De maneira indubitável, o tema da redação do ENEM 2017 tem todos os motivos para se preparar para críticas, revoltas e para uma grande onda de preocupações também, tendo em vista que a nota da redação tem um peso significativo na média final do exame, e boa parte dos alunos não tinham um repertório sócio cultural aprofundado sobre a formação de surdos no Brasil - item cobrado na competência II da redação.Digo boa parte, porque uma pequena parcela de inscritos, como pedagogose/ou profissionais - que já devem ter visto sobre o assunto na grade curricular superior - e os próprios portadores da surdez devem ter se sentido mais confortáveis para discorrer sobre o assunto abordado.

Diante desse fato, é possível perceber que pela primeira vez na historia do Enem tivemos uma ausência enorme de equidade no quesito conhecimento, além de ter sido o tema mais específico da história. O que, de certa forma, prejudicou muitos vestibulandos, porque apesar de se tratar de minorias e de ser um assunto que deve sim ganhar reconhecimento no Brasil, sinceramente, ainda é muito maquiado, oculto, e isso justifica o fato de muitos não possuírem um conhecimento detalhado - o que é crucial- sobre o assunto e/ou e sobre políticas para surdos dentro das escolas ou até mesmo sobre uma proposta de intervenção, que também era cobrada no texto. Sabemos que a mudança de bancas responsáveis pelas correções e métodos de avaliação é uma questão que envolve diversos fatores: produtividade, financiamento e etc. Mas é imprescindível a "quebra" do ritmo nos "in- felizardos" que estreiam as novas bancas no seu ano letivo decisivo, porque sempre é uma surpresa, se não é no tema, é na avaliação de competências. Por esses motivos, a redação do Enem 2017 tem tudo para ser uma das mais criticadas. Acho ainda, que não por uma questão de prioridade, mas por uma questão de respeitocom o que o aluno vê durante o ano -porque sim, eles sabem- e até pra causar uma reflexão maior na sociedade, muitos outros temas deveriam ter tido a chance de serem abordados, como : obesidade, suicídio, homofobia. São problemas sociais de grande impacto, são mastigados? são, mas seria bem mais interessante se tivéssemos a certeza de que o Enem está mais preocupado em trazer alunos preparados e conscientes para faculdade, do que em tornar essa prova uma missão quase impossível para os jovens. É a visão que esse exame passa hoje para os estudantes. Em suma, em nenhum momento o tema "A dificuldade na formação de surdos no Brasil" é descartado e inútil, muito pelo contrário, é um tema que tem muita relevância. Os surdos são uma das minorias prejudicadas pela falta de assistência a sua deficiência, principalmente no ambiente escolar e no mercado de trabalho também. Porém, para uma prova, digamos que não foi sensato. Acredito que deveria ter tido uma avaliação mais ampla, que não escolhesse um caminho tão específico e, sinceramente, difícil, porque o tema exigia mais do que uma preocupação o próximo ou uma observação social. Exigia um conhecimento de funções, termos,políticas. Muitos estudantes confundiram-se com a questão dos sinônimos imperfeitos e suas diferenças de sentido. Conclui-se, portanto, que tal descontentamento com o tema escolhido tem em que se firmar, não é vago, é um fato. Não há tema mais ou menos importante, há a necessidade de um senso na elaboração, na decisão, porque é uma prova que precisa ser coerente e acessível do início ao fim. Acredito que com um pouco mais de visão social e compreensão sobre o publico alvo das provas -estudantes- logo surgirá um sistema de provas mais aceito e gradativamente, resultados mais justos e satisfatórios.

  PAULA BRANDÃO