REFLEXÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

JOSIMAR OLIVEIRA JOSINO

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Orientadora: Profª. Ana Maria Soek1

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RESUMO

O presente estudo apresenta como proposta central reflexões sobre a importância do planejamento na educação infantil, enfatizando a realização de atividades lúdicas, considerando suas contribuições positivas no processo de ensino aprendizagem da criança. Para tanto, optou-se pela realização de uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa com revisão bibliográfica sobre o tema em foco aliada à coleta de dados por meio de entrevistas aplicadas com equipe pedagógica e educadoras infantis que atuam nos CMEIs urbanos lapianos. Constatou-se a importância do planejar as aulas na educação infantil, tendo em vista que as atividades lúdicas que envolvem jogos e brincadeiras representam o meio/método das crianças aprenderem, devendo não somente ser utilizadas de modo livre, mas intencionalmente e supervisionadamente, visando o processo de ensino e de avaliação processual da criança. Embora conscientes desta importância, percebeu-se que as educadoras enfatizam que não dispõe de hora-atividade hábil para planejar atividades mais elaboradas, deste modo o lúdico acaba perdendo seu enfoque educativo e de intervenção revelando-se geralmente como atividades lúdicas não intencionais.

Palavras-chave: Educação Infantil; Planejamento; Lúdico.

 

 

  1. INTRODUÇÃO

 

É notória a expansão que há tempos vem sofrendo o contexto da educação infantil, consequência de decorrentes estudos sobre as especificidades da criança e suas dicotomias em relação ao adulto, inclusive sobre o desenvolvimento infantil, seus modos e meios de aprendizagem.

Revela-se e questiona-se concomitante a tal expansão, o uso do jogo e da brincadeira, isto é da ludicidade na ação pedagógica, como principal recurso pedagógico no ensino de crianças.

Sendo assim, optou-se pela realização deste estudo considerando a seguinte problemática: De que forma o planejamento de atividades lúdicas se fazem presentes nos Centros Municipais de Educação Infantil da Lapa- PR?

O objetivo geral do estudo almeja verificar como o planejamento de atividades lúdicas é realizado nos CMEIs lapianos, considerando a importância de planejar as atividades na educação infantil. Os objetivos específicos compreendem conceituar perspectivas do planejamento da ação pedagógica na educação infantil; expor a importância das atividades lúdicas planejadas na educação infantil e compreender o processo do planejamento nas instituições de educação infantil da Lapa-PR.

O artigo apresenta-se em três capítulos que expõem inicialmente a revisão literária sobre o lúdico na educação infantil e sobre o planejamento da ação docente com contribuições de Kishimoto, Friedmann (2012) dentre outros autores renomados que abordam sobre a temática, e ainda conta com extrações de documentos que norteiam a educação infantil como as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (2010) e Referencial Curricular Nacional para a educação Infantil (1998). Seguindo com as constatações derivadas da coleta de dados em campo, e considerações finais do estudo.

 

 

 

 

 

  1. O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Atualmente muito se discute no contexto da educação infantil sobre a importância das atividades lúdicas. Visando contextualizar tal importância, Santos e Jesus (2010, p.02) comentam que:

 

A palavra lúdico vem do latim ludus e significa brincar. Neste brincar estão incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos e é relativa também à conduta daquele que joga que brinca e que se diverte. Por sua vez, a função educativa do jogo oportuniza a aprendizagem do indivíduo, seu saber, seu conhecimento e sua compreensão de mundo.

 

 

No entanto, esta discussão atual apoia-se nas contribuições positivas de uma atividade historicamente antiga: o brincar, presente na vida humana desde a antiguidade, e que hoje ocupa grande preocupação e revela pesquisas sobre o assunto, em decorrência ainda, da ampliação dos conceitos sobre a infância que passou a considerar a criança como um sujeito. Desta perspectiva Friedmann (2012) reflete:

Mas, talvez, em decorrência da diminuição do espaço físico e temporal destinado a essa atividade, provocada pelo aparecimento das instituições escolares, pelo incremento da indústria de brinquedos e pela influência da televisão, de toda a mídia eletrônica e das redes sociais, tenha começado a existir uma preocupação com a diminuição do brincar e a surgir um movimento pelo seu resgate na vida das crianças e pela necessidade de demonstrar sua importância em estudos e pesquisas. (FRIEDMANN, 2012, p.19)

 

 

Dentre estas pesquisas e pesquisadores, Friedmann (2012) relata Piaget como um dos mais significativos estudiosos sobre o jogo infantil, o qual utilizou da observação das atividades de seus filhos para propor uma relação entre jogo e o funcionamento intelectual da criança.

