REFORMA NA UNIVERSIDADE: REESTRUTURAÇÃO ACADÊMICA

 

BRUNO PEREIRA MARQUES¹

Universidade Católica de Brasília

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RESUMO

Nesse texto apresentaremos a atual reformulação da Universidade Católica de Brasília cujas discussões são amplas e abrangentes. A Universidade apresentou a reestruturação à comunidade acadêmica no primeiro semestre de 2014 e implantará no segundo, com isso, os três principais grupos que a compõem: professores, alunos e administração começaram a se movimentar e discutir com o propósito de entender o contexto atual que a Universidade vive. Nesse sentido, procuramos analisar e conhecer os princípios, os objetivos e os aspectos tidos como relevantes da UCB, bem como as características consideráveis da atual reestruturação acadêmica imposta arbitrariamente pela UBEC – União Brasiliense de Educação e Cultura – mantenedora da instituição.

Termos para indexação: reestruturação acadêmica, reforma, universidade, mudanças.

 

ABSTRACT

In this text we will present the current reformulation of the Catholic University of Brasilia whose discussions are wide ranging. The University presented the restructuring the academic community in the first half of 2014 and will deploy in the second, with that, the three main groups that comprise it: teachers, students and administration began to move and discuss in order to understand the current context that University lives. In this sense, we seek to analyze and understand the principles, objectives and regarded as relevant aspects of UCB, as well as the significant features of the current academic restructuring imposed arbitrarily by UBEC - Brasiliense Union of Education and Culture - keeper of the institution.

Index Terms: academic restructuring, reform, university changes.

  1. 1.                  INTRODUÇÃO

A Universidade é uma instituição pluridisciplinar que promove o conhecimento e tem o domínio do saber humano, além disso, a Universidade preocupa-se com a pesquisa, um dos seus principais pilares. É através da pesquisa que o estudante tem a capacidade de construir o conhecimento e posteriormente estende-lo, surgindo outra grande característica, a extensão. Dessa forma, a Universidade não se preocupa somente como o fato de ensinar, transpassar dados e códigos ao estudante, mas sim em educar a pessoa humana, promovendo cultura, incentivando pesquisas e sendo agente transformadora da sociedade. Como nos lembra Severino (2007), o conhecimento deve ser construído pela experiência ativa do estudante e não mais ser assimilado passivamente, como ocorre nos ambientes didático-pedagógicos do ensino básico. É exatamente dessa forma que ocorre no ambiente universitário, um processo gradativo que desconstrói paradigmas, trata dos conceitos e preconceitos e transforma o ser humano em todo o seu agir.

Este trabalho foi feito com o objetivo de analisar as propostas da reestruturação acadêmica, entender suas ideias e o processo de aprendizagem e educação da Universidade Católica de Brasília e descobrir de que forma essa mudança ofertada pela reestruturação pode aumentar a qualidade no percurso acadêmico do estudante ou se ela, na verdade, torna o processo de educação precário. Nesse sentido foi pesquisado o conceito de universidade, educação, os princípios da Universidade, suas linhas de ação, bem como sua missão e a visão de futuro.

Vamos identificar o processo pelo qual a reestruturação passou e as discussões da administração para com toda a comunidade acadêmica, o processo de implantação e, sobre tudo, o processo educacional. Além disso, vamos comparar a reestruturação da UCB com a reestruturação da Universidade Harvard, implantada em 2007 depois de um longo movimento de discussões com os grandes grupos que compõem uma Universidade.

  1. 2.                  REESTRUTURAÇÃO ACADÊMICA

Reestruturar algo é dar nova forma, reorganizar, reformar, mudar. À vista disso, toda Universidade deve passar por uma reavaliação, revisão de seus métodos e de sua qualidade de tempos em tempos, em seguida, propor uma reforma, uma reestruturação acadêmica com um objetivo de aumentar a qualidade da instituição no que diz respeito à educação, às pesquisas, às extensões e a formação de um profissional capacitado para ser crítico, cultural e transformador. No entanto, quando se trata de uma mudança no contexto da comunidade acadêmica, algumas dimensões são sempre lembradas nesse processo de reorganização do saber acadêmico, como a reforma acadêmico-curricular, revisando a estrutura e buscando elevar a qualidade, a reorganização dos cursos de graduação, a diversificação das modalidades de graduação, bem como a articulação da educação superior com a educação básica, profissional e tecnológica, atualização de metodologias e tecnologias de ensino-aprendizagem e a previsão de programas de capacitação pedagógica, especialmente quando for o caso de implementação de um novo modelo. Ainda nas dimensões de uma reestruturação, encontra-se a promoção da ampla mobilidade estudantil mediante o aproveitamento de créditos e a circulação de estudantes entre cursos e programas, políticas de inclusão e extensão universitária e a articulação da graduação com a pós-graduação.

