Universidade de São Paulo
Centro Universitário Maria Antonia
Curso de Especialização em Linguagens da Arte

REFLEXÕES SOBRE O MANIFESTO VERSATILISTA:
O ARTISTA E SUA CONSCIÊNCIA

CIBELE DA SILVA LUKO

Monografia apresentada ao Centro Universitário Maria Antonia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de especialista em Linguagens da Arte.
Linha de pesquisa: Reflexões sobre a prática docente
Orientador: Dr. Pedro Paulo Salles

São Paulo
2011



Agradecimentos:
A todos que, de maneira direta ou indireta,
contribuíram para a realização do presente trabalho.


RESUMO:
O presente trabalho traz reflexões sobre o Manifesto Versatilista. Um texto no qual o desenvolvimento de uma habilidade artística é visto como algo possível e não uniforme, em que a prática é regida por uma constante redescoberta em que se aprende, apreende e manipula. Aceitando que cada um apresenta um nível de compreensão e um ritmo de processamento criativo diferentes, ? que resultam de peculiaridades individuais, diante das escolhas tomadas ao longo da existência ?, fica implícito que a educação estética pode ser trabalhada desde a mais tenra idade, ocasionando resultados a longo prazo. Logo, o Manifesto incita o artista a produzir suas obras sempre no limite de suas condições técnicas e intelectuais, regidas pelo nível de consciência.
No Versatilismo a Arte é deslocada do âmbito do comércio. Nesse prisma, o artista se vê livre daquilo que o assedia: marchands, gravadoras, agentes, empresários, meios de comunicação de massa entre outros, não havendo nenhum tipo de reprovação de quem vive de sua arte, mas sim uma luta declarada contra a escravização do artista.


ABSTRACT:
This work reflects on the Versatility Manifest. A text in which the development of an artistic skill is seen as possible and not uniforme, where the practice is governed by a constant rediscovery in which one learns, perceives and manipulates. Accepting that each presents a level of understanding and a different creative processing, which result from individual peculiarities, faced with the choices made during the existence - it is implied that the aesthetic education can be worked from an early age, causing long-term results. Therefore, the Manifest urges the artist to produce his works always within the limits of their technical and intellectual conditions, governed by the level of consciousness.
Versatility in Art is shifted from the scope of trade. In this sense, the artist is free from: dealers, record labels, agents, managers, mass media, among others, without any kind of disapproval of those who live from their own art, but declares a fight against slavery the artist.


SUMÁRIO:
INTRODUÇÃO
REFLEXÕES SOBRE O MANIFESTO VERSATILISTA: O ARTISTA
E SUA CONSCIÊNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS


INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa volta-se para o Manifesto Versatilista (1), redigido pelo artista plástico, compositor e escritor Denis Mandarino (2), o qual se mostra voltado para as linguagens artísticas de modo plural. Pelo caráter monográfico do trabalho e em busca de afinidades com a formação acadêmica e profissional desta pesquisadora, as reflexões aqui contidas dirigem-se para a pedagogia, com foco na educação artística. A falta de um conhecimento mais específico em áreas como as artes plásticas, o cinema e a própria música leva-me a considerar como estratégia de desenvolvimento uma maior aproximação com a Estética.
Desse modo, parto das proposições contidas no Manifesto e proponho uma possível interpretação do mesmo com a visão de uma arte-educadora interessada no aprimoramento intelectual e espiritual (3) do indivíduo, em parceria com meu orientador.



Reflexões sobre o MANIFESTO VERSATILISTA (4):

1. "O Versatilismo é um movimento artístico que tem como princípio filosófico a imortalidade da alma, que foi criada por uma Inteligência Suprema. A alma se vê eternamente subordinada às leis existentes no Universo (5) ." (MANDARINO, 2010:152).
Como qualquer proposição filosófica ou teorema científico, o primeiro parágrafo contém os axiomas que determinam o engajamento do texto. Existe um postulado deísta, o qual incorpora o tempo infinito nas reflexões subsequentes. Assim, não se pode analisar o Versatilismo levando-se em conta anos, décadas ou séculos, pois se comparados com a eternidade sugerida, estes não passariam de medidas temporais irrisórias. O que pensar então do eterno? Em caráter especulativo, o pensamento humano sempre procura um meio de inserir o indivíduo dentro do contexto que está sendo examinado. Por acaso a vida estaria restrita aos anos que transitamos pelo planeta? Não cabe a este texto, de cunho monográfico, refutar ou responder a esse tipo de pergunta, mas tão-somente entender os pontos da propositura.
Tal como Einstein, que adotou a velocidade da luz como sendo uma constante universal (6), ou Lavoisier, que afirmou que nada se perde ou se cria na matéria, mas tudo se transforma (7), o primeiro parágrafo do Manifesto fala de leis às quais o homem estaria eternamente subordinado, que podemos supor sendo elas da física e da metafísica (8), para que a lógica se faça presente.
Na época do Impressionismo (9), um movimento deveria ter data, local, participantes e ideias comuns; todavia na do Versatilismo a divulgação pode ser feita através de um fórum da internet; a exposição dos trabalhos não precisa se dar num museu, talvez numa galeria virtual situada no hiperespaço; os músicos não necessitam nem sair de seus países para formular composições internacionais ou fazerem gravações conjuntas.
O próprio Manifesto não consegue definir os limites daquilo que propõe ou anuncia, pois o autor notifica que o termo Universo, inserido no corpo da mensagem, pode ter seu entendimento modificado com o decorrer do tempo, ficando subentendido que as possíveis alterações, reduções ou ampliações, são esperadas e bem-vindas.