Mas, para embasar a discussão sobre jogo e brincadeira, torna-se necessário distingui-los para melhor compreensão: o brincar remete-se à ação lúdica, seja brincadeira ou jogo, com ou sem o uso de brinquedos ou outros materiais e objetos. O jogo compreende tanto uma atitude quanto uma atividade estruturada com regras. A brincadeira está relacionada ao ato de brincar por meio de uma atividade não estruturada. O brinquedo abrange o objeto utilizado para o brincar, sendo portanto, um suporte para a brincadeira. (FRIEDMANN, 2012)

O jogo infantil segundo Piaget (1971) apud Friedmann (2012) causa influência no pensamento da criança, pois para ele normalmente há seis critérios no jogo que estimulam o pensamento, processo que envolve os conceitos de acomodação2 e assimilação3, processos estes inerentes em todos os estágios de desenvolvimento.

  1. Dizer que o jogo encontra sua finalidade em si mesmo é um critério impreciso, pois todo jogo é “interessado”; afinal o jogador se preocupa com o resultado de sua atividade.

  2. O jogo constitui uma atividade espontânea, oposta à atividade do trabalho.

  3. O jogo é uma atividade prazerosa – o prazer lúdico seria a expressão afetiva da adaptação do eu do indivíduo ao real (quando a criança se adapta à realidade do jogo, ela o demonstra por meio de expressões do prazer)

  4. O jogo tem uma relativa falta de organização.

  5. O jogo estabelece um comportamento livre de conflito: ou ignora os conflitos ou, se encontra, é para libertar o eu por uma solução de compensação e liquidação – por exemplo, quando uma criança vive um medo (medo de perda ou separação, ou morte de um dos pais), ela pode, por meio do jogo, trabalhar internamente esse medo, compreende-lo, mesmo que inconscientemente, e até separá-lo.

  6. O jogo é uma atividade que envolve supermotivação (motivação intensa) (FRIEDMANN, 2012, p.27

 

Alves e Sommerhalder (2011) completam que é a partir do jogo e da brincadeira que o homem inicia a relação com o mundo, sendo a partir dele que deriva a ampliação das experiências com outras atividades, bem como o esporte, a dança, a ginástica, o teatro, etc.

 

É no ‘como se’ da brincadeira/jogo que a criança busca alternativas e respostas para as dificuldades e/ou problemas que vão surgindo, seja na dimensão motora, social, afetiva ou cognitiva. É assim que ela testa seus limites e seus medos, é assim que satisfaz seus desejos. Em outros termos, é assim que ela aprende o significado e o sentido, por exemplo, da cooperação, da competição, é assim que ela explora e experimenta diferentes habilidades motoras, que ela inventa e cria novas combinações de movimentos, é assim que ela consegue reconhecer valores e atitudes (...) (ALVES E SOMMERHALDER, 2012, p.13)

 

 

Em contribuição a ideia do lúdico como instrumento de aprendizagem da criança, Valle (2010) comenta sobre o jogo e a brincadeira considerando-os como recursos privilegiados do desenvolvimento da criança pequena, sendo que grande parte dos educadores de crianças de 0 a 5 anos utilizam dos jogos e brincadeiras como práticas pedagógicas cotidianas. Em contrapartida, pontua-se um atual problema que vem ocorrendo no trabalho pedagógico na educação infantil:

 

Algumas vezes, o jogo é entendido com certo equívoco pelas instâncias educativas, principalmente pelos professores, quando confundem o conceito de jogo simbólico com o “jogo livre”, em que a criança fica solta, escolhendo o que quer fazer, sem o suporte de um adulto. (VALLE, 2010, p.66)

 

O lúdico não é uma atividade específica e inerente somente à criança, uma vez que contempla uma prática cultural e de compreensão de mundo. Brougère (2000) apud Valle (2010, p.21) comenta que “o ato de jogar é reconhecido por muitos autores como tão antigo quanto o próprio homem e que, ao longo dos tempos, foi sendo conceituado e reconceituado, de acordo com a época e concepções vigentes”.

