Resumo

Com sua etiologia desconhecida o autismo é um distúrbio do desenvolvimento com características de hiperatividade, auto-agressão e agressividade. Sintomas gastrointestinais são vistos também neste transtorno sendo então relacionados à alimentação tendo em vista a melhora de sintomas característicos. A literatura cientifica tem mostrado a dieta, principalmente sem glúten e caseína, como uma ferramenta de ajuda para a melhora de sintomas. O principal objetivo do estudo é verificar os fatores que levam pessoas diagnosticadas com autismo a terem uma alimentação especial, sendo dentre os nutrientes o glúten e a caseína um dos principais motivos plausíveis para retirada total da alimentação do paciente autista contribuindo para melhor qualidade de vida do mesmo. Portadores dessa síndrome podem acabar sofrendo de algumas carências nutricionais sendo importante o acompanhamento de um nutricionista, para suprir essas necessidades uma vez que é bastante comum a indisciplina e seletividade na hora de se alimentar. Conclui-se que a retirada de glúten e caseína tem uma melhora significativa na qualidade de vida do portador de autismo, mas é necessário mais estudos acerca dessa restrição alimentar.

Descritores: Glúten, caseína, autismo, espectro autista, nutrição, autism, gluten, casein, nutrition, autistic spectrum.

Abstract

With an unknown etiology, autism is a development turbulence with characteristics like, self-aggression, hyperactivity and aggressiveness. Gastrointestinal symptoms are also in the context. An adequate feeding helps in the improvement of symptoms. The research scientific has shown a diet, without gluten and casein like an option to relieve symptoms. The main objective of the study is to determine that the factors that lead people diagnosed with autism have a special diet, and nutrients from gluten and casein are one of the main grounds to total removal of the feeding autistic patient contributing to better life quality of him/her. Patients with this syndrome may suffer from some nutritional deficiencies, so it is important tracking a nutritionist, to supply these needs, once it is quite common to indiscipline and selectivity at the time of feeding. In sum, the removal of gluten and casein has a significant improvement in quality of life of patients with autism, but it is necessary more studies about this feed restriction.

Descriptors: Autism, gluten, casein, nutrition, autistic spectrum.

Introdução

O autismo é um distúrbio do desenvolvimento que prejudica a comunicação e interação social. Geralmente pessoas com esse distúrbio manifestam comportamentos de agressividade, hiperatividade e auto-agressão principalmente na infância sendo diagnosticados até os três anos de idade(1). Com etiologia desconhecida é considerado entre os transtornos psiquiátricos como o de maior relação com fatores genéticos(2). Aproximadamente cinco em cada dez mil crianças em todo o mundo são atingidas por esse distúrbio e sua ocorrência é mais frequente em indivíduos do sexo masculino(3)(4).

No autismo podem ser observadas anormalidades neurológicas e metabólicas, a partir disso têm sido investigado as funções dos nutrientes na alimentação do portador de autismo tendo como principal objetivo uma melhora dos sintomas neurológicos(5).

Crianças portadoras dessa síndrome do Transtorno do Espectro Autista (TEA) são bastante seletivas e geralmente se recusam a comer novos alimentos(7). É comum em autistas a presença de doenças gastrointestinais como obstipação, gastrite, diarréia e esofagite. Considera-se que autistas possuem uma má absorção de nutrientes, que podem acabar virando substrato, favorecendo a multiplicação de bactérias da flora intestinal. Essa instabilidade da flora intestinal pode não conseguir combater os microorganismos que são patogênicos no intestino do autista(4).

As dietas com restrição de glúten e caseína têm sido vistas como uma alternativa no tratamento do portador dessa síndrome, diminuindo sintomas gastrointestinais e com melhoras em seu comportamento(1).

Em 2007 foi estabelecido pelo Ministério da Saúde do Brasil um grupo de trabalho voltado para autistas, em que discutiram a importância de conhecimentos científicos sobre o tema para o encaminhamento de proposta de atenção a esse distúrbio. Com o passar dos anos tem aumentado cada vez mais trabalhos científicos focados na saúde mental, sendo de extrema importância dados brasileiros para a formulação de políticas públicas de saúde voltadas para o autismo(8). Com esse fato podemos ver um grande passo que a saúde no Brasil vem dando com novos estudos científicos, ajudando cada vez mais para o diagnóstico da doença e acima de tudo podendo contribuir para propostas de saúde que só beneficiam a população.

O objetivo do presente estudo é explicitar se há relação entre restrição alimentar e a melhora de sintomas característicos do autismo.