2. "O termo "Versatilista" pode passar a falsa ideia, de que para ser um adepto do movimento é necessário que o artista domine diversas linguagens, o que absolutamente não corresponde às intenções deste manifesto. É possível atuar em uma única área e ser um versatilista". (MANDARINO, 2010:152).
A palavra versátil tem muitos significados na língua portuguesa, dentre elas encontramos (10): que é propenso a mudar ou é sujeito a mudança; inconstante, mutável, volúvel; de ágil mobilidade; que possui variadas qualidades ou habilidades, podendo aprender ou realizar diferentes coisas, tendo como exemplo: o artista canta, dança, compõe e interpreta!
Entretanto Mandarino esclarece que o termo que nomeia o Manifesto não assume o significado das variadas habilidades. Dentro de uma única linguagem o artista pode compor sua produção de maneira livre e autêntica. Os itens 5, 10 e 11 trarão um melhor entendimento dessa questão.


3. "Os versatilistas adotam que as coisas existem para ser estudadas, aprendidas e manipuladas, uma vez que a eternidade abriga tempo suficiente para tudo isso. Cabe ao homem, nos diversos degraus do seu aprendizado, discernir qual é a boa ou a má utilização daquilo que lhe está ao alcance". (MANDARINO, 2010:152).
Estudo, apreensão e manipulação, esse é o enfoque educacional que o texto atribui à prática artística. Não se fala de sucesso, enriquecimento, etapas que conduzem à fama, mas sim de um procedimento ético relativo a um dado grau de consciência (11) que, através do livre arbítrio, dá ao homem subsídios para escolhas entre o bem e o mal.
O tempo sem limite é trazido mais uma vez à linha de frente. Não se pode atribuir uma interpretação metafórica à eternidade, pois o autor evidencia a pós-existência de maneira inequívoca. Como a divindade não é melhor especificada em nenhuma frase, a mesma se conecta a todo o pensamento filosófico que admite a existência de uma inteligência superior, em contraposição com a morte do Deus cristão proposta por Nietzche (12) e do materialismo (13).
O desenvolvimento de uma habilidade artística é visto como algo possível e, sabemos, não se dá uniformemente. Cada um apresenta um nível de compreensão e um ritmo de processamento criativo que resultam de peculiaridades individuais, diante das escolhas tomadas ao longo da existência; e parte de vivências para discernir o que lhe cabe ou não, segundo a ética (14) e o prazer. Experimentar é um dos caminhos que leva ao desenvolvimento e, se pensarmos nas possibilidades diante da diversidade cultural humana, teremos uma ideia da abrangência aqui contida. O Versatilismo propõe que todos poderão galgar os diversos degraus para o aprimoramento, o que se dará em maior ou menor tempo, dependendo sobretudo do empenho pessoal e da carga horária pregressa dispendida no mister.


4. "Ser um versatilista é apenas uma escolha de afinidade." (MANDARINO, 2010:152).
É difícil ler um texto tão afirmativo e não imaginá-lo impositivo. Mostrando-se ciente disso, o autor propõe a afinidade como o único quesito para a participação no movimento. Dificilmente algum ateu se submeteria aos princípios propostos desde as primeiras linhas, mas a mutabilidade de convicções deve ser algo lógico e inevitável ao admitir-se a eternidade como uma possibilidade concreta.


5. "O versatilista não se prende às antigas, atuais ou futuras exigências mercadológicas, que escravizam o artista às convenções de época." (MANDARINO, 2010:152).
Neste ponto do manifesto a Arte é deslocada do âmbito do comércio. Podemos imaginar o artista livre daqueles que o assediam em busca de projeção e dinheiro, como marchands, gravadoras, agentes, empresários, meios de comunicação de massa entre outros. Pode parecer estranha essa postura para quem pretende viver da sua arte, mas não é uma proposição inédita; encontramos similaridade no pensamento do poeta e filósofo Schiller, em suas cartas para A Educação Estética do Homem (15).

