REFLEXÃO SOBRE A AVALIAÇÃO DOCENTE

Autoras

Isabel Cristina Corrêa Ribeiro

Maria Auxiliadora de Oliveira

(Professoras da Rede Municipal de Ensino)

 

Avaliação é um processo corriqueiro na vida das pessoas, em todas circunstâncias e momentos estamos avaliando tudo que acontece a nosso redor. O mesmo acontece nas organizações onde aparece a necessidade de avaliar os mais diferentes desempenhos — financeiros, operacional, técnico, humano (CHIAVENATO, 1999).

Em nosso dia a dia estamos sendo avaliados pelas nossas atitudes. Enquanto profissional uns são muitos observadores e justos que procuram analisar antes em todos os aspectos, outros, que são apenas os julgadores apenas analisam o gostar ou não de determinada pessoa, levam para o campo pessoal, pois vê esse momento de castigar e punir aqueles que o desagradaram.

Primeiramente precisamos compreender o que é avaliação de desempenho. Segundo Chiavenato, "a Avaliação de Desempenho é uma apreciação sistemática do desempenho de cada pessoa, em função das atividades que ela desempenha, das metas e resultados a serem alcançados e do seu potencial de desenvolvimento". Ou seja, é uma avaliação realizada mediante a qualidade de entrega de todo profissional dentro de uma organização.

A avaliação de professores ainda está longe de um modelo perfeito e para a compreensão de um sistema de avaliação, pois acreditamos ser necessário conhecer as questões teóricas que o fundamentam e as diferentes abordagens de uma avaliação e atribuição clara de todos os segmentos. Aqueles que vão escolher os critérios que contempla uma avaliação deve ter o bom senso de fazer isso de forma mais justas para se conhecer de fato um verdadeiro profissional, não os manipuladores que reduz apenas as questões técnicas. Desta forma, a avaliação do desempenho docente deve ser vista todas as concepções e visão de forma geral (mundo, escola, resultado...) não é o momento de punir esse docente que já sofre tanto com a carga de trabalho, com os problemas e dificuldades que essa classe tão desvalorizada enfrenta, muitas vezes suportando agressão de pais, alunos, implicância gratuita de gestores e técnicos que apenas levam em considerar apenas o ponto de vista de seus gestores, enfrentam ainda a falta de ética e valores dos que conduzem e de seus próprios colegas. Este é o cenário geral que apresenta esse momento tão angustiante que acontece quando chega o final de ano na vida profissional da carreira docente.

Segundo Fernandes (2006): [...] a avaliação de professores (...) poderá ser um meio importante de regulação, de amadurecimento, de credibilidade e de reconhecimento de uma classe profissional que, evidentemente, está perante um dos dilemas mais desafiadores com que se viu confrontada nos últimos 30 anos. (FERNANDES, 2006, p. 21).

É importante que a avaliação de professores passe a ser pensada por todos os segmentos envolvidos no processo para além de uma rotina burocrática e administrativa com pouca ou nenhuma influência no desempenho dos professores. A avaliação deve ser realizada através da observação direta do trabalho do professor e o seu desempenho não apenas ao burocrático ou as famosas “evidências” tão divulgada, essas evidencias deveria ser usada apenas para enriquecer o seu trabalho. Já ouvimos muito nos cursos de formação, “ou eu dou aula ou faço o registro, então escolho fazer o registro para garantir o meu emprego e a minha permanência na unidade que estou”, esta é a triste realidade que impera atualmente a educação.

Em anos anteriores ouvimos professores dizerem: “gabaritei o que eu não tinha inventei”. Virou uma FÁBRICA de evidências em que quando é dada a largada todos tem que sair correndo e juntar o que puder. É isso que é ter qualidade na educação?

As escolas precisam pensar na avaliação como um processo que só terá um real significado se todos os envolvidos estiverem participando e interessados em analisar e avaliar o trabalho que fazem, buscando-se ao contrário do clima de ameaça, que muitas vezes é cercado o processo de avaliação, que seja possível se desenvolver a ideia de colaboração, apoio e melhoria, não de punição para aqueles que não fazem tudo que mandam os seus “superiores”, enquanto que aqueles que fazem são privilegiados e beneficiando, pois não questionam, fazem de tudo, muitas vezes menos o que lhe compete fazer. Sabemos que essa não é a intenção da Secretaria, mas a má interpretação de seus gestores que fazem tudo desmoronar, as boas ideias devem ser também bem executadas, se não for assim perde o sentido.