Revisão da Literatura

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, definida como narrativa sobre as alterações alimentares do autista. Com delimitação de tempo de 2004 a 2014, sendo que os critérios de inclusão para a realização do estudo foram artigos e livros com relação ao tema do estudo. Foram utilizados descritores nas línguas portuguesa e inglesa, glúten, caseína, autismo, espectro autista, nutrição, autism, gluten, casein, nutrition, autistic spectrum.

Transtorno do Espectro Autista

O transtorno do espectro autista é o mais conhecido entre os transtornos invasivos do desenvolvimento (TID), no qual ha um rompimento nos principais processos de socialização, comunicação e aprendizado(9). Ao diagnóstico do autismo são incluídos três critérios básicos que são: distúrbio de interação social, distúrbio da comunicação e alterações no comportamento, levando a uma limitação extrema de atividades. Devido a sua alta complexidade vem sendo estudados diversos biomarcadores na esperança de um diagnóstico e tratamento precoce, tentando assim alcançar uma terapia eficaz para esses portadores(10).

Aproximadamente 75% a 80% das crianças que possuem o autismo possuem algum grau de retardo mental, impossibilitando ter uma vida independente na fase adulta isso devido às implicações diretas do sistema límbico e cerebelar(11). Muitos dos portadores deste distúrbio não desenvolvem a comunicação, deste modo impossibilita sua expressão a cerca de suas necessidades como a fome, saciedade, preferência por certos tipos de alimentos e desconforto gástricos(2).

Em razão da alta prevalência dos sintomas gastrointestinais e uma evidente melhora pela intervenção nutricional, tem sido investigada uma ligação entre as anormalidades gastrointestinais e alterações do comportamento em autistas, sendo levantada a hipótese de alergia alimentar em crianças com esse distúrbio(1).

Restrição de Glúten e Caseína

O princípio de que o Glúten (proteína presente nos cereais em principal no trigo), e a Caseína (proteína que faz parte do leite e derivados), relacionados com indivíduos que possuem o autismo vêm crescendo, pois tanto o glúten como a caseína são difíceis de serem digeridos, formando moléculas exorfinas que podem atravessar a barreira hematoencefálica (barreira sangue-cérebro) podendo causar efeitos ao nível do sistema nervoso central(4).

As moléculas de glúten e caseína normalmente são degradadas no lúmen do intestino delgado impedindo que entrem na corrente sanguínea. Tanto o intestino quanto os vasos sanguíneos que irrigam o cérebro (barreira hematoencefálica) impedem a passagem dessas proteínas para o cérebro, pois são moléculas grandes, o que impossibilita sua penetração nessas barreiras, no entanto considera que quem possui autismo possa apresentar erros no metabolismo que impeça a degradação dessas moléculas ou maior permeabilidade das barreiras naturais(12).

O glúten e a caseína causam sensação de prazer em quem consome, além de hiperatividade, falta de concentração, irritabilidade e dificuldade na comunicação em autistas, mas ha uma falha por parte dos pais e cuidadores de indivíduos portadores do distúrbio pois buscam orientações em meios que não são confiáveis(7),(1). Por esta questão vários estudos relacionam a melhora dos sintomas característicos do distúrbio autístico com a dieta isenta de glúten e caseína para esses indivíduos.

Vitamina D

A vitamina D tem seu papel principal no metabolismo do cálcio, ainda que pesquisas recentes mostrem que ela participa de diversos processos celulares como controle da pressão arterial, síntese de antibióticos naturais em células de defesa e modulação de autoimunidade(13). Seus níveis dependem da exposição solar, pigmentação da pele e nutrição e ingestão de suplementos(14).

Tem provocado o interesse de investigadores a respeito da vitamina D, pois pode estar relacionado às perturbações nutricionais do autismo(15). Ela atravessa a barreira hematoencefálica podendo ser encontrados no cérebro receptores dessa vitamina, estando envolvida na diferenciação celular no cérebro. Já no ponto de vista comportamental a deficiência de vitamina D está associada ao autismo, principalmente no período neonatal(16).

  Através de seu estudo Eserian observou que crianças com autismo havia uma redução na espessura do metacarpo, levando a hipótese de que baixos níveis de vitamina D poderia levar ao distúrbio. Sendo que a suplementação de vitamina D é interessante, pois além de um recurso barato é também seguro, todavia se for um método a ser utilizado deve ser como um tratamento complementar em conjunto com outros tipos de medicamentos(17).

Discussão

A etiologia do autismo é complexa com indicadores de que sejam baseados em fatores genéticos e, além disto, fatores ambientais, metabólicos e imunológicos, tendo aumentado sua prevalência nas ultimas décadas(10).

