RELAÇÃO DO FILME "O GOLPE DO DESTINO" COM OS TEXTOS "CÂNCER COMO PONTO DE MUTAÇÃO" E "O PACIENTE ONCOLÓGICO, O PSICÓLOGO E O HOSPITAL".
Publicado em 05 de dezembro de 2010 por ANIELLE KALINE DA SILVA ANDRADE
ANIELLE KALINE DA SILVA ANDRADE
RELAÇÃO DO FILME "O GOLPE DO DESTINO" COM OS TEXTOS "CÂNCER COMO PONTO DE MUTAÇÃO" E "O PACIENTE ONCOLÓGICO, O PSICÓLOGO E O HOSPITAL".
Partindo do pressuposto de que o câncer tem conotação fatal em nossa sociedade, podemos afirmar que os indivíduos tendem a desenvolver vários sintomas antes mesmo de começar os tratamentos, demonstrando o sofrimento psíquico, o medo e a angústia frente ao fato de desconhecer qual o rumo que sua vida tomará após ser diagnosticada a doença. Segundo Moraes (apud MARIA MORAES) o paciente oncológico utiliza-se de mecanismos de defesa no intuito de lutar contra suas angústias mediante a ameaça da doença e também para criar novas maneiras de relacionamentos com o meio e consigo mesmo. Esta citação nos remete a lembrar ainda sobre o que Carvalho nos diz em seu texto "câncer como ponto de mutação", no qual a autora utiliza-se das idéias de LeShan para afirmar que o câncer pode transformar-se em ponto de mutação ao invés de um aviso de morte, onde a vida é prolongada com uma maior vivência do eu, maior auto-conhecimento, realização de sonhos, dedicação e empenho.
Após estas observações podemos fazer correlações entre o filme e os textos de forma clara. Como o título bem enfoca, o câncer aparece como um golpe, muitas vezes fatal, para seus portadores, a exemplo do ator principal, um médico coordenador, bem sucedido, com visão, ações e discurso mecanicistas. De repente e de forma brusca da parte da médica, ele descobre que desenvolveu um câncer. E como Moraes cita em seu texto "o paciente oncológico, o psicólogo e o hospital" ele se vê, certas vezes, "despojado de seu poder anterior de decisão e afastado de sua possibilidade de ação". (MORAES, pág.: 58,59)
Em outro parágrafo a mesma autora cita que no hospital, (não só o paciente oncológico) o paciente é despersonalizado, torna-se mais um leito, mais um número para as estatísticas, o que acaba por afetar ainda mais a integridade da identidade do paciente oncológico, que já se encontra tão desestruturada. Este é um tópico que é fortemente combatido pelo protagonista em seu tratamento, inclusive ao final do filme ele ensina a seus aprendizes que cada paciente tem um nome, uma história, medos e vontades.
No início da trama o personagem tenta protelar o máximo possível a afirmação de seu câncer, tanto para si como para a família. Quando confirmado, vê-se claramente "os pontos de mutação". Ele tenta aproximar-se do filho, da esposa, de seus pacientes e de seu "grupo de iguais". Há um trecho do texto de Moraes que se encaixa na passagem do filme onde o paciente oncológico e sua esposa começam a discutir, se distanciar, tanto pela doença quanto por sua proximidade com June, outra paciente oncológica.
"O paciente não permite que descubram seus verdadeiros sentimentos e por outro, as pessoas a sua volta, familiares, amigos ou profissionais, seja por medo, ansiedade ou insegurança reagem da mesma forma. (...) tudo para não entrarem em contato com as angústias que o câncer e a morte despertam." (pág.: 59)
As atitudes médicas de onipotência e falta de comunicação com os pacientes são criticados no filme e também no texto de Moraes. Outro fator alvo de crítica explícito no filme é a questão dos serviços de saúde, ocorre um erro dento do hospital, os diagnósticos são trocados. Sabemos que este acontecimento não é apenas de filme, como também sabemos que não são irreais as alterações de laudos para "limpar a ficha" de erros médicos.
Ao final do filme é perceptível a mudança no modo de ver o mundo por parte do protagonista, ele torna-se mais sensível, atento para o sofrimento do outro, aprendeu a buscar dentro de si paleativos para o seu sofrimento, aprendeu a encontrar tempo para si, para os outros, para o mundo. Será que ele teria aprendido tudo isso se não houvesse adoecido?
Para concluir, podemos nos utilizar das palavras de Moraes quando diz que se deve dar destaque ao conforto, dignidade e auto-respeito do paciente e ao paciente, e também possibilitar a ele o direito de receber explicações sobre sua moléstia e o direito de tomar decisões conscientes acerca de seus tratamentos. Pois, estes acompanhados de afeto e compreensão, por parte dos que rodeiam o enfermo, são indispensáveis para a luta pela recuperação e pela vida.
Referências bibliográficas:
CARVALHO, M. M. Câncer como ponto de mutação. In M. M. Carvalho (Org.), Introdução à psiconcologia. Campinas, SP: Psy; 1994 p. 279-285.