A Universidade Católica de Brasília, em abril de 2014 apresentou aos estudantes a reestruturação acadêmica planejada pela UBEC e marca uma mudança em relação às Políticas ligadas ao ensino superior, ao aumento de competitividade, a mobilidade, a empregabilidade dos estudantes, além de promover um ambiente acadêmico comprometido com os valores cristãos e com a transformação da sociedade. No entanto, a reestruturação que tem como objetivo assegurar um percurso acadêmico de excelência foi imposta aos estudantes pela mantenedora sem haver um processo de discussões com os três principais grupos que fundamentam uma Universidade: os professores, os alunos e a administração. Com a inexistência desse processo de formulação de uma reforma universitária, uma reestruturação ao invés de aumentar a qualidade da educação pode torná-la precária.

Para Summers (Harvard, 2004), uma revisão está assentada na discussão empreendida por um corpo docente ativo e atuante. Para ele, são os professores os responsáveis por pensar uma forma de, conjuntamente, melhorar o ensino e a cultura acadêmica. Como lembra Summers, os docentes devem sempre considerar que a maior obrigação ética que têm é a de fazer um bom e consciente trabalho no processo de ensino (Harvard, 2004). Essas colocações apontam que, para ser efetiva uma reestruturação, é imprescindível ocorrer uma discussão entre o corpo docente da instituição (e não apenas por uma comissão designada para esse fim), pois é evidente a importância que os docentes assumem na sua dinamização. No contexto da UCB, essa participação efetiva não ocorreu, na verdade, o corpo docente da instituição não conseguia dar muitas informações aos próprios estudantes sobre o atual momento da universidade por falta de diálogo com a reitoria.

A UBEC, com a tentativa de explicar a mudança e sanar dúvidas, publicou um documento – a UCB cresce com você – por meio do qual se propôs um diálogo, um esquema de perguntas e respostas que foram organizadas por temas: reestruturação acadêmica, disciplina – presencial, semipresencial, dia do “aprender a aprender”, projeto integrador, encontros de aprendizagem, horário, infraestrutura, contrato e financeiro.

                    i.                        Reestruturação Acadêmica é a implantação de um novo modelo de graduação apoiado em Escolas, fazendo uma integração com todos os cursos, organizando-os em eixos de formação: geral, básica e específica.  Essa reforma tem como principal alvo a modernização e atualização das metodologias de ensino, considerando a autonomia do estudante através de novas tecnologias.

                  ii.                        Com a nova matriz, algumas disciplinas existirão e outras deixarão de existir, nesse sentido os estudantes devem solicitar a equivalência de disciplinas para identificar os conteúdos similares para não se prejudicar. Além disso, existirão dez disciplinas do eixo de formação geral que os ingressantes serão obrigados a cursar.

                iii.                        As disciplinas semipresenciais acontecem em um ambiente virtual de aprendizagem sob acompanhamento de um professor com 5 (cinco) encontros presenciais ao longo do semestre. Os estudantes serão obrigados a cursar as disciplinas semipresenciais.

                iv.                        O “dia do aprender a aprender” é destinado ao estímulo e promoção de ações de autonomia do estudante. É dedicado às atividades do projeto integrador, isto é, o incentivo à autonomia do estudante no desenvolvimento de atividades acadêmicas nas quais ele reúna todos os conteúdos trabalhados ao longo do semestre. Organizado por escolas, dias de terça-feira, quarta-feira e quinta-feira não haverá aula para as respectivas escolas: (Escola de Ciências Agrárias, Escola de Medicina e Escola de Negócios), (Escola de Direito e Escola de Saúde) e (Escola de Educação e Ciências Humanas e Escola Politécnica).

                  v.                        Os horários das aulas serão modificados, agora, as aulas terão 75min cada.

                vi.                        Previsões para a ampliação da banda da internet.

              vii.                        Não haverá reajustes financeiros em nenhum curso. As disciplinas semipresenciais serão do mesmo valor das presenciais.

