Micheline Odorizzi Paschoa

Profº Dr. Marcos Jerônimo de Araújo

Pós-Graduação AUPEX/ FACEL- História- Cultural- Disciplina de História Cultural

Texto base estudado:

ARAÚJO, Marcos Jerônimo. Quebras de Paradigmas Culturais. História Cultural. Desconstrução. Apresentação na disciplina História Cultural. Curso de Especialização em História. 2010. Disponibilizado por:< [email protected] >. Acesso em: mar. 2010.

1 INTRODUÇÃO

Considerando os aspectos que envolvem a cultura e baseado no texto proposto, buscou-se através desta resenha demonstrar o entendimento pessoal em relação ao conteúdo abordado: Desconstrução da História Cultural.

Complementarmente, visando à compreensão dos conceitos de cultura apresentados pelos autores mencionados no texto-base, foram estudados alguns dos paradigmas que os envolvem, assim como as consequências da quebra dos mesmos.

2 CONCEITO DE CULTURA

De acordo com a proposta de pensamento apresentada no texto de História Cultural, a cultura pode ser entendida como um complexo de realizações de um povo tanto nos aspectos materiais quanto nos espirituais, relacionados com a humanidade em determinado tempo e local.

A cultura compreende também os conhecimentos apreendidos e o comportamento humano. Habilidades as quais independem da questão biológica (Tylor, apud Silva e Silva).

A questão cultural deve ser entendida de forma Holística, ou seja, devem ser consideradas todas as inter-relações dos componentes do meio onde o indivíduo e a sua cultura estão inseridos, em pleno acordo com o pensamento Platônico "Todo homem é um ser social, cultural e político." (PLATÃO, sem data).

Entre as teorias de caráter eurocêntrico, das quais somos frutos, é possível perceber a influência darwinista ligada estritamente ao caráter evolucionista, pois seus defensores pregavam uma escala de evolução cultural, com etapas a serem cumpridas ao longo do tempo, de maneira a alcançar determinado avanço.

A quebra ou desconstrução deste conceito mais generalista, de acordo com Boas citado no texto-base (ARAÚJO, 2010), decorre do fato de que "toda cultura tem uma história própria", ou seja, cada povo, tribo, ou grupo social, entre outros, tem sua forma particular de cultura que não pode ou deve ser comparada com outras culturas.

O pensamento de Boas neste tópico demonstra a quebra de conceitos culturais aceitos até então, de uma cultura uniforme, sem contornos. Como exemplo pode-se mencionar o senso comum que utiliza a palavra cultura de forma equivocada "aquela cultura é menos avançada".

O que nos remete de certa forma ao que Leonardo Boff menciona sobre "todo ponto de vista é a vista do ponto [...] a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha." (BOFF, 1997, p.9)

Outro autor citado no texto base é Alfredo Bosi que nos remete a outra forma de definir a cultura a partir da lingüística, abrindo um leque de possibilidades e dimensões já que o sentido total pode ser compreendido de formas diferentes, ligados essencialmente ao cotidiano e as relações empreendidas no mesmo.

As reflexões seguintes, de liberdade, sobre quem somos e o que somos, o mundo real e ideal, o mundo mágico, o abstrato das facilidades, dos sonhos e utopias, da loucura, do "ter" são ligados essencialmente à condição humana e social que vivenciamos.

Se analisarmos pelo sentido social e político, estaremos abrangendo o sistema o qual estamos incondicionalmente vinculados e atrelados de forma que não podemos nos libertar. Quanto ao mundo ideal e real é comum mencionarmos um mundo ideal e não relatarmos o real, uma tentativa efêmera de burlar os problemas cotidianos. O mundo mágico é uma forma de entender ou melhor compreender aquilo que foge a nossa analise; sonhar não nos custa nada não é? Do "ter" valorização social, ou seja, buscar o equilíbrio entre o "ter" em detrimento do "ser", comum na sociedade.

Por outro lado, deve-se considerar os efeitos da cultura de "olhar de dentro para fora" (aculturação) pois estamos sempre mergulhados dentro da nossa cultura. Assim, ao realizar o caminho inverso, ou seja desconstruírmos a cultura podemos verificar a ressonância da diversidade cultural.

Ao analisar situações complexas ao nosso modo culturalmente construído de ver as coisas, é possível cometer erros de percepção e julgamento. Como exemplo disso temos o eurocentrismo europeu. De acordo com Oliva (2007), os europeus escreviam, avaliavam a tudo e a todos de acordo com sua experiência de vida e de desenvolvimento, desvalorizando as demais culturas e podendo até as deturpar.