Assim, de acordo cada tempo histórico a concepção relacionada as atividades lúdicas foi se formando, bem como descreve Valle (2010) no período da Idade Média compreendia uma atividade exclusivamente adulta, posteriormente foi liberada para as crianças e marcada pela divisão do esporte para adultos e brincadeiras para crianças, e vem sendo atualmente considerada como um ato infantil.

Tomando por base contido nas descrições do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI, 1998, p.27) “a brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com aquilo que é o não-brincar”, isto é, a realidade imediata fornece o conteúdo da brincadeira, se revelando por meio da linguagem simbólica.

Neste sentido, estes RCNEIs (1998) deixam explícita a ideia da importância da interação da criança com o adulto para que ocorra a apropriação da realidade, e consequentemente a aprendizagem por meio de vivências. Pois:

 

Para que as crianças possam exercer sua capacidade de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhe são oferecidas nas instituições, sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta (...) As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construção e aqueles que possuem regras, como os jogos de sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro), jogos tradicionais, didáticos, corporais, etc., propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis por meio da atividade lúdica. (BRASIL, 1998, p.27-28)

 

Nesta perspectiva de atividades lúdicas como contribuinte na aprendizagem, a figura do professor de educação infantil toma um importante papel, já que é o adulto, na figura de professor, portanto que na instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das brincadeiras, ele que organiza sua base estrutural, oferta brinquedos, planeja o tempo e espaço para brincar. (BRASIL, 1998)

Portanto, planejar torna-se uma atividade imprescindível na execução do trabalho pedagógico, sobre esta temática relata-se nos RCNs (1998) que:

 

a intervenção intencional baseada na observação das brincadeiras das crianças, oferecendo-lhes material adequado, assim como um espaço estruturado para brincar permite o enriquecimento das competências imaginativas, criativas e organizacionais infantis. (...) é preciso que o professor tenha consciência que na brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimento, um uma atividade espontânea e imaginativa. (BRASIL, 1998, p.29)

 

Além disso, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2012, p.25) definem que “As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira” considerando como Currículo:

 

Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade. (BRASIL, 2012, p.12)

 

Kishimoto aponta uma relação estreita entre a pouca qualidade com a oposição que alguns fazem entre o brincar livre e o dirigido, mencionando a necessidade em desconstruir essa visão equivocada para pensar na criança inteira, integral, que em sua subjetividade, aproveita a liberdade que tem para escolher um brinquedo para brincar, entendendo que através da mediação do adulto ou de outra criança, é possível aprender novas brincadeiras, pois:

 

A criança não nasce sabendo brincar, ela precisa aprender, por meio das interações com outras crianças e com os adultos. Ela descobre em contato com objetos e brinquedos certas formas de uso desses materiais. Observando outras crianças e as intervenções da professora ela aprende novas brincadeiras e suas regras. Depois que aprende, pode reproduzir ou recriar novas brincadeiras. Assim elas vão garantindo a circulação e preservação da cultura lúdica. Para educar a criança na creche é necessário integrar a educação ao cuidado, mas também, a educação, o cuidado e a brincadeira. Essa tarefa depende do projeto curricular. Não se pode planejar o currículo sem conhecer a criança: É bebê? Criança pequena? Pré-escolar? Como aprende e se desenvolve? Cada uma é diferente da outra, vem de famílias e grupos étnicos diferentes.

 

Daí fica explicito a interação como fator chave para a aprendizagem da criança, perseverando o trabalho do professor que atua na educação infantil e a importância do planejar esta interação por meio das ação docente. Neste sentido, é mister o conhecimento sobre a criança e seu desenvolvimento, sobre as especificidades singulares da infância presente nas instituições de educação infantil.

 

 

  1. O PLANEJAMENTO DA AÇÃO DOCENTE: POR QUE E COMO PLANEJAR

 

 

Sobre planejar Lima (2013, p.47) confere que “planejar envolve refletir sobre a ação e também prever meios (materiais) e recursos disponíveis para atingir objetivos”, assim configura-se como um processo norteador, que supõe maneiras adequadas de se chegar, de acordo com contextos e possibilidades. Mas segundo este autor para que o planejamento aconteça é necessário que o professor tenha suas ações pedagógicas organizadas, de modo a ter consciência de suas ações e seus objetivos.

