Reflexões sobre os últimos dias de SÓCRATES
Publicado em 05 de novembro de 2012 por Carlos José Favaro Carrasco
Há época, em Atenas, Meleto, filho de Meleto, acusou SÓCRATES, filho de Sofronisco, dos seguintes delitos: SÓCRATES não acredita nos deuses de Atenas, e, os ridiculariza; SÓCRATES prega novas crenças (desprezando tradições); SÓCRATES corrompe a juventude. O acusador exigiu pena de morte. Diante de tal acusação colocada no pórtico do Arconte, SÓCRATES (Atenas c. 470 a. C. - id., 399 a. C.), aos 70 (setenta) anos, se defendeu pela primeira vez na Tribuna de uma Corte de Justiça: argumentou que somente procurava a Verdade, seguindo seu deus interior; conta-se que embora declarado o mais sábio dos gregos pelo oráculo de Delfos, com sua proverbial reserva, respondeu "Só sei que nada sei"; sabia de sua "ignorância", aduziu que era o mais sábio de seu tempo porque homens políticos, poetas e artífices, considerados sábios, tinham a presunção de saber não sabendo nada. Foi condenado a pena de morte (cicuta), com 280 votos contra e 220 a favor, quiçá por ter enfrentado a moral de seus juízes, com ironia e desdém. Em vida, SÓCRATES sagaz, agudo, com seu caráter reto e incorruptível, nunca agindo de forma contrária a seus princípios, foi soldado do exército ateniense e cidadão exemplar, foi, segundo Xenofonte, o mais equilibrado e modesto dos homens; sempre sacrificou sua ambição pessoal pelos interesses de seus concidadãos, opondo-se com tenacidade a toda e qualquer forma de injustiça; "Conhece-te a ti mesmo", para ele não existia filosofia enquanto o espírito não se voltasse reflexivamente sobre si mesmo; "Que é isso?", através de seu método e suas intenções, quando alguém se referia a justiça, reavivou o pensamento filosófico, então levado a falência pelo iluminismo relativista dos sofistas.
Enfim, SÓCRATES foi vítima de injustiças, e, levado à morte, por intrigas, inveja, orgulho, e, fraqueza dos concidadãos atenienses que desprezando que o único bem é a Sabedoria, e, o único mal a presunção de saber, tinham opinião sobre todas as coisas, acreditando estarem certos, muito embora longe da verdade; e, nesse sentido qualquer semelhança com a atualidade, independentemente do seguimento a se pensar, excetuando-se o sentido literal da morte, não é mera coincidência, pois, a virtude, conhecimento e prática do bem, obrigação de um homem de valor, o que faria, em tese, que os cidadãos dessem seu melhor para defendê-lo, perpetuando e transmitindo suas condutas em prol da consecução do bem comum, está em extinção; a maior felicidade é ser justo, é um bem tão grande que aqueles que praticam o mal, motivados pela ânsia eterna de riqueza e poder, são loucos, na verdade criminosos; a política não deveria ser a arte de dominar, mas a arte de mostrar a todos a justiça, velando pelas almas, assim como a medicina cura o corpo.