"O artista é, decerto, filho de sua época, mas ai dele se for também seu discípulo ou até seu favorito. (...) Mas como o artista se resguarda das corrupções de sua época, que o envolvem por todos os lados? Desprezando o seu juízo. Deve elevar os olhos para a sua dignidade e lei, não os baixar para a felicidade e a necessidade, (...) deve empenhar-se em engendrar o Ideal a partir da conjugação do possível e do necessário. (...) Deve moldá-lo em ilusão e verdade, nos jogos de sua imaginação e na seriedade de suas ações; deve moldá-lo em todas as formas sensíveis e espirituais, e lançá-lo silenciosamente no tempo infinito. (...) Dá ao mundo em que ages a direção do bem, e o ritmo calmo do tempo trará a evolução."

Além disso, não existe nenhum tipo de reprovação do que vive de sua arte, mas sim uma luta declarada contra a escravização do artista, que é algo bem diferente.


6. "O Versatilismo pretende libertar as pessoas das análises especializadas e promover a prática da arte como forma de autoconhecimento. É preferível que o artista faça os seus trabalhos sempre no limite das suas possibilidades, buscando ampliar a sua consciência e, consequentemente, a qualidade dos seus resultados. O "erro" é uma parte inevitável no processo evolutivo de cada um, por isso mesmo que o artista não pode desanimar perante as críticas ou autocríticas severas advindas do preconceito e do perfeccionismo. A prática artística é um campo inesgotável de experimentação." (MANDARINO, 2010:152).
É plausível pensar que alguém que busque conhecimento e ajuda, receba de braços abertos as análises e comentários construtivos que advierem de seus educadores. O que está sendo levantado aqui é um desprezo pela crítica mórbida, destrutiva, que ao invés de promover o indivíduo, fecha-lhe as portas do fazer artístico. A crítica mordaz e a autocrítica severa podem ser fatores limitantes da criatividade, fazendo com que muitos abandonem desde cedo o convívio com a arte. O texto sugere que o erro de hoje pode ser a experiência necessária de amanhã. Numa leitura rápida pode-se ter a ideia de que o importante é fazer, nem que seja de qualquer jeito; todavia, o Manifesto incita o artista a produzir suas obras sempre no limite de suas condições técnicas e intelectuais, regidas pelo nível de consciência.


7. "Um bom trabalho de Arte instiga a inteligência e toca os sentimentos mais profundos da alma. Destarte, o que é bom para um determinado grupo social pode não dizer nada para outro. O ser humano gosta das coisas que estão ao seu alcance intelectual e sensitivo. Uma criança que gosta de determinado tipo de música, com o passar dos anos, em função da mudança da sua consciência e das influências sociais a que se vê sujeita, altera as suas preferências. Esse processo de mutação da consciência é contínuo, pois a criatura sempre estará aquém das possibilidades do Criador." (MANDARINO, 2010:152).
O contexto sócio-histórico-cultural no qual o indivíduo está inserido é fator determinante na construção de seu gosto musical. Na fase da infância podemos dizer que "A criança constrói sua apreciação musical (...) através da circulação nos diversos grupos de socialização, como a família, a escola, a igreja, os grupos infantis, os grupos comunitários e, mais recentemente, a publicidade e a mídia. (MACEDO, 2005:9).
Diversos são os fatores, novamente, sociais, históricos e culturais que influenciam o gosto musical do sujeito, posto que "(...) gostar de um disco de sucesso é quase exatamente o mesmo que reconhecê-lo" (ADORNO, 1980:3).
Mais uma vez o tempo é colocado como a base do sistema. Admitindo a influência do meio (16) na mutação pessoal, o Manifesto assevera que o caminho a ser trilhado é infinito, pois apoia-se no axioma de que a criatura estará sempre aquém Daquele ou Daquilo que a criou. Essa mudança não ocorre por acaso, nem de forma isolada, e a vida em sociedade induz às trocas objetivas e subjetivas que fazem parte do processo. O gosto, ou as preferências, embora não possa ser levado em conta num trabalho científico, é posicionado como a bússola que direciona a mudanças íntimas.


8. O Versatilismo busca as expressões artísticas que promovem o homem e a sociedade, respeitando sempre o nível de consciência do artista. (MANDARINO, 2010:152).
A percepção e vivência do artista dão origem às expressões artísticas diversificadas que favorecem o progresso da sociedade. Como na teoria sociointeracionista (17): o desenvolvimento do indivíduo se dá a partir da interação social. Pode-se dizer que o artista molda a sociedade, mas também agrega valores da mesma; logo ele é, concomitantemente, um ser ativo e passível de mudanças.


