A crescente onda de violência que assola nosso mundo, a falta de amor e caridade uns para com os outros. Não consigo compreender e mais ainda, aceitar racionalmente a maldade das pessoas. Não só a maldade violenta que atinge o físico, mas a maldade que atinge o psicológico das pessoas. Tantas pessoas que poderiam fazer o bem e praticar a caridade, tolerância diante ao semelhante. Esta palavra, semelhante, deveria ser levada muito em conta diante as situações em que a vida nos proporciona segundo nossas atitudes. A maldade praticada poderia ate mesmo ser evitada se refletíssemos o verdadeiro sentido de ser semelhante. O semelhante é o meu outro, é o meu próximo, é um como eu sou, um ser humano que também depende deste mundo para viver e sobreviver. O outro deve ser respeitado na sua totalidade como o eu deseja e quer ser respeitado em sua totalidade.

Poderíamos questionar também o sentido de ser caridoso ou complacente para com quem pratica o mal e a violência. Mas se todos nós tomássemos consciência de nossas atitudes maldosas, ou seja, de nossas iniquidades, provavelmente não existiria mais o mau em nosso meio. Não teríamos a preocupação em nos resguardar das maldades alheias e vindo contra nós. Como já disse antes e torno a afirmar, não poderia ser concebível que o bem gere o mau, se todos fossem bons, caridosos, tolerantes, talvez não fosse possível a presença do mau no ser humano. Precisamos ser estandartes da bondade no mundo, nossa imagem deveria radiar a paz como uma luz em meio às trevas. A bondade deve fluir de nosso ser como uma chama que aquece o frio da maldade. Neste calor de amor e fraternidade conseguiríamos reacender no mundo a chama que crepita em muitas das vezes timidamente nas trevas da maldade humana. Todos nós podemos ser sinais da bondade no mundo, podemos ser símbolos do bem e portadores desta bondade.

O ser humano na sua essência é bom, pois provem do bem e não do mal. "Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele" (1 Jo 4, 16). Somos criados para o bem, para amar, para praticar o que é bom. Somos filhos de Deus, sendo Deus o sumo bem não poderia cria ou gerar o mau.

[1] Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou.

Deus os abençoou e lhes disse: "Sede fecundos, multiplicai-vos..." Deus disse: "Eu vos dou todas as ervas que dão semente, que estão sobre toda a superfície da terra, e todas as árvores que dão frutos que dão semente: isso será vosso alimento. A todas as feras, a todas as aves do céu, a tudo que rasteja sobre a terra e que é animado de vida, eu dou como alimento toda a verdura das plantas e assim se fez". Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom.

Nós humanos podemos decidir o que queremos ser temos a oportunidade de escolha. A iniqüidade não poderia residir na bondade, nem a bondade ser fruto da iniqüidade. Seria como esperar que uma laranjeira dê maçãs e não laranjas, como seria o procedimento natural e correto segundo a natureza.

No meu livro "A felicidade em Sêneca como fim último do homem", expresso a infelicidade como uma escolha não acertada que contribui para as lamurias do mundo.

"[2]A infelicidade pode ser vista como uma escolha não acertada da vida, uma escolha que não foi refletida, não ponderada, e até mesmo quando nos foi dado oportunidade para tal. A miséria do mundo vista desta ótica nos leva a refletir sobre o que fizemos do mundo que habitamos e das pessoas ao nosso redor. A "fome" de justiça que tantos querem pode ser a resposta de uma vida desregrada mergulhada no sofrimento de escolhas de outras pessoas, das quais, em muitas das vezes, fazem o que querem sem o auxílio da razão."

Podemos traduzir neste caso, a infelicidade com o mau presente no ser humano. Não refiro ao mal como ausência ou deficiência, mas como já disse antes, o mau como uma iniqüidade. Nossas escolhas determinam nossas atitudes presentes. O passado já se foi, mas o que escolhemos agora é o que será depois, as conseqüências das escolhas que fazemos. Ser esta imagem e semelhança de Deus é trazer visivelmente em nossa vida às virtudes atribuídas a divindade. Claro que não na perfeição que é realmente, mas participar dessas virtudes. Creio que ser a imagem e semelhança Deus seria viver na bondade, no amor a todas as coisas criadas, reconhecendo-as como boas. Como podemos ser uma imagem de ódio, de maldades e depravação? Como poderíamos representar um cria dor perfeito com nossas iniqüidades? Não seriamos a imagem e semelhança de Deus, mas um rascunho da desolação e repugnâncias da natureza.

