Autora:Emilia Ferreiro

Por:Vanda Aparecida Goes

PREFÁCIO

O que as autoras nos oferece são idéias a partir das quais torna-se possível o que já era necessário:repensar  a prática escolar da alfabetização, onde na  América Latina já ultrapassou  os limites educacionais,de fracassos escolares . A pesquisa em si e seus colaboradores pretendem entender não apenas como ensinar, mas como se aprende. Emilia Ferreiro descobriu a psicogênese da língua escrita e abriu espaço para um novo tipo de pesquisa em pedagogia. Telma Weisz, ao escrever o prefá¬cio do livro de Emília Ferreiro, afirma que o mesmo não traz para o leitor nenhum novo método, nem novos testes, nada que se pareça com uma solução pronta. Porém, a autora (Ferreiro) oferece idéias a partir das quais é possível repensar a prática escolar da alfabetização, por meio dos resultados obtidos em suas pesquisas científicas.

Emília Ferreiro, Doutora pela universidade de Genebra, teve o privilégio de ter sido orientada e colaboradora de Jean Piaget. Ferreiro realizou suas pesquisas sobre alfabetização, principalmente, na Argentina, país onde nasceu e também no México.Anteriormente às pesquisas de Ferreiro, a crença implícita quanto à questão de alfabetização era de que tal processo começava e acabava na sala de aula e que a aplicação do método correto garantia ao professor o controle do processo de alfabetização dos alunos.Na medida em que um número maior de alunos passou a ter acesso a educação, ampliou-se também o número do fracasso escolar. Na ausência de instrumentos para repensar a prática falida e os fracassos escolares, passou-se a buscar os culpados: os alunos, a escola e os professores. Tal momento promoveu uma revolução conceitual, principalmente no que se refere à alfabetização.As pesquisas de Ferreiro e de seus colaboradores romperam o imobilismo lamuriento e acusatório, impulsionando um esforço coletivo na busca novos caminhos para que o educador rompa o circulo vicioso da reprodução do analfabetismo.

INTRODUÇÃO

 Dentro desse resumo estão reunidos quatro trabalhos produzidos em momentos diferentes, mas com a mesma preocupação cientifica.

Tentaremos demonstrar dentro desse trabalho o sistema de representação alfabética da linguagem, com suas características especificas, por outro lado. As concepções de tanto de quem entende quanto de quem ensina. A escrita pode ser considerada como uma representação da linguagem ou como um código de transcrição gráfico das unidades sonoras. A construção de qualquer sistema de representação envolve um processo de diferenciação dos elementos e relações reconhecidas no objeto a ser representado e uma seleção daqueles elementos  que serão retidos na representação.

A representação da escrita foi um dado histórico de construção de sistema de representação, não um processo de codificação. Como elementos de um jogo devem compreender seu processo de construção e suas regras de produção, o que coloca problemas epistemológicos fundamenta: qual a natureza da relação entre o real e a sua representação. A diferença entre sistemas de codificação e sistema de representação marca uma nítida linha divisória, se a escrita é tida como um código de transcrição,sua aprendizagem é concebida como  aquisição de uma técnica:se a escrita é concebida como  um sistema de representação,sua  aprendizagem converte-se na  apropriação de um novo objeto de conhecimento,ou seja, em uma  aprendizagem conceitual.

A CONCEPÇAO DAS CRIANÇAS A RESPEITO DO SISTEMA DE ESCRITA.

Os indicadores mais claros das explorações da escrita nas suas apropriações que as crianças realizar para compreender a natureza da escrita são suas  produções  espontâneas .Essas escritas infantis têm sido consideradas como garatujas, ”puro jogo”, o resultado de fazer como se soubesse escrever. Interpretá-las é um longo aprendizado que requer uma atitude teórica definida. Ao pensarmos que as crianças são seres que ignoram e que devem pedir permissão para começar a aprender, as incapacitamos de aceitar o que podem saber, a construção de uma concepção que  explica certo conjunto de fenômenos ou de objetos da realidade. Que essesaber coincidem com o “saber” socialmente válido é um outro problema.Uma criança pode conhecer seu nome (ou o valor sonoro convencional) das letras, e não compreenderexaustivamento o sistemda escrita.Mencionaremos alguns aspectos fundamentais dessa psicogenética.Algumas escritas iniciais da educação infantil aparecem sob forma de ponto de vista gráfico, como linhas onduladas ou quebradas (ziguezague)ou então como uma série de elementos discretos repetidos (serie de linhas verticais ou bolinhas). A aparência gráfica não é garantia de escrita, a menos que se conheça a condição que essas escritas foram feitas. O modo tradicional considera os aspectos gráficos desconsiderando os aspectos construtivos. Do ponto de vista construtivo, a escrita infantil segue uma linha de evolução que pode ser distinguido três grande períodos no interior dos quais cabem múltiplas subdivisões:

