REFLETINDO SOBRE A INDISCIPLINA ESCOLAR

A escola é um lugar onde se encontram e se misturam membros de diferentes valores, experiências, concepções, culturas, crenças e relações sociais, fazendo do cotidiano escolar uma rica e complexa estrutura de conhecimentos. Por causa dessa heterogeneidade que permeia, a escola pode se confrontar com um quadro difuso de instabilidade, acarretando em relações difíceis e conflitantes.
Dentre essas relações conflitantes destaca-se a indisciplina escolar, que tem sido vivenciada de forma intensa e apontada como um dos principais alvos de discussões entre os profissionais da educação.
Tema polêmico, a indisciplina tornou-se um dos maiores obstáculos pedagógicos nos dias atuais, demonstra a ausência de regras e limites por parte dos alunos e é apontada como uma das principais causas da falta de aproveitamento escolar. Existem diversos fatores relacionados às condutas de indisciplina por parte dos alunos. Para GARCIA (1999, p.102):
As expressões de indisciplina tem sido relacionadas a fatores internos e externos a escola. Entre as razões internas estariam, por exemplo, as condições de ensino e aprendizagem, a natureza do currículo, as características dos alunos, aos modos de relacionamento estabelecidos entre alunos e professores, e o próprio sentido atrelado à escolarização. Entre os fatores externos destacam-se a violência social, a influência da mídia e o ambiente familiar dos alunos.

A educação é um processo educativo social onde há uma trama de relações e os principais atores são os professores e os alunos. O estudo da interação educativa é importante, pois sendo a educação um processo social, compreender e esclarecer esse processo são indispensáveis para o entendimento das relações que nele se estabelecem.
O educador precisa acreditar nos seus alunos, na educação e na força do coletivo, para que juntos possam crescer, viver, participar e transformar a sociedade a qual estão inseridos.
O pressuposto fundamental de qualquer trabalho educacional é acreditar que as coisas podem mudar. A educação nasce da e na esperança; se não confia na possibilidade de mudança de si mesmo, do outro, da realidade, seu trabalho carece de sentido. (VASCONCELLOS, 1998, p.94)

Temos a escola como uma instituição disciplinadora que tem o poder de dominar, levando a submissão. Porém, os fatos que estão presentes na escola nos apontam para outro aspecto, a resistência. Colaboram com esse aspecto os professores que se impõem e tentam manter a "ordem" da sala de aula através do grito, do conflito do poder, não permitindo participação ativa dos alunos, negando-lhes o direito do diálogo nas diversas questões que ocorrem dentro do contexto escolar.
Esse confronto do professor como autoridade frente a não obediência tem se tornado motivo de sérias preocupações e deixado o professor em desvantagem no que se refere à manutenção da disciplina na sala de aula.
O professor precisa ser visto como um mediador e não como único detentor do saber. Deve estar aberto ao dinamismo, ao diálogo, a novas propostas metodológicas e as intervenções dos alunos, sem perder, no entanto, seu prestígio frente aos educandos. O professor que age isoladamente como se fosse dono de todo conhecimento, distancia-se dos alunos e facilita para que aconteçam atos de indisciplina dentro da sua sala de aula. Alunos desmotivados, que manifestam repulsa pelos professores, passam há preencher o tempo com comportamentos inadequados e até agressivos como forma de manifestação ao desapontamento e a revolta com as atitudes tomadas pelo professor.
[...] a indisciplina não pode ser entendida de maneira estanque, como se fosse algo que dissesse respeito a este ou aquele envolvido com o processo. A disciplina, ao contrário, diz respeito a todos os envolvidos com a prática escolar e deve ser compreendida como algo necessário para atingir um fazer pedagógico coerente e eficaz, estando intimamente relacionada à forma como a escola organiza e desenvolve o seu trabalho. (FRANCO, 1986, p.13)

No quadro coevo de nossas escolas, nota-se a necessidade de um trabalho docente pautado na reciprocidade, na cooperação, na colaboração.
O professor, além de um educador, é um aprendiz. Deve desenvolver competências relacionadas a criar, estruturar, estimular situações de aprendizagem, promovendo a autoconfiança dos alunos em suas capacidades individuais.
Para tanto é indispensável que entre professor a aluno estabeleça-se uma forma de comunicação clara, objetiva e, sobretudo de confiança entre ambos. Somente dessa forma a aprendizagem terá significado e relevância na vida em sociedade dos alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como temos ciência, a escola de hoje enfrenta grande dificuldade para estabelecer normas aos alunos. Colocar limites ao comportamento do educando é de grande importância para o desenvolvimento da personalidade e para a formação da cidadania, pois a vida em sociedade pressupõe a criação e o cumprimento de regras e preceitos capazes de nortear as relações, possibilitar o diálogo, a cooperação e a troca entre membros desse grupo social. A escola, por sua vez, também precisa de regras e normas orientadoras do seu funcionamento e da convivência entre os diferentes membros que nela atuam. Cabe aos pais, num primeiro momento, a responsabilidade de conduzir a criança no sentido de obedecer às regras, mostrando a elas o porquê de obedecê-las e aos professores a continuidade ao incentivo da ordem, disciplina e obediência.
Porém, essa não é a realidade vista. Com o ritmo imposto pela sociedade capitalista, os pais quase não têm tempo para a educação dos filhos e transferem todo esse papel para a escola, que por sua vez não esta preparada para enfrentar a complexidade dos problemas atuais aos quais precisa intervir.
Isso faz com que a indisciplina escolar aumente significativamente a cada ano. Não é difícil ler uma reportagem cuja manchete relata um ato indisciplinar praticado por alunos. O que devemos compreender é que a indisciplina não apresenta uma causa única, ou mesmo principal. Atos de indisciplina costumam ter origem em um conjunto de causas diversas refletindo numa combinação complexa dessas causas.
No entanto, enquanto educadora, noto que a desestrutura familiar é a principal causa da indisciplina escolar. Acredito que a maioria das escolas não consegue os resultados esperados para suas intervenções, principalmente por falta do apoio familiar. Contudo apesar das barreiras existentes na questão do comportamento escolar é preciso ter perseverança e acreditar que o aluno indisciplinado pode mudar, basta que alguém acredite no seu potencial, descubra e trabalhe as causas que os fazem hostis.

REFERÊNCIAS
AQUINO, Júlio G., A Indisciplina e a Escola Atual. Rev Fac. Educ. v.24 n.2 São Paulo, 1998. Disponível em www.scielo.br. Acessado em 20/05/2010
AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na Escola: Alternativas teorias e práticas. São Paulo, SP: Editora Summus,1996.
FRANCO, Luiz Antônio Carvalho. Problemas de educação escolar. São Paulo, Cenafor.1986.
FREITAS, Eduardo de. Indisciplina escolar. Disponível em www.educador.brasilescola.com. Acessado em 19/04/2010.
GARCIA, Joe. Indisciplina na Escola: Uma reflexão Sobre a Dimensão Preventiva. Artigo publicado na Revista Paranaense de Desenvolvimento, n. 95, Curitiba, PR: 1999.
VASCONCELLOS, C. dos S. Para onde vai o Professor? São Paulo: Libertad, 1998.
WERNECK, Hamilton. O cotidiano da sala de aula. DVD