REFLEXÕES SOBRE AS METODOLOGIAS DE ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

 

Luzimar Parreira Guimarães[1]

Lígia do Prado Mello Junqueira[2]

 RESUMO

 Pretende-se com este trabalho abordar questões sobre as metodologias aplicadas no ensino de Língua Inglesa, sua sucessão histórica, bem como a existência concomitante de diferentes métodos numa mesma época. Aspectos gramaticais sempre foram a essência no ensino de línguas estrangeiras, mas algumas mudanças têm sido observadas nos dias atuais. Ao educador cabe, partindo de sua experiência e de condições existentes, sua aplicação.

 Palavras chave: metodologia, língua inglesa, ensino.

  ABSTRACT

 The objective of this paper is to approach questions on the methodologies applied in the teaching of the English Language, their historical succession, as well as the concomitant existence of different methods at the same time.  Grammatical aspects have always been the essence in the teaching of foreign languages, but some changes have been observed in the current days.  It is up to the educator, according to his/her experience and existing conditions, their application.

 Keywords: methodology, English language, teaching.

 INTRODUÇÃO

 Este artigo tem como objetivo apresentar e discutir o desenvolvimento do ensino das línguas vivas, especialmente a língua inglesa e sua metodologia.

Houve a abordagem dos principais métodos, aqueles que foram preponderantes e que mais repercutiram no Brasil, tais como: método de gramática e tradução, método direto, método áudio-lingual, método áudio-visual, método cognitivo e abordagem comunicativa.

Foram abordadas algumas das dificuldades que os professores enfrentam no uso efetivo dessas metodologias, uma vez que constante aprimoramento se faz necessário para estar em interação com os avanços nas áreas de Educação.

 Método de Gramática e Tradução

 Segundo o que se tem registrado sobre a história do ensino de línguas, o primeiro método a ser utilizado foi o de Gramática e Tradução. Conforme Howatt (1984, p. 131) citado por Paiva (2005, p. 1) “apesar de ter sido denominado de Gramática e Tradução, por seus opositores, seu objetivo final não era a tradução, mas a leitura através do estudo da gramática e a aplicação desses conhecimentos na interpretação de textos com o apoio de um dicionário”.

Neste método a Língua Estrangeira não é usada em sala senão como material de tradução, meta importante para o aluno, sendo inclusive, questão certa na avaliação, devendo o educando deveria estar ciente das regras gramaticais da língua alvo, memorizar vocabulário, conjugar verbos, dentre outros itens gramaticais.

Cook (2003, p. 31) citado por Paiva (2005, p. 1) “lembra que o ensino das línguas modernas foi muito influenciado pelo estudo acadêmico das línguas mortas como o grego antigo e o latim”. Seu objetivo primordial era possibilitar o acesso às obras literárias e desenvolver o intelecto dos educandos, mediante a tradução da passagem literária da língua alvo para a materna e vice-versa.

Havia interação professor – aluno em sala de aula, mas o aluno não participava ativamente e quase não havia interação aluno – aluno. O aluno tem um papel mais receptivo. O aprendizado adquirido resultava em uma razoável compreensão da língua escrita e grande dificuldade na oralidade.

As principais características deste método foram:

  • O foco era o estudo gramatical;
  • Uso da língua materna para explicações e Língua Estrangeira para exemplos;
  • Memorização de vocabulário e regras gramaticais;
  • Abordagem dedutiva (da regra para o exemplo);
  • Não preocupação com a precisão da pronúncia (FERRO, 1998).

 Método Direto

 Devido à maneira de se trabalhar a língua alvo, diretamente sem tradução para a língua nativa, convencionou-se a chamar este método de Método direto. Segundo seus defensores, um exemplo citado para justificar a sua aplicação, é o caso de Montaigne (1950), que descreve que aprendeu latim, ainda criança, quase sem esforço, com um professor competente, que só falava com ele em Latim.

Cook (2003, p.33) citado por Paiva (2005, p.1) “aponta os movimentos migratórios e o comércio internacional como fatores que influenciaram a mudança do perfil dos aprendizes de LE (Língua Estrangeira)” no início do século XX. A partir dessas novas condições, houve a necessidade de se desenvolver a oralidade dos aprendizes de língua estrangeira, aspecto importante para a comunicação entre povos diferentes que agora estreitavam contato. Assim, então, surgiu o método direto.