Figura 01 – Eixos de Formação

                 

Fonte: A UCB cresce com você. (2014)

Figura 02 – Estrutura Geral

         

Fonte: A UCB cresce com você. (2014)

  1. 3.                  PRINCÍPIOS

Sendo uma Universidade, com todo seu conceito macro de educação, a Católica de Brasília é uma comunidade acadêmica de ensino, pesquisa e extensão articulados indissociavelmente, que contribui de modo rigoroso e crítico, para defesa e o desenvolvimento do ser humano e da cultura. Para isso, promove, também, o intercambio com instituições congêneres do País e do exterior. (UCB, 1998).  Além disso, é uma instituição Católica e tem como fundamentos a catolicidade como abertura ao diálogo, a cidadania como compromisso de integração social e a competência em todo seu agir e ainda tem o compromisso de atender a todos os alunos, sejam quais foram as suas convicções religiosas.

Na carta de princípios da instituição ressalva a importância dos jovens, interlocutores primeiros, no processo de construção da comunidade acadêmica, abrindo o livre diálogo e comprometendo-se com a educação de qualidade na ótica do humanismo cristão. Dentro do âmbito universitário é de suma importância o livre diálogo dos estudantes com a reitoria e com as outras partes que consolidam a comunidade acadêmica para a construção de um ambiente democrático.

Em seu estatuto (2010), a academia ressalva sua missão de atuar solidária e efetivamente para o desenvolvimento integral da pessoa humana e da sociedade, por meio da geração e comunhão do saber, comprometida com a qualidade, os valores éticos e cristãos e na busca da verdade. E como uma visão de futuro, ela prevê que em 2020, no seu Jubileu de Prata, a UCB será uma Instituição de referência na Extensão, na Pesquisa e no Ensino, indissociáveis e comprometidos com a inovação, o desenvolvimento sustentável e a Justiça Social.

Após uma análise dos fundamentos que constitui a UCB, a implementação arbitrária da reestruturação acadêmica da 7ª Gestão Universitária - Reitor Prof. Dr. Afonso Celso Tanus Galvão coloca em cheque os princípios da universidade. O diálogo com os interlocutores primeiros, os discentes, para a construção de uma comunidade acadêmica de qualidade não ocorreu em nenhum momento. A reforma foi planejada pela UBEC – União Brasiliense de Educação e Cultura, como revela claramente o documento publicado pela mantenedora, e não em conjunto com a comunidade acadêmica que abrange os três grandes grupos: os estudantes, professores e a administração. Não houve em momento algum um movimento de discussões entre os componentes da comunidade para tentar entender o atual contexto da universidade e propor uma reforma no modelo de graduação, aumentando a qualidade da educação. Após a finalização da criação da mudança, a reitoria informou à comunidade.

Desse modo, apresentaremos a reestruturação acadêmica da Universidade Harvard para compararmos com a reforma da UCB e sistematizar erros cometidos pela administração da Católica.

  1. 4.                  REFORMA DE HAVARD

A Universidade de Harvard teve inicio no seu processo de reforma quando seu reitor, Lawrence H. Summer, fez um discurso em 2011, onde pedia prioridade aos docentes da Faculdade de Artes e Ciências para “pensar cuidadosamente sobre o que nós ensinamos, sobre como ensinamos, reconhecendo que cada currículo, curso de estudos ou forma pedagógica pode sempre ser melhorada” (J.H.J. – John Harvasd’s Jounal, 2002, p. 55). No ano de 2002 iniciaram-se as discussões para a reestruturação da Universidade de Harvard que foram implantadas no ano de 2007. Toda a reestruturação foi feita, democraticamente, com discussões entre os principais grupos que compõem a universidade: alunos, ex-alunos, professores e administração. Desde muito antes, Harvard teve cinco grandes reformulações estimuladas por seus então reitores.

