ISSUES SURROUNDING THE ROLE OF TEXTUAL CRITICISM IN THE CONSTITUTION OF THE READERS'S EARLY TEXTS.

Prof. Dr. Pe. Pedro Paulo Alves dos Santos[1].

lattes.cnpq.br/7894524760054993.

Resumo:

O atual artigo visa expor brevemente, as questões críticas implicadas na leitura de textos antigos. Sobre os desafios e exigências colocadas diante da tarefa de reconstruir as condições de leitura de textos muito distantes de nossa visão de mundo, idioma e sociedade. Um discurso oriundo desde o Renascimento e que se impõe a partir do século XIX, com a maturação dos métodos histórico-críticos.

Abstract:

The current article aims to briefly explain the critical issues involved in reading ancient texts. About the challenges and demands on the task of rebuilding the conditions of very distant read texts of our vision of the world, language and society. A discourse coming from the Renaissance and that from the 19th century, with the maturing of the historical-critical methods.

Palavras-chave:

Critica textual – formação de leitores – teoria literária – Estudos de Filologia.

Key-Words:

Textual critical – Formation of the Readers – Literary Theory- Studies of Philology.

Qualquer edição crítica representa, sempre, uma tentativa de restauração de um texto, provisoriamente definitiva enquanto não surjam outras, naturalmente baseadas em novos achados ou em diferentes perspectivas metodológicas, que possam lançar novas luzes sobre o original (SPINA, 1977).

Este texto de Spina (1977) indica uma das tarefas mais agudas de leitores de textos antigos, produtos anteriores ao suporte da impressa no século XVI, que implicam na superação de diversos obstáculos à sua leitura fidedigna ('original').

O primeiro elemento reside no fato que textos antigos são transmitidos e conservados (reescritos) no tempo através da ação manual da cópia, da correção do escriba, do extravio ou a degradação do material, com a ação do meio (umidade, calor, insetos...) e do próprio decorrer do tempo. E, portanto, estes textos antigos são produtos sujeitos a interferências deformantes dos leitores pelos quais já passaram antes de nós. Sujeitos capazes de interferir na feição e na mensagem e na interpretação de texto que conservavam até o presente.

A ficção assim existe apenas na língua, muito embora esta existência 'impossível' conquanto "indispensável" seja constituída de um modo tal a tomar de empréstimo da língua ser caráter de realidade, para que não crie um análogo para a representabilidade daquilo que não cabe na língua (KUEHN, 1997, p. 332).

Segundo elemento, além da tecnologia do suporte (papiros e manuscritos), é a verificação da língua na qual foi escrito. Muitas desses línguas são idiomas mortos ou simplesmente arcaicos, normalmente inacessíveis ao leitor comum, sem erudição (DOS SANTOS, 2009).

Um terceiro aspecto reside no fato que textos são escritos em contextos sócio-culturais e religiosos não evidentes ao presente do leitor. A forma social que demandou esta produção cultural já não existe e não nos pode 'explicar' as motivações e significações daquele texto. Os destinatários estão mortos e estão aparentemente mudos em suas motivações, sentimentos, costumes, e cosmovisão, através das quais se podiam produzir e ler textos.

A recuperação do mundo no qual um texto antigo foi escrito depende então da habilidade do 'leitor' (pesquisador/filólogo/exegeta) em coletar dados que o próprio texto ofereça de seu 'quase mondo', de sua estrutura discursiva, de seu vocabulário, das possíveis descrições perpendiculares aí contidas.

Além disso, textos antigos, como qualquer produto da cultura humana inexistem no vácuo, mesmo para a imaginação do leitor que os reconstroem. Ao contrário, eles são sempre contextualizados. Ao mesmo tempo, eles também 'dialogam' (Bahktim, 1997) com outros sistemas de comunicação, a pintura, a escultura, a arquitetura, a arte em geral, isto quer dizer que textos existem na condição de 'sistemas' de textos e formas de comunicação social localizada (SCHMIDT, 1978).

Por isso, a leitura crítica de textos (antigos) exige uma rede interdisciplinar de saberes que associados, geram um sistema de 'interpretação' dos dados 'construídos' pelo leitor moderno e reinseridos no texto com finalidade de dar-lhe uma voz inteligível aos ouvidos do presente do leitor, e, que seja ao mesmo tempo, de certa maneira, fiel a si próprio.

