A questão não é encontrar-se na multidão, nem perder-se em si mesmo. O que falta, afinal? Há uma única pergunta que poucos se preocupam em perguntar. Ela se esvaiu no passado, quando era moda se preocupar com os outros. Estão buscando o sentido da vida, cura de doenças, preservar a família, destruir estereótipos, quebrar paradigmas, não há talento que sobreviva, preso debaixo da selva urbana, de preconceitos e ódio. O universo é grande demais para apenas UMA opinião prevalecer. Deve haver mais por aí, deve haver mais para ser feito por outras coisas além do redondo do seu umbigo. Existe uma energia muito forte se aproximando, com a ventania que atravessa a minha sala, chutando minhas portas e quebrando minhas janelas. Não sei dizer se é boa ou ruim, mas não invadiria a minha zona de conforto por nenhuma razão. É preciso fazer mais do que rezar pelas pessoas. Fazer alguém feliz é mais do que misticismo, de qualquer espécie, não desmerecendo-o. Não há mais lógica perguntar para o universo ou para quem quer queira esteja ao seu redor, você não muda pessoas, comprometido com discursos seletivos, que considera apenas UMA verdade, a sua, como certa e indubitável, imagine só o que fazer com os hereges que ousam questioná-la.

 Desconstrua-se, uma ideia poética, que procura que você encontre nos fragmentos de si mesmo, as respostas para mudar-se.

 Questione-se, uma ideia teatral, que o instiga a voltar a perguntar a si mesmo, antes de questionar o mundo ao redor.

 E agora, o que resta? O mundo não mudou com a minha peça, nem com meus poemas. Mas será que eu mudei?

 “Não seja utópico, você não vai mudar o mundo”. O que você chama de mudar o mundo? Falar frases de efeito na internet e achar que no dia seguinte, todo mundo vai ter sua mente transformada. Criticar absolutamente tudo, todo um estilo de vida e um pensamento, dentro do qual fomos criados e fazemos parte ao propaga-lo, quase inconscientemente, nessa maldita virose social, que assumimos como “natural”, e proliferamos deliberadamente, de geração em geração, reproduzindo naturalmente pelo viés da tradição, tudo que colocamos em cheque com a contradição revolucionária, que quer apagar o mundo com uma borracha e recriar em seis dias, descansar no sétimo, sem sair da frente do computador. Desse jeito, seria sim uma puta utopia, mudar o mundo.

 Eu me questiono, agora me desconstruo, e chegar aqui e perceber que nada mudou, que migramos numa gradual e intensa luta de opiniões, um comportamento defensivo e violento, que insiste em comparar problemas, causas, situações. Achar que a diferença é caso de patologia a ser estudado pela ciência, e quando a ciência não souber responder, claramente, é um caso clássico de abominação divina, uma praga enviada por Deus para castigar os homens de bem. Uma distância cada vez menor, com figurino um pouco piorado, de um mundo dominado por reis e o clero, que privavam o conhecimento do povo, para que valesse apenas a ÚNICA verdade, a de Deus, preferencialmente, para os que sustentavam os luxos dos santos com Ouro e Safiras. Reis denominados por Deus (pela Igreja), para garantir que Deus mantivesse os homens controlados, acreditando na mesma verdade, nunca questionando o universo, muito menos, a si mesmo. É isso mesmo que vejo? E você acha ruim quando alguém acredita na versão menos utópica de mudar o mundo? Por que? Sei que retrô e vintage são moda, mas será que realmente queremos retroceder o progresso da humanidade dessa forma?

 E quando eu cansar de rezar, para obter as respostas? Quando eu perceber que rezar não tem feito muita coisa para mudar o mundo? Quando parecer que, de acordo com nossos “profetas”, esse Deus é provavelmente a grande causa de tudo que tem dado errado? Guerras, mortes, ódio e revolta. O medo daquela época era que o acesso ao conhecimento provesse, não as respostas, mas as perguntas.

 E eu não tenho mais perguntas, apenas uma, uma apenas, que compreende tudo pelo que atravessei até chegar aqui. Não tenho tanta certeza se me sinto honrada, como um membro mais forte da linha evolutiva, que sobreviveu, ou terrivelmente egoísta, por ter deixado tantos pra trás, para morrerem enquanto eu conseguia sobreviver. Não consigo compreender essa necessidade tão grande de manter o padrão, exterminando, qualquer coisa que seja diferente e possa distinguir no meio da homogênea criação social, dinheiro (deus) nos livre de permitir a ascensão de seres inferiores na pirâmide hierárquica, que rege todo esse espetáculo circense que já nos acostumamos. Imagine só, que absurdo seria não haver a pirâmide, se todos estivessem sobre o mesmo patamar, cada um de uma cor, de uma forma, sem comparações de melhor, pior, mais bonito ou feio, sem essas malditas necessárias contradições sociais, que também não sei porque inventaram. Imagina que loucura seria, se invés de sentirmos medo um dos outros, pudéssemos andar na rua, a hora que fosse, cuidássemos uns dos outros, nos protegêssemos, evoluíssemos juntos, uns com ajuda dos outros, sem ninguém ficar pra trás.

 Realmente parece loucura acreditar nessa utópica ideia de mudar o mundo. E parece que muitos morreram tentando, mas pelo visto, nem todos os corajosos estão dispostos a honrar a morte, e se sacrificar e prol dos demais. São os inocentes que tem virado mártires, e nem sequer são considerados, porque só os heróis fazem história. E quem afinal são os heróis? Quem está lá em cima, na pirâmide, tão preocupado em ficar lá em cima, que o máximo que olha para baixo é para chutar qualquer um da cega multidão homogênea que tenta subir ou para observar se há algo manchando a homogeneidade, ordenando que seja liquidado, imediatamente, para não corromper o padrão?

 Será que eu poderia ser herói se eu me descontruísse, se eu me questionasse, se eu conseguisse salvar a mim mesmo de sufocar na homogeneidade ou de ser esmagado na base da pirâmide? Será que eu seria capaz de me transformar por um mundo melhor?  Será que eu daria minha vida para salvar alguém? Será que eu sacrificaria minha vida em prol dos demais?

 São muitas perguntas. Mas no momento não procuro a resposta pra nenhuma delas. Apenas uma, uma pergunta, eu tenho sentido tanta falta, ultimamente, ao ver meus amigos morrerem sem nunca saber a resposta. Atualmente, me contentaria apenas se eu conseguisse encontrar essa resposta dentro de mim mesma, porque preciso encontrar em mim, só pra quando falarem “utopia” ou “loucura”, não soar como um impedimento, e sim como uma realidade distante, que eventualmente, vou alcançar. Das muitas verdades que existem, e tantas diferenças e tantas coisas acontecendo, eu só queria saber CADÊ O AMOR?

16/09/2014