A reestruturação não tem como princípio apenas manter a universidade atualizada, mas também implantar a necessidade de mudanças na formação de seus estudantes, trazendo para os professores debates sobre o currículo em desenvolvimento, refletindo assim tudo o que seria reformulado. 

Charles W. Eliot, em sua longa gestão na reitoria, da segunda metade do século XIX até a primeira década do XX (de 1869 a 1909), foi quem transformou Harvard em uma universidade moderna de pesquisa. Laurence Lowell sucedeu Eliot e permaneceu por 24 incorporando cursos associados aos estudos de "concentração" em uma área de conhecimentos especializados.  No período em que Derek C. Bok foi reitor, entre 1971 e 1991, foi estabelecido o core curriculum como menção para as atividades de formação geral na graduação, além disso, a participação ativa dos estudantes em serviços públicos.  Para Dahl (1979), o núcleo curricular foi o mais enfático no domínio do pensamento do que no de conteúdos disciplinares. Assim, foi imposto o que um estudante deveria desenvolver para assegurar as condições básicas de um indivíduo educado para o final do século XX. Segundo o core curriculum um indivíduo educado deve ser capaz de:

  • alcançar conhecimento aprofundado em um campo de conhecimento;
  • ter um julgamento informado que o capacite a fazer escolhas criteriosas;
  • não ser ignorante sobre outras culturas e culturas de outros tempos;
  • ser capaz de pensar e escrever clara e efetivamente;
  • ser capaz de uma apreciação crítica sobre as formas de adquirir e aplicar conhecimento, sobre o entendimento do universo, da sociedade e de si mesmo;

Desencadeado por Summers, o processo da atual revisão curricular teve inicio por dois procedimentos: a revisão sobre que os professores julgavam necessários estarem contemplados no núcleo curricular dos cursos, e tomar as decisões para garantir o oferecimento daquilo que consideravam aspectos essenciais para uma formação atualizada. Sendo o processo de reestruturação curricular mais completo em 30 anos, não alterou partes ou aspectos curriculares, mas também imprimiu um novo e amplo entendimento do que é ser educado. O principio de manter Harvard sempre jovem foi somada com a preocupação de delinear as atuais necessidades da sociedade e dos cidadãos de um tempo histórico marcado, entre outros fenômenos, por um mundo de comunicação em tempo real, pela integração das culturas, pelas necessidades humanas globais, pelo cuidado com o meio ambiente e pelas novas formas de produção de conhecimento.

Segundo Pereira (2000 apud MONTEIRO; 2010, p. 57) “o propósito dessa organização curricular foi assegurar que todos os estudantes, independentemente de seu campo de concentração, adquirissem conhecimentos, habilidades e hábitos de pensamento para uma apreciação crítica dos modos de conhecimento existentes, de como os conhecimentos são criados, como são usados e o que o  conhecimento pode significar para o indivíduo pessoalmente.

Esse processo de revisão estabeleceu grande entendimento sobre os princípios que o estariam orientando, os quais buscaram responder à questão: o que desejamos alcançar na educação que provemos aos estudantes no Harvard College? Os princípios estabelecidos tiveram o seguinte entendimento: 

  • a Universidade busca graduar indivíduos amplamente educados, ainda que os encoraje a desenvolver uma mais profunda compreensão de um ou outro campo, isto é, assegurar que os estudantes não se superespecializem prematuramente, nem que tratem as questões da área específica sem as devidas relações com as demais áreas do conhecimento.
  •  a Faculdade de Artes e Ciências (FAS) deve exercer sua responsabilidade em definir o que os estudantes precisam saber e como podem melhor aprender uma série de tópicos de forma que tenham conhecimento e confiança para continuar sua aprendizagem como cidadãos cultos quando confrontados com novas questões e dilemas éticos.
  • a Universidade vê a finalidade dos estudos em um campo ou área especializada, denominada "área de concentração", não como a do domínio de um campo disciplinar, mas como um meio pelo qual os estudantes desenvolvem maior grau de sofisticação em seu pensamento.
  • os requisitos da área de concentração devem ser desenvolvidos não para treino de especialistas, mas para promover o pensamento rigoroso e criativo.