O ser humano esta sempre a procura de respostas para a vida, para os acontecimentos da via. Procura uma resposta filosófica para explicar o mundo, o tempo, o conhecimento e a origem de todas as coisas. Também procura na teologia a explicação acerca de Deus, tenta edificar a esperança, o sentido da vida e da morte. Busca responder a pergunta sobre o início e o fim de todas as coisas. Nesta trajetória do ser humano de buscar respostas, ele passa pelo conhecimento tentando criar uma verdade, ou ate mesmo chegar a uma verdade. Ele constrói e destrói, na tentativa de dá sentido a própria vida.

Quando se depara com as dificuldades, com a própria morte e sabe que foi possível responder a muitas dúvidas que carregou à vida toda, culpa o destino. Isto que costumeiramente chamamos de destino, seria mais uma vez uma criação do próprio homem para se explicar. Mas entre o então chamado destino e vontade, há muito o que se explicar. O que seria na realidade o caminho da verdade do homem, sua vontade ou a mera e fácil explicação de destino? A escolha do destino seria uma cura do vazio que não foi preenchido, o vazio de não ser humilde de se reconhecer culpado, incapaz e responsável pela sua história.

Nós somos capazes de escolhas, de produzir escolhas, de fazer escolhas e de determinar nossas escolhas. O destino não poderia ser a decisão de uma escolha feita pelo ser humano, visto que a escolha já é uma decisão tomada e determinada pelo próprio homem. Não seria possível a existência de um destino, o qual determine a vida humana e que em muitas vezes é pensado como algo que rege o mundo. Possivelmente poderíamos conceber um outro termo que foge de nosso controle, mas mesmo assim seria consequência de nossas ações e escolhas. Creio que seja possível a existência da fatalidade, isto sim seria o termo mais correto para nós tentarmos nos justificar em nossas falhas.

[3]Não existe destino. O futuro, deus colocou nas mãos do homem.

Deus traçou o plano, deu forças e inteligência ao homem para executar. Na verdade, não é bem exato dizer que criou o mundo. Ele o está criando com o trabalho do homem. Deus cria através do homem. O homem faz a história.

O determinante na verdade seriam as nossas escolhas. Em tudo que compete à vida nós podemos escolher. A escolha que fazemos é o que realmente determina a direçãoda história, tanto pessoal quanto sociocomunitário.

[4]Neste cenário suponhamos que, a escolha fica por conta da infelicidade, do desprezo e desvalorização do outro. Nisto podemos ver que não vem a ser uma fatalidade natural, ou seja, dizer que a desgraça é uma fatalidade que ocorre segundo a sorte. É notório que decorre da escolha humana, das ações do homem diante a vida do outro. Nestes casos a infelicidade pode ser produto gerado do ser humano, como se fosse um mal atraído pelo próprio ser. Tudo isso, produto de uma sociedade onde muitos são egoístas, pensam no lucro pessoal, na barganha e interesses escusos.

A partir das escolhas que fazemos tornamos a realidade em que vivemos o que ela é de fato. Se formos realmente senhores da história pelo fato de poder fazer escolhas, então, somos capazes de encontrar o sentido da própria vida. A pergunta para todo esse viver do ser humano, para toda busca que faz, seria a felicidade. No fundo de toda busca do ser humano seria a busca da própria felicidade. Tanto a busca do conhecimento, o sentido da vida, a origem e fim de todas as coisas, tudo passa pelo propósito de ser feliz. Encontrar Deus, explicar as realidades metafísicas, seria a busca da felicidade. Ate mesmo a própria busca de si, a tentativa de se encontrar com o eu desconhecido que muito interroga, seria a busca de ser feliz. Na realidade dos fatos o ser humano busca encontrar a verdadeira felicidade. A pergunta agora não poderia ser mais a origem das coisas, o conhecimento, o ser e o não ser, mas poderia ser: o que é e onde está a felicidade? A partir daí poderíamos chegar a um fim.


[1] BÍBLIA DE JERUSALÉM. "Gênesis". (Nova edição, 4º impressão, revisada e ampliada.) São Paulo: Paulus, 2006. Cápitulo 1, 27 ass.

[2] DA SILVA, Gilvan Lopes. A felicidade em Sêneca como fim último do homem. Ed Clube de Leitores, WWW.clubedeleitores.com.br. Brasília – DF, 2008.

[3] BONTTI, Mario. A vida tem a cor que você pinta! Ed Loyola, São Paulo, 1993.

[4] DA SILVA, Gilvan Lopes. A felicidade em Sêneca como fim último do homem. Ed Clube de Leitores, WWW.clubedeleitores.com.br. Brasília – DF, 2008.