v     Distinção entre o modo de representação o icônico e o não icônico.

v     A construção de formas de diferenciação (controle qualitativo e quantitativo)

v     A fonetização da escrita (que inicia com um período silábico e culmina no período alfabético).

Ao se desenhar esta no caminho do icônico, as formas do grafismo importa porque produzem a forma do objeto.As crianças dedicam um grande esforço intelectual na construção de formas e diferenciações que o caracterizam o período seguinte O esses critérios  de  diferenciação são  intranfigurais, eles  se  expressam nos textos quantitativo. Se a escrita tiver a mesma letra não se pode ler ou não é interpretável.Escritas com letras convencionais, mas sem diferenciações interfigurais .Escrita com diferenciação interfigurais.O passo seguinte possui variações sobre o eixo qualitativo, nesse primeiro período não esta regulada por diferenças ou semelhanças entre significantes sonoros.No período quantitativo se exprime a descoberta com que vai escrever as palavras e podem ter uma semelhança com as quantidades de partes que se reconhece na emissão oral. A hipótese silábica cria suas próprias condições de contradição: contradição entre o controle silábico e a quantidade mínima de letras que uma escrita deve possuir para ser “interpretável”.O período alfabético-silábico marca a transição entre os esquemas prévios em via de serem abandonados e os esquemas futuros em vias de serem construídos.

AS CONCEPÇÕES SOBRE A LINGUA SUBJACENTE Á PRÀTICA DOCENTE.

Tradicionalmente as discussões sobre a prática alfabetizadora tem se centrado na polemica sobre os métodos utilizados: métodos analíticos versus métodos sintéticos, fonéticos versus globais, etc.

Nenhuma prática pedagógica é neutra, todas estão apoiadas em certo método de ensino, é útil se perguntar através de que tipo da pratica a criança e introduzida na língua escrita, e como se apresenta esse objeto escolar

Em diferentes experiências que tivemos com profissionais de ensino apareceram três dificuldades principais:

v     Visão de um adulto, já alfabetizado;

v     Confusão entre escrever e desenhar letras;

v     Redução do conhecimento do leitor ao conhecimento das letras e seu valor sonoro convencional.

A confusão entre escrever e desenhar letras e relativamente difícil de se esclarecer, porque se apóia em uma visão do processo de aprendizagem segundo a qual a copia e a repetição dos modelos apresentados são os procedimentos principais para se obter bons resultado.

Um grupo de crianças por volta de cinco pessoas em cada um foi entregue materiais impressos com escritas desconhecidas observou que a primeira reação e de rejeição quando decidem explorar os materiais os grupos confortam suas conclusões, o que mais avançaram em suas interpretação dos textos, são os que encontraram, fotos desenhos ou diagramas sobre os quais apoiaram a interpretação dos texto

A língua escrita é um objeto social, a criança quando chega na escola possui informações que adultos alfabetizados ao seu redor já possui dessa forma foi Ana Teberosky, em Barcelona, a primeira a se atrever a fazer uma experiência pedagógica baseada em três idéias simples mais fundamentais:

v     Deixar e sair para buscar informações;

v     O professor não é o único que sabe ler e escrever;

v     As crianças que ainda não estão alfabetizadas podem contribuir com proveito na sua própria alfabetização e na de seus companheiros, quando a discussão a respeito da representação escrita  da linguagem  se  torna gráfica escolar.

Possuímos uma imagem empobrecida de língua escrita; e é preciso reintroduzir, quando consideramos a alfabetização como sistema de representação da linguagem, pois possuímos um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu.