As recomendações feitas dos princípios têm como aspiração alargar o alcance da educação geral e deixam claro o que esperam de uma educação geral neste novo milênio: "Nós acreditamos que a educação geral deveria capacitar os estudantes a desenvolver múltiplas perspectivas sobre si mesmos, sobre o mundo e dar-lhes conhecimento, treino e habilidades para imprimir um sadio fundamento para as suas vidas" (Harvard, 2004, p.2).

A partir de então, no contexto da atual a revisão curricular, estruturada e sistematizada, se iniciou e a primeira afirmação a que chegaram, a partir da qual estabeleceram as discussões em torno da estruturação curricular, foi:

                                              Em uma era de crescente especialização, profissionalização e fragmentação tanto na educação superior como na sociedade mais ampla, nós reafirmamos nosso compromisso com uma educação liberal nas artes e ciências. Nosso objetivo é o de prover os estudantes com conhecimentos, habilidades e hábitos de mente que os capacitem a se beneficiar de uma vida de aprendizagem e a se adaptar a mudanças circunstanciais. (Harvard, 2004 p.6).

Seis temas foram os guias da revisão curricular. Três deles estavam relacionados à forma como o mundo mudou desde a última grande alteração curricular da Universidade e três relacionados à melhor forma de ensinar os estudantes e expandir as oportunidades abertas a eles. Quanto aos três primeiros temas, um se refere à ênfase na internacionalização para auxiliar os estudantes a viverem como cidadãos de uma sociedade global em um mundo que se torna pequeno e integrado pela tecnologia, mas ainda definido por diferentes culturas e todas em constantes mudanças. Os proponentes da revisão curricular acreditam que há cada vez mais probabilidade de os estudantes trabalharem em diferentes partes do mundo ou com colegas que tenham diferentes culturas.

A dinâmica da revolução cientifica e tecnológica entra no segundo tema. Para Summers (Harvard, 2003), a ciência e o pensamento cientifico estão atingindo amplos aspectos das atividades humanas. Esse fato é particularmente importante para ser observado pelo currículo da universidade, para preparar não apenas os estudantes que seguirão currículos científicos, mas todos os alunos. Os proponentes da revisão curricular apontam que um currículo de educação geral precisa desenvolver o conhecimento básico da ciência e de seus métodos para que os estudantes tenham entendimento dos princípios das ciências físicas e da vida e um conhecimento dos meios pelos quais esses princípios são usados em crescentes inovações tecnológicas.

No Terceiro, como o corpo docente da Universidade vem, cada vez mais, pesquisando temas que ultrapassam os limites de suas áreas e estão frequentemente necessitando do enfoque de múltiplas disciplinas para dar conta da temática estudada, acreditam que esse enfoque deva ser dado por meio de uma ênfase interdisciplinar do currículo.

Quanto aos três aspectos pedagógicos, uma necessidade de mudança é apontada para o grande número de estudantes em sala de aula. O grande número interfere na forma de ensinar e na falta de integração entre estudantes e professores. Os dados estatísticos de 200-2001 (Harvard, 2004) dão conta de que 48% dos estudantes na universidade estão em cursos com mais de 50 estudantes em sala de aula. Em alguns cursos do core curriculum, 62% são desenvolvido em salas com mais de 100 estudantes. Em relação à estruturação das salas de aula, seja dada ênfase a salas para discussões, prática de apresentação oral, trabalhos interdisciplinares ou colaborativos e treino pedagógico, inclusive para doutorandos, entendendo a importância da formação destes também para a docência.

Toda revisão, desencadeada por um longo processo democrático de discussões entre a comunidade acadêmica, alunos e professores ativos e atuantes, sistematizava que os professores são os responsáveis por, conjuntamente, melhorar o ensino e a cultura acadêmica. Também reforça os princípios da flexibilidade entendendo esta como a expansão de oportunidades significativas para a escolha do estudante em ampliar o escopo de sua formação. Com a reestruturação, atividades passaram a integrar o currículo dos estudantes, aumentando as possibilidades dos estudantes

  • PESQUISA COMO INTEGRANTE DO CURRÍCULO
  • EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL COMO PARTE DO CURRÍCULO
  • ARTE COMO INTEGRANTE DO CURRÍCULO
  • SERVIÇOS PÚBLICOS COMO COMPONTENTE CURRICULAR
  1. 5.                  A COMPARAÇÃO

A mudança no modelo de graduação da UCB foi uma organização curricular estruturada sistematicamente pela UBEC e com isso, todo o conceito macro de Universidade não é respeitado, afinal, a Universidade mediante a lei tem autonomia para tomar decisões enquanto sua estruturação acadêmica. Na proposta de reforma todos os cursos seriam agrupados e organizados nos componentes curriculares em eixos de formação geral, básica e específica - tendo assim como finalidade principal, potencializar os mais de 40 cursos existentes com novas possibilidades e recursos quanto ao ensino e administração dos mesmos.