É importante recordar que textos restaurados (editio critica) significam o acordo de uma 'comunidade acadêmica', uma forma de consenso científico, que de certa maneira estabelece o texto a partir de uma compreensão aceita como plausível naquele contexto interpretativo (FISH, 1998).

Na verdade uma civilização não produz textos isolados. Estes produtos da cultura material humana estão sempre inseridos num sistema de textos, num sistema estético-literário, no qual tornar-se viável e sujeito à verificação o sistema interpretativo que utilizamos ao ler-los, isto é, nós lemos de modo inteligível os textos, aí 'arquivados'. Tudo isso implica que o texto antigo, que se quer ler no presente, exige de certa forma 'uma tentativa de restauração'. Uma viagem às formas materiais do texto, às mais originárias (provavelmente) e tudo isso, em conjunto com as 'operações' de observadores de segundo grau, postura que assumimos nestas situações. (OLINTO, 2004).

Ler um texto (antigo) criticamente supõe, por isso, que ensejemos construir sistemas historiográficos hipotéticos, capazes de suportar a possibilidade de estabelecer, com um grau razoável de certeza, a 'integralidade' do texto e assim, o acesso à sua mensagem.

Um processo muito sofisticado e arriscado, pois não se trata da metodologia das ciências naturais, com sua ideologia de 'objetividade'

(...) o historiador, ciente do papel do imaginário na formação de qualquer texto, de sua natureza semiótica, não pode enfocá-lo como "fonte de dados" do qual seria capaz de haurir a informação sem nenhum obstáculo (…) as informações sobre eles passaram pelos complexos filtros da consciência dos autores ou compositores de textos e trazem a marca da consciência, indelével, mas nunca identificável sempre facilmente (GURIÊVITCH, 2003, p. 208).

Nunca é demais recordar que neste campo temos uma única certeza: as cópias com as quais lidamos se originam da 'difusão' (e dispersão) de um texto anterior (Spina chamou de 'o original'). E, só podemos reconhecer sua identidade, senão através da tradição manuscrita que a conservou (as chamadas 'lições' de um texto 'original). Como se através desta transmissão material pudéssemos reconstruir o 'DNA' (operação genética) da fonte originária destas cópias, que chegaram até nós, espalhadas no tempo e no espaço.

Outro aspecto importante apresentado por Spina (1977), ao afirmar que a identidade das reconstruções ou das restaurações de um texto antigo é 'provisoriamente definitiva', indica que as leituras estabelecidas por nós estão sempre sujeitas ao progresso de nossa própria compreensão (científica e ideológica) daquele universo no passado de referência do texto, que o explica ou ao menos o contextualiza.

O universo críticoconstrói uma hipótese de estabelecimento do texto como uma ação progressiva sustentável, na medida em que demonstra ser suficiente o aparato crítico utilizado na sua restauração, mas este mesmo instrumental que produz compreensão de textos antigos permanece sempre à espera de novos progressos reorientadores de nossas interpretações.

Iser (1996) chama este processo de 'tradição de leitura', que são elaborados através dos sucessivos 'atos de leitura' realizados na sua recepção. Mesmo porque textos serão reconstruídos somente na medida em que eles alimentarem a imaginaçãoinquisitiva e atual dos leitores, suas questões, em outras palavras, textos antigos ou respondem a perguntas feitas pela leitura presente ou emudecem e desaparecem no decorrer do tempo:

A literatura alcança neste ambiente uma atmosfera densa de perspectiva da construção do leitor e da obra infinita e misteriosa, mas ao mesmo tempo, no processo de leitura, seu formato é capaz criar uma dialética de transformação do horizonte de expectativa do leitor (DOS SANTOS, 2009, p. 4).

Referências Bibliográficas

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SPINA, Segismundo. Introdução à edótica. São Paulo: Cultrix, 1977.


[1] Mestre em Exegese - PIB - ROMA (1993). Doutor em Teologia Bíblica - PUG - ROMA (1997). Doutor em Letras (Estudos Literários) PUC - RIO (2006). Professor da Graduação e Pós na Faculdade de Letras - UNESA (Estácio de Sá) Coordenador Assistente da Letras/Unesa. Email: [email protected]; http://pepedropaulo.blogspot.com