DA COMPREENSÃO DO SOSTEMA DE ESCRITA CONSTRUÇÕES ORIGINAIS DA CRINÇA E INFORMAÇÃO ESPECIFICAM DOS ADULTOS.

A leitura e a escrita tem sido tradicionalmente uma instrumentação sistemática, não obstante nossa pesquisa sobre os processos de linguagem obriga a abandonar essas duas idéias: as atividades de interpretação e de produção da escrita começam antes da escolarização.

A escrita não é um produto escolar e sim um objeto cultural onde há presenças de   sistemas simbólicos socialmente elaborados. As características dos processos cognitivos tem sido exposta pelas bem conhecidas pesquisas de J.Piaget e seus elaboradores. A psicogêneses de Piaget procura compreender os processos de aquisição da linguagem escrita que precede e excede os limites escolares.

CONSTRUÇÕES ORIGINAIS DAS CRIANÇAS.

A crianças elaboram idéias próprias a respeito de sinais escritos, o que é uma figura o que não é uma figura,começa um trabalho cognitivo e surge critérios que temos chamados de quantidade mínima de caracteres.Não basta que haja letra , é preciso uma certa quantidade mínima  para que se possa ler , “já que com poucas palavras não se pode ler”.O critério seguinte refere-se a variedades internas de caracteres “não basta uma grafia convencional para que se possa ler é necessário que essas grafias variem, que não se repitam sempre as mesmas.No texto foram citadas crianças da mesma idade cronológica o que reportou a  idéia que a criança segue uma seqüência psicogeneticamente  ordenada e não cronológica.A criança em sua exploração atribui expressão as palavras substantivas não reportando o artigo, agindo como se  estes fossem apenas complementação sonora.As construções originais  e não  a mera cópia, aparecem antes e depois que as letras vinculem á representação de aspectos parciais e formais a fala,. As crianças procuram estabelecer a correspondência entre a quantidade de letras das palavras escritas e certas propriedades quantitativas do objeto.

Outro sistema de escrita, o sistema alfabético é o produto de esforço coletivo para representar o que se  quer  simbolizar: a linguagem.

ALGUMAS IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS.

Decidimos, a titulo de conclusão, assinalar alguns aspectos sobre os quais os profissionais deveriam estar alerta;

a)     Se pensarmos que a escrita remete de maneira  obvia e natural á linguagem, estaremos supervalorizando as capacidades da criança. Que podem estar longe de ter descoberto sua natureza fonética.

b)     Em contrapartida, poderíamos menosprezar seus conhecimentos ao trabalhar exclusivamente com base na escrita cópia e sonora dos grafemas.

c)      Ao tratarmos como inteligível a produção da criança, estaríamos desvalorizando seus esforços para compreender as leis do sistema. A mãe que age como se o bebê estivesse falando aos balbucios, teríamos que a imitar e entender como escritas os rabiscos.

d)     Interpretar em termos de certo ou errado os esforços iniciais para compreender é negar-se a ver

e)      A reprodução de traçados reduz construção menta todo sistema simbólico impõe regras de representação dentro do sistema se só nos dirigirmos ás crianças que compartilhe alguns de nossos conhecimentos.deixaremos de lado uma grande porcentagem da população infantil condenando-a  involuntariamente ao fracasso

PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DA LINGUA ESCRITA NO CONTEXTO ESCOLAR.

A escrita começa muito antes da escolarização. As crianças desde que nascem são construtoras de conhecimento no esforço de compreender o mundo que as rodela. Estão construindo objetos complexos de conhecimento e o sistema de escrita é um deles.As crianças estão,desde seu nascimento expostas  a material escrito e a  ações sociais.A construção de um objeto implica muito mais que mera coleção de informações ,Implica a construção de um esquema conceitual que permite interpretar dados prévios e novos dados.Freqüentemente s e aceita que o desenvolvimento da lecto-escritura (leitura e escrita), aprendem antes da escola , mas que   não são informações relacionadas entre si, que logo serão reunidas por algum  mecanismo não especifico.Porém a aprendizagem de leitura e escrita, aprendizagem da escrita e leitura é muito mais que aprender a conduzir-se de modo  apropriado como esse cultural, porque envolve a construção de um novo objeto de conhecimento que, como tal, não pode ser diretamente observado de fora.

