Reflexões de uma professora

Quando a sala de aula está vazia é que me sinto realizada. Feliz incoerência! Incompetência dos vocábulos que não explicam o que sinto quando a sala está cheia.
Até quando seremos reféns uns dos outros? Alunos e professores lutando por causas inúteis, saberem incompletos.
Não posso ensinar o que não aprendi. Não podem aprender o que não querem!
Seus saberes são outros... Interesses outros...
Os seus verbos indicam ações mais dinâmicas do que podem ser escritas em cadernos;
Seus adjetivos são verdadeiros, não são aqueles que a sociedade me empurrou goela abaixo e eu digeri completamente;
Suas histórias são reais, algumas tristes, outras ilusórias, provisórias... Próprias do momento juvenil. Suas histórias não estão nos livros, talvez nunca estejam.
São frutos de um mundo que muda muito mais que o balanço tectônico... Flutua... Navega... Esquenta... Inventa.
Não, eu não posso lhes ensinar o que não entendo, também sou vítima da racionalidade e dos sentimentos que me confundem!
Posso explicar-lhes como fazer uma conta, somar, dividir... Fácil! Mas jamais conseguirei fazer com que imaginem a euforia de Pitágoras, a genialidade de Einstein... não posso fazer com que sintam o aprendizado.
Nas amarras da organização que me cerca, posso ensinar-lhes que há hora para o intervalo e para ir ao banheiro. Posso? Não é muito atrevimento querer mudar suas biologias e ensinar-lhes que devem segurar suas bexigas... E suas bocas?!
Falam... Gritam... Riem... São crianças!Devemos dar sentido a tudo isso? Regrar todos os seus movimentos, erros, acertos... Anseios...
Ironia, inércia. Até quando?

Simone Fiorito / 2010
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