Ao contrário do Método de Gramática e Tradução que sofreu severas críticas, mas nunca com um nome relevante por trás destas, o Método Direto teve grandes defensores, tais como Harold Palmer, Otto Jespersen, Emile de Sauzé, etc. (LEFFA,1988).

No Método Direto, as aulas são totalmente ministradas na língua alvo, simulando situações na vida real, sem tradução para a língua materna. O conteúdo é introduzido empregando-se objetos reais, figuras, fotos e gestos para que o educando associe o significado direto da língua alvo.

Foi também chamado de oral ou maternal, pois defendia a idéia de que a Língua Estrangeira poderia ser aprendida tal qual a língua materna.

Pela primeira vez o uso das quatro habilidades (ouvir, falar, ler e escrever) pode ser verificado no ensino de línguas (LEFFA, 1988).

Aqui os conteúdos gramaticais e também os aspectos culturais eram ensinados de forma indutiva, diferentemente do método da Gramática e Tradução, que era altamente dedutivo. O educando era inicialmente exposto aos fatos da língua para posteriormente ver a língua de forma sistematizada, devendo ignorar sua língua e “pensar em inglês”, empregando sentenças artificiais e nem sempre contextualizadas (FERRO, 1988).

O paradoxo notado entre o método direto e o da Gramática e Tradução evidencia uma luta ininterrupta que perpassa todo o ensino de línguas, mediante os mais variados métodos empregados.

Gatenby (1972, p. 45) citado por Leffa (1988, p. 3) desabafa:

 a recusa de gerações de professores e administradores escolares em se beneficiar dos experimentos bem sucedidos e das teorias comprovadas do passado é em parte um exemplo da perversidade humana: as pessoas negam-se a escolher o certo, o melhor ou o que é bom quando isso lhes é mostrado.

 As principais características do Método direto são:

  • Leitura em voz alta de passagens, pequenos textos e diálogos;
  • Exercício de pergunta e resposta, conduzido na língua alvo;
  • Prática de conversação em situações reais;
  • Ditado de textos na língua alvo;
  • Exercícios de completar espaços para avaliar intuição de regras ou vocabulário;
  • Desenho induzido, por ditado do professor ou dos colegas;
  • Composição escrita de assuntos escolhidos em sala (FERRO, 1998).

 Método Audiolingual

 O Método Audiolingual surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, com a necessidade do exército americano de ensinar línguas estrangeiras aos seus soldados, do modo mais rápido possível. Teve como pilar a lingüística descritiva e a psicologia behaviorista. Tinha por meta tornar o aluno capaz de empregar a língua alvo com propriedade. A língua não é vista mais como conjunto de regras a serem memorizadas, e sim um conjunto de hábitos a serem aprendidos automaticamente, através da prática, ou por condicionamento (PAIVA, 2005).

Os conteúdos, bastante estruturados, eram apresentados em forma de diálogos iniciais, aprendidos por memorização, imitação e repetição. A partir deles, eram aplicados exercícios para fixação dos conteúdos ministrados e do vocabulário, tais como jogos de repetição, os chamados “drills”, nos quais havia uma constante interação aluno – aluno, que se revezavam em diferentes papéis dos mesmos.

Aqui também o uso da língua materna era evitado a todo custo, tanto nas explicações quanto nas traduções. O erro era evitado ao máximo. A maior preocupação era com a forma. A pronúncia era ensinada desde o início, em laboratórios de línguas e atividades em pares (PAIVA, 2005).

Com turmas formadas por pequenos grupos e professores falantes nativos americanos e lingüistas, seguindo uma metodologia rigorosa com longas horas de exercícios estritamente orais, os cursos obtiveram pleno êxito. Conforme Rivers (1975, p. 34) citado por Ferro (1988, p. 19) “Os cursos obtiveram pleno êxito, formando graduados com alto grau de habilidade oral e auditiva, capaz de fazer frente às exigências da situação e dos propósitos”.