Em soma a esta definição Luckesi, 2005, p.162 (apud Metz e Pienta, 2011, p.229) relata que “o planejamento implica no estabelecimento de metas, ações e recursos necessários à produção de resultados que sejam satisfatórios à vida pessoal e social, ou seja, a consecução dos nossos desejos.”

No caso do planejamento no contexto escolar, segue esta lógica, mas possui suas especificidades, sendo dividido amplamente em: plano de escola, plano de ensino e plano de aula, planos que possuem suas especificidades, muito embora sejam entendidos por professores como sinônimos ou como a mesma coisa.

Libâneo (1994, p.222 apud Castro, Tucunduva e Arns, 2008, p.06) comenta que o plano de ensino compreende a “previsão dos objetivos e tarefas do trabalho docente paraum ano ou um semestre; é um documento mais elaborado, noqual aparecem objetivos específicos, conteúdos e desenvolvimentometodológico”.

Já plano de aula representa “a sequência de tudo o que vai ser desenvolvido em um dia letivo. (...) É a sistematização de todas as atividades que se desenvolvem no período de tempo em que o professor e o aluno interagem, numa dinâmica de ensino-aprendizagem.” (PILETTI, 2001, p.73) apud Castro, Tucunduva e Arns, 2008, p.06

Castro, Tucunduva e Arns (2008) fazem menção também ao Projeto Politico Pedagógico da escola (PPP) como integrante da questão que envolve o planejar, uma vez que ele representa:

 

É o planejamento geral que envolve o processo de reflexão, de decisões sobre a organização, o funcionamento e a proposta pedagógica da instituição. É um processo de organização e coordenação da ação dos professores. Ele articula a atividade escolar e o contexto social da escola. É o planejamento que define os fins do trabalho pedagógico.” (MEC, 2006, p.42 apud CASTRO, TUCUNDU)

 

Zych (2010) confere que o planejamento organiza a ação educativa, prevendo o encaminhamento de ações e procedimentos na efetivação do processo educativo, enfatizando que a partir dele são estabelecidas ações para a previsão, organização, execução e avaliação das atividades didáticas.

Vale ressaltar que este planejar está previsto legalmente bem como o momento de realização deste, sendo exposto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9394/96 como dever do professor:

 

Art. 12º. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;

II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;

III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas;

IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;

Art. 13º. Os docentes incumbir-se-ão de:

I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;

II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;

III - zelar pela aprendizagem dos alunos;

IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento;

V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;

VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade.

 

Embora essas premissas que envolvem o planejamento escolar, em todas as suas instâncias, sejam de grande importância e de conhecimento de todos os envolvidos no contexto da escola, Infelizmente, existem professores que não implementam esta prática, e acabam improvisando a sua prática educativa, “sendo que um planejamento mau elaborado pode comprometer o resultado final da ação”. (Metz e Pienta, 2011, p.230)

 

A ausência de um processo de planejamento de ensino nas escolas, aliado às demais dificuldades enfrentadas pelos docentes do seu trabalho, tem levado a uma contínua improvisação pedagógica das aulas. Em outras palavras, aquilo que deveria ser uma prática eventual acaba sendo uma “regra”, prejudicando, assim, a aprendizagem dos alunos e o próprio trabalho escolar como um todo.” (FUSARI, 2008, p.47) apud Castro, Tucunduva e Arns, 2008, p. 56)

 

 

Pensando nas contribuições positivas que o planejamento pode oferecer ao professor, Metz e Pienta (2011) apresentam vantagens do planejamento:

  1. Melhora o desempenho profissional: traz segurança e norteia a prática.

  2. Aumenta a participação: a organização do trabalho possibilita a discussão e leva a todos os envolvidos a contribuírem

  3. Segurança para lidar com os imprevistos: um profissional que está habilitado a planejar consegue ser flexível e está preparado para lidar com o inesperado

  4. Ter mais tempo para lazer: planejar garante tranquilidade e qualidade de vida, o tempo é mais bem aproveitado. (SOARES, BENCINI, 2005 P.30 APUD METZ E PIENTA, 2011, p.231)

Assim como discorre Zych (2010, p.71) o fenômeno educativo indica como necessária prioridade selecionar e estabelecer os devidos encaminhamentos que se constituirão em padrões de planejamento de ensino, de forma a orientar a escolha dos recursos que favoreçam a operacionalização de ações pedagógicas aprimoradas.

