REALIDADE DURA, NUA E CRUA.

Fui resolver um assunto no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, mas especificamente num dos bairros mais conhecidos daquela região: Madureira.

Depois de tratar de algumas coisas, fiquei na calçada em frente ao estacionamento aguardando minha esposa. Eu estava na calçada do Mercadão de Madureira.

Para aqueles que não conhecem, trata-se de um enorme mercado popular, onde podemos encontrar dos mais variados artigos. Há nesse local muitas lojas de venda por atacado, e uma enorme quantidade de gente frequentando. Gente do povo. Guerreiros. Lutadores que compram por lá para depois vender por aí. Doces, artigos eletrônicos baratos (calculadoras, controles remotos etc), pequenos acessórios para automóveis, enfeites de mesa, brinquedinhos infantis enfim, tudo que o cidadão imaginar pode comprar nesse mercado (com uma pitada de exagero é claro).

Entretanto, o que me chamou a atenção nesse dia foi o que vi, diante de meus olhos, na calçada.

Chamou-me a atenção e comoveu o meu coração. Eram duas senhoras de pé, com suas enorme sacolas de plásticos pendurada de um lado do ombro e do outro lado, segurando seus materiais de venda. A mais nova deveria ter em torno de 45 anos, era bem morena, com um lenço na cabeça, sandálias "de dedo", pés sujos de poeira. A outra senhora tinha em torno de 55 anos, acho que mais um pouco. O aspecto muito parecido com a primeira. A mais nova vendia aparelho de barba descartável de plástico. A mais velha vendia folhas de "louro", tinha um ramo de folhas verdes nas mãos, dessas que se usam para tempero.

Fiquei ali por muito tempo, pois minha esposa demorou bastante. Como eu tinha esquecido o celular, não tinha contato com ela, por isso não poderia sair dali para não nos perdermos um do outro.

Pois então, já que eu fiquei "preso" ali, comecei a observar com mais atenção aquela situação. Passaram-se quase uma hora. Elas gritando o tempo todo: "Um real, um real, aparelho de barba, só um real...", e a outra: "Um real, louro um real...".
Comecei a ficar ansioso. Torcendo para que elas vendessem alguma coisa. Afinal eram já senhoras de idade, principalmente a que vendia "louro". Os pedestres passavam feito furacão. Nem tomavam conhecimento dessas pessoas ali lutando.
Eu também passaria feito furacão se não tivesse ficado ali "preso", aguardando minha esposa.
Mas dali tentei tirar uma lição. Aquelas pessoas com suas histórias de vida. O que será que elas fizeram na mocidade? Será que não plantaram uma boa semente para agora, nessa altura da vida, poderem ter um pouco de mais conforto e segurança? Ou será que alguma "catástrofe" foi que exterminou o que elas haviam construído e que agora, só lhes restava mesmo ficar por ali, tentando sobreviver?
Não dava para saber o que tinha se passado com elas, a não ser perguntando. É claro que não fiz isso.

Que lição então eu tirei daquela situação?

Bem, em primeiro lugar, é importante ressaltar que elas são guerreiras. Não se deixaram abater e, de algum jeito, estão tentando continuar vivendo. Ou sobrevivendo. Apesar de ser uma situação triste e desconfortável, serve de exemplo para aqueles mais jovens que tem preguiça de lutar pela vida e ainda vivem reclamando, porém não fazem nada para mudar sua condição.
Por outro lado, temos que pensar que o futuro vai chegar, queiram ou não queiram. Todos vamos envelhecer. Eu já estou a caminho. Portanto, é primordial que cada um esteja plantando uma boa semente para depois, poder colher com tranquilidade.

Temos que nos preparar para o dia da "enchente" ou do "terremoto". Não podemos fazer como uma música muito popular "deixe a vida me levar, vida leva eu". Nada disso. É de suma importância que pensemos no futuro.
Afinal, quem gostaria de, já com seus 55 anos estar vendendo louro na calçada de Madureira? Se tiver vendendo menos mal. O pior é que a senhora que vi, não vendia nada.

Pense nisso amigo leitor. Plante hoje para que não tenha que vender "louros" amanhã.

Paz e Sucesso,

SERGIO MATOS