9. No Versatilismo não existem concursos de arte, pois nenhum homem, ou grupo, está apto a julgar o trabalho de outro(s) homem(ns). Um crítico de arte analisa uma situação sempre de um ponto de vista profundamente limitado, porque limitados são os seus conhecimentos. Os concursos e prêmios podem ser formas de dirigir a opinião pública e, desse modo, valorizar este ou aquele artista em busca de vantagens financeiras ou sociais, entretanto éticas iniciativas culturais são louváveis. (MANDARINO, 2010:152).
Este item abre campo para variadas indagações:
Se a arte estiver necessariamente ligada ao novo, como analisar o novo segundo parâmetros antigos?
Se algo for verdadeiramente novo, deverá causar estranheza; e que homem conseguiria ver em perspectiva o que acontece em seu tempo, com o distanciamento que só os anos poderão lhe oferecer?
Em contrapartida, a arte tem seu papel de influência no desenvolvimento humano, abarcando aqueles que podem praticá-la sem a preocupação de trazer uma contribuição necessariamente inédita para a humanidade.
O autor parece questionar, desse modo, o papel do crítico de arte.
Um formador de opinião? Quem precisa dele? Sua opinião é sempre isenta? Tendo ele preferências, não as estaria supervalorizando ou subestimando o oposto? Por acaso esse homem não estaria limitado àquilo que conhece? Existiria um crítico de arte capaz de captar o todo e dar uma opinião que levasse em conta as intenções do artista?
Essas questões, difíceis de se responder e sujeitas à intensa polêmica, parecem suficientes para se questionar a validade dos concursos de arte e dos conceitos que permeiam a mente dos escolhidos para o papel de juízes (18).
Profissionais que dirigem as suas análises com o intuito de obter lucro pessoal não estão sendo considerados.
A citação "éticas iniciativas culturais" sugere a promoção do indivíduo e da sociedade, sem preferências e preconceitos.
No tempo de Mozart, Salieri ganhou um prêmio de melhor compositor da época, equivoco que o tempo se incumbiu de questionar e rever.
O Manifesto é categórico ao afirmar que nenhum homem traz em si capacidades suficientes para julgar, como melhor ou pior, um trabalho artístico. Sob esse prisma afirma-se que são importantes as iniciativas culturais, que visam ampliar a sensibilidade humana e não a competição que, no fundo, pode não significar nada e ser apenas um ato passageiro que nada tem a ver com o processo artístico.
Na história da arte, o não reconhecimento passa pela vida de muitos artistas, como nos traz Wisnik (19):

"Não se sabe o que será triado, no futuro, do grande fluxo da música do século XX. Séculos muito menos convulsionados pela explosão das quantidades, não o souberam: Bach passa despercebido, e acredito que seu tempo nem tenha chegado a formular, sequer como necessidade, aquilo que nele se realizava; Mozart não foi consagrado pela crítica ou pelo público, o que Beethoven foi, sem ser propriamente ouvido. O nosso deslocamento perante a música do século quanto a seu significado futuro não é propriamente novidade (...)."

Wisnik nos traz nomes que a crítica não consagrou em sua época, pois estavam muito aquém dos que tinham pretensão de julgá-los.
Platão concebia a música como algo capaz "(...) de exercer forte influência sobre a alma e sobre o caráter das pessoas, podendo transmitir tanto valores éticos quanto estéticos de maneira direta, sem a intevenção da palavra. (...)". (GRANJA, 2006:.38) .

Para o filósofo grego, a música teria a capacidade de exercer forte influência sobre a alma e o caráter das pessoas. Porém, ele acreditava que seu estudo deveria ser restrito ao âmbito da harmonia, das razões matemáticas e filosóficas e não ao estudo prático, e por sua vez:
O progresso técnico da música no período clássico provocou uma especialização que terminou por afastá-la tanto da educação básica como da cultura comum. Aos poucos, o ensino prático da música foi perdendo importância na educação helenística. A Música não desapareceu da cultura grega, mas ela passou a ser mais ouvida que praticada. (...) (GRANJA, 2006: 42-43).
Segundo esse pensamento, a busca pela técnica acabou afastando a música daqueles que dela poderiam usufruir como meio sensível e de elevação da alma.


10. Cada pessoa tem o seu estilo e a sua liberdade de escolha. Querer impor ao artista este ou aquele caminho é uma antítese do que é a própria Arte. (MANDARINO, 2010:152-153).
Na Arte, tem-se a liberdade de expressão e os resultados são somatórios de vivências. O ponto de vista dos artistas pode divergir, posto que cada um adquire conhecimentos diferenciados, ainda que compartilhem os mesmos momentos. Não é necessário concordar com o artista, mas sim fruir o seu ponto de vista. Convergir e divergir são ações que a Arte suscita. Dessa forma, cada um tem sua experiência de vida que é única: não podendo ser revivida ou copiada por outrem, assim como "(...) Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio: suas águas não são nunca as mesmas e nós não somos nunca os mesmos." (20) Se o artista conseguir simplesmente expressar a sua individualidade, já terá contribuído com o novo.


