Autora: Kelly Porto Ribeiro, Radialista graduada em Comunicação Social com ênfase em Rádio e TV pela Universidade Metodista de São Paulo.

 

 

 

 

 

REALITY SHOW: VERACIDADE OU SIMULAÇÃO?

 

 

 

 

 

O reality show é um gênero televisivo que mostra a vida cotidiana como espetáculo. Reflexo de nossa sociedade, em constante mudança, este tipo de programa é exposto sempre em primeira pessoa, ou seja, através dele conhecemos as alegrias e tristezas de cada um, seja em sua vida profissional, social ou familiar.

 

 

É aqui que cada um tem seus quinze minutos de fama; já não interessa tanto a vida da celebridade, mas sim a de certos desconhecidos, meros mortais assim como nós, telespectadores. De repente, descobrimos que as experiências daquele estranho, suas diversas formas de pensar, agir e reagir são semelhantes às nossas.

 

 

Daí é que vem então o fenômeno da identificação, o que faz todo e qualquer reality show ser um sucesso. Não haveria motivo algum para acompanharmos com tanta ansiedade e expectativas um programa que tratasse de mostrar apenas fatos cotidianos de pessoas que nunca vimos anteriormente...A menos que este programa nos permita identificar e compartilhar situações semelhantes às que vivemos diariamente.

 

 

O fato de ter a realidade mundana na tela da TV atrai muitas pessoas pelo simples fato de que, pela primeira vez, podemos assistir, no conforto de nossas casas, a luta pela sobrevivência em sociedade sem nos afetarmos diretamente. Há um tanto de sadismo talvez, mas principalmente a curiosidade em saber como o outro reagirá diante dos desafios cotidianos. É prazeroso ao ser humano ver as atitudes do outro e suas futuras consequências, podendo muitas vezes até inferir nestes resultados.

 

 

Há, portanto, um quê de onipotência, de sentir-se como Senhor do Destino de outro, mesmo que por apenas um momento. Colocar alguém no paredão do Big Brother pode ser algo surpreendente se analisarmos por esta ótica.

 

 

Por outro lado, nos sentimos como vítimas quando assumimos o personagem de algum “Brother” e vemos este sendo eliminado do programa; é tão frustrante como assistir a um filme e ter o personagem favorito morto por qualquer motivo banal.

 

A crítica divide-se entre “os que amam” e “os que odeiam”, apresentando muitas vezes uma posição radical e superficial a respeito deste gênero. Em relação ao conteúdo dos programas, a grande maioria concorda e admite que há uma grande vulgarização das relações humanas evidenciando-se na competição desmedida, muitas vezes sem motivo algum.

 

 

Um exemplo disto são as provas em que os participantes não possuem conhecimento do que exatamente está em jogo, qual é o prêmio. Sabem apenas que devem passar por situações constrangedoras ou prejudicar, de modo cruel, outro participante, simplesmente para obedecer as regras do jogo em questão. Se recusar a cumprir a tarefa sem sentido? Nem pensar, pois ninguém quer ser rotulado como fraco ou causar uma má impressão; afinal, mostrar sensibilidade ou solidariedade nestes casos pode ser motivo de eliminação ou demissão, no caso de O Aprendiz.

 

 

 Outro ponto de grande discussão é o limite entre realidade e encenação. É fato que nem tudo que se passa em um reality show é puramente verdadeiro. Qualquer programa de televisão possui um roteiro, por mais liberdade de improvisação que haja; faz parte, inclusive, a incrementação do roteiro com a inserção proposital de situações inusitadas, que certamente causarão certas confusões entre participantes.

 

 

O que poderá ocorrer, por exemplo, entre uma patricinha e uma funkeira? Ou entre um rapaz de academia narcisista, e um intelectual? No mínimo a divergência de ideias e comportamentos.

 

 

Mas o mais espantoso é que estes mesmo estereótipos revelam-se em outras personalidades ao longo do jogo/programa e isso desperta ainda mais o interesse do telespectador que acompanha aquele personagem desde o início.

 

 

Todos nós encarnamos personagens em nossas vidas; para cada situação ou pessoa temos uma persona diferente e não seria diferente no caso de um grupo de pessoas, cada qual com sua personalidade, confinadas em um único ambiente, cheio de câmeras de televisão, por mais de dois meses.

 

 

Ainda assim, há um fundo de realidade, afinal, não se pode produzir brigas e escândalos de forma tão orgânica quanto no Big Brother ou em A Fazenda. Seria preciso atores muitíssimo talentosos para desempenhar estes papeis com tamanha fidelidade à vida real.

 

 

Os palavrões, as discussões, as comemorações, o que há de pior (ou melhor) nos reality shows são reais, independente de terem sido premeditados pelos realizadores.

 

 

Partindo de uma análise reflexiva sobre tudo o que foi dito até agora, podemos concluir que o reality show engloba diversos elementos televisivos em um único formato: entretenimento, competição, dramaturgia e realidade são alguns deles. Isso demonstra um produto híbrido de sub gêneros como o drama, o documentário e o game show.

 

 

Talvez seja por isso que o gênero de reality show seja tão instigante, levando-nos a amá-lo ou odiá-lo. Independente das opiniões, o produto continua sendo de grande alcance popular, sendo visto por todas as classes e faixas etárias. Há quem aposte no fim do formato argumentando que as pessoas já se cansaram dos programas que um dia foram novidade; há outros que pensam em possíveis adaptações (já que o gênero deve refletir a sociedade e seu cotidiano, nada mais natural que ser reformulado frequentemente). O futuro dos realitys pode parecer incerto no momento, contudo o estudo deste gênero continua cada vez mais difundido, levando-nos a questionar o real motivo da fórmula de sucesso. 

 

 

 

 

  

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

 

 

 

MATEUS, Samuel. Reality Show – Uma Análise de Gênero. Revista Comunicando, v. 01, n.01, Dezembro. 2012.

 

MILLAN, Marília. Reality Shows - Uma Abordagem Psicossocial. Psicologia Ciência e Profissão, 2006.

 

BRASILINO, Luís. Reality Show: Mais Real do que se Gostaria. Le Monde Diplomatique Brasil, 1º março. 2013

 

VALENTE, Eduardo. Reality Shows: A Nova Dramaturgia Televisiva do Século XXI. Contracampo Revista de Cinema, ed. 100, abril. 2013

 

TAVARES, Marcus. Por que os Reality Shows Conquistam as Audiências? Observatório da Imprensa, ed. 582, 23 março. 2010