A avaliação é um processo que pode contribuir para a compreensão e reflexão dos problemas que afetam o sistema educativo e, de algum modo, contribuir para a superação desses problemas. Alguns elementos apresentam como fundamentais para um processo de avaliação nos quais destacamos a transparência com a definição de critérios claros e simples, construídos e debatidos por todos, os avaliadores devem ser pessoas respeitadas, de confiança e o que vão avaliar seja uma constante também em sua prática, tendo noção no avaliar o que é realmente importante e por fim, ter clareza na utilidade que permitirá a melhora no desempenho e na qualidade do ensino e é fundamental a participação de todos os interessados no processo e a ética para um processo onde todos se sintam bem com os resultados da avaliação, para isso os gestores devem fazer as suas intervenções no decorrer do ano, não apenas aguardar o final para punir algo que ele não soube administrar, se for assim para que ter gestor em uma escola se este não sabe orientar ou conduzir o trabalho.

Passado o processo de avaliação de desempenho, pensa que acabou por aí? Não! vamos para a fase de somatória agora utilizam mais critérios para atribuição de aulas, outra corrida que aparece pessoas que você nem sabe que estava lotado na unidade da qual você faz parte. Aparecem pessoas que estão lotadas na Secretaria de Educação, que está em determinada unidade, mas que está lotada em outra, existe efetivos lotados em cima de efetivos. E aqueles que ali estão trabalhando, lutando pela aprendizagem de seus alunos correm o risco de ter que deslocar para um lugar distante, pois muitos que vem sabem que não vão ficar, pois apenas necessitam lotar. Sempre ouvimos o professor pertence à Rede não a determinada Unidade, mas também questionamos e aqueles que estão nas secretarias de educação há muitos anos e lutam também para não saírem dali? Então o correto é usar dois pesos e duas medidas para avaliar os seus profissionais?

Voltando, para atribuição de aula existem mais critérios, conta avaliação de desempenho, certificados, formação docente, anteriormente contava tempo na rede e na unidade e que hoje excluíram, pois quem está fora da unidade perde e quem está muito tempo na rede trabalhando acaba refletindo na desvalorização desse profissional. Concordamos que o critério na unidade não seja considerado, porque com essa dança das cadeiras, muitos ficam daqui pra lá, mas tempo de trabalho na rede é necessário. Diante disso não compensa você entrar mais cedo nessa profissão, apesar de pesquisas mostrarem que os professores na medida em que envelhecem se tornam melhores na profissão, mas quando entram com idade avançada a sua intenção muitas vezes é de garantir a sua aposentadoria e atinge outro critério que quando empata o que vale é maior idade, isso só é mais um fator a favor daqueles que entraram mais tarde. Isso é ser justo com os demais que estão na rede muito tempo? Será que dessa forma garante uma educação de qualidade? Se dependesse para se ter qualidade desse tipo de avaliação a educação não estaria o caos que está. Da forma que vem acontecendo só há prejuízo nas relações humanas, conflitos, desconfiança, quebra dos vínculos... Por que também não valorizar na atribuição aqueles que têm o trabalho reconhecido? Será que na educação não existe esse tipo de profissional?

Existem muitos profissionais que estão anos na educação e em sala de aula e por estar doentes ficaram em readaptação de função, que adoeceram no exercício da profissão e que muitas vezes faz muito mais pela escola e pelos alunos do que muitos que estão bem de saúde, mas muitas vezes esses ficam a margem por não ter mais a importância que tinha quando este não estava com a saúde tão abalada.

Um ambiente sadio é fruto das pessoas que nele estão inseridas, do relacionamento pessoal, do entrosamento, da motivação e da união de forças em prol de um objetivo comum: a realização do trabalho voltado para os nossos alunos e a comunidade na qual estamos inseridas. Com isso, podemos afirmar que a qualidade do ambiente de trabalho, exige integração, verdade, justiça entre todos os envolvidos de forma imparcial e uma avaliação real.

A avaliação da forma que vem acontecendo só gera desconforto e não reconhece o valor profissional, pois a forma que esta acontece não é a realidade, sendo que os professores que estão na escola são avaliados de uma forma, os que estão nas secretarias de outras, mas todos estão concorrendo à atribuição na escola. E ainda dizem que querem acabar com os contratos isso não tem muita lógica. O gestor, o líder, o administrador devem ficar atentos a aquilo que causam e aos efeitos que isso exerce sobre as pessoas, principalmente nos possíveis conflitos que podem ser provocados.

Para Bernadete Gatti, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC), essa é mesmo uma questão central. "Não dá para partir do pressuposto de que a mesma ideia de qualidade, com seus componentes, esteja claramente posta para as equipes escolares, ou no universo das redes de ensino e das instituições formadoras de educadores. Talvez um processo avaliativo de professores, de natureza mais qualitativa, tenha de se iniciar na escola por trocas coletivas e reflexões que permitam fazer emergir com clareza uma perspectiva minimamente com algum consenso", escreve Bernadete, em um artigo publicado recentemente na revista Avaliação Educacional, da FCC.

 Finalizamos ressaltando, que a avaliação de desempenho não deve ser utilizada como forma de punir o professor, mas de melhorar o desempenho e valorizar seus profissionais.