Segundo Oliveira(4)podem ser verificadas fragilidades na imunidade de autistas ficando suscetíveis a fatores externos, sendo importante a descoberta de possíveis deficiências de vitaminas, em especial as com manifestações a nível alto imune.

Ao comparar este estudo com o de Carvalho et al(7)nota-se que vem sendo mais abordada ultimamente a alimentação do autista através de estudos científicos, mas que ainda não há um acordo entre os pesquisadores.

Segundo Araújo e Neves(1) com a dieta restrita em glúten e caseína pode haver possíveis efeitos de abstinência, mas que são de curta duração sendo mais intensas em crianças pequenas. Sendo notadas mudanças entre 3 a 4 semanas após a realização da dieta, contudo, recomenda-se a retirada de pelo menos 3 meses para que se obtenha um resultado mais preciso.

Conforme Eserian(17) em um período de três meses houve uma melhora no sono e nos problemas gastrointestinais em crianças com autismo através da administração da vitamina D juntamente com outras vitaminas também. Diante disto verifica-se que as vitaminas também estão relacionadas na melhora de sintomas do autismo, como o glúten e caseína.

Conclusão

A busca por alternativas dietoterápicas vem se tornando amplas, com o objetivo de uma melhora dos sintomas que são característicos do autismo. Através do presente estudo pode-se constatar uma melhora destes sintomas, tornando a vida dos portadores dessa patologia bem melhor. Mas é inegável a necessidade de pesquisas continuadas sobre o assunto.

Referências

1.         Araújo DR, Neves AS. Análise do uso de dietas gluten free e casein free em crianças com transtorno do espectro autista. Cad UniFOA. 2011;21(3):45-9.

2.  Pinho MA, Silva LR. Manifestações digestórias em portadores de transtornos do espectro autístico necessidade de ampliar as perguntas e respostas. Rev Cien Med Biol. 2011;47(2):304–9.

3.    Pardo-Govea T, Solís-áñez E. Aspectos inmunogenéticos del autismo. Revisión . Invest Clin. 2009;50(3):393–406.

4.   Oliveira ALTD. Intervenção nutricional no Autismo Autism Nutritional intervention. Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. 2012.

5.        Tofani A. Nutrição nos Transtornos Psiquiatricos. Editor.Sistemas AS. 2014.

6.        Pennesi CM, Klein LC. Effectiveness of the gluten-free, casein-free diet for children diagnosed with autism spectrum disorder: based on parental report. Nutr Neurosci. 2012 Mar;15(2):85–91.

 7.     Carvalho JA, Santos CSS, Carvalho MP, Souza LS. Nutrição e Autismo: Considerações sobre a alimentação do autista. Rev Cien do ITPAC.2012;60(8): 3–9.

8.  Teixeira MCTVT, Mecca TP, Velloso RL, Bravo RB, Ribeiro SHB, Mercadante MT, Paula CS. Literatura científica brasileira sobre transtornos do espectro autista. Rev Assoc Med Bras. 2010;56(5):607–14.

9.        Klin A. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral Autism and Asperger syndrome: an overview. Rev Bras Psiquiatr. 2006;28(7):3–11.

10.     Weisz S, Estrela S. Autismo Fisiopatologia e biomarcadores. Covilhã; 2012 [Medicina] - Universidade da Beira Interior.

11.     Santos CAB. A Nutrição da Criança Autista. Revista Científica do ITPAC, Araguaína. 2011;25(1):3-5.

12.     Audisio A, Laguzzi J, Lavanda L, Leal M, Herrera J, Carrazana C, Cilento Pintos CA. Mejora de los síntomas del autismo y evaluación alimentaria nutricional luego de la realizacion de una dieta libre de gluten y caseína en un grupo de niños con autismo que acuden a una fundación. Nutr. Clín. Diet. Hosp. 2013;33(3):39–47.

13.  Castro VCG. O sistema endocrinológico da vitamina D. Arq Bras Endocrinol Metab,São Paulo. 2010;55(8):566-75.

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15.     Silva NS. Relação entre hábito alimentar e síndrome do espectro autista. Piracicaba; 2011.Mestrado [Dissertação em Ciência e Tecnologia de Alimentos] - Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz".

16.     Wayhs MC. Vitamina D – ações além do metabolismo do cálcio. Rev Med Minas Gerais. 2011;21(5):38–40.

17.     Eserian JK. Papel da vitamina D no estabelecimento e tratamento de transtornos neuropsiquiátricos. Rev Ciênc Méd Biol Salvador. 2013; 12(2):234–8.