermeval. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de educação, v. 14 n. 40, jan./abr. 2009.