Nos dias que correm muito se fala em alteridade. Mas afinal, quem são esses alter egos,

Os outros. Por mais importantes que sejam para nós, eles serão sempre os outros, os que não somos nós, mais propriamente, os que não são eu. Existe entre mim e eles a diferença de tudo o que eu não sou.

Um abismo limitado por muitas peles; a minha e todas as outras que nos limitam fisicamente, e contudo sempre tangíveis mesmo que a maior distância nos separe. É que: como diz o poeta… e com razão, “o que nos une é muito mais do que aquilo que nos separa”.

Separa-nos a distância física; Os próprios corpos que nos limitam e a que chamamos nossos. …Une-nos o pensamento, através dos mesmos átomos de que se compõe o universo e que preenchem os espaços a que vulgarmente chamamos vazios.

Nos outros, somos prolongamentos de nós mesmos, e quando se referem a nós, invertem-se os papéis; passamos a ser os outros… como se trocassem de identidade connosco. Temporariamente eu sou o outro e o outro é eu. Somos o que somos dependendo do lado do espelho em que nos encontramos.

Paradoxal?

Não! Creio que não. Só que a verdade, mesmo sobre as coisas mais difíceis é por vezes tão simples que nos custa acreditar nela.

Não responderemos claramente a esta questão enquanto não dissermos quem somos, o que não é nada fácil, pois geralmente somos os nossos piores comentadores.

A maior parte de nós parece confundir quem é com quem gostaria de ser, ou talvez, quem sabe, o problema seja apenas o de não saberem distinguir quando são eus e quando são outros e por isso ao tentarem dizer quem são, pouco mais fazem do que mentir. Se um dos seus amigos mais íntimos, alguém que lhes fosse realmente próximo, ouvisse sem os estar a ver, as declarações que fazem de si próprios, e tivesse depois que os encontrar tendo por base unicamente o que disseram. Procurá-los-ia em vão eternamente mesmo que se cruzasse com eles todos os dias.