No caso da leitura e escrita, a dificuldade para adotar o ponto de vista da criança foi tão grande que ignoramos completamente as manifestações mais evidentes  das tentativas infantis para compreender as escrita. Até a poucos anos as primeiras tentativas eram consideradas garatujas ou caracterizado como processo maturacional. Tudo que ocorria antes era considerado como tentativas de escrever e não como escrita real.Outro fator importante que pesquisamos foram as crianças que tiveram possibilidades muito limitadas de estarem rodeadas por material escrito e de serem seus usuários :crianças filhos de pais analfabetos ou semi-alfabetizado, crianças que tiveram pouca ou nenhuma oportunidade  de  freqüentar uma instituição de  pré- escolar  fracassam na escola.

A partir dessas analises que  foram feitas (imagens de representações de escritas feitas por crianças da pré-escola ate crianças do 1ºano do ensino básico) pode-se constatar que é muito difícil julgar o nível conceitual de uma criança,considerando unicamente os resultados,sem levar em conta o processo de construção da  análise psicogenética . O ponto importante a conceituar é o seguinte: esse tipo de  escrita tem sido  considerado tradicionalmente como “omissão de letras” no ponto de vista adulta,mas;  do ponto de vista do sujeito em desenvolvimento esse tipo de escrita é “acréscimo de letras”.

Uma pesquisa realizada durante os anos de 1980-1982 no Ministério da Educação no México houve o interesse por se conhece que não conseguem compreender o sistema alfabético da escrita e que, logo, serão encaminhadas aos sistemas nacional de educação, devo esclarecer que na pré-escola (crianças antes de entrarem na escola) passam por um pelo menos quatro sistemas ordenados de  escrita: pré-silábico,silábico,silábico-alfabético e alfabético.   Ao ser este patológico percorrido são: contatamos que 55,5% que chegaram na escola pré-silábico não alcançaram seu desenvolvimento igual aos que chegaram na escola silábico-alfabético.

O ESPAÇO DA LEITURA E DA ESCRITA NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR.

As discussões a respeito do momento em que se deve começar o ensino da leitura e da escrita parecem eternas. A pergunta “deve-se ou não ensinar a ler na pré-escola?”. É uma pergunta reiterada e insistente. Quando a essa pergunta a resposta é negativa a sala das pré-escolas sofreram uma limpeza, até que delas desapareceram quaisquer traços de  língua escrita,cuidam de  esconder o nome  de  seus alunos  nos desenhos, não se pode ler em voz alta,  a professora quase que as escondidas faz seu diário, a criança sabe a professora  sabe ler e  escrever , mas, não sabe  em qual momento o faz.  Quando a resposta é afirmativa, vemos as salas da pré-escola  assemelhar-se  prática tradicionais do  primário. A pergunta “deve-se ensinar a ler?” Está mal colocada porque a resposta negativa como a positiva apóia-se num pressuposto que ninguém discute.

Supõe-se que o acesso a língua escrita começa no dia e na hora em que o adulto decidem, Essa  sustentação pedagógica  acaba  convencendo porque as  crianças começam a fazer  de conta que nada sabem. As crianças iniciam seu aprendizado de matemática antes da escola, quando se dedicam a ordenar objetos mais variados, do mesmo modo iniciam seu aprendizado do sistema da  escrita nos mais variados contextos, porque a escrita faz parte da paisagem urbana, e  a vida requer continuamente o uso da leitura.

A criança desde muito nova começa a extrair a natureza da leitura e da escrita  , trabalham cognitivamente desde muito cedo informações das mais variadas:

a)     Informações retiradas de revistas, jornais, cartazes das ruas, embalagens de brinquedos ou alimentos, roupas, etc.

b)     Informação especifica destinada a elas mesmas, como alguém que lhes lê histórias, diz seu nome, números etc.

c)      Informações obtidas quando participa de atos sociais que envolvam o ato de ler ou de escrever,

Ainda podemos transmitir informações informal de escrita e leitura ao consultar uma  agenda, pegar uma lista telefônica.