O professor precisa, por meia da elaboração dos objetivos, deixar muito clara sua pretensão com o trabalho a ser realizado priorizando, no momento da definição, a relevância da experiência sociocultural que traz o aluno, passando a seguir, para a indicação de recursos e procedimentos metodológicos que serão utilizados na concretização dos objetivos pretendidos, tendo em vista a produção do conhecimento. Neste sentido Lopes (1990, p.154) explicita “produzir conhecimentos significa colocar os sujeitos d aprendizagem numa perspectiva de indagação que leve ao estudo e à reflexão”.

 

O plano deverá ser elaborado a partir de respostas referentes às questões: o quê? Por quê? Para quê? E Como ensinar? Planejar, portanto, consiste na organização sequencial de ações, com a intencionalidade de definir metas e/ou resultados pretendidos, fundamentando o trabalho na filosofia de educação que orientará a atividade educativa. (ZYCH, 2010, p.72)

 

 

Zych (2010) segue sua explicação sobre planejamento da ação educativa, separando-o em itens: organização do trabalho pedagógico, construção do projeto político-pedagógico, objetivos do ensino, procedimentos metodológicos e avaliação de aprendizagem.

A partir da organização do trabalho pedagógico é que o planejamento deve ser elaborado, sendo coerente com a diretriz proposta pela educação planejada objetivos do ensino, justificativa da disciplina e função social e pedagógica pretendida. Desse modo, é preciso que o professor ao organizar o seu plano defina objetivos, deixando clara a pretensão do seu trabalho. Pois, os conteúdos a serem desenvolvidos devem estar “organizados em assuntos nucleares, agrupados por itens ou temas afins, estruturados numa sequência lógica, por ordem de dificuldades”. (ZYCH, 2010, p.73)

O projeto politico-pedagógico também engloba planejamento, pois assim como relata Zych (2010) por meio dele há justificativa dos pressupostos norteadores da ação educativa, onde há estabelecimento de diretrizes, objetivos e metas da escola, tendo em vista a valorização e formação de seus alunos.

Em referência aos objetivos do ensino, estes representam a previsão da produção almejada através da intervenção pedagógica, sendo metas a serem alcançadas pelo processo de ensino-aprendizagem. Os objetivos estão estritamente ligados aos conteúdos e avaliação. (ZYCH, 2010)

Outro item essencial na construção do planejamento é a definição dos procedimentos metodológicos, fato que constitui segundo Zych (2010, p.80) “conjunto de procedimentos, atividades e interações utilizadas intencionalmente para a revitalização do ensino e facilitação da aprendizagem, constitui os processos metodológicos do trabalho pedagógico”. O método de ensino remete-se a forma de encaminhar a ação pedagógica tornando a apropriação do conhecimento mais acessível, são portanto, modos, formas e técnicas de ensino.

Como item de fechamento do planejamento Zych (2010, p.87) confere a avaliação da aprendizagem. Ela se constitui em:

Processo de atribuição de símbolos ou valores, previamente aceitos e/ou estabelecidos, aos fenômenos, com o objetivo de caracterizar um julgamento, com base em padrões ou instrumentos convencionais que possibilitem a visualização do nível de desempenho ou a qualidade das interações.

