“Quem nasceu pra tostão, nunca chega a dez réis”

*Lourenço Nisticò Sanches

Réis é o nome dado aos múltiplos do antigo Real Português (também conhecido por réil), moeda que circulou na Dinastia de Avis. Essas moedas circularam em Portugal durante todo o período entre Dom João IV e Dom Manuel II, só sendo substituídas pelo Escudo e seus Centavos no surgimento da República Portuguesa. 

10 réis – equivalente a um centavo – Era uma moeda que chegou a valer alguma coisa lá pelo século XVII, mas que também só servia para troco, a ponto de se ter o ditado "Quem nasce para 10 réis nunca chega a vintém". 

100 réis - 10 centavos -  Chamado popularmente de “Tostão cheio” - Moeda que foi colocada em circulação no Século XIX.

No Brasil, essa moeda circulou todo o período do "Império" e durante a República até que o governo de Getúlio Vargas resolveu substituir os Réis pelo Cruzeiro Antigo. 

Uma das moedas que mais caíram ao gosto do povo foi o tostão. Deve-se isso ao fato de que naquele tempo a inflação era praticamente inexistente com o valor do dinheiro permanecendo inalterado. O tostão chegou mesmo a identificar alguns objetos e "formas de dizer". O pão francês era chamado de pão de tostão, e assim é chamado ainda em muitas cidades do interior. É costume também se pedir: "um tostão de limpeza", quando quer uma limpeza em regra. Fala-se também: "é muita banana para um tostão só", quando se quer dizer que é uma mentira muito grande ou uma coisa é muito barata. Um dos ditados mais comuns em todo o Brasil é o afamado: "Quem nasceu pra tostão, nunca chega a dez réis". 

Ah..., quanta saudade de um mundo tendo um modelo de economia (e de vida...) que proporcionava a segurança do mercado de trabalho pleno e não a dependência temporária de "planos assistenciais - ou eleitoreiros", como queiram, para a população, e que a “modernidade” (ou seria modernismo ?)  com “avanço” (será mesmo ?) dos meios produtivos e do comércio internacional – com tão acirrada quanto aética competição em escala global – já não mais permitem. Os valores – se é que assim podem ser chamados, eram outros..., mais substantivos e menos adjetivos...! 

Diria mesmo que essa era foi substituída pelo malefício do estresse físico e mental provocado ao ser humano, impondo-lhe regras e um motus vivendi regido pelo consumismo desenfreado de bens materiais - muitos dos quais cabe-lhes a pergunta: “qual a verdadeira utilidade dessa engenhoca, além da futilidade de um pretenso status social ?” Substitui-se o concreto e o definitivo pelo efêmero, enganoso e abstrato. 

Verifica-se que o próprio conceito de família – lato senso – cedeu lugar a um arremedo de uniões onde interesses fugazes e subalternos prevalecem, tomando lugar a uma instituição sagrada e que é base para o desenvolvimento da humanidade; naturalmente não nos referimos apenas à matéria – esta que é efêmera, por si só, mas sim à eternidade da alma.

Tempos modernos... 

O magistral Charles Chaplin, já em 1936 anteviu e eternizou, com seu personagem “Carlitos”, essa verdadeira pantomima hoje observada por meio de sua obra cinematográfica intitulada: “Modern Times” - “Tempos Modernos”. 

Em nome desse “progresso” – inegável em muitos setores - especialmente científicos e tecnológicos - e aspectos, mas totalmente aleijado em sua substância quando voltada ao perene – comprometemos a qualidade de vida, nossa e do planeta, transmitindo um triste legado aos que hão de nos substituir – tanto materialmente quanto à moral e à imprescindível saúde psicológica da mente. “O fim justificam os meios” – tal é o paradigma que tristemente dissemina-se qual metástase em nossa sociedade hodierna... Basta ler as manchetes dos jornais e fazermos uma singela avaliação da maioria dos governos. Afinal qual é "o fim" que se busca senão a conquista da felicidade ? E não é na pureza e na simplicidade dos sentimentos e das ações que iremos encontrá-la ? 

Junto a alguns “dinossauros defensores dos bons costumes, da moral e da ética”, cá e acolá, questiona-se:

Será que, porventura, existe consciência geral dessa realidade que vivemos atualmente...? Do desvio em que nos embrenhamos ? 

Havemos de refletir muito sobre tudo isso e agir rapidamente para corrigirmos nosso rumo..., ou então seremos, impotentes, coagidos a assumir definitivamente o futuro (de todos nós, e dos que nos sucederem!) sendo pautado pelo antigo dito “Quem nasceu pra tostão, nunca chega a dez réis”... 

*Lourenço Nisticò Sanches – Marketing Adviser – Pesquisador, Cronista e Ensaísta. 

31 de outubro de 2011