As resistências pessoais e coletivas no seio da Universidade, que são consideradas normais em todo processo de mudança, foram amenizadas e elucidadas por meio de reuniões que procuravam apresentar a nova estrutura da UCB em consonância com a gestão de Governança Corporativa da UBEC e suas mantidas. Na seqüência das decisões de reestruturação acadêmica, a fatalidade histórica da UCB acontece, cotidianamente, como, por exemplo, o Congresso Nacional das Instituições Universitárias Salesianas – IUS Brasil que foi sediado pela Católica, com cerca de 300 representantes da rede salesiana de ensino superior com o objetivo de promover e sustentar o trabalho “em rede” dessas instituições.

Essa postura é perigosa. Toda empresa precisa passar por mudanças, seja qual for o cenário competitivo. Ainda que eventuais mudanças no ambiente externo não estejam exigindo uma reação, o ambiente interno provavelmente estará. A dinâmica humana de uma organização está sempre mudando e exige que a organização mude junto.

Com o tempo, redes informais passam a espelhar a estrutura formal, dando origem a “silos”. Uma reestruturação leva o pessoal a formar novas redes, deixando a organização mais criativa. Além disso, revira todas as rotinas de uma organização — rotinas que, juntas, inibem a inovação e a adaptabilidade. Por último, a reestruturação rompe estruturas de poder ultrapassadas que, sem que ninguém perceba, podem estar impedindo a correta alocação de recursos. No entanto, a mudança no modelo de graduação não diz respeito apenas à mantenedora que cuida da parte financeira da instituição, mas, sobre tudo, da educação, do processo de ensino aprendizagem. Sem diálogo direto e uma comunicação aberta, a reestruturação não é eficaz e se torna ilógica. Como nos lembra Tolstoi (1831), toda reforma imposta não corrigirá em nada o mal: o bem não necessita de violência.

Não é exagero encarar a implantação de uma reforma arbitrária como violenta. O sentido real da educação, de certa maneira, acarretaria em transformação direta no estilo pedagógico do modelo de graduação vigente, isto é, no plano de formação geral da instituição, bem como na capacitação dos estudantes em suas habilidades e suas áreas de concentração. Para, além disso, um modelo imposto sem discussões entre os principais grupos que compõe uma Universidade faz com que a grande maioria se incomode pelo fato de sofrer e fazer parte da mudança rápida e obrigatória.

Diferentemente, analisamos o objetivo do reitor Lawrence Summers na Reestruturação de Harvard que foi desencadear na devida revisão que ocorre de 5 em 5 anos com um comprometimento alicerçado na importância de abraçar mudanças, correr riscos e manter Harvard jovem. As discussões iniciaram-se no ano de 2002, com implantação apenas em 2007, ou seja, 5 anos de discussões democráticas, com envolvimento de professores, as pessoas mais qualificadas para discutir as proposições e implementações em um novo modelo de ensino, os alunos, um grupo de grande importância no contexto de uma universidade, afinal, são eles que passam pelo processo gradativo de ensino aprendizagem. Harvard é uma universidade de grande relevância no cenário da educação superior no mundo e a intenção de apresentar sua reformulação foi a de deixar explícitas as ênfases curriculares tidas como as mais adequadas para a formação do estudante universitário para o tempo presente.

 A grande e talvez maior discrepância da reestruturação acadêmica da Universidade Católica de Brasília com a reestruturação acadêmica de Havard, em primeiro lugar, foi a ausência de debates e discussões entre a administração e a comunidade acadêmica. Em segundo lugar, o planejamento da mantenedora que se desenrolou em curto prazo, menos de dois anos e fere completamente o estatuto da Universidade, bem como, a lei das Universidade que entrega total autonomia para esse tipo de instituição, essa auto-suficiência prioriza tomada de decisões no contexto acadêmico dos estudantes, no processo de educação, ensino aprendizagem, na criação de disciplinas que possibilitam maios grau de competência, bem como, políticas que reafirma o compromisso de sempre manter a qualidade do ensino. 