Segundo Larsen-Freeman (1986, p. 42) citado por Paiva (2005, p. 5) “um dos méritos desse método foi o de ampliar o conceito de cultura que deixa de ser vista apenas como artes e literatura para incluir o comportamento cotidiano dos usuários da língua alvo”.

Os críticos do método perceberam então que os educandos, de tanto repetirem as mesmas sentenças, se tornaram um tanto que automatizados, não desenvolvendo sua capacidade de pensar e reproduzir algum sentido.

Suas principais características são:

  • Memorização de diálogos;
  • Conversação em pares;
  • Dramatização de diálogos memorizados;
  • Memorização de frases longas parte por parte;
  • Jogos de repetição “drills”;
  • Jogos de completar diálogos;
  • Erro evitado ao máximo;
  • Maior preocupação com pronúncia correta (FERRO, 1998).

 Método Audiovisual

 Este método empregava, basicamente, os mesmos princípios do Audiolingual. Tinha, evidentemente, algumas características próprias, tais como:

  • Prioridade da língua falada;
  • Abordagem da língua escrita só após alguns meses de curso;
  • Diálogos adequados à faixa etária dos alunos;
  • Compreensão do significado transmitida através de slides;
  • Apresentação de gravuras com diálogos no próprio livro didático (FERRO, 1998)

 Método Cognitivo

 Por volta de meados dos anos 60 emergiram reações contrárias ao audiolingualismo, devido à excessiva mecanização da aprendizagem via reforço, pela grande ênfase na forma e não no significado, pelo maior trabalho com a fala em detrimento de outras habilidades, uma vez que os estudantes não internalizavam as formas estudadas em sala de aula (FERRO, 1998).

O método cognitivo surgiu como resposta às intermináveis repetições, a partir da psicologia cognitiva, que a aprendizagem humana é resultante da atividade mental do aprendiz e não do contexto, como acreditava o Método Audiolingual.

Suas principais características eram:

  • Almejar o desenvolvimento das quatro habilidades – ouvir, falar, ler e escrever;
  • Explicitação de regras na língua materna;
  • Aplicação de atividades diversificadas para desenvolver a capacidade de comunicação;
  • Correção de erros de pronúncia e morfossintáticos;
  • O centro da aula passa a ser o aluno;
  • Professor mais dinâmico e criativo;
  • Aula mais variada, menos mecânica (FERRO, 1998).

Abordagem Comunicativa

 A partir dos anos 70, surge uma nova concepção de ensino de língua estrangeira, a abordagem comunicativa, não mais chamada de “método”. Uma diferenciação entre os dois termos passou a existir.

Conforme Leffa (1988, 211-212) citado por Ferro (1998, p. 27):

 abordagem é o termo mais abrangente e engloba os pressupostos teóricos acerca da língua e da aprendizagem. Método tem um sentido mais restrito; não trata dos pressupostos teóricos da aprendizagem de línguas, apenas da aplicação prática desses pressupostos, ou melhor, das suas respectivas normas de aplicação.

 A Abordagem Comunicativa tem como meta tornar os alunos comunicativamente competentes, portanto a aprendizagem lingüística é vista como um processo de comunicação no qual o conhecimento das formas da língua alvo, seu significado e funções não são suficientes.

Para Hymes (1972) citado por Paiva (2005, p. 5) “um falante para ser comunicativamente competente não deve apenas dominar as estruturas lingüísticas, mas saber, também, como a língua é usada pelos membros de uma comunidade de fala”. Portanto o indivíduo deve ser capaz de se expressar adequadamente dentro dos mais variados contextos, sem se embaraçar. O falante tem de saber escolher dentre diferentes estruturas aquela que melhor se aplica em determinadas circunstâncias entre ele e o ouvinte.

Na intenção de desenvolver as habilidades concernentes a característica primordial dessa abordagem é a prática de realizar atividades que envolvam comunicação real, nas quais os sujeitos são livres para trocarem conhecimentos. Para usar realmente as potencialidades comunicativas, eles resolvem situações-problema, discutem pontos de vista, fazem dramatizações, realizam jogos etc. O manuseio de revistas, jornais, trechos de programas de TV, E-mail e Internet também são muito importantes para que os alunos tenham acesso à língua tal como ela é efetivamente empregada por seus falantes. Trabalha-se com atividades em pequenos grupos de conversação, simulando situações reais para propiciar o uso efetivo da língua pelos alunos (FREITAS, 2006).