11. No Versatilismo o artista não precisa manter-se escravo de sua própria produção, ele pode seguir outros rumos ou voltar às origens quando bem entender. O tipo de procedimento mercantilista, que exige tal serventia, mais alegra aos cofres do que as almas. (MANDARINO, 2010:153).
As produções culturais são mutáveis, assim como o próprio artista, não importando a qual linguagem esteja vinculado. É a arte-negócio que exige a escravidão do artista, para que este se mantenha vendável e reconhecido pelo grande público. Um trabalho novo, exageradamente novo, poderá acabar com a ligação entre as partes, o que seria péssimo para os negociantes, que preferem manter o artista como artista-produto.
Na cultura mercadológica, na qual estamos inseridos, predomina a paisagem do lucro em detrimento do crescimento pessoal ou humano.
Estimular e investir na produção cultural pode ser um meio de favorecer o aprimoramento das obras de arte, ao invés de transformá-las em simples entretenimento. Como exemplo, a música tem passado por uma grande transformação, pois em termos majoritários, ela se tornou acompanhamento de dança e pano de fundo para eventos sociais. No DVD História do Rock, integrantes (21) do Grupo YES explicam que na época, como o público e a mídia buscavam isso, a gravadora lhes deu "carta branca" para compor o que bem entendessem; quanto mais criativo e diferente fosse, melhor seria. Obviamente que isso mudou radicalmente para as futuras gerações. Pode haver algo mais enlatado do que a música de três minutos para tocar nas rádios?


12. Enquanto estilo, na História da Arte é possível encontrar muitos artistas que se aproximaram da Estética Versatilista, se não em todos os fundamentos, pelo menos em grande parte deles. (MANDARINO, 2010:152).
Não se nota no Manifesto nenhuma indicação específica sobre a utilização das linguagens em si.
A "forma sonata" (22) se tornou quase uma exigência depois de apresentada na escola de Manheim; as cores primárias e a não utilização do preto foi quase um consenso entre os pintores impressionistas (23); as esculturas do Renascimento eram polidas em sua maior parte e, as que não o tenham sido, podem ser consideradas como inacabadas.
No texto ouve-se o eco de uma tentativa de resgate da prática artística sem os holofotes do estrelismo ou das exigências impostas pelo mercado de arte. Uma prática em que todos possam estar inseridos, sem o rótulo da chamada falta de talento (24).
Aliás, colocar todos em pé de igualdade, separados única e exclusivamente por uma maior ou menor carga horária, por um menor ou maior esforço pessoal, são proposições que a muitos pode desagradar, pois tiraria a ideia do "dom", que os destacaria da massa (25).
Nas entrelinhas, o Manifesto propõe um tempo infinito onde todos poderão atingir o mesmo grau de excelência, desde que o façam com suas próprias forças, não havendo protegidos e preferidos na criação.
Em resumo, na história da arte é possível encontrar artistas que acreditavam numa inteligência suprema (26), artistas que eram versáteis em suas linguagens (27), que acreditavam que a vida e o progresso são eternos para todos, que não se importavam com o comércio de suas obras, que não cederam ao direcionamento comercial ou às imposições dos seus compradores ou mecenas e artistas que encaravam a prática como meio de aprimoramento estético e espiritual do indivíduo e da sociedade (28).


CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A análise crítica do Manifesto Versatilista, levantou mais questões do que as respostas que acreditamos ter encontrado. Pode-se concluir, depois de se debruçar sobre o tema, que não estamos diante de uma carta pública que esteja preocupada com os elementos concretos da arte (cores, linhas, formas, sons, timbres entre outros), mas sim com algumas deturpações do fazer artístico, que, segundo o autor, deveriam estar mais voltadas ao crescimento humano do que à efemeridade da fama.
Certa inquietação se fez presente por se tratar de um tema monográfico com tamanho pré-definido e que quanto mais nos aprofundávamos, maiores pareciam os contornos daquilo que havia sido preestabelecido. Além disso esbarramos em limites conceituais e teóricos ao empreendermos uma reflexão sobre um tema que ainda nos é de difícil compreensão: a música ou a própria arte. Assim, decidiu-se por restringir o campo teórico às questões Estéticas e pedagógicas que foram identificadas no Manifesto.
Um texto curto de partida, que começou a fermentar e se mostrou apropriado para análises mais amplas e profundas em diversas direções. Amparada pelo pensamento de Morin contra o espírito redutor e acreditando no pensamento rumo à complexidade, logo o não reducionismo, fechou-se o foco nas questões que melhor se descortinavam, evitando ao máximo o excesso e o pecado da superficialidade.
A arte é composta de linguagens pelas quais os homens dialogam com o mundo. É difícil falar de arte sem remeter o pensamento a grandes personagens que o tempo imortalizou. Preferimos acreditar que o autor do Manifesto tentou dirigir seu texto aos leigos e não somente aos especialistas, pois tal impressão foi o que nos motivou a levar o trabalho adiante.
Como a dialética de Platão, que propõe o diálogo como busca conjunta da verdade, a presente monografia esforça-se em esquadrinhar o Manifesto Versatilista em busca de uma "verdade" possível, que seguramente não deve ser a única. Esperamos que esta pesquisa abra portas para trabalhos mais profundos, os quais certamente gostaríamos de ler.


NOTAS:
(1) MANDARINO, 2010, p. 151.

