Sobre ensinar e aprender apresento algumas reflexões que podem contribuir para efetivas mudanças na didática do professor e na aprendizagem do aluno.

O paradigma que enfrentamos é o da modernidade que vê o homem como um ser fragmentado. Na medicina temos um especialista para cada partedo nosso corpo, menor que seja ela haverá um médico receitando um remédio, que também serve para outras partes do nosso corpo, e que promete resolver o problema que surgiu, mesmo não se sabendo o porquê deste problema. Este paciente não é ouvido no seu todo. Apenas é ouvida a queixa sobre aregião específica do corpo. Os motivos que ocasionaram o problema são desconsiderados.

Ainda estamos diante do capitalismo selvagem e somos liderados pela cultura americana que rompe diálogos e aplicam remédios de efeitos rápidos. O médico não quer ouvir o paciente, quer medicá-lo. É a corrida que faz com que um atropele o outro. Fazendo um paralelo à educação, os professores acabam dando um único "remédio" que servirá para a turma toda, menosprezando as individualidades, as diferenças. O caminhar de cada um. Recebem as crianças como se as suas cabeças fossem vazias e precisem ser preenchidas pelo saber do professor.E depois testam os alunos para saber o quanto eles foram capazes de absorver deste saber. Como receber uma única resposta da turma? Se cada resposta tem uma história, uma bagagem, por que querer que todos os alunos sejam como robôs dando respostas iguais?

E os problemas de aprendizagem que surgem, como são tratados? Ainda se acha que o problema é do aluno, seja orgânico, como se pensava no início das pesquisas sobre as dificuldades de aprendizagem, seja por incompetência, como se pensa atualmente por muitos profissionais.

É preciso ver o homem na pós-modernidade, inteiro, de relações, de corpo todo, de inconsciente, de desejo. E que tempo os professores dão para a turma dialogar? Os alunos têm a permissão de falar apenas quando é a hora do intervalo. O silêncio, na sala de aula, é para a concentração dos adultos e não das crianças. Crianças aprendem melhor quando o barulhoestá por perto, quando outras crianças estão falando também. Se no silêncio acontece algoque chama a atenção da criança, do outro lado da rua, ela vai perder a concentração e vai demorar para perceber que está se atrasando na tarefa solicitada pela professora. Então se quiser a atenção dos alunos, deixe-os falar.

As crianças da pré-escola passam o tempo todo sentadas copiando o que a professora está passando na lousa quando poderiam estar pintando desenhando, conversando sobre o que fizeram ou fazendo mímica, brincando com massinha etc. É a representação do seu desejo, do seu ser. E que desejos esta criança traz à escola e que são realizados? Daí vem a falta de interesse, a falta de vontade em aprender que se perpetua por toda a vida escolar e que deixa de ser somente um sintoma para ser uma linguagem clara quando o aluno diz: 'Não gosto de estudar'.

Muitas, destas crianças, são diagnosticadas como hiperativas ou com déficit de atenção. E pior que o diagnóstico errôneo é medicar esta criança para que ela "goste" de estudar. Mais uma vez os médicos acreditam que o remédio resolvea falta de entusiasmo. Por que não se questionam dos motivos que levaram esta criança a não gostar de estudar ou a não prestar atenção à aula?

A criança é marcada pelos contatos verdadeiros que teve em toda sua história. Que contato proporciona uma professora que conta a história sentada na sua cadeira em frente a uma mesa que bloqueia a interação com seus alunos? É má vontade da professora? Por que ela desconsidera todas as hipóteses que a criança tem a respeito da escrita? Creio que o problema está na formação dos professores. Muitos só sabem da filosofia construtivista o suficiente para achar que é um método apenas. Existem muitos professores entusiasmados e competentes que conseguem realizar um lindo trabalho. Muitas vezes estes professores não usaram nenhuma técnica maravilhosa, apenas o amor, a relação verdadeira, a lição prazerosa, o ambiente acolhedor, a oportunidade de falar e escrever e de ser ele mesmo.

Antigamente as cartilhas tinham uma capa sem nenhum atrativo e hoje há mais cores, mais desenhos, mais vida. Mas o conteúdo ainda não tem ligação direta com as experiências e os interesses dos alunos.

Como o professor deve intervir? Diante de qualquer material, o professor deve intervir didaticamente no processo de construção do conhecimento da criança. Para tal, deve ter clareza sobre o construtivismo, sobre a língua escrita e sobre como mediar.

É primordial que o professor tenha em mãos literaturas que possam despertar o seu entusiasmo perdido. Ir em busca de novidades e novas aprendizagens. São lições que podem se transformar em mil outras atividades e que não dependem de coordenadores ou de seguir uma cartilha, depende da vontade em alfabetizar de forma prazerosa para ambos e em conseqüência, o professor ganha um 'presente' do aluno, que é ler e escrever.

Assim o professor não fará só a sua tarefa, fará muito mais, fará leitores e escritores, fará boas lembranças da época escolar e mudanças sociais, porque o aluno terá mais consciência de quem é e o que deve ser e fazer, mudando sua própria vida e da sociedade em que vive.

Na clínica psicopedagógica é preciso buscar o que o sujeito perdeu, aquele brilho, aquele estímulo, aquele desejo. A psicopedagogia humaniza as relações, ressalta as possibilidades deste sujeito e não patologiza. Estabelece o vínculo prazeroso.

Muito mais do que técnicas para alfabetizar é necessário olhar a criança em todas as suas possibilidades, ajudá-la neste processo de construção da escrita a fim de que se torne independente, tenha a autoria das suas produções.

Finalizo com a frase da escritora e estudiosa Sara Paín que resume poeticamente o papel do psicopedagogo:

"Uma tarefa primordial no diagnóstico é resgatar o amor. Em geral, os terapeutas tendem a carregar nas tintas sobre o desamor, sobre o que falta, e poucas vezes se evidencia o que se tem e onde o amor é resgatável. Sem dúvida, isto é o que nos importa no caminho da cura."

Sara Paín

Assim como o psicopedagogo, pode o professor ensinar com amor!!!