Que país é esse?

Que país é este, já falava a música do Legião Urbana.

 Que país é este onde a cultura está enraizada nas veias da população, onde as pessoas desde criança aprendem a respeitar e participar da arte, onde os pais levam seus filhos ao teatro.

 Que pais é este onde as famílias vão aos sábados à noite tentar uma vaga em um espetáculo já lotado, por um espaço mesmo que seja desfavorável para ver aquela arte tão pura e presente, onde vão sentir a energia e a força dos atores.

 Que país é este onde as famílias vão aos diversos museus para apreciar belíssimas obras de arte, onde seus filhos mesmo sem um vocabulário perfeito já sabem que Van Gogh é estranho, Rodin aparece em vários desenhos animados com sua obra O Pensador, que Da Vince não era apenas pintor, e que todos esses eram e são muito importantes para a história da humanidade.

Que país é esse em que as literaturas são comumente livros de cabeceiras, que as filas nas livrarias são imensas, sempre que é lançado uma nova obra, que os autores são quase que semideuses e que seus livros são adorados e devorados pela população, suas estantes abarrotadas de livros e suas mentes transbordando de conhecimento, onde a leitura de jornais e revistas são comuns como tomar um café, as sessões de política, economia, e empreendedorismo são tão lidas quanto a de entretenimento.

 Que pais é este onde os filmes artes são tão vistos quanto uma grande produção hollywoodiana, e o diretor Woody Alen é tão assistido e aclamado pela população de todas as classes George Miller ou Steven Spielberg.

 Que país é esse?

  Esse país, no entanto, não é o Brasil.

 Infelizmente nosso tão amado país não tem em sua história uma cultura artística respeitada, não tem em suas raízes uma paixão pelas artes, seja barroca, sacra, moderna. Nossas crianças assim como nós não conhecemos os grandes revolucionários da arte e suas obras, não nos ensinaram no primário e muito menos no colegial, nossos pais não nos mostraram por que também não ensinaram a eles.

Seja na Capela Sistina de Michelangelo ou os doze apóstolos de aleijadinho, tudo tem passado despercebidos com suas belas e imortais obras pela maioria de nós. Aprendemos sobre arte por vontade própria, por interesse mútuo, por pensar além e fora da caixa, caixa essa em que estamos submetidos desde o nascimento. Estamos em um país onde as livrarias fecham por falta de clientes, onde os riquíssimos sebos dos centros das cidades sobrevivem com o mínimo, e que só veem sair de suas estantes, livros acadêmicos para que os jovens concluam suas teses e que depois estes mesmos livros já não tão bem preservados mofarão em outra estante ou terminarão seus dias em alguma lixeira

 É isso que estamos fazendo com nossa cultura, nossa arte, nossa literatura? Estamos deixando que pereçam no lixo?

 Nós matamos o encanto do que foi um dia um grande folclore, onde está o saci, a mula sem cabeça, o curupira, o menino maluquinho, e dezenas de outros personagens que marcaram nossas infâncias e de do mesmo modo deveria marcar a de nossas crianças?

 Pois assim como no livro História sem Fim, onde aquele mundo de magia estava prestes a se acabar por que as pessoas não acreditavam mais na fantasia, o nosso mundo literário, cênico e artístico está morrendo.

 O nosso Brasil está se perdendo e deixando escorrer pelo ralo a pureza de sua cultura e da cultura mundial, estamos vivendo em um mundo cinza e não mais naquele mundo que outrora. Onde estão as ricas histórias fantasiosas de monteiro lobato, ou mesmo as simples e fascinantes histórias em quadrinhos de Maurício de Souza? O certo é que vivíamos em um mundo colorido mesmo em dificuldades, o mergulho neste mundo de fantasia nos proporcionava uma libertação que hoje não se ver, o empobrecimento cultural ao qual o Brasil está se propondo é como se estivesse arrancando o próprio braço, e isso cabe a nós mudarmos, cabe aquela criança que ainda vive dentro de nós acordar e contagiar o mundo da antiga infância onde navegávamos pelo mundo não pelo Google, mas pelas literaturas e vivíamos as histórias como se fossem reais, éramos piratas, caçadores, vilões e mocinhos, devemos acordar, viver as fantasias de uma leitura, andar por mundos desconhecidos, olhar para a profundidade de uma tela que te transporta para centenas de anos, assistir a um espetáculo e se permitir rir e chorar por uma história contada por outros. Isso é viver, essa fantasia é real.

 Que país é este? Que país é este?

 Que este país seja o Brasil, que este país sejamos nós, que este país seja o país de nossos filhos.