Qual é a proporção de amor e a de paixão na totalidade do sentimento pelo outro? Até quando podemos nos aproximar, durante a vida terrena, do amor puro e sublime, aquele de compreensão, de renúncia, aquele em que nenhuma atitude do outro pode nos abalar, mas sim provocar sentimento de misericórdia, compaixão, auxílio? Esse amor talvez não seja possível sem se conhecer o lado espiritual da vida. Do ponto de vista do Amor Supremo, não há mágoas e não há o que se perdoar, pois jamais nos sentimos ofendidos. Deve existir apenas... O Amor! Aqueles que não compartilham desse sentimento, terão dificuldade em compreender, perguntarão coisas sobre grosserias, traições, excessos.

 Acredito que o Amor transcende essas questões. O maior exemplo de Amor na Terra é o de uma mãe minimamente equilibrada para com seu filho. É algo semelhante a desejarmos incontestavelmente o crescimento moral e a felicidade do outro, a colaborarmos através de nossas elucidações e experiências, a darmos apoio e auxílio, a advertirmos sobre coisas irrelevantes ou má conduta, a renunciarmos ao nosso ego, às nossas (ilusórias) necessidades. A felicidade do outro passa a ser a nossa própria felicidade. Os nossos propósitos passam a ser edificantes de maneira conjunta. Crescemos e trazemos o outro conosco, e vice-versa. Ponhamo-nos no lugar de nossas mães. Agora estendamos esse sentimento ao Próximo. Finalmente vejamos o que ignoramos há 2012 anos. E sabe por que ignoramos? Porque falta começarmos por nós mesmos, amando-nos, perdoando-nos, cobrando-nos menos e libertando-nos gradativamente do egoísmo que nos assola.

 Mas não! Não queremos amar, não estamos prontos para isso. Ainda preferimos as interrogativas agressivas, as exigências massacrantes, em detrimento de uma boa conversa fundamentada com compaixão e auxílio. Ainda colocamos a nossa satisfação em primeiro lugar, não nos permitindo perceber a individualidade de cada um em seu percurso de vida e tampouco a inutilidade de explicações estorquidas. E mesmo que haja naturalidade e vontade própria nas explicações, por mais que o outro tente expor com grande esforço de detalhes, as palavras são falhas, a linguagem é pobre, de modo que não podemos entender exatamente o que se passa por ele, em todo o seu complexo íntimo no que tange questões fundamentais como: o estágio de compreensão e ignorância de si próprio, o nível de conhecimento e fé nas questões da Vida Maior, as necessidades e os desejos, a vontade de auto-aperfeiçoamento, os esforços de controle às más inclinações morais, os compromissos assumidos de cada um. Mais além, nós tendemos a enxergar o outro conforme aquilo que as nossas vivências, emoções, aspirações, compreensões, imperfeições nos permitem.

 Por exemplo, aquele que ainda não se dispõe a mudanças não é capaz de compreender o esforço daquele que tenta, persiste e que, em toda a sua imperfeição, está sujeito a quedas e oscilações durante o seu percurso. Portanto, não se demorará em julgá-lo e condená-lo quando houver tropeços.  Aquele que já desfruta de uma mentalidade mais elevada terá consciência de si próprio, olhará para si quando pensar em julgar, compreenderá humilde e resignadamente o quanto ainda tem por aprender, por se aperfeiçoar, e saberá reconhecer a dificuldade do outro, sendo-lhe fraterno e adquirindo conhecimentos no campo das experiências alheias.

 Então, passemos a exercitar a abnegação, a compreensão, a humildade, a sublimação do pensamento. Passemos a exercitar o desprendimento de ideias arcaicas e egoístas relacionadas às questões materiais. Abramos mão de alguns caprichos. Preocupemos mais com o bem comum. Isso é Amor.

 Não nos submetamos a comportamentos vis impostos por pressão social, por necessidade de sermos bem vistos segundo uma ótica distorcida despejada em nossas mentes dia após dia pelos veículos de comunicação, que nos incitam a sermos melhores que o outro - o que basicamente consiste em se ter melhores coisas, consumir e ostentar mais. Essa busca pelo poder é cruel, dilaceradora de almas, criadora de conflitos internos e externos arrasadores. Combatamos os nossos vícios. Lembremo-nos de que quanto mais criamos necessidades, mais insaciáveis ficamos, tornando-nos cada vez mais escravos dos excessos aos quais nos permitimos. Isso é uma infeliz prisão. Ao passo contrário, mais rico e feliz se torna quanto menos necessidades se tem.

 Isso não sou eu quem diz, mas vários exemplos de sábios Homens de Bem, aqueles que talvez já desfrutam a felicidade Suprema. Eu sou apenas um seguidor que imagino essa grandeza, conforme meu entendimento limitado e meus anseios em cada estágio da minha vida. Sou cheio de falhas, de influências, de vícios comportamentais, de resgates com o Próximo. Um clássico ser imperfeito! Mas o período de ignorância passou, minha consciência chegou mostrando-me as ruínas que eu causei em minha vida. Com ela veio perturbações, arrependimentos contínuos e dilaceradores, depressão, necessidade de mudança, resignação, atitude de mudança. O sofrimento nada mais é do que a inspiração para uma edificação sólida, benéfica e definitiva que cobrirá as incontáveis áreas vazias do nosso íntimo. Agora é trabalhar!

 Desejo felicidade a todos! Talvez eu trabalhe em prol disso, depende dos nossos cruzamentos em destino. Lembremo-nos sempre de que todos nós, como seres sociais, também somos "O Outro".