"QUEM CONTA UM CONTO AUMENTA UM PONTO"


O Grupo "Dimenti" tem a honra de nos apresentar o espetáculo "Chá de Cogumelo" que, em sua belíssima e desconcertante história, nos revela um novo olhar sobre o reino encantado, mostrando que este não é tão inócuo assim. O espetáculo narra, de maneira bem humorada, o encontro de alguns dos principais personagens dos nossos clássicos infantis.
Apresentam-se para compor a FLORESTA: Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, Rapunzel, A Bela Adormecida, Branca de Neve, a Bruxa, é claro, dentre outros. Tais personagens são desconstruídos, de uma forma dinâmica e divertida, revelando uma leitura pós-moderna vivida nas performances dos atores do "Dimenti".
Os perfis, psicológico e emocional, dos personagens são perfeitamente questionáveis. Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, não há nada de inocente nela, mais parece uma feminista de "carteirinha" do que com uma criança de oito anos de idade. Seu discurso se apresenta livre de qualquer dominação, principalmente do Lobo Mau. Sem mencionar seu hábito de fumar e um vocabulário ambíguo.
Maria, da história "João e Maria", é altamente moderna e dona de si e, diga-se de passagem, do irmão também, substitui o velho método das migalhas por um celular, bip e Walkie-Talkie. A fada e o príncipe também não são nada tradicionais. Ela cheia de gírias, ele uma decepção. Enfim, cada personagem tem sua personalidade reinventada que ganha admirável beleza encenada pelos profissionais desse grupo.
Nesse sentido, vale à pena ressaltar a capacidade cênica dos atores que arrebata o público na medida em que aparecem travestidos de diferentes personagens, permitindo ao espectador diferenciar cada um deles. E aqui, permita-nos destacar a linda performance da atriz Vanessa Melo, no papel de Branca de Neve, que se apresenta com uma beleza ímpar e incansável que dá gosto de ver. São cenas como esta que possibilitam a construção do gosto por uma cultura artística, tão discutida por Flávio Desgranges em seu livro "A Pedagogia do espectador".
Com muito humor, o grupo consegue amarrar todas as histórias em uma só, trazendo à tona algumas discussões contemporâneas como cultura de massa, papéis sociais e gênero, e isso não é feito de maneira enrijecida, imperativa, mas aberta, possibilitando ao espectador elaborar seus próprios significados. Porque "mais do que falar e preencher, o texto ouve e silencia, para que a voz do seu parceiro, o leitor, possa ocupar espaços". (PALO e OLIVEIRA, 2006, p.14)
O espetáculo nos surpreende com tanta criatividade e proposições cênicas o que mantêm um ritmo sempre ascendente dessa obra teatral, de modo que não cansa, nem fatiga o espectador. Coloca o mundo da mágica e da fantasia de "cabeça para baixo" e transforma o que parecia uma simples paródia em um novo e fantástico conto de fadas, o "Chá de Cogumelo".