Há época, em Atenas, Meleto, filho de Meleto, acusou SÓCRATES, filho de Sofronisco, dos seguintes delitos: SÓCRATES não acredita nos deuses de Atenas, e, os ridiculariza; SÓCRATES prega novas crenças (desprezando tradições); SÓCRATES corrompe a juventude. O acusador exigiu pena de morte. Diante de tal acusação colocada no pórtico do Arconte, SÓCRATES (Atenas c. 470 a. C. - id., 399 a. C.), aos 70 (setenta) anos, se defendeu pela primeira vez na Tribuna de uma Corte de Justiça: argumentou que somente procurava a Verdade, seguindo seu deus interior; conta-se que embora declarado o mais sábio dos gregos pelo oráculo de Delfos, com sua proverbial reserva, respondeu "Só sei que nada sei"; sabia de sua "ignorância", aduziu que era o mais sábio de seu tempo porque homens políticos, poetas e artífices, considerados sábios, tinham a presunção de saber não sabendo nada. Foi condenado a pena de morte (cicuta), com 280 votos contra e 220 a favor, quiçá por ter enfrentado a moral de seus juízes, com ironia e desdém. Em vida, SÓCRATES sagaz, agudo, com seu caráter reto e incorruptível, nunca agindo de forma contrária a seus princípios, foi soldado do exército ateniense e cidadão exemplar, foi, segundo Xenofonte, o mais equilibrado e modesto dos homens; sempre sacrificou sua ambição pessoal pelos interesses de seus concidadãos, opondo-se com tenacidade a toda e qualquer forma de injustiça; "Conhece-te a ti mesmo", para ele não existia filosofia enquanto o espírito não se voltasse reflexivamente sobre si mesmo; "Que é isso?", através de seu método e suas intenções, quando alguém se referia a justiça, reavivou o pensamento filosófico, então levado a falência pelo iluminismo relativista dos sofistas.

Enfim, SÓCRATES foi vítima de injustiças, e, levado à morte, por intrigas, inveja, orgulho, e, fraqueza dos concidadãos atenienses que desprezando que o único bem é a Sabedoria, e, o único mal a presunção de saber, tinham opinião sobre todas as coisas, acreditando estarem certos, muito embora longe da verdade; e, nesse sentido qualquer semelhança com a atualidade, independentemente do seguimento a se pensar, excetuando-se o sentido literal da morte, não é mera coincidência, pois, a virtude, conhecimento e prática do bem, obrigação de um homem de valor, o que faria, em tese, que os cidadãos dessem seu melhor para defendê-lo, perpetuando e transmitindo suas condutas em prol da consecução do bem comum, está em extinção; a maior felicidade é ser justo, é um bem tão grande que aqueles que praticam o mal, motivados pela ânsia eterna de riqueza e poder, são loucos, na verdade criminosos; a política não deveria ser a arte de dominar, mas a arte de mostrar a todos a justiça, velando pelas almas, assim como a medicina cura o corpo.