(2) Denis Mandarino é um artista brasileiro que vive em São Paulo e trabalha com artes visuais, musicais e literárias. Parte de sua obra e dados biográficos encontra-se disponível em seu website (www.denismandarino.com). Mandarino é discípulo do compositor e educador musical alemão naturalizado brasileiro H. J. Koellreuter em regência coral e Estética.

(3) Inclui-se no termo "espiritual" o desenvolvimento da sensibilidade.
MANDARINO, 2010. p.151.

(4) MANDARINO, 2010, p. 151.

(5) Universo é entendido como o somatório de tudo o que existe na matéria e fora dela, por tudo que é conhecido ou que um dia o será. Mandarino, 2008.

(6) RESNICK, 1971. p. 39.

(7) Site: http://www.algosobre.com.br/biografias/antoine-lavoisier.html acessado em 13/03/2011.

(8) Caracterizada pela investigação das realidades que transcendem a experiência sensível, capaz de fornecer um fundamento a todas as ciências particulares, por meio da reflexão a respeito da natureza primacial do ser. PERINE, 2006, p.26.

(9) O impressionismo é considerado pela cultura ocidental o primeiro movimento artístico da história, da forma como os entendemos atualmente. Antes dele falava-se em períodos, estilos, escolas e talvez até tendências. "Esses artistas que até então se encontravam em pequenos grupos separados (...) desejavam reunir-se de modo mais eficaz, a fim de elaborar, em consonância com o que discutiam, uma nova concepção pictórica. Por isso decidiram passar a se encontrar uma vez por semana, às quintas-feiras,(...) no Café Gerbois (...)". SERULLAZ, 1989, p.40.

(10) Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 3.0 - Julho ? 2009.

(11) Aguinaldo PAVÃO, O caráter insondável das ações morais em Kant, 2007.

(12) (...)"Será possível que este santo ancião ainda não ouviu no seu bosque que Deus já morreu?" NIETZSCHE, 2002, p.25.

(13) Doutrina que identifica, na matéria e em seu movimento, a realidade fundamental do universo, com a capacidade de explicação para todos os fenômenos naturais, sociais e mentais. Desde o filósofo pré-socrático Epicuro (341-270 a. C.) tais ideais são preconizados.

(14) Neste texto adotamos a ética de Kant na qual o "homem enquanto ser racional é membro de dois mundos: o inteligível (onde ele cria a lei) e o sensível (onde ele é submisso a ela)". OLIVEIRA, L. S.; ZANELLA, D. C. . Liberdade e Moralidade em Kant. In: II Seminário Nacional de Filosofia e Educação- Confluências, 2006, Santa Maria. II Seminário Nacional de Filosofia e Educação/ Anais/ Artigos Completos. Santa Maria : Facos/UFSM, 2006.


(15) Friedrich Schiller, A educação estética do homem, p.54-55.

(16) Em sua obra Rousseau traz que "O estudo que convém ao homem é o dessas relações. Enquanto ele só se conhecer pelo seu ser físico, deverá estudar-se pelas suas relações com as coisas; é o trabalho de sua infancia. Quando começar a sentir seu ser moral, deverá estudar-se por suas relações com os homens; é o trabalho de sua vida inteira"(...). ROUSSEAU, 2004, p. 290.

(17) Vygotsky mostrou a relevância da interação social para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, a partir da assimilação da produção cultural da humanidade. VYGOTSKY, 2008, p.97.

(18) O autor participou de concursos até um determinado período de sua vida, o que pode ter contribuído para uma melhor visão sobre os critérios e intenções presentes em tais certames (informações colhidas pela internet no currículo Lattes do autor).

(19) WISNIK, 1989. p 204.

(20) Heráclito de Éfeso. CHAUÍ, 2002, p.81.

(21) Rick Wakeman e Chris Squire do Yes ? DVD A História do Rock, vol. 8, 2004.

(22) "A forma através da qual o estilo clássico elaborou esse processo de transformação dos temas é, reconhecidamente, a sonata*. Ela veio sendo trabalhada em Pergolesi, Domenico Scarlatti, Johann Christian Bach e Carl Philipp Emanuel, antes de desembocar com todo brilho no classicismo vienense de Haydn, Mozart e Beethoven, onde se consuma no período de sessenta anos, que vai aproximadamente de 1760 a 1820." WISNIK, 1989 p. 138.

(23) "Os pintores abandonam então igualmente o claro-escuro e seus contrastes violentos. (...) os negros, cinzento, marrons (...)". SERULLAZ, 1989, p. 9.

(24) Nas entrelinhas o texto refuta o dom artístico e o coloca como resultado de muito suor e dedicação. Mas como explicar então talentos tão precoces como Mozart? Seria o resultado de uma genética privilegiada ou fruto da reencarnação prevista por Pitágoras e Platão? Não parece que a ciência tenha uma resposta conclusiva para esta pergunta. MANNION, 2005, p. 37.

(25) Proposição que nega uma raça superior que tenha sido criada pelo divino.

