No final da década de 1970, registra-se uma significativa, estrutural e indelével transformação econômica mundial. É a reanimação do capitalismo, denominada Reestruturação Produtiva.

A automação rígida dos procedimentos para a produção e consumo em massa – características do modelo fordista-taylorista que especializa o trabalhador para executar apenas uma determinada tarefa em relação ao todo processual – está com os dias contados e começa a ser “atropelada” por uma nova modalidade tecnológica baseada na microeletrônica, na produção de incontáveis produtos divididos em um sem-número de diferentes lotes. Pratica-se, então, a automação flexível ou Reestruturação Flexível, na qual o trabalho em grupo e as parcerias são uma realidade; na qual a Acumulação é financeira e vetorizada para a estabilização econômica; e na qual a Regulação reflete a imagem do capitalismo através do espelho neoliberalista, que transfere ao mercado/burguesia o controle do trabalho, do emprego e dos salários.

A reestruturação produtiva é, portanto, um novo modelo de organização do trabalho, um novo regime de acumulação e um novo modo de regulação; iniciados pelo modelo tecnológico, processo que se origina ao final da década de 70, no século XX, substituindo a automação rígida.

A tecnologia do modelo de automação flexível é celular, eletrônica, que gera rendimentos ascendentes com menor produção quantitativa de mesmo produto, o quê permite produção diversificada, variada.

A organização do trabalho desvincula-se do modelo taylorista e passa a ser “repensada pelo avesso”, num novo paradigma: o dos sistemas japoneses de produção, como o Just-in-time que conta com a participação de fornecedores nos processos de produção e organização; como o controle estatístico de processos, realizado pelo próprio trabalhador enquanto produz; e como os círculos de controle de qualidade, envolvendo o operário na esquematização da produção, debatendo problemas e sugerindo soluções para uma qualidade total da manufatura. Nesse momento, a participação das entidades de classe é ofuscada pela presença de um operário polivalente e mais eficiente.

O regime de acumulação volta-se para o acúmulo de ativos financeiros por causa, também, da considerável redução de investimentos na produção devido a juros altos e deflação.

O modo de regulação, outrossim, pela amplitude do neoliberalismo – com a desestatização de empresas e a transferência da garantia da taxa de empregabilidade ao mercado – afeta o aspecto distributivo, reduzindo salários reais, num cenário de busca incessante pelo equilíbrio monetário. Observa-se que, na automação flexível, não há perfeito encaixe entre o modelo de acumulação e o modo de regulação, haja vista os confrontos sociais e ideológicos ao redor deste.

Entende-se, no entanto, que o capitalismo não morre; ao contrário, reformula-se, readapta-se, reestrutura-se e emerge do próprio líquido que o mantém, cada vez mais forte.


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