CARVALHO, M. M. Introdução à psiconcologia. Campinas, SP: Psy; 1994
Filme: o golpe do destino
RELAÇÃO DO FILME "O GOLPE DO DESTINO" COM OS TEXTOS "CÂNCER COMO PONTO DE MUTAÇÃO" E "O PACIENTE ONCOLÓGICO, O PSICÓLOGO E O HOSPITAL".
Partindo do pressuposto de que o câncer tem conotação fatal em nossa sociedade, podemos afirmar que os indivíduos tendem a desenvolver vários sintomas antes mesmo de começar os tratamentos, demonstrando o sofrimento psíquico, o medo e a angústia frente ao fato de desconhecer qual o rumo que sua vida tomará após ser diagnosticada a doença. Segundo Moraes (apud MARIA MORAES) o paciente oncológico utiliza-se de mecanismos de defesa no intuito de lutar contra suas angústias mediante a ameaça da doença e também para criar novas maneiras de relacionamentos com o meio e consigo mesmo. Esta citação nos remete a lembrar ainda sobre o que Carvalho nos diz em seu texto "câncer como ponto de mutação", no qual a autora utiliza-se das idéias de LeShan para afirmar que o câncer pode transformar-se em ponto de mutação ao invés de um aviso de morte, onde a vida é prolongada com uma maior vivência do eu, maior auto-conhecimento, realização de sonhos, dedicação e empenho.
Após estas observações podemos fazer correlações entre o filme e os textos de forma clara. Como o título bem enfoca, o câncer aparece como um golpe, muitas vezes fatal, para seus portadores, a exemplo do ator principal, um médico coordenador, bem sucedido, com visão, ações e discurso mecanicistas. De repente e de forma brusca da parte da médica, ele descobre que desenvolveu um câncer. E como Moraes cita em seu texto "o paciente oncológico, o psicólogo e o hospital" ele se vê, certas vezes, "despojado de seu poder anterior de decisão e afastado de sua possibilidade de ação". (MORAES, pág.: 58,59)
Em outro parágrafo a mesma autora cita que no hospital, (não só o paciente oncológico) o paciente é despersonalizado, torna-se mais um leito, mais um número para as estatísticas, o que acaba por afetar ainda mais a integridade da identidade do paciente oncológico, que já se encontra tão desestruturada. Este é um tópico que é fortemente combatido pelo protagonista em seu tratamento, inclusive ao final do filme ele ensina a seus aprendizes que cada paciente tem um nome, uma história, medos e vontades.
No início da trama o personagem tenta protelar o máximo possível a afirmação de seu câncer, tanto para si como para a família. Quando confirmado, vê-se claramente "os pontos de mutação". Ele tenta aproximar-se do filho, da esposa, de seus pacientes e de seu "grupo de iguais". Há um trecho do texto de Moraes que se encaixa na passagem do filme onde o paciente oncológico e sua esposa começam a discutir, se distanciar, tanto pela doença quanto por sua proximidade com June, outra paciente oncológica.
"O paciente não permite que descubram seus verdadeiros sentimentos e por outro, as pessoas a sua volta, familiares, amigos ou profissionais, seja por medo, ansiedade ou insegurança reagem da mesma forma. (...) tudo para não entrarem em contato com as angústias que o câncer e a morte despertam." (pág.: 59)
As atitudes médicas de onipotência e falta de comunicação com os pacientes são criticados no filme e também no texto de Moraes. Outro fator alvo de crítica explícito no filme é a questão dos serviços de saúde, ocorre um erro dento do hospital, os diagnósticos são trocados. Sabemos que este acontecimento não é apenas de filme, como também sabemos que não são irreais as alterações de laudos para "limpar a ficha" de erros médicos.
Ao final do filme é perceptível a mudança no modo de ver o mundo por parte do protagonista, ele torna-se mais sensível, atento para o sofrimento do outro, aprendeu a buscar dentro de si paleativos para o seu sofrimento, aprendeu a encontrar tempo para si, para os outros, para o mundo. Será que ele teria aprendido tudo isso se não houvesse adoecido?
Para concluir, podemos nos utilizar das palavras de Moraes quando diz que se deve dar destaque ao conforto, dignidade e auto-respeito do paciente e ao paciente, e também possibilitar a ele o direito de receber explicações sobre sua moléstia e o direito de tomar decisões conscientes acerca de seus tratamentos. Pois, estes acompanhados de afeto e compreensão, por parte dos que rodeiam o enfermo, são indispensáveis para a luta pela recuperação e pela vida.
Referências bibliográficas:
CARVALHO, M. M. Câncer como ponto de mutação. In M. M. Carvalho (Org.), Introdução à psiconcologia. Campinas, SP: Psy; 1994 p. 279-285.
CARVALHO, M. M. Introdução à psiconcologia. Campinas, SP: Psy; 1994
Filme: o golpe do destino