(26) Baseado em "De Divina Proporcioni", de Luca Pacioli, 1509. Matila GHYKA, The geometry of art and life, 1977.

(27) Machado de Assis é um bom exemplo por sua abrangência de habilidades na escrita - contista, romancista, ensaista, crítico, jornalista, dramaturgo etc. "O autor se destaca ainda por conseguir unir o erudito ao popular de forma única. Ele revolucionou a cultura nacional". (...) MOÇO, 2008. p. 48.

(28) (...)" É através do consumo em massa de produtos culturais oficialmente promovidos e divulgados pelas mass media que se consegue refrear o desenvolvimento natural da cultura popular, impedindo-se que esta venha a adquirir a potencialidade de contribuir efetivametne para a emancipação das classes populares. "SCHURMANN, 1989. p. 181.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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CHAUÍ, Marilena. Introdução a história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. Volume 1. 2ª. ed., rev. E ampl. São Paulo: Companhia das letras, 2002.
GRANJA, Carlos Eduardo de Souza Campos. Musicalizando a escola: música, conhecimento e educação. São Paulo: Escrituras Editora, 2006.
GHYKA, Matila. The geometry of art and life. New York: Dover Publications. 1977.
HUNTLEY, H.E. Divina Proporção. São Paulo, Pensamento Científico: 1985.
MANDARINO, Denis. Trilogia Versatilista. (A busca de cada um - 4ª ed., Encontro com o destino - 3ª ed., Além do quarto elemento. 2ª ed.) São Paulo, Ed. Plêiade, 2010.
MANNION, James. O livro completo da filosofia. São Paulo, Ed. Madras, 2005.
MOÇO, Anderson. Machado um clássico para todos. Revista Nova Escola. São Paulo. n. 215 Setembro 2008.
MORIN, Edgard, Os sete saberes necessários à educação do futuro, trad. de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya, 10ª ed. São Paulo: Cortez, 2005.
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OLIVEIRA, L. S.; ZANELLA, D. C.. Liberdade e Moralidade em Kant. In: II Seminário Nacional de Filosofia e Educação- Confluências, 2006, Santa Maria. II Seminário Nacional de Filosofia e Educação/ Anais/ Artigos Completos. Santa Maria : Facos/UFSM, 2006.
PAVÃO, Aguinaldo. O caráter insondável das ações morais em Kant. Trans/Form/Ação vol. 30 no.1 Marília 2007.
PERINE, Marcelo. Quatro lições sobre a ética de Aristóteles. Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 2006.
RESNICK, Robert. Introdução a relatividade especial. São Paulo: Poligono, 1971. p.39
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da Educação; tradução Roberto Leal Ferreira. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 290.
SCHURMANN, Ernest F. A música como linguagem: uma abordagem histórica. Editora Brasiliense. São Paulo, 1989. p. 181.
SCHILLER, Friedrich, A educação estética do homem. São Paulo: Editora Iluminuras: 2002.
SERULLAZ, Maurice. O impressionismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989. Trad. Álvaro Cabral.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7. ed. S. P.: Martins Fontes, 2008 .
WISNIK, José Miguel. O som e o sentido. São Paulo, Companhia das Letras, 1989.

Mídias Digitais:
Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 3.0 - Julho ? 2009.
DVD - The History of Rock and Roll, vol. 8, 2004.
Internet:
http://www.denismandarino.com acessado em 06/05/2011
http://www.fafich.ufmg.br/~roduarte/Sommusicalereconciliacao.pdf acessado em 21/03/2011
http://www.algosobre.com.br/biografias/antoine-lavoisier.html acessado em 13/03/2011
http://www.fafich.ufmg.br/~roduarte/Sommusicalereconciliacao.pdf acessado em 21/03/2011. DUARTE, Rodrigo. Som musical e "reconciliação" a partir de o nascimento da tragédia de Nietzsche.
http://bdtd.bczm.ufrn.br/tedesimplificado/tde_arquivos/1/TDE-2006-04-24T073112Z-1/Publico/NarjaraMM.pdf acessado em 24/04/2011. MACEDO, N. M. A apreciação musical infantil: aspectos da constituição da infância contemporânea no discurso de crianças do Ensino Fundamental". 2005. 224 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) ? Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.