Uma das premissas da revisão de Harvard é assegurar que os estudantes não se superespecializem prematuramente, nem tratem as questões da área específica sem relacioná-las às demais áreas do conhecimento. Inicialmente as discussões tiveram o propósito de definir o que significava "ser educado" no atual tempo histórico. O entendimento da necessidade de discutir esse tema parece ser uma tradição quando se deseja uma reestruturação. O resultado dessa discussão e da amplitude intencionada pela revisão gerou grande interesse dos grupos participantes, direcionando as reflexões para o que estava dando certo e deveria ser conservado, para os valores que deveriam ser preservados e para o que deveria ser beneficiado com uma mudança.

 Os quatro grupos de trabalho estavam voltados para quatro áreas temáticas: educação geral, estudos concentrados, pedagogia e experiência acadêmica. Todas as ideias e considerações dos grupos de trabalho foram apresentadas e debatidas com toda a comunidade acadêmica durante os cinco anos do processo.

Com a 7ª gestão da UCB, regida pelo então Reitor Prof. Dr. Afonso Celso Tanus Galvão, o marco seria a implantação da Reestruturação Acadêmica Universitária. Em sua posse, realçou:

                                             A Católica hoje, por sua expertise e justa reputação de excelência e  pesquisa, ensino e extensão, encontra-se no grupo de 20% do que há de melhor no Brasil em termos de Universidades. Somos, de acordo com ranking recente da Folha de São Paulo, a sexta melhor instituição não pública do Brasil. Em algumas áreas do conhecimento, a pesquisa da Católica hoje é referência, inclusive no cenário internacional (...). (AFONSO, 2013)

 

Horizontes de possibilidades se abrem nesse momento da atual gestão, depositária que é de expectativas promissoras ante a conjuntura cultural do Brasil e do mundo. O leitmotif definiu-se pela excelência acadêmica de acordo com os princípios da UCB, permeada por elementos depolifonia, em compromisso com a solidariedade para uma sociedade mais justa e de acordo com o modelo de governança definido pela UBEC.

Não ficou oculto de nenhum aluno que a mudança em relação às Políticas ligadas ao ensino superior, ao aumento da mobilidade, da competitividade e da empregabilidade dos estudantes foi definida pela regência da União Brasiliense de Educação e Cultura e, depois de pronta e fundamentada, repassada às instituição com data para acontecer. Os grandes grupos – professores, alunos – que tornam a Universidade uma comunidade estruturada não foram utilizados nesse processo de produção da reforma acadêmica, apenas a administração, outra grande e importante grupo da Universidade participou desse processo.

  1. 6.                  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apontamos, no início desde texto, o sentindo amplo de Universidade onde o conhecimento deve ser construído pela experiência ativa do estudante e não mais ser assimilado passivamente, como ocorre o mais das vezes nos ambientes didático-pedagógicos do ensino básico. Como lembra Severino (2007), a educação pode ser conceituada como o processo mediante o qual o conhecimento se produz, se reproduz, se conserva, se sistematiza, se organiza, se transmite e se universaliza. Todos esses processos acontecem no contexto da Universidade, cujas funções – ensino, pesquisa e extensão – se articulam intrinsecamente e se implicam mutuamente, isto é, cada uma destas funções só se legitima pela vinculação direta às outras duas, e as três são igualmente substantivas e relevantes, ressalvando que a pesquisa é fundamental, uma vez que é através dela que podemos gerar conhecimento.

É diante dessas primeiras proposições que apresentamos a reestruturação acadêmica universitária conhecida por quase todas as universidades nacionais e internacionais. Toda instituição de ensino superior deve, em curtos ou longos períodos, propor uma revisão sobre seu modelo de educação superior, avaliar as emendas, as propostas, a forma pedagógica utilizada, bem como todo o processo de ensino aprendizagem com a finalidade de aumentar a qualidade da educação e garantir um percurso acadêmico de excelência aos estudantes.

