A tarde caía quando nos destinamos a Feira do Livro de Porto Alegre. Esta já era a quinta vez que estávamos indo até lá. Eu, a Pri e a minha filha Beatriz. Está certo que foi a Marli, uma amiga nossa que lançou o convite, mas queríamos voltar ao reduto dos livros. Pilotei o carrinho da minha filha e mais atrás conversavam incansavelmente as duas amigas (Priscila e Marli). Ao entrarmos na "Esquina Democrática" (cruzamento das ruas Borges de Medeiros e Andradas) fomos ofuscados por uma multidão que fugia do trabalho e poucos eram os que trafegavam pelas bancas de livros expostas na Feira. Estranhei, mas é normal em um País onde a média de leitura é de quatro livros por ano para cada indivíduo. Continuamos, pois o caminho era longo, os livros nos esperavam. Marli citava algumas obras de seu agrado, minha esposa completava com suas sugestões e eu mais a frente conduzia Beatriz e admirava o gosto literário das moçoilas.

Na entrada vejo e ouço uma senhora dizendo que já se cansara daquela feira, aquilo lhe causava enjôo e olhe que a gravidez não cabia mais àquele corpo cansado e surrado pela vida de dondoca. Poderia ser uma simples moradora, vítima da ignorância e injustiça social, mas não, tratava-se de uma senhora portadora de bens, conhecida da sociedade gaúcha, freqüentadora assídua dos maiores cabeleireiros, apreciadora dos mais gostosos pratos da culinária brasileira e casada com um homem do Poder Legislativo. Festas foram muitas, roupas várias, mas cultura, nada! E quem diria: acusam o pobre, a classe média de inculta, mas quem é culto na classe considerada rica? Ricos apenas na questão financeira, portadores de algumas notas internacionais, algumas ações, colecionadores de viagens aéreas e mais nada. Não conseguem debater o que saiu como manchete no periódico da semana passada. Muito menos digerirem e depois regurgitarem uma obra à Machado de Assis. Falei em Fabrício Carpinejar e a senhora olhou-me assustada, pensou que falava de algum criminoso, algum fantasma e não foi só ela, seu esposo tentou desviar o assunto, apontou Simon que autografava e lá fomos nós recebermos um autógrafo do Senador. Está certoque não era o que eu esperava, mas foi o que a mente do casal alcançava. E fomos nós, haja estômago!