Vale lembrar ainda que embora a avaliação seja considerada indispensável no processo educativo, no âmbito da educação infantil esta representa uma ação de inúmeros questionamentos, já que esta etapa educacional não visa a promoção, mas sim o desenvolvimento integral da criança. Por isso, avaliar na educação infantil se torna uma tarefa delicada, a fim de evitar marcas nos alunos, evitar discriminações, pois “o verdadeiro conhecimento caracteriza-se pelo acréscimo que efetivamente se observa na vida do aluno, numa confirmação de mudanças resultantes da aprendizagem” é preciso ter cautela para não estigmatizar a criança. Para tanto, “é necessário observar a criança, prestar atenção no seu desempenho, interagir com a mesma e interessar-se por seus problemas” a fim de avaliar eficazmente. (ZYCH, 2010, p.89)

  1. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Utilizou-se como base para este estudo uma pesquisa de campo, que teve como local de aplicação os CMEIs urbanos lapianos. Atualmente a cidade da Lapa conta com cinco instituições de educação infantil municipais. Desse modo, foi aplicado um questionário em cada centro de educação infantil, destinado a uma educadora infantil. Em soma a este instrumento de coleta de dados realizou-se entrevista em um dos CMEIs com a equipe pedagógica, para identificar características do processo de planejamento das atividades lúdicas.

A análise dos dados coletados por meio de questionários e entrevistas teve como base caráter qualitativo, bem como pontua Vieira (2011):

Os questionários se constituem em instrumentos de coleta de dados, especificamente elaborados com o objetivo de obter respostas para as questões que são importantes para o desenvolvimento das pesquisas. Os questionários servem de roteiros para as pesquisas em que o entrevistador e entrevistado interagem (como nas pesquisas por telefone, face a face ou em grupo). São também sinônimos de entrevista, quando não há proximidade entre entrevistador e entrevistado. (VIEIRA, 2011, p.100)

Diante desta perspectiva, analisou-se qualitativamente os questionários destinados às educadoras infantis.

Por meio deles foi possível identificar que unanimemente há programação e planejamento das aulas pelas educadoras infantis, atividade realizada semanalmente, isto é, visto que duas educadoras atuam em uma sala, ambas planejam as aulas, a cada semana uma é responsável pela elaboração e implementação das atividades.

Em referência a questão sobre crença da importância de planejar as aulas na educação infantil, ambas ressaltaram que acreditam ser importante planejar as aulas, uma vez que, “não existe efetivamente aprendizado sem planejamento, porque cada planejamento tem um objetivo” (professor 1) e “para desenvolvimento da criança por meio das atividades intencionais e melhor aproveitamento do tempo nas atividades pedagógicas” (professor 2).

Sobre o planejar a prática pedagógica, constatou-se que há entendimentos diversificados das educadoras que acabam não exprimindo o real significado do planejar, conceitos que foram expostos superficialmente, pois pode perceber certa carência de descrição do que significa para elas o planejamento. Planejar remete-se à “aplicação de conhecimentos” (professor 1), ou “formas e meios de aprendizagem”. No entanto, revelou-se também que “planejar é orientação, ou seja, estabelecimento de metas de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, que exige reflexão do próprio trabalho” (professor 3).

Pode constar que as educadoras não dispõe de um momento disponível/previsto na carga horária para planejar as suas atividades, isto não há realização de hora-atividade. Relatou-se que as atividades são planejadas normalmente na hora que as crianças dormem, nos horários extras ao trabalho (em casa).

Na questão sobre a orientação pedagógica para construção do planejamento, observou-se que não há orientação, visto que não possui um profissional na função específica de pedagogo nos CMEIs lapianos. Embora relatou-se que no decorrer do ano letivo ocorrem cursos com temas para serem inseridos no planejamento, mas não sobre como planejar, nem em forma de orientação individual.

Em soma aos questionários aplicados às educadoras, realizou-se entrevista com equipe pedagógica de um dos centros, sendo ela a diretora da instituição.

As perguntas englobaram questões sobre o grau de importância do planejamento para a profissional; de que modo se dá o repasse das orientações sobre o planejamento (como as educadoras devem planejar); em que momento o planejamento é realizado; se há cobrança de atividades lúdicas no momento de planejar; como é feita a avaliação dos planejamentos e; quais são as metodologias e recursos mãos utilizados no planejamento das educadoras da instituição.

Segundo a entrevistada o planejamento visto que devemos estar preparados ao receber nossos alunos, para poder passar a eles uma segurança e saber o que iremos trabalhar sempre dando sequencia e observando-os.

Através de cursos oferecidos pela secretaria municipal de educação e materiais bibliográfico existente no cmei.

É sempre cobrado para que se coloque atividades lúdicas no planejamento, principalmente trabalhar com mais brincadeiras do que com xerox e atividades manuais, e todos já estão acostumados a colocar pois conhecem a importância disso. Não possuímos hora atividade então alguns elaboram o planejamento em sala no horário de descanso e outros em casa.