            Analisamos, então, a reforma no modelo de graduação da Universidade Católica de Brasília que propõe uma mudança significativa no que diz respeito à autonomia do estudante, às políticas de ensino superior, a flexibilidade, a empregabilidade e sugere um ambiente acadêmico comprometido com os valores cristãos e com a transformação da sociedade. No entanto, à primeira vista, essas mudanças garantem uma trajetória acadêmica esplêndida, todavia, se for investigada, vamos perceber que a reforma na verdade pode transformar o processo de educação insatisfatório.

Em primeiro lugar, a mudança no modelo de graduação da UCB foi planejado pela mantenedora da instituição, a UBEC, isto é, quem cuida e mantém a universidade financeiramente, não havendo um processo de discussões entre os alunos e os professores. Depois que as propostas pedagógicas da reestruturação estavam prontas, a reitoria apresentou-a para a comunidade acadêmica. Nesse sentido, entendemos que todo o processo é inválido, uma vez que os docentes e discentes são partes importantíssimas de uma Universidade, e pensar em uma mudança que altera o projeto educacional migrando para um completamente novo é ilógico e incoerente.

Averiguando a reestruturação na Universidade de Havard em 2007, podemos perceber claramente os erros cometidos pela administração da UCB em querer impor uma reforma arbitrária e irracional. No contexto de Harvard, o andamento foi preciso e democrático, com a participação atuante dos alunos, professores, administração e até dos ex-alunos integrando os quatro principais grupos que compõem a Universidade. As propostas principais da reforma incluem a formação geral, a pesquisa e a arte e depois de cinco anos de debates acerca da remodelação, Harvard implanta em 2007 a Reestruturação Acadêmica Curricular Universitária e que está vigente até os dias atuais.

No Estatuto da UCB, bem como em seus princípios, reafirma o compromisso da Universidade para com os docentes, discentes e a busca pela qualidade da educação, bem como, ressalva a autonomia da instituição vigente pela lei. O Art. 207 da Constituição estabelece que: "As universidades gozarão de autonomia didático científico, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão." Através disso, realçamos a imposição da reestruturação pela União Brasiliense de Educação e Cultura – UBEC. Se a Universidade goza da autonomia, porque aceitar da mantenedora uma mudança no modelo de graduação alterando todo o contexto educacional dos estudantes.

A Universidade é a instituição responsável pela formação não apenas de profissionais, muito menos um lugar onde existe apenas o repasse de informações e códigos prontos. A Universidade é responsável pela formação de seres humanos capacitados para serem críticos e transformadores sociais. É o lugar onde se incentiva a prática da pesquisa, da construção do conhecimento, a prática da extensão à sociedade. Nesse contexto, uma reestruturação deve ser muito bem revista, analisada, discutida para que os processos de ensino aprendizagem sejam, de fato, para aumentar a qualidade da educação. Não se pode impor uma reforma arbitrária, todo o movimento deve ser intrinsecamente democrático.

  1. 7.      REFERÊNCIAS
   

Revista Ensino Superior Unicamp. Educação geral na Universidade Harvard: a atual reforma curricular. Edição nº 4 | Outubro de 2011. Disponível em: <http://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/artigos/educacao-geral-na-universidade-harvard-a-atual-reforma-curricular> Acesso em: 15 de maio de 2014.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed., rev. e atual. São Paulo, SP: Cortez, 2007. 304 p.

Universidade Católica de Brasília, A Reestruturação Acadêmica Universitária. Disponível em: <http://www.ucb.br/textos/2/1452/AUcbNa7GestaoUniversitariaReitorProfDrAfonsoCelso/> Acesso em: 15 de maio 2014

Universidade Católica de Brasília 1996, Carta de princípios da Universidade Católica de Brasíla, UCB, Brasília, DF. Disponivel em: <https://www.ucb.br/sites/000/2/Institucional/CartadePrincipios.pdf> Acesso em: 15 de maio de 2014.

Universidade Católica de Brasília 2010, Estatuto da UCB, Universidade Católica de Brasília, Brasília, DF. Disponível em: <http://portal.ucb.br/docs/estatuto2010.pdf> Acesso em: 15 de maio de 2014.