ANEXO:
Manifesto Versatilista
Transcrição integral

O Versatilismo é um movimento artístico que tem como princípio filosófico a imortalidade da alma, criada por uma Inteligência Suprema. Sua existência está eternamente subordinada às leis existentes no Universo.
O termo "Versatilista" pode passar a falsa ideia, de que para ser um adepto do movimento é necessário que o artista domine diversas linguagens, o que absolutamente não corresponde às intenções deste manifesto. É possível atuar em uma única área e ser um versatilista.
Os versatilistas adotam que as coisas existem para ser estudadas, aprendidas e manipuladas, uma vez que a eternidade abriga tempo suficiente para tudo isso. Cabe ao homem, nos diversos degraus do seu aprendizado, discernir qual é a boa ou a má utilização daquilo que lhe está ao alcance.
Ser um versatilista é uma escolha de afinidade.
O versatilista não se prende às antigas, atuais ou futuras exigências mercadológicas, que escravizam o artista às convenções de época.
O Versatilismo pretende libertar as pessoas das análises especializadas e promover a prática da arte como forma de autoconhecimento. É preferível que o artista faça os seus trabalhos sempre no limite das suas possibilidades, buscando ampliar a sua consciência e, consequentemente, a qualidade dos seus resultados. O erro é uma parte inevitável no processo evolutivo de cada um, por isso mesmo que o artista não pode desanimar perante as críticas ou autocríticas severas advindas do preconceito e do perfeccionismo. A prática artística é um campo inesgotável de experimentação.
Um bom trabalho de Arte instiga a inteligência e toca os sentimentos mais profundos da alma. Destarte, o que é bom para um determinado grupo social pode não dizer nada para outro. O ser humano gosta das coisas que estão ao seu alcance intelectual e sensitivo. Uma criança que gosta de determinado tipo de música, com o passar dos anos, em função da mudança da sua consciência e das influências sociais a que se vê sujeita, altera as suas preferências. Esse processo de mutação da consciência é contínuo, pois a criatura sempre estará aquém das possibilidades do Criador.
O Versatilismo busca as expressões artísticas que promovem o homem e a sociedade, respeitando sempre o nível de consciência do artista.
No Versatilismo não existem concursos de arte, pois nenhum homem, ou grupo, está apto a julgar o trabalho de outro(s) homem(ns). Um crítico de arte analisa uma situação sempre de um ponto de vista profundamente limitado, porque limitados são os seus conhecimentos. Os concursos e prêmios podem ser formas de dirigir a opinião pública e, desse modo, valorizar este ou aquele artista em busca de vantagens financeiras ou sociais. Éticas iniciativas culturais são louváveis, entretanto.
Cada pessoa tem o seu estilo e a sua liberdade de escolha. Querer impor ao artista este ou aquele caminho é uma antítese do que é a própria Arte.
No Versatilismo o artista não precisa manter-se escravo de sua própria produção, ele pode seguir outros rumos ou voltar às origens quando bem entender. O tipo de procedimento mercantilista mais alegra aos cofres do que as almas.
Enquanto estilo, na História da Arte, é possível encontrar artistas que se aproximaram da Estética Versatilista, se não em todos os fundamentos, em grande parte deles.
Escrito por Denis Mandarino em julho de 2007 e publicado em janeiro de 2008.


Versatilism Manifest
Versatilism is an artistic manifest that has as philosophical principle the immortality of soul, which was created by a Supreme Intelligence. The soul is eternally subordinated to the laws that exist in the Universe .
The term "Versatilist" can give you the false impression that it is necessary the artist masters many languages for being an enthusiast, fact that does not correspond to the intentions of this manifest. It is possible to work in only one area and be a versatilist.
Versatilists believe things exist to be studied, learnt and manipulated, once there is enough time for everything in eternity. It is up to the man, in the many steps of his learning process, discover the good or the bad use of what is in his reach.
Being a versatilist is a choice of affinity.
The versatilist does not get attached to ancient, present or future market demands that enslave the artist to the conventions of his time.
Versatilism intends to free people from specialized analysis, and promote the exercise of the art as a way of self-knowledge. It is better the artist always does his work in the limit of his possibilities, aiming at enlarging conscience and consequently, the quality of the results.
The "mistake" is an inevitable part in the evolution process of each person. That is why the artist cannot feel discouraged when faces harsh criticism or self-criticism that occur because of prejudice and perfectionism. The artistic practice is a field of unlimited experiment.
A good work of art instigates the intelligence and touches the deepest feelings. Thus what?s good to a specific social group can mean nothing to another one. Human beings appreciate what is in their intellectual and sensitive reach. A boy that enjoys a specific type of music can change his preferences as the years go by because of changes in conscience and social influences. This process of mutation of conscience is continuous because the creature will always be beneath the possibilities of the Creator.
Versatilism looks for artistic expressions that promote man and society, always respecting the artist?s level of understanding.
In Versatilism, there are no art contests, as no man or group is capable of judging other men. An art critic always analyses a situation from a profoundly limited point of view because his knowledge is also limited. Contests and prizes can be a way of directing public opinion and on doing so, valorizing this or that artist that aims financial or social advantages. Nevertheless, ethical cultural initiatives are praiseworthy.
Each person has style and freedom of choice. Trying to impose this or that way to the artist is the antithesis of what art means.
In Versatilism, the artist does not have to be a slave of his own production. He can follow other paths or go back to his origins whenever he wants. The type of mercantilist procedure that requires such servitude load safes more than rejoices souls.
As style, in Art History, it is possible to find artists that approached the Versatilist Aesthetics if not in all, in a great part of fundaments.
Denis Mandarino (July, 2007)