O planejamento é escrito em cadernos, visto e avaliado por períodos alternados, no entanto, acredita-se que como todas as educadoras são preparadas para sala de aula não temos problemas.

Percebe-se que há um trabalho pedagógico que envolve bastante atividade lúdica, leitura e contação de histórias, desenhos, colagem, o que varia de educador para educador. Vemos alguns que exageram nas atividades manuais.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir de todo o estudo realizado, relacionando teoria e prática, pode-se constatar que o ato educativo na infância deve ser uma atividade consciente e intencional, uma vez que, engendra o alicerce das aprendizagens da criança.

Diante do exposto, fica explícito que o jogo ou a brincadeira, seja ela de qualquer classificação, assim como a de caráter simbólico, é preciso possuir uma intencionalidade, objetivo, direção ou mediação do professor, itens propostos/expostos no planejamento das aulas.

No entanto, constatou-se que as funções da ludicidade no âmbito escolar apresenta-se em discrepância com as correntes teóricas que confirmam o planejamento do lúdico na educação infantil e justificam o porque desse planejar, planejar que encontra-se implícito de intenções, objetivos voltados a formação integral do indivíduo.

Desse modo, vale ressaltar a importância do profissional que atua nesta área estar em constante apreensão de novos conhecimentos, sobre a criança e seus modos de aprender, pois, cada um deles é singular necessita de estímulo diferenciado, e por isso destaca-se o jogo e a brincadeira como um recurso privilegiado que só tem a auxiliar o processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança.

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília: MEC, SEB, 2010.

 

________, Ministério da Educação e Cultura. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil(RCNEI). Brasília: MEC/SEE, 1998. Introdução

 

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Brinquedos e brincadeiras na Educação Infantil.FE-USP

 

FRIEDMANN, Adriana. O brincar na educação infantil: observação, adequação e inclusão. São Paulo: Moderna, 2012.

 

Manual para elaboração do TCC: modalidade a distância. FAEL, 2014.

 

LIMA, Patrícia de Moraes. Didática e planejamento. Curitiba: Fael, 2013.

 

METZ, Maristela Cristina. PIENTA, Ana Cristina G.. Estágio supervisionado: da docência à gestão na educação básica. Faculdade Educacional da Lapa. Curitiba: Editora Fael, 2011.

 

VALLE, Luciana de Luca Dalla. Jogos, Recreação e Educação. Curitiba: Editora Fael, 2010.

 

________. Fundamentos da educação infantil. Curitiba: Editora Fael, 2010.

 

VIEIRA, José Guilherme Silva. Metodologia da pesquisa cientifica na prática. Curitiba: Editora Fael, 2011.

 

SANTOS, Elia Amaral do Carmo. JESUS, Basiliano do Carmo de. O lúdico no processo ensino-aprendizagem. Dissertação apresentada em 01/2010. Disponível na internet: http://need.unemat.br/4_forum/artigos/elia.pdf Acesso em 17-11-2014

 

SOMMERHALDER, Aline. ALVES, Fernando Donizete. Jogo e a educação da infância: muito prazer em aprender. Curitiba, PR: CRV, 2011.

 

ZYCH, Anizia Costa. Didática. Guarapuava: Ed. da Unicentro, 2010.

 

 

 

 

 

 

1Mestre em Educação pela UFPR. Especialista em Neuropsicologia. Especialista em Organização do Trabalho Pedagógico. Especialista em EaD e Novas Tecnologias. Autora e Editora de materiais didáticos. Pedagoga pela UFPR. Atua há mais de 10 anos na área educacional.

2 Processo pelo qual a criança modifica seu estágio mental em resposta de demandas externas. Por exemplo: sugar o dedo, agarrar e lançar objetos comportam um ajuste dos movimentos e das percepções aos próprios objetos.

3 É por meio do processo de assimilação que a criança incorpora elementos do mundo externo ao seu próprio esquema: à medida que o sujeito repete suas condutas (sugar, agarrar) ele incorpora os objetos de “sugar”, de “segurar” às ações em que essas condutas se tornam. (FRIEDMANN, 2012, p.28)