A educação segundo texto é o acumulo de conhecimentos historicamente construídos acumulados e absorvidos, vinculados a métodos, um caminho de liberdade social, já que a mesma deveria ser laica conforme nos garante a constituição, mas é vinculada estritamente ao estado, sendo que este utiliza a mesma como aparelho ideológico, assim como a "família, escola, igreja e a policia" segundo Athusser mencionado neste texto:

Acreditamos portanto ter boas razoes para afirmar que, por trás dos jogos de seu aparelho ideológico de Estado político, que ocupava em primeiro plano do palco, a burguesia estabeleceu como seu aparelho de estado nº 1, e portanto dominante, o aparelho escolar, que na realidade, substitui o antigo aparelho ideológico de estado dominante, a igreja em suas funções. Podemos acrescentar: o par escola-família. (ATHUSSER, L. Aparelhos Ideológicos do Estado, 2010)

De acordo com as concepções de Athusser, percebemos a função reguladora do Estado enquanto máquina ideológica vinculada à burguesia e em prol da mesma. De forma a garantir esta manipulação, o estado atuará dificultando ou melhor impossibilitando ao individuo qualquer forma de autonomia. Isto certamente vem de encontro com as idéias de Marcuse (também citado neste texto-base) em relação a domínio burguês e suas regras preestabelecidas quando afirma que uma sociedade esta doente quando suas instituições e suas relações básicas não permitem o desenvolvimento ideal de seus indivíduos. Esta idéia refere-se à impossibilidade de se desvincular das regras estabelecidas permitindo ao individuo ações previamente controladas quanto ao emprego, educação, qualidade de vida, saúde, ascensão social, entre outros. Adhorno e Horkheiner (ambos citados no texto) mencionam uma indústria cultural, na qual os indivíduos são tolerados, desde que não haja qualquer forma de questionamento. Demonstrando um intenso processo de desumanização, atrelado ao poder econômico, pelo qual se justificam certas atitudes e valorização e desvalorização do individuo ou seja, a condição social, favorece um indivíduo em detrimento ao outro.

3 CONCLUSÃO

É possível concluir que diante das situações apresentadas neste texto-base e nos demais autores consultados que a cultura, a principio impregnada de conceito de uniformidade, desmorona diante da contestação de alguns estudiosos pioneiros. Disto resultando a quebra de paradigmas e adicionalmente possibilitando a visão de um novo conceito. Esta nova forma de pensar nos permite a libertação de certas concepções preestabelecidas socialmente.

O caminho no entanto seria baseado numa educação laica sem vínculos com o Estado, priorizando o conhecimento cientifico voltado a crescimento social e humano. Porém, sabemos que tanto a burguesia quanto ao Estado que a representa não tem interesse em mudanças efetivas. Então cultivam atuam no sentido de manter um total desinteresse de seus indivíduos através dos aparelhos ideológicos, como no caso da mídia, entre outros. Este desinteresse acontece também pelos educadores que não tomam a frente de sua função, a de educadores.

A quebra de um paradigma nasce dos questionamentos humanos, quanto à liberdade - por que somos e o que somos?- e neste ponto a escola exerce um papel fundamental no desenvolvimento da visão crítica dos estudantes, rompendo com as ideias que a mídia procura induzir em suas mentes.

Este rompimento envolve a negação de ideias previamente aceitas e estabelecidas na forma de regras. Ele deve ir além, através do rompimento destas regras. Porém, existe a necessidade de serem estabelecidos novos padrões de conduta e novas regras, uma nova realidade. Nisto o professor poderá atuar como mediador e orientar seus estudantes no processo de entendimento necessário para a construção da história cultural e das consequências de sua desconstrução.

4 REFERÊNCIAS

AHUSSER, L. Aparelhos ideológicos do Estado. Disponível em: < http://www.pt.shvoong.com/social-sciences/1687-aparelhos-deol%c3%B3gicos-estado/ > Acesso em: 24 Fev. 2010.

ARAUJO, Marcos Jerônimo de. Texto de Historia Cultural: Quebras de Paradigmas. Texto do Autor: Joinville. 2010.

BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis: R. J.: Vozes,1997. p.9.

PLATÃO. A república. 2ª ed. São Paulo: Escala. (sem data).

OLIVA, Anderson Ribeiro. Lições sobre a África: diálogos entre as representações dos africanos no imaginário Ocidental e o ensino de História da África e do mundo Atlântico (1990-2005) Tese (doutorado). Brasília: Universidade de Brasília, 2007, 404 p.