No uso efetivo da Abordagem Comunicativa os professores enfrentam algumas dificuldades, tais como: desvencilha-se do ensino da gramática pela gramática, sem nenhum foco no sentido; muitos livros didáticos, apesar de se intitularem comunicativos, apresentam textos artificiais, outros apresentam atividades muito distantes da realidade dos aprendizes. No entanto, de forma bastante lenta, algumas mudanças começam a ocorrer na direção de uma prática pedagógica mais significativa para professores e alunos. Algumas experiências de sucesso começam a ser relatada em trabalhos de mestrandos e doutorando pelo País.

As principais características da Abordagem Comunicativa são:

  • Uso de materiais autênticos;
  • Emprego de situações reais de uso da língua;
  • Menos preocupação com rigor gramatical e maior interesse pelo desenvolvimento de fluência;
  • Trabalho de forma integrada das quatro habilidades;
  • Uso da língua materna quando necessário;
  • Aluno com espaço para se expressar;
  • Erros são vistos como parte natural do processo, não sendo corrigidos a todo instante;
  • Atividades em grupo e em duplas, estimulando a interação (FERRO, 1998).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Diante das transformações e dos avanços significativos ocorridos na última década, inclusive na estrutura e funcionamento da Educação, procurou-se, por meio deste artigo, analisar e descrever as metodologias aplicadas no ensino das Línguas Estrangeiras, em particular na Língua Inglesa, uma vez que ainda não se pode estabelecer até que ponto uma metodologia empregada faz a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma aprendizagem, pois se esquece de que o educando pode aprender ou não dependendo da abordagem usada pelo professor.

No intuito de tornar a aprendizagem concreta e significativa, sabendo que o que dá certo numa determinada circunstância, pode simplesmente não funcionar em outra e vice versa, é que se propõe a idéia de que para ser bom professor há que se ter uma série de conhecimentos, estratégias de ensino e aplicação de teorias educacionais, que deveriam ser seguidos e até aperfeiçoados por todos aqueles preocupados com o ensino.

Considerando que nos dias atuais os educandos, com a presença da tecnologia que os aproxima de várias culturas, têm uma visão de mundo mais ampla, a Língua Inglesa está incorporada em seu dia-a-dia, através de um mundo globalizado, com suas marcas invadindo seu espaço. Então se faz necessário que o educador conheça os métodos de ensino e que busque, na teoria, embasamento para sua prática pedagógica, propiciando ao aluno um aprendizado significativo.

Pois uma coisa é certa: os especialistas são quase unânimes de que não existe o método perfeito, que nenhuma abordagem é detentora da verdade e que ninguém sabe tanto que não possa se aperfeiçoar. Em todas as situações o que se deve levar em conta é a necessidade de aprendizagem do educando, auxiliando as relações sociais e culturais do mesmo, possibilitando um desenvolvimento intelectual verdadeiramente sólido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 COOK, G. Applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 2003.

 FERRO, G. D. M. A formação do professor de Inglês: trajetórias da prática de ensino de Inglês na Universidade de São Paulo. São Paulo, 1998.

 FREITAS, L. G. Metodologias de ensino de língua estrangeira. Disponível em: <http://www.serradigital.com.br/lucia/metodos.htm> Acesso em: 19 Jan. 2006.

 HOWATT, A. P. R. A history of English language teaching. Oxford: Oxford University Press, 2003.

 LARSEN-FREEMAN, D. Techniques and principles in language teaching. Oxford: Oxford University Press, 1986.

 LEFFA, V. J. Metodologia do ensino de língua. Disponível em: <http://www.leffa.pro.br> Acesso em 19 Jan. 2006.

 PAIVA, V. L. M. de O. e. Como se aprende uma língua estrangeira. Disponível em: <http://www.veramenezes.com/textos.htm> Acesso em: 18 Jan. 2006.



[1] Aluno do curso de Pós-Graduação Lato sensu: Metodologia aplicada no ensino de línguas: Português e Inglês, da Universidade de Rio Verde.

[2] Professora da Universidade de Rio Verde – Orientadora.