Este texto é parte integrante do livro a ser lançado, onde descreveremos a realidade vivicianda nas escolas públicas estaduais.

As Relações de Poder Presente na Escola

A partir da década de 1980, o Brasil vem sofrendo influências de um movimento internacional preocupado em redefinir as bases de exploração das classes trabalhadoras, seja através de novas formas de organização de trabalhos ou de tecnologias. Assim, é preciso repensar a organização do estado, do trabalhador e da própria escola para que corresponda aos novos anseios da sociedade.

A qualidade da escola, passa a interessar mais na medida que a sociedade necessita de trabalhadores com mais habilidades com capacidades de abstração, raciocínio matemático e outros.

Todas estas habilidades podem ser desenvolvidas na escola, mas não na escola enraizada no modelo tradicional como se encontra ainda a maioria, seja privada ou pública. Neste modelo de escola ainda prevalece a concepção bancária muito bem criticada por Freire (1998) o papel do educador:

“O educador, que aliena a ignorância, se mantem em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como processo de busca” ( FREIRE,1998, p.58).

 

O confronto com este modelo visa ao aparecimento de uma nova modalidade de educação que é temida pelo grupo que detém o poder, pois gera conscientização que leva a libertação.

A escola quando desencadear um processo de análise dos antagonismos que permeiam a sociedade capitalista esclarecendo a realidade social, estará trabalhando a favor da classe trabalhadora.Assim, cresce em direção a necessidade da população caminhar consciente da relação de poder que se construiu não só na sociedade, mas na própria escola precisando ser analisados e repensados no seu coletivo. Para Rezende :

“A opção por determinados encaminhamentos pedagógicos, conscientemente ou não, traz consigo os pressupostos que irão nortear os padrões de relação de poder do diretor, do vice, do orientador, do professor, como também do próprio aluno à revelia, inclusive do que esteja registrado, formalmente, em documentos, como planos de ensino, projetos pedagógicos e qualquer proposta pedagógica mais ampla”. (REZENDE,1995, P.3).

            Neste enfoque, é preciso fazer uma análise do projeto pedagógico, a valorização do aluno e do profissional da educação.

Ainda na mesma obra, o autor relata que o processo educativo de forma homogênea deixou de existir com o principio da divisão em classes na qual foi transformada a sociedade, reforçando o caráter escravagista que impunha o poder do homem sobre o homem, criando as duas classes os dominantes e os dominados.

            O mesmo poder que historicamente dividia a sociedade, continuou dividindo a educação e o ensino. Os métodos de ensino eram diferentes para as duas classes sociais, sendo que os trabalhos manuais eram o eixo das escolas da classe mais exploradas, porém pareciam nas escolas dos ricos como um exercício de se passar o tempo.

Na escola a relação de poder ainda é reducionista, apesar das formas de expressão, ainda prevalece á discussão ao autoritarismo que se percebe na transmissão de certos conteúdos e no currículo, os quais ainda são elaborados de forma linear. A cada série mudam-se apenas as dificuldades e incrementam-se outros para que o aluno construa seu saber de acordo com os conhecimentos que o professor possui nas várias áreas de ensino.

 Este conteúdo sempre deve estar de acordo com os parâmetros curriculares indicados pelo sistema que muitas vezes estão distantes de nossa realidade. Por outro lado, deve-se levar em consideração que alguns professores continuam usando a disciplina e o autoritarismo como fator  fundamental  para o processo de ensino aprendizagem.

            Focault [1]apud Rezende (1995) escreve dizendo que:

“(...) descrever o aparecimento dos saberes como normas disciplinares, capta a existência  deles como modelos do exercício do poder, diferentes ao poder do estado, ainda que a ele articulados. Analisa as formas de poder e coloca em destaque a necessidade de localizar os mecanismos de controle que estão ligados a cada papel, no caso do diretor, do especialista, do professor, do aluno  e ainda, de como esse micro poderes possuem uma especificidade marcada pelas histórias de cada um” (REZENDE,1995, p.148).

No contexto escolar ainda prevalece a hierarquia de poder que permeiam os que mandam e os que executam de maneira que interferem na prática pedagógica da escola, prevalecendo á ordem como fator primordial na educação. O diretor manda em todos, o supervisor coordena os professores e estes os alunos.

Um fator que sustenta o autoritarismo do professor é a reprodução de conteúdos sistematizados. Esta reprodução de poder dá ênfase apenas aos conteúdos de ensino, em que o aluno deve aprender e aprender sem direito de dialogar com o professor. Assim, o professor preocupa-se mais com o cognitivo do aluno, a direção e o corpo técnico preocupam-se mais com a maneira de como o professor repassa este conteúdo para que o aluno aprenda, moldando facilmente o tipo de aluno que a burguesia deseja. (REZENDE, 1995).

Procurando realizar uma análise do apogeu dos enfoques cognitivos no estudo do desenvolvimento humano, esta idéia de um ser humano fácil de se moldar e dirigir  a partir do exterior, foi paulatinamente substituída pela idéia de um ser humano que seleciona, interpreta e confere significações aos estímulos e configurações de estímulos.

Esta mudança, no campo da educação, veio contribuir para colocar em relevo métodos inadequados de ensino essencialmente expositivos que concebem o professor como transmissor e o aluno como receptor de conhecimentos, revitalizando as propostas pedagógicas auto - estruturante do aluno. Isto na atividade auto-iniciada e, sobretudo auto dirigida, o inicio necessário para a aprendizagem



[1] FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Rio de Janeiro:Vozes 1989